Estar em um apartamento luxuoso com um dos banheiros que dá o tamanho de minha casa inteira, com um idiota que me trancou dentro de sua mini mansão, uma tempestade de se arrepiar, raios que chegam a cegar a gente, e finalmente, passar uma noite aqui, não era bem os melhores planos para um sábado à noite.

  Nem para minha vida toda.

- Como está a lasanha?- o garoto perguntou-me olhando para um ponto qualquer na sala enquanto saboreava seu pedaço daquela massa congelada.

- Não sei, estou mais preocupada em como evitar uma surra dolorosa.- afirmei com uma voz indiferente embora o olhasse fixamente tentando intimidá-lo.

- Não vai se dar mal porque passou a noite aqui. Relaxa.- deu uma gargalhada gostosa de se ouvir e retirou os pratos da mesa, percebendo que eu já havia acabado aquela gororoba.

- Claro que não. Qual o problema de tomar banho, no banheiro de um garoto, na casa de um garoto enquanto visto roupas de um garoto em uma noite de tempestade na presença de um garoto?- perguntei ironicamente.

- E qual é?

- riu.

- Ãhn... Você é um garoto.

- Ah isso é drama! Agora fica quieta. Vou tomar um banho, enquanto você... Tenta não quebrar nada, ta legal?- indagou com voz firme e por fim, se retirou.

  Meu Deus que alívio.

  Jeremy tem me dado nos nervos desde o dia do acidente com suco. Aliás, qual o problema dele? O garoto não deveria me odiar em vez de me convidar para banhos?- ok, essa última soou um pouco estranho.- Mas é a mais pura verdade! Deve haver algo de muito errado nisso. E se houver... Irei descobrir.

  Certo, estou com medo de mim mesma. Mas quer saber? Foda-se. Aqui tem TV a cabo, então está tudo bem.

  Caminhei até o sofá espaçoso e escuro, joguei-me até me sentir confortável o suficiente para finalmente poder tentar relaxar um pouco. Liguei a TV com o controle remoto e revirei os canais tentando achar algo que prestasse. Mas minhas duras tentativas foram em vão. Deixei em um programa qualquer e quando ele finalmente acabou o filme “O exorcista” começou a passar. Fala sério, ainda passa isso? Se eu não me engano esse filme é de 1973, que diabo estava fazendo ali? Enfim, que mal há em assistir? Já assisti há muito tempo atrás, não tem problema.

  30 minutos depois...

  Ai meu deus quem colocou aquela escada ali? Eu não quero dar de cara com uma guria endomoniada vomitando sangue. Caralho, que barulho foi esse? Por que está tudo escuro? Como o dia passou tão rápido? Droga, será que tem alguém me olhando?

  Olhei em volta e o único barulho do local era o dos padres tentando fazer um exorcismo na mina... Peraí, ela estava flutuando? AAAAHHHHHH O que foi isso na minha perna?

  Desliguei a TV rapidamente e o silêncio novamente pairou sobre o local. Senti novamente algo se movendo entre minhas coxas. Segurei o grito e passei a mão sobre o local... Era peludo.

  Ai meu Deus.

  Não era um demônio.

  Era pior.

  Muito pior!
 

- MIAAUU!!!!- rosnou o gato (rosnou?) enquanto eu apertava seu pelo sem dó nem piedade.

- AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!- gritei quando ele pulou sobre mim e deu um belo arranhão sobre minha face.- Socorro! Tirem esse demônio daqui! JEEEREEMYYYY!!! SOOCOORRO!!- situações desesperadas pedem medidas desesperadoras (é assim o ditado?)

  O garoto desceu correndo desesperado, molhando todo o caminho enquanto estava... Só de toalha?

  Droga!

  Ele ligou a luz rapidamente e minha boca quase caiu no chão.

  Literalmente.

  Seus cabelos estavam molhados e bagunçados, enquanto uma parte estava colada em sua testa, deixando-o altamente sexy. Seu abdômen era bem definido e levemente bronzeado enquanto algumas gotas rolavam por ali e a toalha estava apenas em volta de sua cintura. (isso significa que ela corria o risco de cair a qualquer instante) enquanto ele me olhava assustado.

  Boa hora pra desmaiar.

- O que foi, merda?- perguntou (gritou) com raiva enquanto franzia o cenho.

  Não deu tempo para perder-me em pensamentos tarados. Corri para seu lado e fiquei logo atrás do mesmo enquanto apontava para aquele ser demoníaco que lambia a pata calmamente.

- U-um ga-gato...- gaguejei enquanto minhas pernas bambeavam de tanto medo.- Tire-o daqui!- exigi.

  O babaca pareceu um tanto surpreso, indignado e zangado ao mesmo tempo (sim, isso é possível) enquanto me olhava com insistência.

- Ta me falando que me fez vir aqui de toalha por causa de um gato patético?- rosnou e chegou perto do bichano o pegando de mau jeito.

- TIRE JÁ DAQUI!!- gritei mais alto ainda enquanto ele se aproximava com aquele ser nos braços.

  Não deu tempo, ele pareceu se divertir com a situação e o aproximou de mim. Empurrei sua mão com brutalidade, o que fez o gato cair do outro lado da sala de mau jeito. Desequilibrei-me por um instante e caí sobre ele. Derrubando-nos no chão logo em seguida. Lembro de ter quebrado uma taça e cortado levemente seu braço.

  Mas isso não foi nada perto da gravidade.

  A mão que segurava a toalha agarrou meu pulso com força durante a queda.

  Fazendo o objeto voar sobre os ares.

  E o mesmo ficando nu por cima de mim.

  Minha vida é uma desgraça.

  Completamente.