Além das lembranças. escrita por Amanda Rodrigues


Capítulo 1
Capítulo I - A partida


Notas iniciais do capítulo

Sim, é isso mesmo. Depois de tantos anos essa fanfiction está sendo ATUALIZADA hahaha.
Eu escrevi essa fanfiction aos 15 anos. Porém, como deixei de me identificar com ela, abandonei e até exclui. Até que, depois de tanto tempo, decidi reescrevê-la. Eu me diverti muito na época em que criei essa história e tive leitores incríveis. Agora, decidi voltar com essa fic, mas alterações foram feitas. Portanto, se você é um leitor antigo é provável que fique confuso, pois o enredo não é mais como você se lembra. Mas espero que goste das alterações que fiz. Se você é um leitor novo, seja bem-vindo(a)!! Espero que goste de Além das Lembranças!



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Eu ainda me recordava perfeitamente do rosto dele. Se eu detivesse o dom da pintura, tal como as sacerdotisas, seria capaz de pintá-lo de olhos fechados.

Mas, eu não tinha. Nunca tive afinidade com tintas e pincéis. Era um verdadeiro desastre pintando ou desenhando qualquer coisa. Eu preferia as katanas, os tetsubishis, os kamayaris, dentre outros armamentos utilizados contra youkais malignos, pois achava-os mais simples.

Mesmo após tantos anos, eu não precisava me esforçar muito para evocar a imagem do rosto dele. Ela sempre vinha fácil e sem demora.

Era um belo rosto o dele. Isso ninguém jamais poderia negar. Os olhos eram de tonalidade dourada como ouro derretido. As sobrancelhas eram escuras e cruéis. Na testa, quase coberta pela franja prateada, havia impresso o desenho de uma lua crescente. O semblante era sempre austero e perigoso.

Eu sempre analisava a reminiscência do rosto dele com carinho. Ela era muito especial para mim. Se não fosse pelo dono desse rosto eu não estaria viva.

O seu nome era Sesshoumaru.

Era muito frustrante pensar que eu nunca havia me despedido dele. Senhor Sesshoumaru, que desde a derrota de Naraku visitava-me periodicamente, desapareceu sem dar nenhum aviso prévio. Simplesmente sumiu. Eu tinha onze anos quando isso aconteceu. Desde então, perguntas sobre o seu paradeiro costumavam passar pela minha mente. A resposta era sempre a mesma: ele está em algum lugar do Japão colocando em prática o seu antigo plano de construir um império de youkais.

Eu sabia que era isso. Desde que conheci senhor Sesshoumaru, esse sempre fora o seu objetivo. A razão por trás da sua sede de poder era construir um império de criaturas sobre-humanas. Certamente, ao ter se tornado mais poderoso após a batalha contra Naraku, ele compreendeu que esse era o momento de pôr o seu plano em prática. Foi por isso que partiu. No seu império não há espaço para humanos.

Mesmo assim, eu não conseguia parar de me perguntar se ele estava feliz e se estava bem. Será que eu o veria novamente? Será que ele me odiaria se soubesse que eu havia me tornado uma exterminadora de youkais? Para essas perguntas, eu não tinha respostas.

De repente, uma brisa gélida entrou por debaixo da porta da minha casa e arrancou-me dos meus devaneios.

Lembrei-me então que uma cerimônia estava acontecendo lá fora. Era uma tradição da aldeia realizá-la no final do outono, pois assim as sacerdotisas poderiam rogar com antecedência aos deuses para que nos livrasse da fome, da peste e de ataques de youkais nos longos meses de inverno.

Eu podia ouvir da minha casa a cantoria e o falatório alto dos aldeões. Eu adorava essa cerimônia e fazia questão de participar dela anualmente. Mas, naquela noite eu estava melancólica e nostálgica demais para festejar qualquer coisa.

Por um momento, senti-me patética por gastar meu tempo pensando em alguém que provavelmente nem se lembrava da minha existência.

