Olhei minha imagem mais uma vez no espelho apenas para certificar que estava tudo em ordem. Eu estava com uma maquiagem pesada, bem ao meu estilo quando quero provocar. A sombra preta fazia contraste com o batom fosco e vermelho de meus lábios, me deixando aparentemente ainda mais feroz. Deu meu melhor sorriso comedor de homens, aprovando meu curto vestido preto de renda e o altíssimo sapato de bico canoa que eu usava. Eu estava perfeita.

Peguei meu celular e tratei de enviar uma mensagem para Sid e para Mia. Havíamos combinado de nos encontrar às 05h em ponto aqui no dormitório dos guardiões e já estávamos em cima da hora. Em minha bolsa, guardei o celular e verifiquei se estava levando dinheiro e as chaves do quarto. Quando estava tudo certo, bati e tranquei a porta antes de direcionar-me ao salão comunitário daquela área. Desci as escadas e quando cheguei pude ver Mia com uma cara tediosa sentada no sofá. Não havia sinais de Sidney e eu xinguei mentalmente seu atraso incomum. Fui lentamente me aproximando tentando não chamar atenção dos demais que também estavam por ali então Mia acenou para mim de longe e colocou-se de pé, pronta para brigar comigo.

- 05h em ponto, certo? Ou eu me enganei? – Ela apoiou suas mãos na cintura e bateu um pé no chão impaciente, parecendo uma mãe furiosa com o atraso de um filho para um compromisso importante.

- Da um tempo Mia, até a Sid se atrasou. E olha... Eu imaginava que seria ela que estaria aqui reclamando comigo sobre meu pequeno atraso de 10 minutinhos.

Mia bufou, mas não disse mais nada, apenas seguiu até o espelho mais próximo e deu uma conferida em seu visual. Poucos minutos de tédio depois, pude ver Sidney entrando pela porta dentro de um vestidinho azul bem leve e sapatilhas. Por um momento me senti demasiadamente exagerada em minha produção. Encarei-a e percebi que estava com uma mínima maquiagem e parecia levemente entediada, como se não quisesse estar ali.

- Desculpa o atraso meninas – Ela se desculpou enquanto Mia aproximava-se de nós – Perdi o tempo conversando com um amigo.

- Amigo Sid? Arrumou alguém aqui na Corte? – Mia perguntou humorada enquanto Sid corava violentamente. Se ela estava com a intenção de mentir já não seria mais possível e eu iria aproveitar a oportunidade para debochar.

- Iiiiih, a Sid esta dando uns beijinhos? Conta pra tia Rose quem é vai gatinha.

- Ei, não é nada disso que estão pensando. Já disse que estou ajudando m amigo que está na pior. – Ela tossiu desconfortável e desviou seus olhos dos meus. Bom, eu não sei Mia, mas eu não estava gostando nada disso. – O que vocês acham de irmos andando? Já estamos atrasadas. – Ela segurou nossas mãos e nos puxou em direção a porta.

Fomos uma boa parte do caminho em silencio. Por hora Mia perguntava sobre os garotos que estariam lá. Eu respondi vagamente já que não sabia muito mais do que ela. Apenas havia visto de perto aqueles que estiveram mais cedo no ginásio e nada mais. Na recepção eu não notara os dampiros que eu guiava durante o tour. Apenas fiz meu trabalho no piloto automático, já que estava muito preocupada com um certo russo que ressurgiu do nada para me tirar do sério.

Quando chegamos ao bar, me senti envolvida por aquele cheiro intenso de álcool e tabaco. A iluminação era baixa e a fumaça densa deixava minha visão turva, o que complicava distinguir as figuras femininas e masculinas que se empoleiravam sobre as mesas de sinuca para jogar. Procurei sem sucesso o tal do Eric Costner e quando já estava indo para o bar tomar uma bebida senti uma mão me agarrar pela cintura por trás e me puxar intimamente para si.

