The Innocent Can Never Last escrita por Clarawr


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, outro capítulo seguido HEHEHE Eu até podia ter colocado esse capítulo junto com o outro e ter feito um maior, mas acho que fica mais bonito se eu separar. Além do mais, eu gosto de terminar capítulos com frases marcantes, e não ia poder fazer isso se tivesse botado tudo em um capítulo só. Aliás, esse capítulo ficou enorme kakakaka
Enfim, tá aí. Gostem ♥



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Sentada na primeira fila da platéia do estúdio, eu estou com gosto de esmalte na boca. De tanto roer minhas unhas ainda pintadas de verde, devo ter ingerido o equivalente a um vidro de esmalte. Mas não consigo me controlar. Ceasar está entrevistando o menino do 5. Só mais duas pessoas. Três minutos para cada um. Mais seis minutos de espera torturante.

     Estou a ponto de ter um treco cardíaco quando Ceasar faz o anúncio:

     - Ela veio do distrito de onde saiu a última vitoriosa. – Levo um tempo até perceber que ele está falando de mim. – Eu quero ouvir muito, mas muito barulho para Lizzenie Pillz!

     A platéia aplaude e eu solto um assobio alto, agudo. Espero que ela tenha escutado e que isso a estimule. Liz entra com passos confiantes, sorrindo e acenando. Ela está deslumbrante em um vestido verde escuro de um ombro só, com os cachos brilhantes emoldurando seu rosto. Acho que as ameaças de morte, digo, a conversa que tive com seu estilista mais cedo deu algum resultado.

     - Oi, Lizzenie. – Ceasar começa, sorrindo para ela. Ele estende a mão e ela a segura. Ceasar faz com que ela dê uma graciosa rodopiada, destacando todos os detalhes, bordados e decotes do vestido. – Seu vestido é impressionante.

     - Ah, gentileza sua, Ceasar. Podemos dizer que ele teve bastante influência da última vitoriosa. Só para dar boa sorte, sabe como é. – Ela dá uma piscadela para ele.

     - Da Johanna? – Ceasar pergunta e vira a cabeça para me procurar na platéia. Um holofote lança uma luz ofuscante sobre mim e eu me levanto (a muito custo, porque eu estou tonta de tanto nervosismo. Tenho que fazer um esforço heróico para não cair desmaiada no chão quando ergo as pernas). – Não sabia que você tinha tanto talento para a moda. – Ceasar se dirige agora a mim.

     - Nem eu. – Grito de volta e ele e a platéia gargalham. Mas não posso roubar o show de Liz. Sento-me novamente.

     - Então, me diz, o que você pensou quando ouviu seu nome na colheita?

     Legal, ela vai ter de começar mentindo. Não tem a menor condição de ela virar e soltar: “Ah, Ceasar, eu pensei assim: Fodeu, eu vou morrer.”

     Liz se vira para ele e sorri com doçura:

     - Não tenho palavras para descrever. – Provavelmente, a frase mais sincera que ela poderia ter falado. Mas a sentença exige mais explicações, então ela começa a articular uma história. – Sabe, eu acordei meio que já sentindo que ia ser eu. Alguma coisa dentro de mim estava me dizendo: “Se prepara, porque seu nome vai ser escolhido.” Então, quando a Kamina confirmou que era eu, a única coisa que eu pensei foi: “Cara, virei vidente.”

     A platéia ri, porque é engraçado colocar que o primeiro pensamento dela foi direcionado para sua previsão do futuro e não para a morte iminente.

     - E essa sua vidência pode te ajudar em alguma coisa no jogo? – Ceasar pergunta, erguendo as sobrancelhas.

     - Quem sabe? – Ela levanta um meio sorriso. – Ainda estou descobrindo meus poderes, não sei muito bem como eles funcionam.

     - Espero que eles te ajudem, Lizzenie. – Ceasar sorri, mas antes que ele possa continuar Liz o interrompe:

     - Ah, Ceasar, sem formalidades. Pode me chamar de Liz. 

     Ceasar ri.

     - Tudo bem, Liz. – Ela agradece fazendo um coração com as mãos e as estendendo em direção a Ceasar. Ele entra na brincadeira e todos rien quando Ceasar retribui o gesto, mandando um coração para Liz. – Conte-me agora: o que você mais gostou aqui na Capital?

    - É tudo tão diferente do 7. – Ela olha para o teto, num gesto adoravelmente sonhador. – Não sei, tão enorme, tão bonito, tão moderno. Ainda estou meio chocada com tudo isso. Acho que mesmo que eu morasse aqui, nunca me acostumaria.

