Além das lembranças. escrita por Amanda Rodrigues


Capítulo 2
Capítulo II - O encontro.




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Kirara transportou-me em suas costas por longas horas. Percebi que passamos a noite inteira sobrevoando feudos e florestas quando avistei os primeiros raios de sol despontar no horizonte.

Àquela altura, eu estava quase cedendo ao sono e ao cansaço. Ás vezes, cochilava perigosamente agarrada ao youkai e despertava num rompante.

Pensando que minha companheira de viagem poderia estar tão exausta quanto eu, pedi para que ela diminuísse a altitude do voo para que eu pudesse procurar um lugar na floresta para descansar. Assim ela fez. Voamos por mais alguns minutos até que eu avistei um rio. As margens dele me pareceram um bom lugar para descansar.

— Vamos fazer uma paradinha, Kirara — falei para o youkai, alisando seu pelo macio.

Kirara deu um mergulho no ar. Eu segurei firme em seu pescoço e contive um grito, pois tinha um medo terrível de altura. Após esse mergulho perigoso, Kirara pousou nas margens do rio e aproximou-se da sombra gerada por uma árvore. Lá ela se deitou e pousou a cabeça sobre as patas bem juntas.

Sorri para ela agradecendo mentalmente por ter me transportado durante tantas horas.

Depois disso, andei até o rio. Juntei as mãos num formato de concha com o intuito de beber água. Ao saciar a sede, aproximei-me de Kirara para dormir. Sentei na relva, estiquei as pernas e escorei minhas costas no pelo macio do youkai. Segundos depois, eu mergulhei num sono profundo e sem sonhos.

O segundo dia de viagem foi menos cansativo. Kirara voou por horas sobre uma floresta que parecia não ter fim. No meio daquele verde infinito, avistei uma pequena aldeia. Fiquei animada, pois ali nós poderíamos encontrar abrigo.

Pedi para que Kirara pousasse e ela obedeceu. Quando chegamos à aldeia, observei o quanto o lugar era próspero. Os aldeões possuíam faces jubilosas e coradas. As crianças corriam alegremente por entre as casas de madeira envolvidas em alguma brincadeira infantil. Há quanto tempo eu não via um povo de uma aldeia tão saudável e despreocupado? Eu não fazia ideia.

Era comum que a fome assolasse os povoados e, por isso, os aldeões estavam sempre preocupados com colheitas e estoque de alimentos para os meses de inverno. Ademais, havia os ataques constantes de youkais e bandoleiros que chegavam a devastar aldeias inteiras. Porém, tais preocupações pareciam não fazer parte do cotidiano daquele povo e, por isso, fiquei tão surpresa.

As crianças me receberam, correram ao meu redor e ficaram curiosas a respeito de Kirara que estava aninhada em meus braços do tamanho de um gato comum.

À medida que eu andava pela aldeia, mais eu me certificava de que o lugar estava em paz. Não havia nenhuma espécie de youkai maligno incomodando a população.

Isso era um problema para mim, uma vez que eu planejava oferecer meus serviços de exterminadora em troca de comida e estadia por aquela noite. Ao que parecia, eu teria que apelar para a caridade daquelas pessoas.

Estava prestes a bater na porta de uma casa, quando algumas vozes despertaram a minha atenção. Olhei para trás e avistei uma jovem sair feliz de dentro de uma das residências. Ela estava usando um estupendo kimono de cor lilás. Uma senhora — possivelmente a dona da casa — acenava para a moça da porta. Pelo visto, a dona da casa era uma costureira.

Repentinamente, Kirara pulou de meus braços e correu em direção à senhora.

— Volte aqui Kirara! — chamei pelo youkai, enquanto corria atrás dele.

Era como se Kirara quisesse que eu visse os kimonos que estavam expostos dentro da casa, pois foi impossível não olhar para eles. Foi impossível ignorar a quantidade de vestimentas que havia dentro da casa cuja porta estava aberta. Eram simplesmente encantadoras! Aquela senhora fazia um ótimo trabalho.

Assim que a costureira encontrou o meu olhar, eu logo disfarcei, pois não era educado olhar para dentro de casas alheias.

— Gostou deles? — perguntou a senhora com afabilidade.

— Sim... São todos lindos! — respondi um tanto envergonhada.

— Pode vê-los de perto se quiser — disse a simpática senhora sorrindo para mim. — Entre, querida. Não seja tímida.

Meneei a cabeça.

— Obrigada, mas... Eu não tenho como adquiri-los. Não tenho nada a oferecer à senhora — recusei com simpatia. No que Kirara foi me meter?! — Sou uma exterminadora de youkais. A única coisa que eu posso oferecer são os meus serviços. Mas eles não são necessários aqui. A aldeia está em paz.

— Exterminadora?

— Sim.

— Oh. Entendo... — a idosa pôs a mão no queixo e me olhou atentamente. — A aldeia não é alvo de youkais há algum tempo. Eles são atraídos para um ponto específico no meio desta floresta e lá permanecessem. Eles nos deixaram em paz finalmente.

Sorri.

— Isso é bom. A aldeia de onde venho ás vezes sofre ataques de youkais. Mas... Bem, nós sabemos dar um jeito neles.

— Perdoe a minha intromissão, querida, mas vejo que está aqui apenas de passagem. Então, para onde está indo? — perguntou a costureira, estreitando os olhos. — Não me diga que está indo ao palácio do youkai no meio desta floresta?

