Sábado.

  Para qualquer adolescente essa palavra pode significar: Animação, noites a base de vodka, coquetéis, garotas e baladas, azaração, tipo, MUITA azaração, sábados a noite inesquecíveis, motéis explodindo em gente, desobedientes roubando carros de pais, cigarros, e aproveitar a falta de responsabilidade por uma noite inteirinha.

  E mais uma vez, eu não estava incluída nesses grupos. Em um belo sábado ensolarado eu estava estirada em minha cama bagunçada, com lençóis imundos de migalhas de comidas espalhados por todos os cantos, enquanto ao meu lado pacotes e mais pacotes de doritos e pringles eram consumidos. Estava com sede, entretanto, ter que descer, abrir a geladeira, segurar a garrafa de coca e levá-la a minha boca era um esforço que eu provavelmente não teria em nenhum momento.

  Meu celular começou a tocar ao meu lado de uma maneira triunfante, estreando a voz de Timão em Hakuna Matata, seguido logo mais pelo divo do Pumba. Porém, só a ação de atendê-lo já me dava vontade de vomitar. Então apenas chacoalhei a cabeça minimamente seguindo o ritmo da canção.

  Mas aquela merda não pararia tão cedo. O melhor é encarar os problemas de frente e destruí-los de uma vez.

  Ok, eu não sou tão determinada assim.

- Alô.- murmurei preguiçosamente, colocando o telefone móvel próximo ao meu ouvido e soltando-o logo em seguido. Até minha mão era consumida pela preguiça.

- Jane!- alguém gritou do outro lado da linha fazendo com que minha cabeça quase explodisse.- Sou eu Haha! A diva da Leni!- sua voz fina ecoou trazendo-me de volta a realidade.

  Argh, a felicidade dos outros em momentos de preguiça e depressão me deixam nos nervos.

- Fala logo.- grunhi minimamente levando mais um pringle a boca.

- Ei! Isso é batata?- assenti positivamente sem vontade alguma e suspirei.

  Droga, ela não podia ver sua burra! Qual é! Estamos e um sábado de manhã.

- Sim, é batata.

- Bem, largue essa cascata de carboidratos e pegue seu melhor biquíni! Temos uma festa na piscina na casa do Tom!- gritou eufórica do outro lado.

  Tom era o capitão do time de futebol da nossa escola, Jeremy também fazia parte do time, mas ele era apenas um jogador riquinho e famoso com as garotas. Tom não era lá grandes coisas também, entretanto sua popularidade deixava qualquer um boquiaberto. As meninas sempre o barravam e ele sempre estava rodeado de pelo menos duas mulheres ao seu lado. Era alto, um porte meio atlético.- devo confessar que nem tanto quanto Jeremy.- cabelos negros e repicados, com enormes olhos castanhos.

  O que não atiçava meu interesse. E ir na casa desse boboca muito menos.

- Leni, esse número não é meu, vê se não enche.- afirmei após um longo bocejo e outra batata.

- Qual é Jane! Só hoje!- insistiu.- Aliás, você me deve uma!

- Devo? Desde quando?- perguntei indignada.

- Desde que eu fui buscar você em uma praia deserta, onde ficou totalmente bêbada e depois uma ressaca das bravas te atingiu!

  Ah, detalhes!

- Olha...- ta, eu não tinha mais argumentos.

- Por favor!!- insistiu mais ainda.- Jeremy não atende minhas ligações, e eu não estou a fim de ir sozinha.

  Suspirei novamente, só que dessa vez procurando muita paciência.

- Ta legal, eu vou.- respondi desanimada.- Venha me buscar em vinte e sete minutos. Caso o contrário, mudo de ideia.- e desliguei sem esperar qualquer resposta.

  Que ótimo! Eu já havia desistido de entender o porquê das pessoas nunca me deixarem quieta em um sábado de manhã. Talvez fosse alguma mandinga que fizeram com as minhas calcinhas por aí.

  Espere aí.

  Quem em sã consciência pegaria minhas calcinhas?

  Levantei como uma lesma e fui engatinhando até o guarda-roupa. Abri o maldito... E um bolo de roupas caiu sobre mim.

  Minha sorte estava se esgotando pelo ralo. E olha que não era nem dez horas da manhã.

  Comecei a revirar o tufo de roupas no chão a procura de um biquíni não-sexy-sem-a-menor-chance-da-buzanfa-aparecer e vi que a maioria das minhas peças estavam pequenas. Qual é! Não uso biquínis desde os treze anos.