Tola, disse a mim mesma, você é uma grande tola, Rin!

— Rin, você está aí? — questionou alguém enquanto batia na porta da minha casa.

Era a voz de vovó Kaede.

No mesmo instante, realinhei a postura e desfiz a expressão desanimada.

— Sim! Estou aqui! — exclamei. — A porta está aberta, vovó Kaede! É só empurrá-la!

A senhora fez conforme eu instruí e, segundos depois, estava diante de mim.

— Não imaginei que a senhora fosse vir aqui esta noite — disse sorrindo. — Espero que nada de ruim tenha acontecido.

— Com a nossa aldeia, graças aos deuses, nada aconteceu. Está tudo em paz. O problema é com a aldeia vizinha. Ela está sendo atacada por um youkai. Então, os homens de lá vieram pedir a sua ajuda.

— Ah... É claro. Preciso só pegar minha katana e... — Ao me virar acabei, sem querer, esbarrando em alguns utensílios e causando um estrondo.

Vovó Kaede estreitou os olhos para mim.

— Espere — pediu a senhora quando eu estava quase alcançando a katana que descansava próximo de um baú antigo. — Espere um instante, Rin.

Eu a encarei.

— Algum problema?

Vovó Kaede ficou em silêncio por alguns segundos. Ela me perscrutou com os seus olhos estreitos e enrugados, avaliando-me. Por fim, a senhora soltou uma respiração. Era como se tivesse compreendido tudo.

Eu não tinha mais o que esconder e então tomei a liberdade de focalizar o baú no canto da parede.

O objeto velho de madeira mantinha trancafiado dentro de si o que eu tinha de mais precioso no mundo: os kimonos de seda que senhor Sesshoumaru me dera. Em cada uma de suas visitas ele me trazia um, o que me deixava muito feliz. Porém, não mais do que vê-lo acompanhado de seu fiel servo, senhor Jaken.

Apesar desses kimonos já não me servirem, eu nunca tive coragem de me desfazer deles. Eles eram preciosos demais. Eram a prova de que senhor Sesshoumaru realmente havia existido. Às vezes, parecia que não. Às vezes, parecia que ele era apenas fruto da minha imaginação fértil. Sempre que esse pensamento passava pela minha cabeça, eu abria o baú.

— Rin — falou vovó Kaede. — Deixe-me dizer uma coisa para você.

Eu assenti.

— É claro, vovó. Estou ouvindo.

A sacerdotisa sustentou o meu olhar e, por um momento, eu pensei que ela havia mesmo envelhecido. Os cabelos dela eram da mesma tonalidade da neve, as rugas de seu rosto eram profundas e sua constituição física parecia mais frágil do que nunca. Eu desejei abraçá-la. Contudo, limitei-me a ouvi-la.

— Todos nós possuímos vozes internas que nos dizem o que devemos fazer — disse a sacerdotisa. — Alguns gostam de dizer que é a nossa consciência falando conosco, mas estão enganados. É a nossa alma. A alma humana é sábia e imortal. Por isso, é importante que nós nos atentemos para o que ela está nos dizendo, pois só assim conseguiremos encontrar o nosso destino.

Como eu sabia que tudo o que vovó Kaede dizia era uma espécie de enigma, refleti sobre as palavras dela.

O que a minha alma me dizia para fazer?

Imediatamente lembrei-me de um fato que ocorreu quando eu tinha treze anos.

Após uma discussão que eu tive com um garoto da aldeia, ele me disse que meus amigos youkais haviam se cansado de mim e que nunca mais retornariam.

As palavras ditas na euforia da raiva me afetaram profundamente porque eu sabia que era verdade. Depois de três anos sem nenhuma visita de senhor Sesshoumaru e senhor Jaken era evidente que eles não retornariam.

Fiquei incrivelmente triste. Ao perceber o meu estado de tristeza, vovó Kaede foi ao meu encontro e me explicou que meus amigos se afastaram porque provavelmente chegaram à conclusão de que o meu lugar era junto com os humanos e que a presença constante deles poderia afetar a minha segurança, pois poderia atrair youkais malignos para a aldeia.

