Quatro Elementos: O Confronto escrita por Amanda Ferreira


Capítulo 22
Véspera de Natal


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos! Como anda as férias? Já acabando neah! Que penaaa :/
Bom, hoje coloquei a foto do Lipe, mas o próximo é do Rick hot, como me pediram.
Espero que gostem e curtam! hehe
Boa leitura e um enorme kiss



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Claire

O sol fraco iluminava em pequenas faixas através das arvores da floresta a minha volta. Para uma véspera de natal eu comecei muito bem. Procurando numa floresta suja, uma planta idiota, com nome idiota, para ajudar um vampiro de quinhentos anos, idiota.

– Droga! - resmunguei sentindo o celular vibrar no bolso de trás da minha calça jeans, clara demais para passear pela floresta.

Cliquei na tela e abri a mensagem do Rick:
" Estou indo fazer um pequeno favor ao meu novo melhor amigo Felipe. N se preocupe, n vou demorar. Assim que voltar a cs da Kate me liga! (: Bjs"

Revirei os olhos. Não sei que favor o Felipe precisa, ele já está a salvo com a Bia numa casa de campo que eu daria tudo para estar em paz.

Cliquei em responder e digitei rapidamente errando algumas letras e tendo que apagar:
" Espero que esses "favores" que anda fazendo sejam úteis para nós. Te ligo"

Guardei o celular e voltei a minha busca, andando devagar e com mais atenção do que necessário as folhas e insetos no chão. O barulho de alguma nascente me chamou a atenção. Apresei o passo ate avistar uma claridade que nunca reparei aqui antes. As arvores eram mais separadas, deixando a luz do sol entrar, iluminando uma pequena descida de terra onde uma nascente crescia. O ar é úmido e extremamente aconchegante.

Respirei devagar sentindo a umidade e o cheiro de plantas. Desci com cuidado sem querer escorregar e cair para sujar toda a minha roupa. O celular vibrou de novo e fui obrigada a me escorar numa arvore para ler a mensagem de resposta do Rick.
" N exatamente pra nós, ou pelo menos por enquanto. Mas tbm n é para nos matar! hehe"

Ajeitei o celular para digitar, mas um som de folhas sendo esmagadas chamou minha atenção no lado escuro da floresta, de onde eu tinha vindo. Guardei o celular sem responder e puxei meu cabelo num coque. Apertei os olhos na direção do som.

Suspirei derrotada e subi mais rápido, voltando a parte plana da floresta. Fechei minhas mãos em punho esperando meu seguidor aparecer. O cheiro de eucalipto se destacou no ar fazendo meus punhos relaxarem instantaneamente. Meu coração disparou no peito, assim que a silhueta saiu do meio das arvores finalmente ficando ao alcance da minha visão.

Engoli em seco e prendi a respiração para não ser mais uma vez hipnotizada pelo perfume. Não foi muito útil quando meus olhos encontraram os seus, a mesma sensação da noite passada percorreu meu corpo e tive que voltar a respirar para não cair ali mesmo.

O estranho era extremamente fascinante...

***

Felipe

O mercado ali perto era exatamente como das cidadezinhas: sem muitas pessoas, mas cheio de coisas. O dinheiro que consegui arrumando uma moto de manha serviu para comprar alimento e outras coisas necessárias.

Abri a porta grande de madeira e empurrei com o pé assim que entrei. A sala de estar estava vazia e silenciosa, na verdade a casa toda parecia vazia e silenciosa. Depois da conversa de ontem, eu ainda não conversei com a Bia, porque não quis forçar a barra de ir dormir com ela. Então levantei cedo e resolvi ir comprar algumas coisas.

Andei ate a cozinha e deixei as sacolas de papel em cima do balcão de mármore. A porta de vidro estava entreaberta e o barulho de água vindo lá de fora me fez ir ate lá. Abri a porta devagar e não pude deixar de sorrir assim que a vi.