— Estou — respondi, sincera.

— É mesmo? E o que planeja fazer lá? Imagino que saiba que lá habita um Inu-Daiyoukai muito poderoso e que atravessar a barreira que envolve o palácio dele é algo quase impossível. Dizem que ele a ergueu apenas porque não gosta de se aborrecer com youkais mais fracos que ele. Sem dúvidas, esta criatura é dotada de muito poder. Dizem também que este youkai descende do próprio Inu No Taishou, o mais poderoso Inu-Daiyoukai que já existiu. Essa aventura pode ser muito perigosa. Poderá lhe custar a vida.

— Estou ciente disso. Mas preciso encontrar um meio de atravessar essa barreira. Eu tenho que entrar nesse palácio de algum jeito.

— O que poderá ser um suicídio — alertou a senhora preocupada. — Ouça esta velha: eu já conheci muitos jovens exterminadores de youkais que acreditavam que seriam capazes de exterminar o Inu-Daiyoukai que vive neste palácio. Mas todos falharam. A maioria sequer conseguiu chegar até o palácio, pois a floresta que o cerca também possui os seus perigos. A barreira é um campo de força bruta e muitos youkais se sentem atraídos pelo poder dela. Os arredores do palácio estão repletos de criaturas que não hesitariam em matar uma humana como você.

A aldeã idosa havia concluído que eu queria exterminar senhor Sesshoumaru. Bem, não eram exatamente essas as minhas intenções. Mas, optei por não dizer ela. Certamente, ela não entenderia.

— Deve haver algum meio de atravessar a barreira. Sempre há um meio — falei.

A costureira sorriu.

— É claro que há, porém... Aqueles que a atravessam possuem permissão para isso. Deixe-me explicá-la: o palácio é um local que recebe visita de outros youkais. E esses visitantes têm que atravessar a barreira. E atravessam. Mas isso só acontece porque a criatura que vive lá permite que eles atravessem.

Essa informação eu já sabia, por isso não fiquei surpresa. A senhora então ergueu o dedo para acrescentar:

— Além disso, há outro detalhe: aqueles que possuem uma ligação emocional com a criatura que vive no palácio também podem atravessar livremente. Barreiras impenetráveis não existem. Sempre há exceções, por mais raras que elas sejam. Erguer esses campos protetores exige uma quantidade muito grande de poder do indivíduo e quando um youkai os ergue, acaba transferindo para tais campos algumas de suas emoções e sentimentos, de modo que eles acabam sendo penetráveis para alguns — explicou. — Portanto, aqueles que estão ligados ao coração deste Inu-Daiyoukai poderão atravessar a barreira. Porém quase nenhuma dessas criaturas possui um coração, não é mesmo? Então essa alternativa é inviável.

Arregalei os olhos.

— Isso... Isso é mesmo verdade?! Aqueles que estão ligados ao coração do Inu-Daiyoukai podem atravessar a barreira e entrar no palácio?! — exclamei. Meu coração estava a mil.

— É claro — disse a costureira. — Mas só se houver a ligação que mencionei

Kirara miou. Fiquei imóvel por alguns segundos, refletindo.

"Aqueles que estão ligados ao coração deste youkai poderão atravessar."

Será que eu poderia atravessar a poderosa barreira erguida por senhor Sesshoumaru? Apertei com força os dedos na palma da mão enquanto pensava uma infinidade de coisas. Entretanto logo me recompus, visto que a senhora provavelmente não estava compreendendo a minha reação.

— Obrigada por ter me dado essas informações. Elas foram muito úteis — sorri com educação.

Quando eu estava prestes a ir embora à idosa me conteve.

— Espere um pouco, criança — pediu ela.

Cessei qualquer movimento e a encarei.

— Sim?

— Eu quero lhe dar um presente — disse ela. — Para lhe dar sorte. Venha, entre aqui.

Timidamente, eu entrei em sua casa e deparei-me com os belos kimonos feitos por ela. Eles possuíam cores vívidas e estampas de flores. Quase perdi o fôlego. No entanto, eu não comentei nada. Fiquei observando o ambiente, assim como Kirara que estava junto aos meus pés.

A senhora de baixa estatura abriu um armário próximo à mesa na qual ela trabalhava e retirou de lá um kimono. Eu não o vi por inteiro, pois estava muito bem dobrado, porém a cor era escarlate como as flores de Higanbana.

— Veja — a costureira então desdobrou o kimono e eu o achei magnífico. Ele possuía um tecido liso e sem estampas. Era algo belo e exótico. — Eu o chamo de "kimono do dragão." A cor vermelha representa as chamas. Este kimono simboliza a bravura e certamente você precisará muito disso em um futuro próximo. Ele é seu. Leve-o com você para onde vai para lhe dar sorte.

Eu agradeci repetidas vezes e guardei o kimono cuidadosamente na peculiar bolsa feita por Kagome.

Ao deixar a casa da senhora e andar pela aldeia, percebi que os aldeões olhavam-me com suspeita e eu logo compreendi o motivo. Eles temiam que a pequena youkai arruinasse a sagrada paz da aldeia. Depois de anos combatendo youkais malignos, eu compreendia aquele receio e não julgava.