A explicação que tinha o intuito de me consolar, deixou-me ainda mais triste, uma vez que fui capaz de perceber o quanto eu era um fardo para senhor Sesshoumaru e senhor Jaken. Ao final daquele dia, decidi que eu não queria o futuro que vovó Kaede aspirava para mim. Eu não queria ser sacerdotisa. Eu queria ser como Sango e Kohaku. Queria ser forte e imbatível. Queria ser digna de estar ao lado de meus amigos.

Ao relembrar esse fato, compreendi que minha decisão de me tornar exterminadora de youkais e ser independente foi por eles. Pelos meus amigos. Era isso que meu interior me dizia. Ele dizia que eu deveria voltar para eles.

Vovó Kaede, decerto por adivinhar o que se passava pela minha cabeça, sorriu e aproximou-se de mim. Ela ergueu a mão e acariciou meus cabelos.

— Rin, seus pés estão no chão, mas o seu coração onde está? — questionou a senhora suavemente. — Tenho certeza de que não está aqui na aldeia. Sesshoumaru e Jaken levaram o seu coração para onde quer que tenham ido.

Para minha surpresa, percebi que lágrimas se formavam em meus olhos, mas eu logo as afastei.

— A senhora está certa. Sinto saudades deles — admiti. — Sinto saudades do senhor Sesshoumaru e do senhor Jaken. A razão de eu ter treinado todo esse tempo foi para voltar a segui-los sem atrapalhá-los. Talvez agora, depois de todo o treinamento, eu esteja apta para segui-los novamente e ajudá-los como forma de retribuir tudo o que eles fizeram por mim.

— Você está apta — disse vovó Kaede com convicção. — Se a sua alma diz para você voltar a seguir o youkai Sesshoumaru é isso o que você deve fazer.

— Eu quero muito mais do que seguir, vovó. Quero ajudá-lo a conquistar os seus objetivos. Senhor Sesshoumaru salvou a minha vida tantas vezes. O mínimo que eu posso fazer por ele é ajudá-lo no que precisar.

A sacerdotisa sorriu para mim.

— Muito bem — a sacerdotisa virou-se para deixar a casa. — Vou dizer aos homens da aldeia vizinha que a exterminadora de youkais está partindo para uma viagem sem volta.

— Não! — vociferei dando um passo a frente. Vovó Kaede virou-se para olhar para mim. — Não posso deixá-los desamparados. Preciso ajudar a aldeia.

Ela meneou a cabeça.

— Não se preocupe. Kohaku cuidará disso.

Quando vi a idosa caminhando devagar até a porta, meu coração murchou. Por mais que eu quisesse reencontrar senhor Jaken e senhor Sesshoumaru, eu havia construído uma vida naquela aldeia. Vivia ali desde os nove anos e havia construído laços com aquele povo. Era muito difícil pensar na possibilidade de deixar tudo para trás.

— Vovó Kaede, espere! — num impulso eu corri até ela e a abracei com força. A senhora embalou-me em seus braços enquanto afagava os meus cabelos.

— Eu agradeço — falei enquanto a abraçava. — Agradeço tudo o que a senhora fez por mim.

A sacerdotisa desfez o abraço. Havia um sorriso em seu rosto.

— Não precisa agradecer, nem se sentir culpada. Sempre soube que você não ficaria para sempre — disse ela olhando-me nos olhos. — Acho que todos nós sabíamos. Seu lugar não é conosco e seus amigos precisam de você. Seja feliz, Rin, e saiba que nesta aldeia sempre terá um lugar para você.

Ao dizer isso, ela partiu.

Sozinha, eu me perguntei: E agora? O que devo fazer? Por onde começar?

A resposta imediata era: reúna aquilo de que mais precisa, pegue um cavalo e siga para o norte. Procure pistas sobre senhor Sesshoumaru nos vilarejos e nas aldeias por onde passar até descobrir o seu paradeiro.