- Merda.- murmurei só para mim e peguei a cadeira de meu computador, para poder procurar  peças de biquínis na parte de cima do armário.

  Com um esforço fora do normal, consegui achar um que se encaixava em meus padrões. Era um vermelho um tanto chamativo (não consegui achar outro), mas não tão vulgar (chega de palavras difíceis, digo que eu não ficaria parecendo uma puta com ele) com alguns detalhes metálicos na parte de baixo.

  Tomei um banho rápido, e deixei que meu cabelo ficasse solto, não quero me gabar nem nada, mas até que ele estava razoável hoje.

  Fitei-me por um bom tempo na frente do espelho com aquelas... peças.

  Na boa, eu estava me sentindo estranha com aquilo. Acho que eu iria com roupas de frio.

  Apesar de estarmos em um calor dos infernos.

 - Jane!- a voz feminina e aguda de Leni acabou chamando-me novamente para a realidade.- Uau! Você está linda!

  Um momento... Como ela veio parar aqui?

- Valeu... Eu acho.- murmurei.- Como conseguiu entrar aqui?

- Ah, eu estava te esperando lá embaixo há minutos! Foi ai que eu me enchi e Jack deixou eu entrar.

  Jack! Sempre o Jack!

- Demorei tanto assim?- perguntei ainda olhando-me no espelho.

  Minha pele pálida ficava um tanto esquisita com um vermelho tão... Insinuante. Percebi que meu cabelo já estava um pouco à baixo da cintura, acho que estava na hora de cortá-lo. Olheiras já brotavam em mim, e minha cara de tédio seria eterna.

- Um pouco.- indagou.- Vamos logo! Uma festa não espera pela gente! Principalmente se for na piscina!- deu um pequeno grito histérico.

- Ãhn... Acho que eu vou de casaco e calça.- murmurei envergonhada. Sabia que a garota se estressaria.

- O que??- gritou.

  Não falei?

- Você está louca? Perdeu o juízo? Como assim casaco e calça?!

  Ok. Sem estresses. Respire fundo, Jane.

- Estou me sentindo nua, porra!- rebati.

- Mas é uma festa da piscina! Todos vão de trajes de banho!

- Olha... Não me leve a mal, mas...

- Mas nada!- a loira interrompeu-me.- Estamos atrasadas! E você vai de biquíni!

  Olhei pra ela pedindo misericórdia. Contudo, Leni não prestou atenção, ou pelo menos fingiu não prestar. Entregou-me um vestidinho solto e florido e ordenou:

- Coloque por cima! Agora, vamos.

  Acho que ela daria uma boa militar. Sempre fui a favor disso, porém estou começando a sentir as consequências. Fui arrastada até o carro e obrigada a escutar música o caminho todo. Minha cabeça já latejava, e minha preguiça parecia não ter fim.

 Chegamos à enorme mansão de Tom. Fala sério, acho que seria a última vez que veria uma mansão de perto. Os portões eram grandes e prateados que levavam a um enorme jardim. Sua casa tinha pelo menos três andares, e eu já escutava uma batida de pop ao fundo. Leni estacionou uma esquina a frente, já que a rua estava tomada por todos os tipos de carros. Descemos, e entramos assim que a garota mostrou seu convite a um segurança.

  Se eu disse que a frente da casa é linda, esqueça.

  O fundão era maravilhoso e gigantesco. Havia gente em todos os lados, uma piscina gigante, várias duchas, churrasqueiras, montaram até uma pequena pista de dança, acho que deveria ter umas sessenta ou mais pessoas só ali.

- Cara isso é demais.- a loira falou olhando para garotos bombados que pulavam na piscina.

- Pode ser.- respondi entediada pegando um copo de refrigerante de um garçom que distribuía por aí.

  De repente, sinto mãos quentes e grandes tamparem meus olhos por completo. No início me assustei, entretanto, logo reconheci seu perfume.

- Henri!- afirmei enquanto segurava suas mãos ainda nos meus olhos.- Nem adianta, eu sei que é você.- sorri.

- Droga, Jane.- e soltou-me para abraçar-me fortemente.- Não tem graça brincar contigo.

- Desculpe.- ri.- O que está fazendo aqui?

- Conheci Tom esses dias e acabei ganhando um convite.- respondeu entediado.

  O garoto olhou para Leni, e ambos se cumprimentaram. Pegamos uma mesa próxima da piscina para podermos conversar melhor. Pessoas corriam por todas as partes, e meninas conversavam alto e tomavam sol do outro lado, chamando atenção de muito olhares masculinos.