Dirigi-me então com Kirara para a floresta. Seria perigoso passar a noite ao relento, pois quanto mais próximo ficávamos do palácio de senhor Sesshoumaru, mais youkais nós poderíamos encontrar. Mas, não havia outra alternativa.

Após alguns minutos de caminhada, Kirara e eu encontramos um local apropriado para passar a noite. Por mais que eu quisesse uma refeição farta, tive que me contentar com as frutas disponíveis nos galhos das árvores.

Já havia escurecido quando eu me distanciei de Kirara e adentrei na floresta em busca de lenha para uma fogueira. Para minha segurança, eu estava levando comigo a minha katana que fora forjada por Toutousai.

Fiquei em estado de alerta e caminhei sob os raios lunares, procurando sempre não abaixar a guarda.

A caminhada não demorou muito. Logo eu consegui reunir uma boa quantidade de madeira seca e, quando estava prestes a retornar ao local onde passaria a noite, uma voz na escuridão me fez cessar todos os movimentos.

— Uma humana tão jovem carregando uma espada que formidável.

Era uma voz masculina aveludada, quase suave. Procurei em todos os pontos possíveis quem poderia ter dito isso. Então, graças à luminosidade da lua, eu vi quando um vulto negro passou velozmente entre as árvores.

No mesmo instante, joguei no chão a lenha que eu segurava e livrei-me rapidamente do kimono que eu estava usando, ficando somente com a roupa de exterminadora que eu usava por baixo. Em seguida, fui atrás do vulto.

Enquanto eu seguia a criatura, ouvi um som de água correndo. Sem dúvidas, eu estava próxima de um lago ou de um rio e a criatura estava indo na direção dele.

Aquela altura eu sabia que aquele ser era um youkai por conta da rapidez que se movia. Quando finalmente eu alcancei o corpo d' água (que era um rio e não um lago), avistei a criatura parada nas margens do rio cujas águas refletiam a lua cheia.

youkai possuía uma forma alta e esguia. Imediatamente eu soube que ele estava usando sua forma humanoide. Isso me deixou apreensiva, uma vez que eu sabia que apenas youkais poderosos eram capazes de realizar tal façanha.

Escondi-me atrás de uma árvore e observei-o pelo canto do tronco. Eu podia sentir de onde eu estava que ele era uma criatura dotada de muito poder. Minha respiração estava descompassada. Minha katana presa na bainha palpitava para cortá-lo ao meio. Ele, que estava usando uma capa negra que se estendia até seus pés, sabia que estava sendo observado por mim.

De repente, ouvi uma risadinha irônica cortar o silêncio, então, para a minha estupefação, o youkai levou as mãos até o capuz e abaixou-o. De imediato, eu constatei que ele possuía cabelos tão prateados quanto à lua. Os fios pálidos e brilhantes do estranho logo foram remexidos pela brisa outonal.

Assim que eu vi aquilo, senti um solavanco no estômago. Meus batimentos cardíacos aceleraram.

Não podia ser... Aquele era senhor Sesshoumaru?

— Posso ouvi-la respirar, posso sentir o seu cheiro de flores sufocando a minha respiração e também posso sentir o seu olhar sobre mim, humana — disse ele.

Humana? Isso estava errado. Eu conhecia muito bem o timbre da voz de senhor Sesshoumaru. Com toda certeza esse timbre não era o dele. Além do mais, senhor Sesshoumaru jamais me chamaria de "humana", pois ele sabia muito bem meu nome.

Todavia, esse youkai parado a poucos metros de mim possuía cabelos tão prateados quanto os de senhor Sesshoumaru. Será que também era um Inu-Daiyoukai?

— Dessa vez você não irá morrer. A sua vida foi salva pela sua falta de coragem — falou o youkai, olhando-me de soslaio.

E numa bomba de poder verde, o youkai prateado desapareceu e eu sequer pude ver o rosto dele.

No terceiro e último dia de viagem, eu e Kirara acordamos cedo. Decidi usar uma capa negra com um capuz para cobrir o meu rosto. Gostaria de fazer uma surpresa para o senhor Jaken e o senhor Sesshoumaru. Tinha certeza de que eles jamais imaginariam que eu fosse até o palácio.

Usei a água cristalina do rio como espelho e penteei meus cabelos com os dedos. Então, por um momento, fiquei insegura. E se os meus amigos não quisessem me ver mais? E se eles tivessem parado de me visitar na aldeia porque não queriam mais manter contato comigo? Meneei a cabeça, desvencilhando aquelas indagações. Não valia a pena pensar nisso.

Observei com divertimento Kirara que tentava caçar alguns peixinhos no rio. O rio. Nesse mesmo lugar, na noite anterior, eu tinha visto aquele estranho youkai de cabelos prateados e voz aveludada.

"Dessa vez você não irá morrer. A sua vida foi salva pela sua falta de coragem."

Quem era ele? O palácio de senhor Sesshoumaru estava tão próximo... Será que aquele youkai era ele?

Kirara de repente parou de caçar os peixes e tombou a cabeça para o lado, estudando-me com o olhar.

"Rin, pelos deuses! Esqueça essa história de uma vez!", disse a mim mesma.

Dei mais uma olhada nos pergaminhos de Kohaku para me certificar da direção que eu deveria seguir. Depois, recolhi algumas frutas para a viagem e as guardei dentro da bolsa. Então, montei em Kirara e retornamos a viagem rumo ao palácio de senhor Sesshoumaru.

