Rin acordou e se espreguiçou. Estava cansada de tudo que fizera. Correra os 17 quilômetros com Len como sempre fazia. Porém perdera um bom tempo discutindo com ele. Rin detestava brigar com Len, porém, fora necessário.

Len sempre fora do tipo galã, todas as garotas o desejavam e mandavam declarações. Porém ele nunca dava um basta em tudo isso. Ficava obcecado por seu sonho estúpido e idiota. Ele se cegava.

Rin bateu no travesseiro. Idiota. Ele era um grande idiota, perseguindo o sonho dela... Só porque ela queria ser cantora e seguir a carreira musical, não significava que esse também era o sonho dele. Mas se tornou depois do ocorrido. Rin começou a bater a cara no travesseiro. Droga, por que tinha que gostar desse estúpido?

Olhou-se no espelho, os cabelos loiros bagunçados e de cumprimento razoável. Nunca seria como ela, não bastava o quanto tentasse. Encarou o baixo que ficava ao lado da cama. Não podia negar, o sonho dela se tornou o sonho de todos eles. Tirando o de Megurine, que já o possuía. Fora por causa disso que ela...

Não. Rin negou com a cabeça, afastando as lembranças. Aquilo era tudo um passado sombrio e alegre. Não precisava achar um culpado, não queria. Ninguém era o culpado, a não ser, talvez, Miku.

Voltou a dormir.

Meiko ainda estava jogada na cama. Ficava revendo cada vez mais o momento em que seu salvador surgiu. Quem era ele? Tinha cabelos azuis. Não, era parecido com o cabelo de Miku, um verde azulado...

Fechou os olhos mais uma vez. Será que não era Mikuo Hatsune? O irmão mais velho de Miku? Seria um tanto estranho, porém não era impossível. Mas, por que ele a defendera?

Ainda estava anestesiada com tanta nostalgia. Ela só queria esquecer tudo da forma mais rápida o possível.

Mas ela não conseguiria mais uma vez.

Não era a única que tentava.

Len segurou a foto que estavam Miku e Rin, crianças. Ele achara jogado na casa de Rin. Não achou que a garota fosse dar falta e pegou a foto. Todo dia ele olhava para foto.

Quando criança fazia de tudo para conquistar Miku. Ele adorava Miku. E foi muito difícil aprender a lidar com um mundo sem Miku. Passou a mão na moldura. Porém, não tinha mais certeza se amava Miku.

Bem, só a Miku.

Seu olhar pousou em Rin, que era um pouco menor que Miku, mas sorria igualmente feliz como a azulada. Ela permanecia ao seu lado apesar de tudo, apesar do tratamento frio e vazio, apesar das barreiras que ele impunha.

Deixou a foto de lado e ficou perdido com os próprios sentimentos.

Luka pov.:

No sonho eu tinha sete anos novamente. Todos me rodeavam e me julgavam interiormente. Eu me sentia vazia e sozinha.

Ainda me sentia assim.

Eles colocaram o caixão e eu solucei várias vezes. Quando as pessoas vinham falar comigo, o que elas falavam?, eu não prestava atenção.

Só sabia falar uma coisa.

Desculpa.

Eles nos colocaram juntos, todos os seis. Cada um chorava de uma forma. Gakupo era o que mais fazia barulho. Kaito era o mais silencioso. Ele evitava olhar para mim. Me odiava. Mas não era só comigo. Todos estavam se evitando.

Naquele dia eu percebi que nossa amizade iria desmoronar.

Mikuo apareceu, um borrão nas lembranças e naquele sonho. Ele segurou meus ombros e falou algo bem mais maduro que qualquer criança de 11 anos jamais falara.

– Não foi sua culpa.

Não.

Se eu... Se eu não fosse uma perdedora invejosa, nada disso teria acontecido à Miku. Nem a ninguém. Evitei olhar para meus amigos. Só conseguia olhar para o caixão.

O caixão em que estava a pessoa que matei.

Acordei gritando. Miku estava deitada no sofá, junto de mim, como uma criança que procura conforto nos pais. Fiquei inquieta.

Estava me perdendo em lembranças. Novamente.

E dessa vez parecia que levaria todos comigo.