Eu sabia que senhor Sesshoumaru estava em algum lugar ao norte dessa aldeia, pois no verão passado chegou até nós uma notícia de que um poderoso Inu-Daiyoukai erguera uma espécie de fortaleza ao norte.

Eu não sabia de muita coisa. Tudo o que eu sabia era que ficava ao norte. Levaria um tempo até eu encontrá-la e viajar no inverno seria difícil. Por isso eu precisava iniciar a viagem depressa. Se possível naquela noite mesmo.

Organizei alguns pertences numa bolsa estranha (e muito útil) costurada à mão por Kagome. Por fim, vesti a minha vestimenta de exterminadora a qual era igual à de Sango. A única diferença era que a minha era vermelha. Por cima da roupa de exterminadora, eu pus um kimono prático, pois no caminho poderia haver ataques de youkais e eu tinha que estar preparada.

Enquanto me preparava para a viagem, tombei com o baú de kimonos. Fitei-o por alguns segundos e resolvi dar uma olhada em seu conteúdo. Era sempre doloroso fazê-lo, por isso eu fazia com pouca frequência.

Quando minhas mãos o destrancaram, meu coração começou a martelar forte dentro do peito. Assim que ergui a tampa do baú, uma nuvem de poeira me fez soltar um espirro. Quando me recuperei, encarei o conteúdo daquele objeto. Tratava-se de um amontoado de tecidos coloridos e de seda.

Ao pôr os olhos naquelas peças, não consegui conter um sorriso. Quem escolhia essas vestimentas? Eu sempre me perguntei isso. Senhor Sesshoumaru não parecia ser o tipo de youkai que escolhia kimonos para uma garotinha.

Agarrei um tecido quadriculado em meio a uma variedade de cores e estampas. As cores dele eram amarelo e laranja como as nuvens do pôr do sol.

Eu o puxei para fora e o tecido caiu nas minhas pernas como uma pasta. Fiquei boquiaberta ao tocar o tecido fino e gasto.

Minha nossa... Esse pequeno kimono foi o primeiro que senhor Sesshoumaru havia me dado. Foi a primeira roupa decente que eu tive na vida.

Fiquei analisando os detalhes da roupa e repentinamente uma voz masculina quebrou a quietude:

— Rin.

Girei a cabeça para trás e focalizei meu melhor amigo, Kohaku. Eu estava tão distraída que sequer o ouvi abrir a porta. Assim que eu o encarei senti uma onda de ternura por ele. Se não fosse esse garoto de olhos castanhos e sua irmã eu jamais teria me tornado uma exterminadora de youkais.

E eu iria deixá-lo.

— Ouvi vovó Kaede dizer que você vai embora — disparou Kohaku entrando na casa. Ele estava vestido com a sua roupa de exterminador. Estava pronto para se dirigir a aldeia vizinha. — Isso é verdade?

— Sim. É verdade. Desculpe-me, Kohaku — respondi guardando o kimono de volta no baú.

— Está tudo bem. Eu e Kirara podemos acompanhá-la! — ele disse um tanto animado.

— Não acho que você deva me acompanhar — Kohaku pareceu chocado e desapontado. — Seu lugar é aqui, na aldeia, ao lado de sua irmã e seus sobrinhos.

— E o seu também não é? Rin, essa é sua casa. Seu lugar é aqui, assim como o meu.

Balancei a cabeça.

— Não, Kohaku. Desde o início eu sempre soube que o meu lugar era ao lado de senhor Sesshoumaru e senhor Jaken. Todo o meu treinamento foi por eles. Eu sempre quis voltar a segui-los. Eu... Eu sinto muito.

Ele ficou calado, remoendo alguma coisa.

Eu caminhei até ele. Algo na expressão do meu amigo fez meu coração se partir.

— Sinto muito, Kohaku. Nunca foi minha intenção magoá-lo.