Voamos por longas horas e, em algum momento da viagem, adormeci nas costas de Kirara. Acordei num sobressalto quando ouvi o seu rugido. No instante que abri os olhos eu pude sentir na pele uma absurda quantidade de energia maligna pairando no ar e quando parei para analisar o ambiente, eu pude ver, entre duas montanhas pontiagudas, o palácio de senhor Sesshoumaru.

O território que ele abrangia era realmente grande. O palácio possuía, além da barreira invisível, muralhas defensivas e os telhados possuíam um formato triangular tipicamente japonês. Tratava-se de um lugar majestoso e bem protegido. Compreendi que a energia vinda dele enfraquecia youkais mais fracos como Kirara. Ela estava gradativamente perdendo velocidade e altitude.

— Só mais um pouco, Kirara. Aguente firme só mais um pouco. Estamos quase lá — implorei para ela. — Se cairmos na floresta nós teremos problemas. Existem muitos youkais lá embaixo.

Enfraquecida, Kirara continuou voando enquanto eu lhe dizia palavras de encorajamento. Mas, após algum tempo, ela não suportou mais resistir à energia presente no ar e perdeu altitude, pousando desajeitada na floresta sombria.

Assim que pus os pés no chão, fiquei em estado de alerta. A floresta possuía uma energia maligna aterradora. Ademais, era pouco iluminada. Por um momento, eu tive a horripilante sensação de que algo nos observava.

Fitei Kirara, preocupada.

— Ouça, Kirara — disse olhando nos olhos dela. — Agradeço tudo o que fez por mim. Mas é melhor que saia daqui imediatamente. É muito perigoso. Eu seguirei sozinha. Obrigada.

Kirara balançou a cabeça, recusando-se a me deixar. Quando eu abri a boca para tentar persuadi-la a partir, senti que o chão abaixo de mim se mexia. Droga.

Com agilidade, consegui escapar do ataque do youkai que era de uma espécie peculiar. Ele era capaz de alterar a forma de seu corpo e transformá-lo em areia. Assim, as vítimas não o perceberiam quando o viessem e ele poderia atacá-las desprevenidas.

No meu caso, quem estivesse me vendo de longe pensaria que se tratava apenas de um monte de terra escura da floresta elevando-se sobre mim. Contudo, aquele monte de terra era o próprio corpo da criatura, o qual, quando atingiu uma altura considerável, modelou-se e adquiriu uma forma bestial.

Ele devia ter mais de quatro metros de altura e o corpo dele era coberto por rochas e plantas exatamente igual ao solo da floresta.

youkai rugiu alto e enfurecido. Quase revirei os olhos. Detestava essa espécie.

Olhei para Kiarara.

— Kirara, você tem que me ajudar agora — desviei de um ataque do youkai que lançou em direção a nós uma rocha. — Precisa tentar voar e me jogar sobre o ombro dele. A única forma de matá-lo é cortando a cabeça dele. Rápido!

Novamente desviei de um ataque do youkai, o qual rugia colérico. Kirara pareceu determinada e eu montei em suas costas. O youkai fêmea usou as poucas energias que lhe restavam e, com certo esforço, conseguiu elevar-se.

Kirara esquivou-se com destreza dos ataques do youkai gigantesco, ziguezagueando e fazendo manobras no ar. Então, quando ficamos na altura pescoço do youkai, eu saltei em cima do ombro dele. Quase cai. No entanto, consegui recuperar o equilíbrio.

Aproximei-me do pescoço dele e, aquela altura, o youkai rugia enfurecido. Eu tinha que ser rápida. Desembainhei a katana e, com um só golpe, eu cortei a cabeça da criatura bestial.

O corpo do youkai logo perdeu os movimentos e caiu inerte no chão. Por sorte, consegui pousar intacta. Como esperado, o corpo sem vida da criatura transformou-se em areia que foi instantaneamente varrida pelo vento.

Depois desse ocorrido, continuei caminhando pela floresta em direção ao palácio. Eu sabia onde a construção se fixava então não haveria perigo de perder a direção. Bastava seguir uma linha reta.

Kirara decidiu ficar comigo e, ao longo do percurso, fomos atacadas algumas vezes. No entanto, eu consegui combater os youkais inimigos e sai apenas com alguns leves arranhões. De fato, havia muitos youkais naquela floresta. E todos eles queriam atravessar a barreira e invadir o palácio de senhor Sesshoumaru.

Então, após uma caminhada considerável, Kirara e eu ficamos diante da barreira que protegia o palácio. Ela era invisível aos olhos da maioria dos seres humanos. Apenas youkais e humanos treinados (exterminadores, monges, ou sacerdotisas) eram capazes de vê-la. Humanos comuns, no máximo, só eram capazes de sentir a força dela os puxando, como um imã.

Muitos youkais agrupavam-se próximo do campo de proteção com o intuito de ultrapassá-lo. Eles almejavam se fundir a senhor Sesshoumaru para serem fortes, por isso queriam tanto atravessá-lo. Os youkais se chocavam contra a barreira e ela os repelia automaticamente, soltando raios esverdeados.

Eu os observava de trás de um arbusto ao lado de Kirara e mantinha a mão pousada sobre o cabo da katana.

Eu precisava me aproximar do campo de proteção sem atiçar a fúria daqueles youkais. Mas, como fazer isso? Como passar por eles?