- Achei que não viesse mais Rose. – Eric sussurrou no meu ouvido, fazendo todos os pêlos do meu corpo eriçar. Por um momento me concentrei para voltar a respirar e quando senti o controle voltar a mim ergui a postura para não me deixar intimidar por sua pose máscula e beleza descomunal.

- Não que fosse algum tipo de obrigação, mas sou uma mulher de palavra. – Afastei-me levemente para poder dar espaço para que Eric visse minhas amigas. – Eric, essas são Mia e Sidney. Meninas esse é Eric Costner, um dos guardiões que estão sendo treinados para ocupar os cargos vagos na St. Vladimir. Foi ele quem gentilmente nos convidou para o happy hour.

- É um prazer conhecê-las. – Eric disse gentilmente enquanto depositava um beijo na mão de cada uma. – Venham, nossa mesa está no segundo andar.

Seguimos Eric por uma estreita escada que mal dava para passar duas pessoas. Chegamos ao segundo andar e havia apenas uma longa mesa com umas trinta pessoas sentadas. Dessas trinta, apenas sete eram mulheres, guardiãs como eu, e então por um momento achei que Mia e Sid poderiam se sentir um pouco deslocadas. Bom, amigas são para essas coisas não é mesmo? Elas deviam me fazer companhia!  O barulho era alto e uma voz esganiçada berrava das caixas de som. Olhei para o palco e reconheci segurando o microfone do karaokê um guardião que estava mais cedo no treinamento. Eu não lembrava seu nome, mas Eric notando minha cara de espanto para a visão fez questão de lembrar.

- Cortopassi canta mal não é?!

- Mal? Bom, eu canto mal. Cortopassi deveria ser proibido de cantar até mesmo em seus pensamentos. – Soltei uma risada abafada e sentei-me na cadeira que Eric me ofereceu. Sid e Mia sentaram-se próximas a mim e tentamos conversar, o que estava sendo impossível. Resolvi então pedir uma bebida para tentar relaxar um pouco, já que estava meio tensa. Ergui a mão para o garçom vir me atender, mas Eric tratou de me impedir.

- O que você quer gatinha? Posso ir buscar para você. – Gatinha? De onde surgiu tanta intimidade de repente? Eu não me lembro de lhe dar tanta liberdade. Por um momento senti uma raiva incontrolável surgir dentro de mim, e me deu uma vontade súbita de meter a mão em sua cara. Porém, pude perceber antes de ser grosseira que aquela reação era do espírito e não minha. Respirei fundo e empurrei aqueles sentimentos para dentro do meu ser. Eu realmente precisava de doses fortes para agüentar o tranco

- Eu quero uma vodka com energético e uma dose de Jagermeister, e vocês meninas? – Passei a mão em minha bolsa para retirar o dinheiro das fichas e dar para Eric que prontamente recusou. Bom hoje eu não iria recusar, se ele quisesse pagar, então ele o faria.

- Eu quero uma cerveja. – Mia disse e eu me senti levemente animada por sua companhia nos drinks alcoólicos. Mas Sidney tratou logo de me desanimar e jogar um balde de água fria em minha diversão.

- Uma coca, por favor. – Revirei os olhos para ela e quando Eric se afastou ela começou quase que silenciosamente seu sermão. – Você saber que não devia beber, não é Rose? Pelo menos não desse jeito... Vai com calma!

- E você é o que por acaso? Minha mãe? Alberta? Dimitri? Dá um tempo Sid, quero me divertir um pouco. Porque está brigando só comigo? E quanto a Mia?

- Mia não está bebendo devassamente como você, ela está indo com calma. Além do mais, você é a guardiã por aqui. – Ela aumentou levemente o tom de voz e um apertei levemente seu braço para que ela reduzisse.

- Realiza gata, estamos na Corte! Não há perigos por aqui, estamos protegidas dos Strigois. Esqueceu? – Falei em tom óbvio enquanto esticava o braço para pegar o copo que Eric oferecia para mim.