     - Eu moro aqui desde que me entendo por gente e esse lugar ainda me surpreende. – Ceasar concorda.

     - Pois é! As pessoas são tão calorosas... Quando eu cheguei aqui no trem e vi aquela multidão parada para nos receber eu já me senti como uma vitoriosa. Eles passam essa sensação para gente, a sensação de que você é amado e reconhecido.

     Mordo o lábio para conter um sorriso. Eu não sabia que Lizzenie é dona de um talento incomparável para a mentira. Mais dissimulada que eu e se você parar para pensar, isso é uma coisa complicada. Afinal, eu ganhei os Jogos por causa das minhas mentiras. Me fingi de fraca para ninguém me notasse e, quando precisei, mostrei a que vim. Deplorável, eu sei. Mas isso nem sempre é de todo ruim. Às vezes, sua má índole abre caminho para a sua sobrevivência. E eu te pergunto: qual é o tipo de pessoa boa que ganha os Jogos?   

     - Pode ter certeza que não é só uma sensação, Liz. Você já é amada aqui. Não é pessoal? – Ele se dirige a platéia, que responde com aplausos e gritos. Sinto a vibração do som me tremer e respiro aliviada. – Agora uma última pergunta e a mais difícil: Como você se sente indo para os Jogos com o seu irmão?

     Ela assume uma expressão séria, seu corpo se enrijece e seus olhos se estreitam nos cantos:

     - Me sinto muito feliz por saber que o Distrito 7 vai ter dois vencedores consecutivos pela primeira vez em 69 anos.

     - Depois dessa, não vou nem falar mais nada. – Ceasar sorri e sirene soa – Senhoras e senhores, eu conversei agora com Lizzenie Pillz, do Distrito 7!     

     A platéia aplaude e Lizzenie olha para mim. Sorrio e aceno com a cabeça para ela, demonstrando aprovação. 50% do problema estava resolvido. Tudo agora só dependia de Roger fazer seu papel direito.

     Ceasar o chama e aperta sua mão. Ele parece confiante como a irmã, mas há algo mais. Um meio sorriso debochado, uma tranqüilidade no jeito que ele se esparrama no sofá dos entrevistados. E ele está mesmo incrivelmente bonito em seu terno marrom. Sorrio para mim mesma. Ele está tão sedutor e hipnotizante que eu tenho certeza que todos os caras da Capital vão querer ser ele e todas as mulheres vão querer beijá-lo. E os Patrocinadores não vão querer perder alguém que mexe tanto com a Capital.

     Ceasar começa:

     - O que é a sua irmã, hein, Roger? Ela é encantadora.

     - Puxou a mim. – Ele responde, sorrindo.

     - Genética boa essa da sua família. – Ceasar comenta. – Com você, eu vou começar com a pergunta que não quer calar. Como é ir para os Jogos com a sua irmã?

     Ai. Meu coração se acelera ainda mais. Eu não achava que isso fosse possível. Não faça besteira, Roger, não faça besteira, não faça, eu começo a cantarolar na minha mente, esperando que a força de meu pensamento o atinja e ele dê uma resposta milagrosa. Percebo que estou agarrando o apoio para braços de minha cadeira com tanta força que meus dedos estão brancos e gelados.

     Os olhos de Roger passam pela platéia como se procurassem por algo. Até que eles se fixam em mim por um breve momento. Não sei como pareço a ele, entretanto, acho que o que ele viu em meu rosto lhe deu a inspiração necessária.

     - Sabe, Ceasar, nós também temos outro irmão. Menor, tem só cinco anos. – Roger começa e eu não faço a menor idéia de onde ele quer chegar. Ele nunca mencionou esse irmão menor e nem sei se é verdade, então, vou ficando cada vez mais tensa enquanto ele costura sua história. – Eu amo aquele moleque. Estava começando a ensiná-lo a jogar futebol. A Liz também é alucinada por ele. Brinca, ri, enfim. Mas eu e a Liz nunca nos demos muito bem. A gente vivia brigando e discutindo. Até que chegou a colheita. Aí, quando eu subi no palco sabendo que nós dois tínhamos nos tornado tributos e eu olhei nos olhos dela é que eu... – Ele hesita e eu consigo ouvir que a respiração das pessoas da platéia está presa na garganta. Exatamente como a minha. – Eu vi que talvez, nós tenhamos passado esse tempo todo brigando porque somos exatamente iguais, cabeça dura e orgulhosos. E que eu a amo tanto como eu amo o Marcel, nosso irmãozinho menor. E que nada no mundo me faria abandoná-la. Então, você quer saber como eu me sinto? Eu vou roubar a resposta dela. Sinto-me feliz porque tenho certeza que um de nós vai voltar para casa. Sinto-me feliz porque eles não podiam ter escolhido nenhuma dupla de tributos melhor para dar ao 7 a honra de ter dois vitoriosos consecutivos pela primeira vez.  