Fiquei escondida com Kirara durante horas esperando por uma oportunidade. Era muito arriscado se aproximar. Então, a tão esperada oportunidade surgiu: os youkais dotados de pouca inteligência iniciaram uma espécie de confronto entre si. Eu aproveitei que atenção deles estava voltada para um ponto específico e avancei rumo à barreira, acompanhada por Kirara.

Ao passarmos por eles, sem fazer alarde, buscamos por um local na floresta que desse acesso ao campo de proteção e que fosse o mais longe possível daqueles youkais raivosos. Quando encontramos esse local estratégico, Kirara e eu ficamos cara a cara com a tal barreira invisível.

"Aqueles que estão ligados ao coração deste youkai poderão atravessar", lembrei-me das palavras da aldeã. Será que eu conseguiria?

E antes de fazer qualquer tentativa, eu girei o rosto para Kirara que estava postada ao meu lado.

— Vamos voltar juntas se eu não conseguir atravessar — falei para ela. — Se eu conseguir, eu quero que você volte para a aldeia imediatamente. Kohaku precisa de você, assim como Sango. Tenha cuidado no caminho.

Kirara assentiu. Eu cobri o meu rosto com o capuz preto da capa que usava e avancei alguns passos em direção à barreira, ficando a centímetros dela. Nunca, em toda a minha vida, eu estive tão nervosa e ansiosa.

Ergui um dedo e o conduzi até o campo de proteção que atraía a minha mão. Aproximei vagarosamente o dedo até que, para minha estupefação, ele atravessou. Arregalei os olhos e sorri eufórica.

"Aqueles que estão ligados ao coração deste youkai poderão atravessar", essa frase surgiu em minha mente outra vez. A alegria que eu estava sentindo nesse momento era inexplicável. Ele não havia se esquecido de mim!

Voltei minha atenção para a minha companheira de viagem.

— Nós vamos nos ver em breve, Kirara. Chegue em segurança à aldeia, por favor.

Eu não disse "adeus", porque eu iria vê-la outra vez. Eu não queria nenhum tipo de despedida, visto que havia uma possibilidade de senhor Sesshoumaru não me aceitar naquele palácio. O motivo era simples: eu era uma humana e ele pretendia construir um império de youkais. Talvez, não houvesse espaço para mim ali.

Ao dizer aquelas palavras, eu girei o rosto para a barreira e a atravessei por completo, entrando no território do palácio.

Assim que pus os pés lá, notei que toda a vegetação que crescia nas terras de senhor Sesshoumaru exalava vida. As árvores cresciam saudáveis e não havia mais nenhuma energia maligna sufocando o ar. Era encantador. E, de repente, eu fui surpreendida por uma sensação engraçada. Pela primeira vez em muito tempo, eu senti como se eu estivesse em casa. Quando morava na aldeia de vovó Kaede, por mais que eu gostasse do lugar, sempre tive a impressão de que lá não era o meu lar. Agora era diferente.

Andei por entre as árvores frondosas que lançavam grandes sombras sobre a relva. Inalei o aroma das ervas e das flores que ali cresciam sadias.

Após uns trinta minutos de caminhada, eu me deparei com uma muralha de pedras, a qual protegia o palácio. E antes que eu executasse qualquer movimento, senti o aperto firme de alguém no meu braço seguido por um puxão. Meu capuz caiu para trás e logo eu fiquei diante de um youkai de aparência ameaçadora. Possivelmente, era um guarda do palácio. Ele possuía a aparência similar a de um crocodilo. Além de dentes pontudos que sobressaiam na gengiva e um bafo terrível.

Por um momento, pensei em usar a minha katana nele. Até mesmo deslizei a mão para desembainhá-la, no entanto, me contive. Senhor Sesshoumaru não iria gostar de saber que eu matei um de seus guardas.

— Uma humana? Como conseguiu entrar aqui? — perguntou o guarda de uma forma ríspida e me cheirando.

— Tire suas mãos imundas de mim! Estou aqui a convite de senhor Sesshoumaru! — menti. Ele não afrouxou o aperto esmagador. Os olhos amarelos do youkai encontraram os meus.

Ele expressou um sorriso debochado.

— É mesmo? Achei que senhor Sesshoumaru não tivesse interesse em humanos.

— Lamento dizer, mas você está enganado! Leve-me até ele ou até o senhor Jaken!

— Ora, ora... Ela sabe o nome daquele pequeno idiota. Diga-me, humana, e se o senhor Sesshoumaru não souber quem você é? — o youkai aproximou o rosto do meu. — E se tudo o que você estiver falando não passar de um monte de baboseiras?

— Não estou mentindo! Me sirva-me como prato principal se eu não estiver falando a verdade — falei num tom de desafio.

O guarda tombou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada.

— Sua tolinha... Você jamais se aproximará do senhor Sesshoumaru! Confisque as coisas dela! — de repente mais três guardas surgiram por trás de mim. Eles foram rápidos e conseguiram me frear antes que eu sacasse a minha katana.

Por mais que o youkai de aparência similar a de um crocodilo estivesse me segurando com firmeza, consegui acertar um chute em um dos guardas. Contudo, era inútil lutar. Eles estavam em maior quantidade. O youkai-crocodilo logo encontrou uma forma de me imobilizar, torcendo o meu braço para trás.