Estava agachada segurando uma mangueira amarela numa mão e na outra a coleira vermelha de um cachorro preta e peludo. Ele sacudiu algumas vezes fazendo a água ir para toda parte.

Ela estava com um short jeans curto e uma camiseta branca com uma camisa xadrez de vermelho-claro, escuro e branco por cima.

– Fica quieto! - ela reclamava com o cachorro.

– Posso saber desde quando temos um mascote? - perguntei cruzando os braços sem me aproximar.

Ela deu um pulo soltando o cachorro que correu para rolar em um lençol estendido na grama verde. Vi ela suspirar e passar a mão na testa tirando o cabelo que estava preso num rabo-de-cavalo.

– Não se preocupe. Esse ainda não é o nosso. - sorriu indo ate o cão que rolava mais na grama do que no pano.

– De quem é então?

– Trabalho. Afinal, não vamos viver só de vento. - ela deu de ombros.

– Isso é verdade. - andei ate ela que agora colocava a guia na coleira do cão.

– Vou devolve-lo e ver se arrumo mais alguns "clientes" - fez aspas com os dedos e depois sorriu puxando levemente o cão que a seguiu sem brigar.

Entrei na casa e comecei a organizar as compras nos armários de parede. Ouvi o som baixo do toque do meu celular. Peguei-o do bolso e olhei a tela trincada com um nome familiar: Rick.

– O que foi? - atendi.

– Oi pra você também velho amigo! - ele falou do outro lado.

– Oi! Já saiu?

– Já sim! E ainda tive que me explicar pra Claire. Mas tá de boa. - posso sentir ele dando um sorriso satisfeito.

– Tudo bem. Só precisa entregar um endereço e a Claire nunca vai saber que esteve ai. - abri a geladeira procurando algo útil.

– Mesmo se soubesse, eu já estaria morto uma hora dessas e com certeza você também, Pedrita. - ouvi ele dar um risadinha.

– É. - dei uma risada. - Não seria nada legal.

– Tudo certo. Mas que voz é essa? Posso sentir sua decepção daqui. Problemas com a Bia?

Suspirei tomando um gole de Coca-Cola que encontrei.

– Não diria problemas. - olhei o relógio que marcava 12:26. - É mais "espere ate conseguir o prêmio".

– Hmm! Entendi. - ele riu de novo. - Quer um conselho?

– Você vai falar de qualquer maneira.

– Vou sim. - ele limpou a garganta. - Parte pra cima. Não deixa nem ela pensar num não e pronto.

Comecei a gargalhar ate ele tossir do outro lado.

– Acha que já não pensei nisso? Eu ate tento, mas não acho que avançar assim vá resolver.

– Então... antes você precisa aliviar o stress. Que tal a ruiva gostosa? Posso ate te fazer companhia. A Claire e a Bia não precisam saber.

– Serio? - comecei a rir de novo. - Gosto da minha cabeça onde está e da Claire sendo minha amiga.

– E eu da minha cabeça e o resto do meu corpo. - riu. - Tudo vai acontecer na hora certa.

Acredite, quando acontecer, vai simplesmente maravilhoso.

– Estou esperado por isso.

– Manda ver então. - ele riu. - Depois a gente se fala, acabei de chegar.

– Valeu Rick!

– Por nada.

Deixei o celular na mesa e voltei a minha tarefa de arrumação. Tudo o que eu preciso é de um tempo para pensar.

***

Rick

Entrei rapidamente e olhei o ambiente conhecido. A mesma claridade, com um balcão em meia lua, os dois sofás e uma escada de cada lado. E lá estava a mesma mulher de cabelos curtos, como recepcionista.

Parei em frente ao balcão de mármore e sorri.

– Victoria Durke! - falei me debruçando na pedra fria.

A recepcionista levantou o olhar sem mover a cabeça e me encarou por um mínimo segundo para depois se endireitar e sorrir calorosamente.

– Agora? - perguntou com uma voz aguda.

– Se ela estiver livre... sim! - sorri.

