Eu dormira quase o caminho todo com a cabeça escorada no peito de Blame. Os meninos me acordaram para descer em um posto próximo à cidade. Nós descemos e compramos algumas coisas e voltamos para o carro.

Eu olhava as árvores se moverem lá fora, o sol batia na minha coxa a aquecendo de um jeito ao mesmo tempo desconfortável e agradável. Me lembrei de algo que queria perguntar ao Brandom.

–Bran. - chamei e ele que estava no banco do passageiro a minha frente se virou - Com quem você saiu noite passada?

–Ah. - ele deu uma risada sem graça - Uma garota bonitinha. Era insuportável, mas era gatinha.

–Quem?

–Uma tal de Regina.

Comecei a rir, talvez de nervosismo ou apenas ironia. É claro, como isso poderia não acontecer? Eu já devia saber que em alguma vez na vida Brandom e Regina sairiam.

–Sério? - perguntei - A Regina? Por favor...

–Me arrependi total de sair com ela. - ele adivertiu - Garota chata, mimada.

–Concordo com você.

–E além disso, - ele suspirou - foi coisa de uma noite.

Revirei os olhos. Garotos, infelizmente eu estava em um carro cheio deles. Começaram com conversinhas machistas sobre corpo da Regina e de outras garotas. Me forcei a não ouvir e prestei atenção na paisagem do lado de fora. Finalmente a cidade já apontava no horizonte, daí uns dez minutos eu já estaria livre desses idiotas. Menos do meu primo.

**

Depois de desfazer as malas eu tinha tomado um banho e estava agora deitada no meu quarto olhando para as fotos que eu tinha na minha parede. Na semana passada eu tinha colado tudo na parede em frente a minha cama em forma de um coração. Eu havia colocado fotos minhas e do Blame e mesmo tendo terminado com ele, eu não tinha as tirado lá.

Tinham fotos minhas com a Elli, o Ian o Greg e até com a Hemmy. Tinha o Brandom e eu quando crianças e agora. Sempre grudados. Suspirei, uma lembrança me tomara a minha felicidade. Eu ainda tinha um assunto para resolver.

Me levantei da cama e fui até meu celular na penteadeira. Disquei o número de Vini que chamou umas quatro vezes e então ele atendeu.

–Ei. - ele falou animado como sempre - Senti saudades, você sumiu.

–Pois é. - falei seca - Tenho que falar com você, pode vir aqui? Estarei no meu quarto.

Desliguei na cara dele antes que ele dissesse qualquer coisa. Pensei em uma espécie de emboscada que poderia o surpreender. Alcancei as fotos que ele pregara no meu espelho, apaguei as luzes do quarto e deixei apenas a luz da escrivaninha acesa e virada para mim. Amarrei um barbante de uma ponta do quarto à outra. Coloquei as fotos com um prendedor de roupas no barbante.

Sentei-me na poltrona que eu havia posicionado bem atrás do barbante e fiquei aguardando que Vini chegasse, ele teria uma surpresa. Pensei na minha melhor cara de ironia, naquele dia eu tinha acordado para ser má com alguém e adivinha que foi o escolhido.

Ouvi a campainha tocar e pensei "maravilha". Ouvi em seguida os passos na escada e as batidas empolgadas na porta. Eu ri, ele devia ter pensado que eu estava fazendo uma surpresa de outro tipo para ele quando disse estarei no meu quarto porque senti seu perfume passando pela fresta da porta.

Isso só me fez rir mais e me deixou mais maléfica.

–Entra. - falei e o observei abrir a porta com um sorriso bobo no rosto que depois se evaporou com a facilidade que se formara - O que foi? Esperava outra coisa?