Os outros três youkais aproveitaram para confiscar a minha espada e conferir o que mais eu trazia dentro da bolsa de viagem.

youkai-crocodilo sorriu atrás de mim.

— Achou mesmo que essa sua ladainha ridícula iria funcionar, exterminadora? — provocou ele rente a minha orelha. — Não sei como entrou aqui, mas você terá o que me merece.

Os outros guardas youkais amarraram as minhas mãos e, como se eu não pesasse nada, o youkai-crocodilo me jogou sobre o seu ombro esquerdo. Os portões da muralha abriram-se e ele avançou rumo ao palácio. Possivelmente estava me levando para as masmorras onde eu definharia. Debati-me, gritando. Tentei bater em suas costas, mas isso não passava de cócegas para ele.

— Me deixe falar com o senhor Sesshoumaru! — vociferei batendo-lhe forte.

youkai não me deu ouvidos. Ele seguiu em silêncio para o interior do palácio. Eu gritei o máximo que pude, mas ninguém me ouviu.

— Eu vou matá-lo, maldito! — gritei percebendo horrorizada que roubei as frases de InuYasha.

Ao adentrar no palácio, o youkai abriu várias portas até que cessou os passos diante de uma. Ele a abriu e me lançou dentro do que, a princípio, pareceu ser um quartinho escuro ou até mesmo... Uma cela. Ele encarou-me caída no chão e gargalhou alto. Rapidamente sentei-me e o fitei enfurecida.

— Para onde você me trouxe, seu desgraçado?!

— Você não queria ser o prato principal? Vou mandar servi-la a meu senhor Sesshoumaru. Assim você poderá falar com ele enquanto ele come os seus pedaços — disse o youkai ainda rindo.

Ele fechou a porta do quartinho e foi embora. Sem a claridade do dia, o local em que eu estava se tornava ainda mais escuro. Maldito youkai! Se, ao menos, eu visse o senhor Jaken...

— Senhor Jaken! Senhor Sesshoumaru! Por favor... — gritei dentro daquele lugarzinho apertado e escuro. — Maldição... Não quero ser o maldito jantar de alguém!

Eu estava triste e enraivecida. Durante anos eu sonhei com esse dia e agora tudo estava indo por água a baixo.

Mas, eu não iria desistir. Comecei a tentar me libertar das cordas que prendiam as minhas mãos. Após alguns minutos, consegui. Uma vez livre, caminhei pelo quartinho. E que maravilha! Acabei descobrindo que eu não estava em um quartinho! Eu estava dentro do estoque de comida do palácio! Soube disso assim que avistei vários sacos gigantescos de grãos.

Assim que percebi onde estava, procurei formas de escapar dali. Entretanto, não havia. A única saída existente a porta. Passei então a chutar o objeto de madeira. Lancei-me sobre ele. Todavia, a maldita porta continuou intacta. Passei horas fazendo isso. Até que, cansada, eu sentei outra vez no chão. Eu já estava rouca de tanto gritar.

Então, algum tempo depois, ouvi passos ecoarem próximo de onde eu estava. Fiquei atenta. Em seguida, uma vozinha convencida e mandona preencheu os meus ouvidos:

— Mas, o que são esses malditos gritos e estrondos?! Posso ouvi-los de longe! Satoru, o senhor Sesshoumaru gosta de tudo em absoluto silêncio e eu, como braço direito dele, tenho que cuidar disso! — a voz quase cantarolava.

Em uma fração de segundos eu reconheci aquela voz. Eu nem estava acreditando. Procurei por alguma fresta na porta e, felizmente, encontrei. E foi através dela que eu avistei senhor Jaken que caminhava ao lado de um guarda. Para a minha sorte, não era o youkai-crocodilo que havia me capturado.

Imediatamente, soquei a porta, a fim de chamar a atenção do meu velho amigo:

— Senhor Jaken! Por favor, me ajude! — gritei.

Jaken, de fato, ainda era o mesmo. Ele continuava usando o seu bastão de duas cabeças e agia exatamente como antes. O youkai verde, assim que ouviu a minha voz, olhou sem compreender em direção a porta do compartimento onde eu estava.

— Mas, o que é isso? — disse ele espantado.

Se Jaken, por acaso, soubesse que eu havia me tornado uma exterminadora de youkais será que ele me odiaria? Pensei nisso por um instante. O youkai-crocodilo certamente ficaria feliz em lhe prestar essa informação. Mas, não importava. Nada mais importava exceto que eu estava diante de senhor Jaken!

Continuei gritando a plenos pulmões:

— Senhor Jaken, sou eu, Rin! Preciso falar com o senhor! Vou virar o jantar se o senhor não vier me ajudar!

— Oh Rin?! — senhor Jaken não conseguiu esconder a sua estupefação.

Ele veio quase correndo ao meu encontro. Satoru, o guarda, seguiu-o dizendo algo relacionado a: "é apenas uma humana intrusa". E então: "Fui informado de que ela é uma exterminadora e que estava querendo falar com senhor Sesshoumaru." Jaken não deu a menor importância e continuou vindo até mim.

E quando os dois se postaram diante da porta do local em que eu estava presa, Jaken vociferou para Satoru:

— Idiota! Tire Rin daí agora mesmo!