A mulher pegou o telefone branco do seu lado e digitou um numero rapidamente. Pude ouvir chamar apenas duas vezes antes da voz doce e calma atender.

– Vick, tem mais um cliente. - a morena falou ao telefone.

– Pode mandar subir. - a voz do outro lado respondeu.

– Você pode ir, ela está livre.

– Muito obrigado. - sorri me endireitando e pegando a escada rumo ao quarto da ruiva.
...

Ainda bem que tenho uma boa memoria e ate decorei o corredor e o quarto dela. Bati apenas uma vez e a porta já abriu.

– Oi ruivinha! - falei entrando antes dela permitir.

– Você... - ela fechou a porta e virou lentamente a tempo de me ver sentar na sua cama. - O que faz aqui? Cliente eu sei que não é, ou...

– Não. - sorri dando uns pulinhos para ver como a cama era macia. - Seria ótimo, mas amo minha namorada e meu corpinho lindo.

– Claro. - sorriu e andou na minha direção, mas passou pela cama e me entregou um copo. - O que te traz aqui?

– Saudades e queria te conhecer melhor. - sorri.

– Serio. Como posso ajudar?

– Bom... me ajudando com um pequeno favor. - fiz um gesto com o dedos.

– E o que seria? - ela colocou, ao que me parecia ser vinho no meu copo.

– O que mais poderia ser... me mostrando o futuro.

***

Claire

Fiquei paralisada enquanto ele mexia os olhos rapidamente vasculhando o ambiente para logo voltar a me encarar. Deu dois passos na minha direção e pareceu receoso para continuar e se manteve ali mesmo. Agora eu podia ver com clareza sua aparência: a pele pálida assim como a minha, era mais baixo que o Rick, um corpo definido de quem malha algumas vezes na semana. Os cabelos eram de castanho claro a loiro. O rosto ia de um contorno fino a redondo, o maxilar firme, a boca rosada e cheia, os olhos... no mesmo tom azul-cinzento.

Ele usava uma calça jeans e camiseta preta colada, destacando os músculos dos braços e peitoral. Finalmente abaixei minha cabeça olhando minhas próprias roupas: calça jeans clara e velha, camiseta marrom-escura. O meu de sempre, é claro!

Ouvi as folhas sendo esmagadas de novo e ergui a mão direita em defesa fazendo as folhas saírem do chão e as arvores balançarem levemente.

– Desculpe! - ouvi ele falar e levantei a cabeça para lhe olhar de novo. - Não quero assustar você e muito menos te machucar.

– Machucar? - perguntei descendo minha mão. - Você sim, devia ter medo de se machucar.

– Talvez...

Ele abaixou os olhos para se aproximar mais um passo e depois os ergueu me olhando de um jeito estranho.

– Sei o que está procurando. - falou. - Precisa ser mais cuidadosa, mais paciente, ou... não vai encontrar nada.

– O que? - ergui uma sobrancelha. - E quem é você pra me dar dicas?

– Ninguém em especial. Apenas um lobo que pode ajudar. - deu de ombros.

– Não preciso de ajuda!

Me virei lutando para não virar de volta e apenas olha-lo mais uma vez. Mas...

– Pensando bem... - virei rapidamente e avancei na sua direção o pegando desprevenido pelo pescoço, ate bate-lo numa arvore alta e com casca grossa.

Apertei apenas a mão direita no seu pescoço e tive que levantar um pouco os pés para segurar com firmeza.

– O que ele quer? - perguntei.

– Ele quem? - ele abriu os olhos meio sem foco.

– Como quem? O seu Alfa. Vicente. - tentei não olhar seus olhos que agora me fitavam confusos. - Ele mandou você pra tentar me pegar? Quer vingança?

– Não. - ele tentou balançar a cabeça. - Ele não é o meu Alfa.

– A não? Então por que estava com ele ontem?