- Sabe Jane, acho que você ficaria melhor sem esse vestido.- a loira confirmou depois de tirar o seu e sorrir após um vento fresco bater sobre ela.- Esse calor está me matando.

- Não estou com calor, e muito menos vontade de tirar a roupa.- murmurei como se fosse uma virgem em uma boate de stripper’s.

  Leni era linda, então era muito fácil falar essas coisas. Seus cabelos louros caíam um pouco à baixo do ombro, seus olhos verdes exuberantes pareciam brilhar mais ainda hoje, e, seu biquíni azul escuro encaixava-se perfeitamente com ela, com suas curvas e sua cor bronzeada.

- Qual é! É uma festa da piscina!- gesticulou com as mãos como se fosse à coisa mais óbvia do mundo.

  E era.

  Bufei e voltei aos petiscos em cima da mesa.

- Ta bom então.- rosnou.- Vou dar um mergulho, você vem Henri?

  O garoto quase se engasgou com sua limonada. Dei algumas batidinhas em suas costas, e então ele finalmente pareceu recobrar a consciência.

- Não vai dar não linda.- murmurou sem-graça.- Não gosto de mergulhos, mas boa sorte mesmo assim.

  Linda??

- Ah. Vocês são chatos! Eu não quero ir pra lá sozinha!

- Vai na fé.- incentivei.- Aqueles garotos vão gostar da sua companhia!- apontei para um grupo de jovens que estavam em um lado da piscina e olhavam fixamente para o bumbum da minha amiga.

- Que nojo Jane! Eu não quero ser estuprada durante o meu mergulho!

  Olhei piedosamente para Henri como se dissesse “Por favor, vai logo, você sabe que ela vai me obrigar” e fiz um biquinho de cachorro morto.

- Ta legal!- se deu por vencido.- Vamos lá Leni.- e pegou na mão da menina a arrastando para a borda, ela por sua vez sorriu.

  Apenas observei a cena.

  Ele retirou sua camiseta branca deixando a mostra seu peitoral definido e bronzeado a mostra, ficando apenas de bermuda. Umas garotas assoviaram, deixando-o um pouco sem graça. Empurrou minha amiga, que por um segundo gritou, e em seguida, deu um belo salto para o meio da piscina.

- Esses dois.- ri minimamente e levei o canudinho da limonada a minha boca.

  Fiquei por um tempo ali, sozinha. Como sempre, por sinal. De repente, todos os olhares da festa se dirigiram até a entrada. Se eu não me conhecesse, diria que meu queixo caiu lá no inferno.

  Tiffany, entrou com um biquíni (PS: fio-dental) rosa escuro com bolinhas brancas e um óculos escuro com bordas douradas, uma bolsa de praia e um sorriso provocante de orelha a orelha, alguns assobiaram e outros apenas ficaram abobados.

  Logo mais, foi o delírio das garotas. O demônio entrou com uma cara séria, logo ao lado de Tiffany. Estava com uma bermuda azul marinha, com o peitoral de fora, o cabelo castanho claro (que pra mim parecia loiro) bagunçado e recém molhado (provavelmente de um banho). Poderia jurar que seus olhos estavam mais claros ao longe, e ele realmente parecia bem contra sua vontade ali.

  A miss bumbum se enturmou rapidamente com um grupinho de meninas patéticas da minha escola. E logo, alguns amigos de Jeremy, e também do clube de futebol, foram conversar animadamente com o garoto.

  Outras pessoas cochichavam sobre a chegada daqueles dois. Uns com inveja e outros com admiração.

  Eu particularmente, não achei tudo isso. E também não entendo o porquê de tanta veneração.

  Espantei esses pensamentos para longe e tentei prestar atenção nos meus amigos se divertindo na piscina e nos petiscos que eram servidos de minuto em minuto. Adoraria ter ficado um pouco na água com Henri e Leni. Porém fico com vergonha só de pensar em ficar na beirada e assumir que não sei nadar.

  Eu juro, sempre tive um medo anormal de piscinas gigantes (na verdade, as de bebês também me parecem ter uma falta de segurança incrível). Argh! Detesto sentir esse medo e também  de não saber nadar com 16 anos.

  Acho que fiquei uns quinze minutos nessa sequência e pensamentos patéticos, até uma mão puxar uma cadeira para o meu lado e roubar um pouco da minha limonada com a forma mais descarada possível.