Satoru, de má vontade, acatou a ordem sem questionar. Ele retirou um molho de chaves do bolso e abriu praguejando a porta.

No instante que fiquei livre, encarei Jaken emocionada. Por mais que o youkai verde não possuísse uma beleza muito marcante, naquele momento, eu o achei magnífico. Fiquei de joelhos no chão e o abracei forte.

— Rin! Rin! Está me sufocando! — embora ele procurasse fugir do abraço, eu não o soltei. Por fim, Jaken questionou-me sem conseguir esconder seu afeto: — Por onde você andou, Rin?

Limpei as lágrimas de emoção que fluíam pelo meu rosto.

— Rin, não chore! O que senhor Sesshoumaru fará comigo se vê-la chorar? — disse ele perturbado.

Jaken estava mesmo correto? Depois de tantos anos... Será que senhor Sesshoumaru ainda se importava tanto assim comigo?

— Senhor Jaken... Por que vocês não voltaram para me visitar ou para me buscar? — indaguei para o pequeno youkai.

— Senhor Sesshoumaru disse que seria perigoso para você se nós continuássemos a visitando constantemente e disse também que mantê-la conosco o atrapalharia nas batalhas.

— Atrapalhar? — refleti por alguns segundos. Bem, ele estava certo. — Não importa! Eu quero vê-lo! Quero servi-lo como exterminadora de youkais. Posso proteger o palácio de invasores.

— Desculpe, Rin. Muita coisa mudou nesses últimos anos. O lorde Sesshoumaru agora é o príncipe deste palácio e terá que agir como tal. Isso significa que você terá que se pôr diante dele e oferecer os seus serviços de exterminadora como uma serva comum. E caberá ao ilustre Sesshoumaru recusar ou não a sua oferta — informou Jaken.

— Não me importo, fico diante dele.

— Senhor Jaken — interrompeu Satoru. — O senhor Sesshoumaru receberá a visita de alguns servos hoje. Então a humana poderá aproveitar a oportunidade e oferecer os seus serviços junto com eles.

— Eu vou — disse assentindo para os dois.

* * *

Jaken me mostrou um quarto no palácio. Eu ficaria ali por enquanto e, quando a hora chegasse, ele viria me acompanhar até os servos que iriam oferecer os seus serviços ao senhor do palácio.

Eu estava inquieta. Fiquei andando pelo quarto de piso de madeira, pensando e pensando.

Quando notei que se passaram longos minutos, vesti o kimono que ganhei (e, sim, meus pertences foram devolvidos). Por cima da bela vestimenta, eu pus a capa preta.

Após algumas horas, alguém bateu na porta do quarto em que eu estava.

— Entre.

A porta branca se abriu, revelando Satoru, ao invés de Jaken. A postura do guarda era rígida e ele possuía um semblante sério. Ele então me informou que viera me acompanhar até os servos.

Eu peguei a minha katana e o acompanhei até uma sala mal iluminada. Nela estavam os servos que em breve ofereceriam os seus serviços ao senhor Sesshoumaru. Todos os youkais e meio-youkais mantinham-se em silêncio enquanto guardas austeros os vigiavam. Sentei no meio deles.

— Primeiro servo a se oferecer! — anunciou um servo que trabalhava no palácio.

Um dos meio-youkais que pretendia servir senhor Sesshoumaru se levantou e foi acompanhado por um guarda até o salão principal, onde, por certo, o Inu-Daiyoukai aguardava. Observei que a maioria dos servos presentes eram meio-youkais. Quase não havia youkais completos naquela sala. Não pude deixar de observar também que eu era a única humana ali e isso me gerou certa insegurança.

O primeiro servo foi recusado e foi acompanhado por mais outros guardas até a saída.

— Segundo servo a se oferecer! — ouvi a voz anunciar.

Eu era a última serva.

Fiquei brincando com o cabelo, roendo as unhas, cobrindo o kimono escarlate com a capa, enquanto esperava a minha vez de ser chamada. Eu precisava me distrair de alguma forma. Eu estava ansiosa. Apreensiva. E para piorar: todos os servos que tentaram viver naquelas terras foram recusados.

O que eu diria?

"Olá senhor Sesshoumaru, quanto tempo, não? Pois é. Eu virei uma exterminadora de youkais e quero proteger o palácio!"

Não. Simples demais.

"Oi, sou a Rin, aquela criança que você salvou certa vez, lembra? Ah, claro que você lembra. Como eu sou idiota! Pois sim, eu vim aqui para oferecer meus serviços como exterminadora de youkais."

Descontraído demais. Senhor Sesshoumaru é alguém sério e detesta tolices.

"Senhor Sesshoumaru, príncipes dos príncipes, gênio puro e poderoso, senhor dos dois mundos, peço humildemente que me aceite como sua exterminadora de youkais."

Não. Isso era humilhante. Ou talvez...

"Ah, senhor Sesshoumaru! Você não mudou nada, hein? Está até mais corado! Sou eu, a Rin, e vim aqui ser a sua exterminadora de youkais, mas não sou uma ameaça, viu? Só vim mesmo proteger o palácio."

"Argh! Está tudo péssimo!", pensei. Juntei os pés ao ouvir passos rígidos se aproximarem da sala em que eu esperava. Era a minha vez.