– Eu só... - ele me prendeu no olhar e quando dei por mim, sua mão estava segurando o meu pulso e retirando a pressão que eu estava exercendo no seu pescoço, tirando a minha própria mão e abaixando-a lentamente. Ele soltou meu pulso e suspirou para depois me olhar. -Eu só não acho certo o que está havendo.

Engoli em seco sentindo seu aroma mais forte e a profundidade dos seus olhos me atravessarem.

– Não quero que tudo desabe por algo que talvez nem seja permanente... e nem valha a pena. - ele estava falando da lapide? - Posso encontrar a cura e dar a você. O vampiro só tem mais algumas horas antes de enlouquecer e... morrer.

Não achei minha voz e só restou o silencio pairando sobre nossas cabeças. Meu coração palpitava loucamente e meu corpo tinha reações estranhas.

– Posso ajudar? - ele quebrou o silencio se afastando da arvore e me fazendo recuar assim que ficou mais próximo.

– Só me dê a cura e pronto. - finalmente falei com uma voz estranha.

Abaixei os olhos, mas ainda o vi assentir e sair, indo para o lado claro da floresta. Me virei e o segui calada. Ele andou rapidamente pela parte clara, ate que sol brilhava mais forte esquentando minha pele.

– Como vou saber se não vai me dar algo que vai matar o Jonny ainda mais rápido? - perguntei assim que ele abriu algumas folhas para que eu passasse.

– Não se preocupe. Não vou fazer isso.

Parei de frente para ele e analisei sua expressão. Não parecia estar mentindo e ainda me pergunto como ele me transmite tanta confiança.

– Aqui é perfeito. - ele falou consigo mesmo. - Sol, calor...

– Desculpe interromper sua conversa com o amigo imaginário, mas como sabe tudo isso? Quer dizer, você tem quantos anos? Vinte?

– Noventa e três. - ele se virou para me olhar.

– Hun! - cruzei os braços. - Ótimo!

Ele se virou abrindo caminho para mim, passei rapidamente e parei instantaneamente também. A claridade era muito maior, as arvores mais baixas e retorcidas, a grama verde se espalhava e o sol brilhava iluminando as plantas erguidas.

– Meu Deus! - olhei em volta chocada. - Como não vi isso antes?

– Porque é um pequeno segredo dos lobisomens.

– Pensei que estivessem em extinção, quer dizer, não tem muitos por ai.

– Os verdadeiros lobisomens sim, mas lobos transformados como eu, tem vários. - me virei para vê-lo. - Eles só tem medo de serem encontrados e exterminados.

– E aqui é tipo o lar da alcateia? Ou reuniões? - perguntei relaxando os ombros.

– As vezes sim. - ele sorriu mostrando dentes brancos e brilhantes e deixando transparecer duas covinhas. - Aqui!

Andei para mais próxima dele e parei debaixo de uma arvore longa com uma sombra deliciosa. Do outro lado cheio de plantas e matos sem necessidade, estava a tão poderosa salvadora: com um caule fino e delicado, surgiam as flores com camadas redondas e preguiçosas caindo levemente para baixo, num tom lilás e alguns flashes brancos.

– Serio? Tudo isso para aquilo? - apontei na direção da planta.

– Aquilo pode matar um lobisomem, dependendo da quantidade. - ele deu de ombros. - Por isso sempre estamos de olho aqui. O Wolfsbane ou Acônito, como preferir chamar, é muito usado por bruxas e feiticeiras e ate mesmo caçadores que querem nos matar ou enfraquecer.

– E como isso vai ajudar um vampiro?

– Bom... tecnicamente tem veneno de lobo correndo pelo corpo dele, mesmo ele sendo um vampiro, é como se tivesse numa fase de transformação, só que o vampirismo não deixe ele virar um animal e então eles vão brigar. E isso o enlouquece ate a morte.

– Quer dizer que o Wolfsbane vai... - fiz uma careta. - Anular a briga interna entre "veneno vampiro e veneno lobo"?

– Exatamente! - ele deu um sorrisinho meio que... sedutor. - Vai cura-lo.