- Acho que é você que está se esquecendo que os perigos estão em toda parte. Você não sabe quem são esses caras Rose. Não vá enchendo a cara de uma vez, vê se pega leve. – Ela deu leves tapinhas em meus ombros e eu tratei de virar a dose ignorando completamente suas recomendações.

Não demorou muito tempo para Sidney ir. Ela estava realmente entediada, então assim que terminou de encher minha cabeça e me repassar informações como a vinda de Abe para o enceramento, levantou-se e foi embora sem se despedir de ninguém. Bem típico e bem a cara de mal educada dela. Mia continuou bebendo comigo e nós fomos apresentadas para o resto do pessoal. Tinhas uns carinhas bem legais e bem gatinhos naquela mesa. Eu percebia que era a atração principal, mas pude notar alguns bem interessados em Mia.

Joguei um torneio de sinuca e mesmo não tendo muitas habilidades, quase fui a campeã com Eric. Comemoramos muito, e como consolo pelo segundo lugar ganhamos um balde de cerveja. Nada comparado a bolada apostada que a dupla de vencedores ganhou. Assim como nós era um guardião, que eu não me lembrava o nome, e uma guardiã baixinha chamada Suzanah, mas que todo mundo chamava de Suze. Eles levaram um total de 310 dólares, já que para participar cada um tinha que desembolsar 10 pratas e todo mundo participou.

Acredito que foi nesse momento que Eric percebeu que eu não estava muito afim dele e então resolveu mudar suas investidas. Aos poucos, vi que ele se aproximava descaradamente de Mia que parecia estar se divertindo e gostando da situação.

Mesmo não sendo muito fã de cerveja, eu ajudei Eric e Mia a tomar aquelas que havíamos ganhado. Tomei umas três e resolvi ir ao banheiro quando percebi que minha bexiga estava prestes a explodir. Após fazer todas minhas necessidades, saí da cabine e me olhei no espelho, notando pela a primeira vez que eu estava consideravelmente embriagada. Limpei o canto dos olhos, tirando o excesso da maquiagem preta e passei as mãos em meu longo cabelo. Meu rosto estava levemente inchado e quente, o que denunciava ainda mais meu estado de embriaguez.

Sai do banheiro e vi Eric se aproximar e pressionar Mia contra uma parede. Eu não ligava finalmente ele resolveu pressionar de uma vez. Não que eu aprovasse essa investida, na verdade achava um pouco babaca e esse tipo de atitude não fazia muito bem o meu tipo. Dei um aceno de cabeça em concordância para Mia com a intenção de deixar claro que ele estava livre se ele o quisesse. Voltei para a mesa e percebi que havia mais uma dose de Jagermeister me esperando e eu não tardei em tomá-la de uma vez. Chamei o tal do Cortopassi, que acabei descobrindo que se chamava Bernard, para cantar uma musica qualquer comigo no karaokê. Eu não tinha muita prática nesse negocio, pois na verdade tinha muita vergonha desse tipo de aparição publica. Mas bem, eu não estava me importando muito no momento.

Permiti que ele escolhesse a musica e me animei quando o som de 3 Doors Down invadiu as caixas de som. Eu amava a música Here Without You e eu me surpreendi quando ele sorriu cúmplice, como se soubesse do meu gosto pela musica. Comecei a cantar muita tímida e por um momento sair do palco me pareceu uma idéia tentadora. Mas acho que o álcool se apoderou de mim de uma vez e então eu comecei a cantar de verdade, com todo meu coração. Mal pude controlar quando algumas lágrimas escaparam de meus olhos. Bernard limitou-se a me abraçar e pude sentir que ele estava receoso e até mesmo parecia arrependido de ter escolhido uma música tão triste para tocar.  