— Está tudo bem. Se é isso que quer, eu respeito sua decisão — o rapaz de olhos castanhos esboçou um leve sorriso. — Imagino até o que a vovó Kaede deve ter dito sobre isso — ele então imitou a voz da sacerdotisa e a forma como ela se portava: — Rin, essa jornada faz parte do seu destino. Cada ser vivo vem ao mundo com um propósito e você deve descobrir o seu.

Eu ri.

— Foi quase isso. Só que ela disse algo sobre a voz da alma — um silêncio pesado se fixou no ambiente. — Muito obrigada, Kohaku. Você foi um grande amigo. Sem você eu jamais teria me tornado uma exterminadora de youkais. Por favor, diga a Sango que eu serei eternamente grata pela roupa de exterminadora. Foi muita bondade da parte dela ter feito uma para mim.

Kohaku franziu o cenho.

— Não vai se despedir dela?

— Você e vovó Kaede foram as únicas pessoas que eu me despedi e eu quase desisti dessa viagem. Se eu falar com o restante das pessoas da aldeia, no final, desistirei completamente dessa ideia e voltarei a minha vida de sempre.

— Já imagino como seria. Sango tentando te convencer a desistir, Miroku fazendo símbolos de proteção para que você possa levar, InuYasha querendo te acompanhar... Acho que você só iria conseguir viajar no próximo outono.

Eu dei uma risada. Realmente seria assim mesmo.

Quando Kohaku sorriu eu notei que havia um rastro de tristeza em seu sorriso.

— Está tudo bem. Não precisa agradecer por eu ter te ensinado uma técnica ou outra. Você também me ensinou muita coisa e vou para sempre me lembrar dos seus ensinamentos. Fico muito feliz que tenha encontrado um propósito — o rosto de Kohaku então assumiu uma expressão estranhamente séria. — Mas não acho que seu propósito deva ser voltar a seguir o youkai Sesshoumaru. Isso é pequeno demais. Você merece algo maior. Eu espero que com o tempo você se dê conta disso.

— Kohaku...

Ele ergueu a mão, impedindo-me de concluir a fala.

— Não. Você sabe muito bem qual é a minha opinião acerca disso — falou ele, sisudo. — Eu respeito a sua escolha de ir atrás do youkai. Mas acho que isso é uma tremenda loucura. Sesshoumaru não é um youkai... Confiável.

— Acho que você está esquecendo que ele ajudou a salvar esta aldeia — rebati tamanho absurdo.

— Ajudou é claro porque queria vingança! — vociferou meu amigo. — Escute o que estou dizendo: a decisão de seguir Sesshoumaru pode ser uma sentença de morte!

— Não acredito que você está me dizendo isso — falei horrorizada. — Senhor Sesshoumaru nunca me faria mal. Ele é um amigo. Pelos deuses, Kohaku, pare de falar dele como se ele fosse um monstro!

— Bem, se é o que você acha... — disse o rapaz pouco convencido. — Apenas tenha cuidado. Você é minha melhor amiga e eu ficaria muito triste se algo ruim te acontecesse, Rin-chan. Tome cuidado. Não confie em Sesshoumaru. Ele pode ser seu amigo, mas sempre será um youkai e você sabe qual é a natureza dessas bestas.

Assenti.

— Vou tomar cuidado. Não se preocupe.

Kohaku, ainda meio sério, deu as costas e deixou a casa.

Enquanto eu me recuperava das palavras do rapaz, avistei em cima do meu futon algumas folhas amareladas de pergaminhos.

Kohaku havia deixado aquilo ali furtivamente quando eu me virara para guardar o kimono. Franzi o cenho e aproximei-me dos pergaminhos desgastados. Peguei as folhas e li o conteúdo que havia escrito nelas, afinal Miroku havia me ensinado a ler. Quando meus olhos registraram aquilo que eu estava lendo soltei uma exclamação.