Mais uma vez o silencio e ficamos nos encarando. Limpei a garganta e olhei para a planta de novo.

– Ótimo! Vou pega-la. - me infiltrei no meio das plantas e o sol forte. Os matos pinicavam minha pele exposta do braço.

Cheguei perto o suficiente para suspirar de alivio e ver com mais nitidez a flor delicada.

Puxei o caule inteiro de uma e arranquei com mais força do que necessário. Me senti gloriosa e ate sorri para mim mesma. Andei mais rápido para sair do monte de matos e chegar logo na sombra fria.

Parei debaixo da arvore mais uma vez e tive que passar a mão livre na testa para me livrar do suor que começou a brotar. Olhei encontrando-o encostando despreocupadamente no tronco da arvore.

– Muito bom. - deu um sorriso torto. - Tem a cura.

– Maravilha, mereço um prêmio por isso. Por ser tão ótima em achar coisas estranhas com nomes estranhos e... - olhei ele retorcer o rosto numa careta. - Tudo bem... você encontrou.

– É. - ele revirou os olhos. - Nada a dizer sobre isso?

Remexi no cabelo e balancei a cabeça rapidamente.

– Obrigado. - sussurrei.

– O que? - ele se desencostou da arvore com uma expressão divertida no rosto.

– Obrigado! - falei em alto e bom som.

– Por nada dominadora. - tive que suspirar com sua voz sedutora.

– Preciso voltar antes que o senhor ancião morra. - olhei mais uma vez as flores na minha mão.

– Vai ficar tudo certo e... destruam a lapide enquanto há tempo.

– Eu não sei. - balancei a cabeça de novo. - Não sei o que vão fazer.

– Só... não vale a pena arriscar.

Assenti rapidamente e andei rumo de onde tínhamos vindo. Parei subitamente e me virei para ele.

– Posso saber seu nome?

– Pensei que não perguntaria. - andou ate mim parando na minha frente e dando mais um sorriso mostrando de novo as duas covinhas. - Daniel.

– É um prazer. - sorri timidamente. - Eu sou a...

– Sei quem você é. - me interrompeu dando um leve sorriso.

Assenti abaixando o olhar. Ele se afastou indo para o lado com sol.

– A gente se vê por ai. - falou antes de se virar e correr sumindo no meio das plantas.

Suspirei me sentindo meio nostálgica e voltei a andar lentamente de volta a casa com a doce cura para mordida de lobo.

***

Bia

Eu nem me lembraria que hoje é a ceia de Natal nas casas com famílias se não tivesse olhado o enorme calendário na parede da cozinha, que alias, estava sem nada antes.

O som baixo da TV preenchia o ambiente o deixando mais agradável do que o silencio mortal. A cozinha iluminada era bem aconchegante e ate chamava para cozinhar. As paredes revestidas por um azulejo branco, assim como o chão. O balcão de mármore fazia uma grande volta ocupando um bom espaço, atrás ficava a pia, geladeira e fogão. No corredor que se formava devido ao balcão ficava os armários de parede. A janela ampla junto com a porta de vidro era o que iluminava todo o lugar. Parecia familiar e bom.

Andei ate a sala vendo o jornal local passar na TV e o Felipe relaxado no sofá, sem prestar muita atenção no que passava. Observei-o em silencio. Os pés para fora do sofá, a cabeça deitada numa almofada e os olhos parados na TV, mas mesmo assim eu sabia que ele não estava prestando atenção.

Suas roupas eram as mesmas básicas de sempre: uma camisa azul-marinho desbotada e calça jeans. Seu cabelo parecia bagunçado e sem um jeito definido. Ele mudou de canal algumas vezes, mas voltou ao jornal logo.

– O que teremos para a ceia de Natal? - falei depois de ter me inclinado nas costas do sofá.

Ele arregalou os olhos erguendo a cabeça para me olhar. Deu de ombros.

– Vamos improvisar. - falou por fim dando seu sorriso angelical.

– Como um frango ao invés de um peru?