      O estúdio começa a girar em minha visão e eu sinto uma pressão estranha no fundo dos meus ouvidos. Noto que parei de respirar. Paro para analisar a resposta de Roger e percebo que ele não podia ter falado nada melhor. A dose certa de emoção, misturada com a confiança absoluta. Ele deixou transparecer que Liz não estará só na arena, mas que a volta dele é uma possibilidade a ser discutida. Ouço a platéia voltando a respirar ao meu redor e sorrio ao perceber que Roger os deixou sem fôlego.

     - Vocês dois parecem muito confiantes. Então eu fico me perguntando: o que mantêm você tão seguro de si? Qual é o seu ponto forte?

     Roger morde o lábio como se tentasse segurar um sorriso.

     - Não quero fazer como os outros. Todos contaram o que sabem fazer de melhor. Se eu falar também, não sobra nenhuma surpresa para vocês terem quando a gente estiver na arena. Vocês não gostam de surpresa? – Roger se dirige agora a platéia, que responde com um “Sim!” coletivo. – Então, Ceasar... Meu dever é agradar o público. Sinto muito, mas para a felicidade geral de Panem, isso vai ficar em segredo até os Jogos começarem.

     A platéia uiva e é fácil notar que Roger criou uma fagulha, instigou o público. Todos estarão de olho nele para descobrir as misteriosas habilidades do menino do 7.

     Ceasar o olha, parecendo decepcionado, mas com um sorriso no rosto.

     - Ah, Roger, dê uma pista, vai.

     - Nada. – Roger sorri daquele jeito convencido e eu bem ouço algumas garotas atrás de mim suspirando. – Ceasar, achei que você, logo você, um apresentador famoso fosse me entender. Você sabe como é difícil manter essa galera entretida. Estou fazendo isso por eles. – Ele encara a platéia com um brilho malicioso no olhar.

     - Tudo bem, já vi que não vou conseguir arrancar nada de você, mesmo. Uma última perguntinha, só para colocar mais fogo no pessoal, em especial as meninas aqui da Capital. – Ceasar ergue uma sobrancelha. – Você tem alguma namorada?

     Roger dá uma gargalhada e fica um tempo em silêncio. As meninas da platéia começam a soltar gritinhos estridentes.

     - Não. – Ele diz por fim e a platéia feminina vai ao delírio. – Mas se alguma menina da Capital estiver interessada, não posso dizer que eu não vou gostar. – Ele pisca para o público.

     Não sei quem é pior. Ele ou Lizzenie. Eles mentiem com tranqüilidade, o rosto relaxado, os olhos inocentes. Porque eu sei que Roger quer mesmo é matar todo mundo da Capital, todos aqueles que o obrigaram a escolher entre si mesmo e sua irmã. Só que do jeito que ele colocava as coisas, parece que a Capital era um sonho realizado. “Esses dois são podres” eu penso, mas não é bem um xingamento. Não sei muito bem como ele foi parar lá, mas quando dou por mim, um sorriso estampa minha cara.

     Enquanto as outras entrevistas rolam, o ruído de aprovação da platéia durante a fala de Roger e Liz ainda ecoa em meus ouvidos. Pela primeira vez em todo esse tempo que eu passei obcecada em treiná-los, consigo sentir uma esperança real preencher meu corpo, fazendo a ponta dos meus dedos ficarem dormentes. Não é só pensamento positivo. É confiança. Agora tenho motivos para confiar de verdade. 

De qualquer maneira, agora não temos muito mais o que fazer. É amanhã. Amanhã a expectativa vai se tornar realidade ou vai provar que quanto mais você a alimenta, mais ela te fode. 

     Após as entrevistas, voltamos para o prédio do Centro de Treinamento. Sem saber muito bem o que estou fazendo, acabo me dirigindo instintivamente para a sala de jantar onde conversei pela primeira vez com meus tributos, onde ficamos horas treinando para essa entrevista, onde discutimos técnicas de combate, onde eu jurei que ia tentar trazer algum para casa. Não é um bom lugar para vir, já que me traz todas essas lembranças e eu estou prestes a perdê-los para sempre. Não ligo. Por algum motivo, é aqui que eu precisava estar nesse momento.