Quando por fim acabou, sequei meus olhos e decidi que cantaria mais uma, e agora seria eu a escolher a música. Digitei aleatoriamente um numero no controle e saiu a música Crazy in Love da Beyoncé e eu realmente fiquei muito animada. Cantei, dancei e bebi todas que eu tive direito. Vi que Mia havia se entendido com Eric e me senti feliz ao ver que Bernard era um cara gente boa e que ficou ao meu lado fazendo companhia.

Após descansar por alguns instantes e tomar uns goles de água para hidratar, resolvi cantar mais uma ultima musica só para me despedir de vez da minha voz que já era quase inaudível. Selecionei Candy Shop do 50 Cent e mandei ver. Fiz graça portando-me como um rapper fazendo com que todos rissem da minha péssima atuação de gangster. Mas quando a musica começou pra valer eu me animei e comecei a dançar de verdade.

Eu não era a melhor dançarina do mundo, mas sabia provocar. Eu não me lembro de quem foi a idéia maluca, mas de repente o palco pareceu um tanto pequeno para mim. Quando dei por mim eu estava sem sapatos dançando em cima do balcão onde entregavam bebidas. O microfone em minha mão foi substituído por uma garrafa de tequila e enquanto a batida da musica soava ao fundo eu distribuía a bebida na boca das pessoas que estavam abaixo de mim. Dei um longo gole antes de voltar a distribuir doses e senti a bebida queimar descendo pela minha garganta. Abaixei e vi Mia bem abaixo de mim sorrindo bêbada e pedindo um pouco do conteúdo da garrafa. Despejei o liquido amarelo m sua boca e quando ela terminou de ingerir Eric balançou sua cabeça, como os bartenders costumam fazer. Ela soltou um grito alto e levantou os braços em animação. Puxou meu pescoço e deu-me um longo selinho demorado.

Ouvi uivos e aplausos por todo o bar e levantei-me atordoada. Não sei bem o que aconteceu, talvez a velocidade do meu movimento fez com que algo se mexesse em minha cabeça e por um momento ficou tudo preto e eu desequilibrei. Senti meu corpo se movendo em câmera lenta e eu tive a certeza que iria cair no chão. Fechei os olhos com força e apenas esperei a queda que era certa. Mas eu estava enganada.

Quando meus pés perderam o contato com a superfície do balcão senti longos braços fortes me agarrarem antes que nenhum outro pudesse ao menos tentar me ajudar. Eu não precisei sentir o cheiro do seu pós barba para saber que era Dimitri que estava me segurando... Eu conhecia muito bem a intensidade de seus apertos e o volume de seus músculos.

- Ei Camarada! – Sorri encarando seus olhos chocolates e desviando rapidamente quando encontrei a frieza com que se dirigiam a mim. – Boa pegada, mas já pode me colocar no chão.

- Não vou te colocar em lugar nenhum Rose. Você vai voltar para seu quarto comigo agora! – Ele foi rude e eu quase me senti ofendida com o tom de suas palavras.

- Você é o que meu para ser tão autoritário comigo?  Nem meu pai me trata assim Dimitri. Eu não estou te pedindo, estou mandando você me colocar no chão agora. – Ouvi os sons de gritos ovacionando minha discussão com Dimitri e pelo jeito eu havia me saído bem na discussão. Dimitri trincou o maxilar e fechou ainda mais sua expressão naquela maldita mascara de guardião.

- Sou seu ex-mentor sou mais velho que você. Você me deve respeito!

- Exatamente, EX-MENTOR! Não é mais anda dela... Você não a ouviu te pedindo para colocá-la no chão? Eu vou ter que fazer isso por minha conta? – Bernard saiu em minha defesa e pude ver Eric se aproximar logo atrás dele. Droga, eu não queria confusão atraída por mim!

- Dimitri, é melhor me soltar não queremos confusão e... – Ele ignorou completamente o que eu dizia e me jogou sobre seus ombros. Fiquei com a cabeça virada para baixo, encostada em suas costas e o movimento brusco me fez sentir vontade de vomitar. Repeli a vontade quando senti os passos firmes de Dimitri indo em direção a porta de saída do bar. Todos gritavam e eu não conseguia ver nada além de vultos passando por mim. Quando senti o vento fresco em meu rosto e reparei na fraca luz do sol nascente comecei a tentar me desvencilhar do aperto de Dimitri.