– Ou suco de uva ao invés de vinho.

Sorrimos juntos. Contornei o sofá e ele se ajeitou, me sentei na beirada.

– A Kate vai vir. - ele falou quando percebeu que eu não falaria nada. - Não vamos ficar sozinhos. Vamos tentar ter um Natal comum. Foi o pedido da Claire.

– Seria bom. - abaixei os olhos. - Apenas uma noite de Natal.

Ele assentiu e depois deu um longo suspiro.

– Conseguiu mais clientes?

– Mais dois. - dei um sorriso o olhando. - Amanha.

Ficamos em silencio, somente o som da TV não deixava ficar um clima pesado e confuso.

– Você está bem? - mais uma vez ele quebrou o silencio.

– Melhor. - assenti. - Sabe... muitas vezes eu pensei em como a minha vida seria se eu fosse só uma humana. Se teria uma família, um emprego, que faculdade eu faria. Mas quando eu perdi a dominação foi como se tivessem arrancado uma parte do meu corpo. Como se faltasse algo... e faltava. O meu ser normal é ser quem eu sou.

Ele se sentou e pude ver sua mão se esticando para tocar meu rosto. Seu toque causou um choque pelo meu corpo.

– É assim que tem que ser. - ele parou e o olhei ficando presa no seu olhar. - Se eu fosse só humano... quem garante que eu te encontraria? O que seria de mim?

– Teria sorte. - sussurrei.

– Não. - ele balançou a cabeça. - Estaria perdido. Como eu estava antes de te conhecer. Como eu fiquei quando...

Ele suspirou abaixando a cabeça para fitar o pano do sofá. Me aproximei e estendi a mão para levantar seu rosto.

– Pensei que você não ia mais voltar.

– Estou aqui. - estendi a outra mão para segurar seu rosto. - Não vou mais sair, nem que eu quisesse.

– E não vai mesmo! - sorriu.

Me aproximei e ficamos nos encarando por alguns segundos longos demais. Seus olhos me penetraram e por fim seus lábios. Mais um choque passou pelo meu corpo, passei os braços pelo seu pescoço e ele apertou minha cintura me puxando para mais perto.

Abri a boca deixando sua língua macia entrar e meu corpo reagir estremecendo em resposta. Apertei mais os braços em volta do seu pescoço e tentei acelerar o beijo sentindo que logo ficaria sem ar.

Uma das suas mãos subiu pela lateral do meu corpo, ate parar segurando a minha nuca. Tirei as mãos do seu pescoço e tentei empurra-lo para trás, mas ele foi mais rápido e quando dei por mim ele já estava deitando por cima me olhando com um sorriso malicioso.

– Estaria perdida sem você também. - mordi o lábio dando um sorriso em seguida.

Ele deu um sorriso torto, aquele que o deixa extremamente irresistível.

– Totalmente perdida. - o puxei colando nossos lábios de novo.

Deslizei as mãos pelas suas costas ate alcançar o fim da camisa e levanta-la lentamente. Senti-o apertar a minha coxa e levanta-la no seu quadril. Soltei um gemido na sua boca quando sua mão passou para dentro da minha camiseta. O toque das suas mãos me causava algo novo e... bom.

Soltei um longo suspiro quando ele começou beijos pelo meu pescoço me fazendo pender a cabeça para trás. Levantei a outra perna apertando as duas no seu quadril. Ele me olhou por um segundo e pude ver um vislumbre nos seus olhos, de que estavam se trincando.

– Lipe. - falei com uma voz entrecortada.

– Tudo bem. - ele se afastou alguns centímetros de mim e fechou os olhos os apertando com força. - Desculpa. Isso... as vezes... - ele estava ofegante. - Isso acontece as vezes.

Assenti lentamente ainda olhando ele abrir os olhos trazendo de volta o verde. Minha respiração estava falha e o coração acelerado.

– Está tudo bem. - acaricie seu rosto. - Tudo bem.