- Devo dizer, que não me parece muito correto uma pessoa que acabou de passar por uma gripe vir para uma festa da piscina vestida apenas com isso.- sua voz grossa e rouca ecoou próxima ao pé do meu ouvido, deixando que arrepios desnecessários surgissem em meus braços.

- Já olhou para esse pessoal?- perguntei irritada tentando não gaguejar.

- Aliás, eu não sou bebê para ficarem tomando conta de mim.- peguei minha limonada com força a deixando bem longe de Jeremy.

- Oh, certo.- ele rebateu com ironia colocando seu braço pesado em volta de meu pescoço, fazendo com que eu grunhi-se rapidamente.- Então não gostou de meus cuidados particulares?

  Quase engasguei-me com a batatinha frita que mordia. Aposto que minha careta deve ter sido parecida com de algum demônio por aí.

- Ah Jeremy, vá se catar.- e outra vez, eu não tinha mais argumentos.

- Sabia.- riu de maneira provocante e elevou seus dedos rapidamente sobre a minha face tirando algumas partes de cabelo dali e colocando sobre minha orelha.- Acho que você deveria ter vindo com roupas de frio.- indagou secamente enquanto se distanciava.

- É, eu também.

  E o prêmio Nobel de tapadices do ano vão para: mim.

- Q-Quer dizer, você não deve achar nada! Idiota.

  Ele riu.

- Você é uma péssima mentirosa.

  Já me disseram isso antes, seu ridículo. E eu não tenho um pingo de orgulho disso.

  Eu sei, discutir com seu subconsciente é simplesmente assustador.

- Por que você não vai com a sua priminha?- reclamei tirando seu braço com violência em volta de meu pescoço.

- Acho que ela está muito ocupada.- respondeu com desdém pegando uma batatinha e a devorando.- Aliás, ficar por aqui parece ser mais interessante.- um sorriso cafajeste brotou de seus lábios.- Poderia estar chovendo novamente. Eu aproveitaria bastante.

  Minhas bochechas queimaram bruscamente, e logo me lembrei da tarde chuvosa na rua deserta. Que droga! O que esse garoto tem?

  Seus dedos, ligeiramente agarraram meu queixo a força, deixando-me completamente sem ação. Fui obrigada a fitar aquele par de olhos azuis penetrantes, que me estudavam com curiosidade. Estremeci, quando sua boca se aproximou da minha e logo senti um frio sobre minha espinha deixando-me completamente sem chão. Sua respiração gelada e deliciosa ia de encontro a minha, e seu braço direito puxou-me bruscamente contra o seu corpo quente e musculoso. Deixei minhas palmas abertas sobre seu peito nu, enquanto fechava os olhos.

  Nossa mesa era um pouco afastada das outras, o que me aliviou um pouco.

- Ei Jeremy!- uma voz gritou ao longe fazendo com que eu empurrasse seu corpo para longe em milésimos de segundos.

  Recuperei minha respiração e para disfarçar, tentei ajeitar o cabelo.

- Venha jogar conosco!- um de seus amigos acenou do outro lado o chamando para uma partida de futebol americano na grama com outro grupo de jovens.

  Jeremy acenou desconfortavelmente, e em seguida se levantou, soltando um olhar gélido para minha direção antes disso, fazendo com que eu abaixasse minha cabeça rapidamente logo. E se distanciou.

 Respirei profundamente e tentei colocar os pensamentos no lugar. Depois de um tempo, todos foram correndo assistir a partida, deixando a parte perto da piscina completamente vazia. Levantei-me desengoçada e fui caminhar sobre a beirada da mesma, procurando um ar que me faltava.

- Não perde tempo, não é mesmo sua bisca?- uma voz fina soou próxima a mim.

  Virei-me.

  Tiffany.

- Vá se ferrar.- limitei-me em xingá-la e voltei para o lado contrário de onde a piranha estava.

  Seus passos apressados vieram em minha direção.

- Não de as costas pra mim, vadia.- segurou meus pulsos fortemente, mas não deixei barato, e me soltei com brutalidade a empurrando um pouco.

- Dou as costas para quem eu quiser, sua piranha.- segui um passo para trás.- Vai fazer o que? Jogar glitter em mim?- ri com ironia e olhei com nojo.

- Isso é demais pra você.- revidou, correu em minha direção e por sua vez, puxou meu cabelo para baixo fazendo com que eu gritasse agudamente de dor.- Isso é melhor.- e logo, não deixando com que eu me defendesse, empurrou meu corpo com brutalidade para o fundo da piscina.