Eram anotações. Anotações que indicavam a localização exata da fortaleza de senhor Sesshoumaru. Ou melhor, do palácio, pois os desenhos do lugar revelavam que não era uma mera fortaleza, mas sim um verdadeiro palácio.

Eu não estava acreditando. Kohaku sem dúvidas me poupara de meses de busca! Como ele havia descoberto tal coisa? Ele certamente começara a procurar por senhor Sesshoumaru assim que chegou à aldeia a notícia de que um Inu-Daiyoukai havia construído uma fortaleza ao norte ali.

Sorri animada. Graças aquelas anotações, agora eu sabia exatamente para onde ir. De acordo com os pergaminhos, o palácio fora construído no meio numa floresta selvagem ao norte. Eu chegaria lá com três dias de viagem. Não. Três dias era muito pouco. Talvez, semanas. Eu só conseguiria chegar em três dias se eu tivesse Kirara. Todavia, com toda certeza Kohaku não permitiria que eu a levasse.

"Ah, Kohaku. Não acredito que você investigou tudo sozinho", pensei com um sorriso.

— Kohaku, seu idiota... — estava enfurecida com ele por ter feito tudo sozinho, mas eternamente grata.

Pus todos aqueles pergaminhos na bolsa. Da minha casa, eu podia ouvir o som da cerimônia e, por um momento, quis ir até os meus amigos para me despedir. Mas logo descartei a ideia. Se eu os visse adiaria a viagem e acabaria relutando em partir. Além do mais, não era como se eu nunca mais fosse voltar ali. Eu pretendia retornar a aldeia futuramente para visitar Kagome, InuYasha, Sango, Kohaku, vovó Kaede e Miroku.

Saí de minha simples e pequena casa. Dei uma última olhada nela, enquanto me distanciava. O meu baú com todos os meus kimonos havia ficado lá e eu havia escrito uma instrução para que vovó Kaede os distribuísse para as meninas da aldeia, afinal de contas eles ainda estavam conservados. O único kimono que eu queria guardar de recordação era o laranja e, por isso, eu o trouxera comigo na bolsa.

Naquele instante, enquanto caminhava e ficava cada vez mais longe da aldeia, um sentimento de felicidade se espalhou por todo meu corpo. Há tempos não me sentia dessa forma.

— Prometo que jamais esquecerei este lugar — murmurei para mim, pensando na aldeia e nos meus amigos.

Os pergaminhos de Kohaku diziam que o palácio de senhor Sesshoumaru era protegido por uma barreira incrivelmente poderosa e que era impossível atravessá-la sem a permissão do Inu-Daiyoukai. Os poucos humanos que viviam próximo ao palácio não se importavam com a tal barreira, muito menos com o palácio porque eles não interferiam em suas vidas. Senhor Sesshoumaru não tinha interesses em humanos e não se importava com eles.

À medida que caminhava, um rugido alto e felino despertou minha atenção.

O som vinha do céu estrelado. Quando ergui a cabeça, avistei Kirara suspensa no ar.

— Kirara! — exclamei sorrindo para ela.

Kirara se aproximou de mim e pousou as patas na relva para que eu montasse em suas costas. Kohaku havia a mandado para mim, pois muitos youkais cercavam o palácio de senhor Sesshoumaru, a fim de atravessar a barreira. Eu teria muitos problemas se fosse por terra. Alisei o pelo fino e macio de Kirara, agradecendo-a. Subi então em suas costas e segurei firme em seu pescoço.

Obrigada, Kohaku.

Eu estava voltando para os meus amigos. Mas, como iria atravessar a barreira? Será que senhor Sesshoumaru e senhor Jaken aceitariam a minha companhia novamente? Continuei acariciando o pelo bege de Kirara enquanto pensava. Três dias e eu teria as respostas para todas essas indagações. Não importava quantos obstáculos houvesse. Eu encontraria um meio de entrar nesse palácio e reencontrar senhor Jaken e senhor Sesshoumaru.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Até o próximo capítulo, gente!



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