Assentiu dando um suspiro e olhando para baixo. O puxei lentamente pelo pescoço ate ele me olhar.

– Felipe. - ele levantou os olhos.

Se rendeu ficando a centímetros do meu rosto. O puxei para mais num beijo profundo e lento. Deixei o meu corpo ser tomado pela sensação de tê-lo pra mim, só meu. Apertei as unhas na sua nuca fazendo o beijo se tornar algo mais urgente e desejado.
Já estávamos arfando de novo quando eu mordi seu lábio e apertei minhas pernas a sua volta mais uma vez. Ele subia e descia a mão pela lateral do meu corpo, ate chegar na coxa e subir levantando levemente o meu short. Puxei sua camisa de novo e ele se afastou rapidamente tirando-a. Apertei as unhas nas suas costas e deixei ele colar os nossos corpos me causando mais um choque. Soltei mais um gemido quando ele apertou a parte interna da minha coxa...

Três batidas na porta me fez quase pular, exceto pelo fato que o seu peso estava por cima de mim. O Felipe deu uma risadinha e me olhou divertido.

– Esperando alguém? - perguntei meio sem folego.

– Não. E você? - era um tom divertido na sua voz.

– Não mesmo. - sorri. - Será nossa vizinha adorável? Com mais uma torta?

Ele deu uma gargalhada baixa e mordeu o lábio inferior.

– Acho que não. Duas tortas em dois dias? Gentileza demais.

Assenti sorrindo e o puxei para mais um beijo. Era bom ver o lado divertido dele, sendo aberto, simplesmente sendo ele.

– Eu vou lá. - ele se levantou e pegou a camisa a vestindo na mesma velocidade com que tirou. Me deu mais um olhar malicioso e foi ate a porta.
Me sentei respirando pesadamente e logo ajeitando minha roupa e passando a mão pelos meus fios de cabelo embaraçados.

Ouvi o Felipe falar alguma coisa, mas minha mente ainda estava nos beijos e na presença dele. Tive que piscar algumas vezes antes de ver que ele tinha voltado e não estava só. Fiquei de pé quase arregalando os olhos ao ver uma ruiva, pele pálida e olhos maravilhosamente grandes e azuis. Olhei atônita para o Felipe que ergueu as sobrancelhas e deu de ombros. Me virei para a garota que agora sorria, mas o seu sorriso não me parecia sincero, tinha algo por trás dele que eu não consegui definir, algo...

– Bia? - acordei do transe com o Felipe parando do meu lado.

– Hun? - olhei para ele e de volta a garota.

– Bianca essa é a Vick. - apontou para a ruiva com sorriso forçado. - Vick essa a Bia.

– É um prazer Bianca. - ela deu mais um sorriso. - Victoria. - estendeu a mão na minha direção.

Analisei a sua altura, não tão baixa quanto eu. A calça apertada preta combinava perfeitamente com a bota curta e a blusa verde com algumas pregas. Os cabelos vermelhos caiam em leves cachos ate a altura dos seios e a leve maquiagem fica perfeitamente bem na sua pele translucida.

Engoli em seco sentindo o seu perfume de uva invadir minhas narinas e finalmente estendi minha mão de volta pegando na sua com unhas compridas e vermelhas. Assim que nossas peles se tocaram uma onda de rubor percorreu meu corpo. Vi uma claridade no começo e uma sensação estranha me invadir. Fiquei paralisada e meus olhos se arregalaram e só consegui me focar nos olhos dela. O Azul intenso sendo totalmente tomado pelo branco.

Foi no máximo um minuto ou dois, e felizmente ela soltou minha mão e se afastou rapidamente ainda de olhos arregalados, o azul de volta.

– Vick o que foi? - o Felipe perguntou se aproximando dela.

– O que foi isso? - perguntei ainda meio tonta.

– Eu vi. - ela falou com uma voz cansada. - Não perca a cabeça. - olhou para mim. - Ou a morte alcança você.


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Notas finais do capítulo

Então... bom?
Intée povo!



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