- Você não vai conseguir se soltar Rose desista! Vou te levar de volta para seu dormitório e lá te colocarei no chão novamente. – Ouvi o som de sua risada rouca irônica, como se risse de uma bobagem feita por uma criança estúpida. Comecei a bater forte onde minhas mãos alcançavam e batia meus pés na medida do possível. Que diabos estavam acontecendo?

- Tire suas mãos de mim Dimitri, me larga,me põem no chão! – Gritei e algumas pessoas que retornavam a seus dormitórios olharam para nós, chocadas com a cena.

- Já disse que não Rose e chega de escândalos. Não bastou o show de hoje?

- Dimitri, entenda de uma vez por todas que eu não pertenço a você, eu não pertenço a ninguém. Sou livre! Não te devo satisfações de nada. O que você quer me controlando desse jeito? Me entender? Se for, você está fazendo isso bem errado!

- Estou cuidando de você Rose. Ainda me sinto responsável por você... Já desisti de tentar te entender faz tempo. – Fiquei em silencio enquanto passávamos pelo saguão do dormitório dos guardiões, mas eu estava definitivamente furiosa com Dimitri. Quando chegamos à entrada do meu quarto ele me colocou no chão, abriu a porta e entrou no dormitório comigo. Olhei no fundo de seus olhos antes de continuar nossa breve conversa.

- Cuidar de mim? Depois de me devastar você quer cuidar de mim? Já tivemos essa conversa camarada. Eu posso estar sozinha, mas eu sei muito bem o que faço e aonde vou. Você pode até duvidar de mim, mas não foi nada disso que você me ensinou. Confie em mim, me de uma chance cara e me deixa em paz!

Dimitri veio ríspido em minha direção e com violência segurou meus ombros e me virou de frente para o espelho do meu quarto.

- Ta vendo essa pessoa no espelho Rose? Esta vendo? Você acha que ela merece alguma chance? Merece confiança? É claro que não... Pare com isso Roza, você está se deixando ir mais uma vez para esse caminha sem volta. – Ele acariciou meu rosto e segurou minhas mãos. – Aquela pessoa no espelho, que definitivamente não é você necessita de ajuda e cuidado. Eu achei que você estava bem. Todos acharam e todos se enganaram não é?!

- Eu estava bem Dimtiri, até você aparecer e destruir meu castelinho de areia que eu havia construído. – Soltei suas mãos e ele correu para me segurar mais uma vez. Em um lapso de raiva ergui minha mão com toda a força e deferi um tapa daqueles em seu rosto perfeito. Pude ver a surpresa em seu olhar e no mesmo momento que um sentimento de culpa me invadiu, um outro de alivio tomou conta de todo meu ser.

Dimitri em estado de choque agarrou meus pulsos e me arrastou até o banheiro. Eu não estava entendendo o que ele queria fazer, até que ele ligou o chuveiro e o colocou no modo verão.

Banho gelado!

Aumentei a pressão sobre meus pés tentando fugir daquele castigo que ele queria me dar. Mas Dimitri era bem mais forte que eu. Ele me agarrou e me jogou em baixo do chuveiro, abrindo cada vez mais o registro fazendo com que a queda de água se tornasse cada vez mais forte.

- O que você pensa que esta fazendo seu idiota? – Berrei com ele, sentindo minhas lágrimas de ódio cair de meus olhos.

- Te dando um banho, com a esperança de que ele lave sua alma e que leve seus pecados pelo ralo. – Olhei indignada para ele. Quem ele pensava que era para falar sobre meus pecados e a impureza da minha alma? Senti-me trôpega por conta do álcool e apoiei-me nas paredes do boxe. Dimitri pareceu notar minha fraqueza e me deu o braço como apoio que eu recusei prontamente.