     Após alguns minutos de solidão, entendo o que me levou a procurar esse lugar. Ouço passos suaves no corredor e vejo a sombra de Roger projetar-se na parede à minha frente antes mesmo de vê-lo. Ele se senta ao meu lado completamente mudo. Continuo olhando para a frente, esperando que ele fale alguma coisa. Se ele veio até aqui, é porque quer falar comigo.

     - Eu sabia que você ia estar aqui. – Ele começa.

   - Então a visita foi premeditada? – Eu pergunto, embora já saiba a resposta. Talvez ele diga que topou comigo aqui por acidente, que também queria ficar sozinho e me encontrou. Mas eu sei que não foi bem assim.

     - Qual é a sua dúvida? – Eu me viro para ele e o encontro sorrindo de um jeito meio tristonho. Vejo meu reflexo em seus olhos cor de mel e descubro que estou olhando para ele com a mesma expressão.

     - Você está nervoso? – Eu pergunto.

     - Não sei. – Ele diz. – Tem horas que eu fico até calmo, porque já sei o que vai acontecer. Mas eu sou um ser humano idiota. – Ele sorri de novo. – Não consigo evitar pensar de vez em quando que talvez eu possa voltar. Só que aí eu me lembro que se eu voltar, Liz estará morta. Então, eu decido tirar a coisa toda da cabeça, porque senão vou ficar maluco. Só vou chegar lá e fazer o que eu tiver de fazer. – Eu nunca vi Roger falar tanto. E ele parece estar sendo sincero.

     Relembro meus Jogos. Em como eu já enlouqueci tendo que cuidar só de mim na arena. Em como eu quase perdi a sanidade tentando apenas salvar minha própria vida. Então imagino como deve ser para Roger não só ter de se preocupar consigo mesmo, como também trazer para si a responsabilidade de salvar uma outra vida.  

      - Não sei se conseguiria fazer o que você faz. – Eu digo, aterrorizada com como sempre há alguém em uma situação pior do que a sua.

     - Se você tivesse um irmão mais novo e fosse obrigada a ir para a arena com ele, você faria, sim. Eu me lembro até hoje quando a Liz nasceu. Eu tinha só três anos, mas eu lembro. Todo mundo feliz e me largando de lado. – Ele ri. – Morri de ciúme. A primeira pessoa para quem ela sorriu fui eu, sabia? – Ele relembra, olhando para o teto. - Mas acho que era só porque eu era o único por perto. Se não, ela teria sorrido para a minha mãe.

     Sinto a ardência por trás de meus olhos. Não posso chorar , lembro a mim mesma. 

    - É verdade a história que você contou para o Ceasar? – Pergunto baixinho, porque sei que se aumentar o tom de voz as lágrimas vão vazar.

     - É. Cada palavra.

     Não tenho resposta para isso e ele também não diz mais nada, imaginando o efeito que todas essas revelações tiveram sobre mim. Quando eu finalmente consigo controlar a voz o suficiente para que eu possa falar algo mais alto que um sussurro sem chorar, respondo, dura como uma pedra:

     - Bom, acho que os Patrocinadores adoraram. – Cometo o erro de levantar a cara e olhar diretamente para seu rosto. Acho que meu semblante mostra o meu estado interno, porque Roger simplesmente balança a cabeça e diz, no mesmo tom que eu:

     - Tenho certeza que sim. – Ele se levanta. – Vou voltar para o meu quarto. Boa noite.

     - Boa noite. – Eu respondo. – Passo para ver você e Liz antes que levem vocês para a arena.

      - Até amanhã então. – Não o vejo mais. Ele desapareceu no corredor. Só escutei sua voz, que para minha surpresa, parecia meio embargada. 


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Notas finais do capítulo

Eu AMEI escrever as entrevistas, sério, tipo, foi um dos momentos que eu mais amei escrever e planejar. Espero que vocês também tenham gostado e ficado com dor no coração com a história do Roger, porque eu fiquei, ah, se fiquei e não costumo me abalar com coisas que eu mesma escrevo, porque se eu escrevi, é porque isso já estava planejado desde o início, então eu acabo não amolecendo com nada. Droga, vou parar de falar porque isso não tá fazendo o menor sentido, mas enfim, espero que venham comentários e que vocês curtam.
1 beijo 1 cheiro 1 mordida 1 lambida e 1 apertão na bunda.



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