Com todos os meus três melhores amigos na porta da minha casa, eu realmente não queria ir embora. Dizer adeus nunca fora um problema para mim, eu sempre fui acostumada com a mudança. Mas agora tudo parecia tão difícil.

Talvez fosse o fato de eu saber que ficaria muito tempo sem vê-los, ou sem ver minha cidade. Sem ver meu carro ou minha casa. Respirei fundo e dei uma olhada na fachada branca com colunas de mármore da casa. Sorri me lembrando de quando nos mudamos para ela.

Eu tinha uns nove anos, não sei, minha mãe passara em frente à casa e vira as colunas de mármore no melhor estilo grego. Ela logo se empolgou. Só faltava gritar em um mega fone "ESSA CASA FOI FEITA PARA MIM!". Ela sempre foi apaixonada pela arquitetura grega. Admirava os monumentos feitos aos deuses. Uma vez fomos à Grécia, realmente apaixonante.

Eu tinha uns doze anos, e me lembro de estar lendo a coleção de livros Percy Jackson e os Olimpianos, o que deixou a viagem muito mais legal. Minha mãe me dizia coisas sobre os doze olimpianos, sobre os semideuses famosos, e sobre as criaturas fantásticas. Me apaixonei por mitologia graças a ela.

–Ei. - Blame disse me tirando um pouco de minhas lembranças - Já coloquei as coisas no carro, quer se despedir da casa antes?

–Quero, - sorri e antes que ele se oferecesse para ir junto antecipei-me - vou sozinha.

Entrei pela porta da frente e subi as escadas seguindo o corredor diretamente até o quarto dos meus pais. Suspirei antes de abrir a porta e então girei a maçaneta. Senti o cheiro de mofo mas depois senti uma mistura dos perfumes dos meus pais. Senti também as lágrimas que estavam por vir.

Eu me pergunto todos os dias da minha vida, por que eu tive que perder meus pais? Não era justo, eu já não ficava muito com eles por causa das viagens de trabalho mas eu os amava mais que tudo, quer dizer, agora eles estavam tão longe de mim, mais longe do que qualquer viagem. Mas estranhamente, ao mesmo tempo perto.

–Tchau mãe, tchau pai. - falei sorrindo com uma certa tristeza.

Fechei a porta e caminhei de volta até a porta da frente trancando-a. Me voltei para os meus amigos que olhavam para mim sorrindo em apoio, talvez por eu estar chorando. Mas eu odiava quando as pessoas sentiam pena de mim. Naquele momento me senti como Blame sempre descreve que se sente.

–Então, - falei - vamos?

Virei para Elli que já chorava, decidi não conter as lágrimas apenas deixá-las correr, Elli merecia que eu chorasse por ela. Entreguei as chaves da casa em suas mãos.

–Cuida de tudo. - pedi - E cuida de você, e do Ian e do Greg. - eu ainda chorava e ela também - Se puder, continue cuidando de mim mesmo à distância. - agora minha voz falhava.

–Claro. - sua pele clara agora tomava um tom vermelho por causa do choro, principalmente na região do nariz e eu sempre a caçoava por isso.

Toquei o nariz dela e nós duas rimos, nos abraçamos mais forte do que nunca. Tomei cuidado para memorizar o cheiro que ela tinha no momento, eu iria me lembrar dele quando sentisse saudade. Ela cheirava chocolate quente com canela. E baunilha.

–Te amo. - falei.

–Também.

Depois me voltei para o Ian que tinha aquele belíssimo e cativante sorriso eu o abracei.

–Não sabe o quanto faz falta aqui baixinha. - ele bagunçou meus cabelos.

–Vocês fazem muita falta para mim também. - enxuguei uma lágrima - Ah, as minhas recomendações são as mesmas, se fizer essa garota sofrer, saio de lá e venho tirar satisfações com você. Ok?

–Ok. - ele riu - E quanto aos meus sentimentos? Não contam?

Eu apertei os olhos como se estivesse pensando em um teorema complicado de matemática.

–É, - disse finalmente - talvez.

Nós rimos e eu me voltei para o Greg. Ele tinha lágrimas nos olhos mas se recusava a soltá-las. Desde quando nos conhecemos era assim, Greg era sempre o cara forte e decidido da turma.

–E você. - falei.

–E eu. - ele disse em seguida e riu.

–Cuide-se Tate, eu sei que sua Violet irá aparecer. - eu ri - Mas não estupre a mãe dela ou mate pessoas. Pensando bem, não seja o Tate.

Nós dois rimos e novamente percebi que todos em volta estavam à parte das piadas sobre American Horror Story. Tudo bem , pensei comigo mesma.

–É sério cara, - falei - se cuida.

–Você também. - ele fez uma pausa - "Cara".

Me virei de costas e caminhei até o carro seguindo os meninos que já estavam em pé na frente deste. Dei um último aceno e entrei. Me acomodei ao lado de Blame e fechei a porta. Tentei não olhá-los para não chorar, mas infelizmente não foi possível.

Calma Page, pensei, não é um adeus. Nunca será