- Sai daqui Dimitri, eu te odeio! – Apoiei minhas costas na parede e senti as lagrimas se misturarem a água que caia livremente sobre meu corpo. Nem percebi quando Dimitri tirou seus sapatos e entrou no boxe juntando-se a mim e pressionando seu corpo molhado junto ao meu.

- Mentira Roza. – Ele sussurrou em meu ouvido com o sotaque acentuado e eu senti meu corpo se arrepiando com seu toque. – Você me ama com todo seu ser. Eu posso sentir o cheiro do amor que você sente por mim exalando de seus poros.

Ele me virou e me olhou intensamente nos olhos. Dificilmente ignorei seus músculos definidos por baixo da camisa branca encharcada, que já estava transparente. Sem palavras, senti a água escorrer por meus lábios e meu coração parar no peito quando ele se aproximou e me beijou intensamente.

Definitivamente aquele homem dominava meus sentidos. Apenas ele tinha o poder de mandar e desmandar em mim. Eu me sentia sua, e naquele beijo eu tive a certeza de que apesar de tudo Dimitri nunca havia deixado de me amar. Sua língua passeava livremente por minha boca, saboreando e decorando cada espaço que fosse permitido. Quando por fim consegui me separar de seu aperto, tomei um ar tentando entender o porquê disso tudo naquele momento. Porém, minha embriaguez permitiu que eu apenas desfrutasse daquela paz momentânea. Abracei-o fortemente e entre um soluço consegui falar algo.

- Brigar pra que Dimitri? Não precisamos disso... Nós erramos sim, mas tudo deveria se resolver sem dor, sem brigas. – Ele apenas beijou o topo daminha testa e desligou o chuveiro. Delicadamente e com todo o carinho possível, Dimitri retirou minhas roupas molhadas e secou-me da melhor maneira possível.

Não havia nada que ele não tivesse visto ali, e eu não me incomodava em ficar nua em sua frente. Mas Dimitri respeitosamente me deixou apenas com minha calcinha e sutiã que ainda estavam molhados. Ele separou um pijama e levou até o banheiro para que eu pudesse me trocar. Rapidamente me livrei das peças molhadas e vesti apenas a camisola que ele havia me passado. Deitei na cama e quando estava quase pegando no sono senti Dimitri saindo do quarto.

- Ei, aonde pensa que vai? – Apoiei-me em meus braços sentindo um leve dor de cabeça iniciar. – Fica aqui comigo!

Ele pareceu pensar um pouco e por fim balançou a cabeça em negação.

- Minhas roupas estão molhadas Rose. – Ele soou triste e então eu apontei uma ultima gaveta em meu armário. Eu havia me desfeito de quase tudo que Dimitri me dera quando ele partiu. Mas ainda havia uma calça de moletom que ele costumava treinar que em uma de nossas escapadas havia ficado esquecida em meu quarto. Receoso ele dirigiu-se até a gaveta e pude ver seus olhos arregalarem em surpresa ao ver o conteúdo.

- Nem vou perguntar como isso veio parar aqui. – Ele deu aquele sorriso largo e aberto, que eu tanto amo e que ele soltava apenas em raros momentos. Ele veio até a cama e deitou-se ao meu lado, me abraçando pelas costas enquanto afagava meus cabelos.

Aquilo definitivamente era um sonho, um sonho que eu não queria acordar. Quanto mais eu pensava em estar dormindo, mas eu mergulhava para o mundo da inconsciência e sentia minha mente flutuar enevoada de sentimentos controversos.  Eu amava Dimitri e queria estar com ele. Mas não sabia até quando poderia me permitir esse sentimento. Por fim, quando estava quase sonhando com coisas aleatórias, senti sua mão deslizar por meu rosto e sua voz ecoar no quarto:

- Espero que nosso egoísmo não destrua nosso coração.

E então, pensando em suas palavras eu apaguei.