— Último servo a se oferecer! — me levantei rapidamente com a coluna ereta, como um soldado diante do seu superior.

youkai me avaliou com o olhar. Ele sabia que eu era humana, assim como sabia o quanto senhor Sesshoumaru desprezava essa espécie. Ou, talvez, ele estivesse só refletindo a bizarrice daquela situação e pensando que eu só poderia ser maluca, afinal eu era a única humana dentro de um palácio abarrotado de youkais. Para o meu alívio, o guarda não disse nada. Ele apenas deu as costas e eu o segui em silêncio.

O guarda arrastou uma porta de correr e eu fiquei diante de um imenso salão. Dois youkais se postaram ao meu lado assim que eu pus os pés nele. Eles não eram os únicos guardas existentes naquele salão. Havia vários outros espalhados pela área.

Eu andei alguns passos e fiquei diante de alguns degraus que levavam a senhor Sesshoumaru. Eu não o encarei em nenhum momento. Permaneci de capuz e de olhos baixos com a certeza de que ele acompanhava cada movimento meu.

— Pare e se ofereça, humana — ordenou um dos youkais ao meu lado.

Esse era o momento.

Soltei uma respiração e então falei com honestidade:

— Senhor Sesshoumaru — me ajoelhei perante a ele como os demais servos faziam. — Sou uma exterminadora de youkais. Peço que aceite os meus serviços. Gostaria de ajudá-lo a proteger o palácio de youkais invasores. Se não quiser aceitar então simplesmente me aceite como uma serva comum. Devo-lhe a minha vida e quero ser útil ao senhor de alguma forma. Sou eu... Rin.

— Deixe-me ver seu rosto — disse Sesshoumaru. Essa sim era a voz dele.

Eu fiquei de pé e tirei a capa preta que usava, deixando-a deslizar por minhas costas e cair no chão. Todavia, algo me deteve. Assim que tirei a capa, por alguma razão, não consegui erguer o rosto. Não consegui fitar senhor Sesshoumaru. Mas, eu podia senti-lo ali, a alguns metros de mim.

Apertei os dedos na palma da mão e reuni coragem. Não fazia sentido toda aquela insegurança e timidez. Ergui o rosto bravamente e acompanhei com o olhar o percurso para se chegar até o Inu-Daiyoukai que se encontrava sentado numa majestosa cadeira. Os leais servos dele estavam ao seu lado, prontos para atender as necessidades do seu senhor.

Senhor Sesshoumaru estava exatamente como antes. Era como se tivesse congelado no tempo. A franja prateada do Inu-Daiyoukai caia sobre sua testa, mas não cobria a lua crescente impressa um pouco a acima de suas sobrancelhas. Não pude deixar de notar que os olhos dourados de senhor Sesshoumaru se arregalaram assim que o olhar dele encontrou o meu. Sem dúvidas, ele era o youkai mais sublime que eu já tinha visto. Senhor Sesshoumaru era alguém que infundia respeito e admiração em qualquer um. Meu corpo estava imóvel. Nós nos observávamos enquanto no salão estava mergulhado num silêncio profundo.

— E-então? — indaguei quebrando o silêncio.

— Uma humana, Sesshoumaru?! Despachou todos os outros servos sem hesitar e agora vai aceitar os serviços de uma humana?! — questionou alguém saindo das trevas do salão.

Os meus olhos se arregalaram ao avistar um youkai detentor de cabelos tão prateados e longos quanto os de senhor Sesshoumaru. Ele usava vestes negras e o seu rosto era pálido e incrivelmente bonito.

O formidável youkai que, segundos atrás, estava atrás de uma coluna dirigiu-se insatisfeito em direção ao senhor daquele palácio. Decerto, era ele... Aquela voz aveludada mortal... Sim! Aquele era o youkai que eu tinha visto na floresta!

— Cale-se Katso ou eu o mato — murmurou Sesshoumaru sem lhe dar atenção.

— Sem dúvidas, está seguindo os passos do pai! — asneirou Katso retornando ao seu lugar.

— Jaken — chamou Sesshoumaru severamente.

— S-s-sim, s-senhor Sesshoumaru — disse Jaken curvando-se diversas vezes.

— Ajude Rin com o quarto do último corredor — ordenou senhor Sesshoumaru levantando-se. Ele deu as costas e deixou o salão.

— Si-sim senhor Sesshoumaru. — continuou dizendo Jaken ao mesmo tempo em que se curvava para o nada, pois senhor Sesshoumaru já tinha partido.

O pequeno youkai parecia muito alegre e correu ao meu encontro. Eu também estava feliz e era incapaz de parar de sorrir. Eu queria ter abraçado senhor Sesshoumaru no momento que o vi. Queria ter dito a ele o quanto eu senti saudades. Queria ter feito o mesmo que fiz com Jaken. Mas, isso não foi possível.

Segui o youkai verde que me conduzia até o meu quarto. Enquanto eu caminhava aquela frase mais uma vez ecoou em minha mente:

"Aqueles que estão ligados ao coração deste youkai...".

Isso queria dizer que eu estava ligada ao coração de senhor Sesshoumaru. Além disso, eu queria saber quem era esse tal de Katso.


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Notas finais do capítulo

Olá, queridos leitores! Como estão? Espero que bem. Novos leitores, o que estão achando da história? E leitores antigos (caso exista algum por aí) o que estão achando das alterações? Comentem!! Estou ansiosa para saber! Beijos e até o próximo capítulo! ♥