Visita inesperada

OUTUBRO

NOVEMBRO

DEZEMBRO

JANEIRO

 Quatro meses. Quatro meses. Quatro meses.

 Á quatro meses Edward Cullen me largou. Deixou-me só. Sem sua companhia.

Deixou de me amar. Há quatro meses meu coração está partido em cacos, está doente, com um buraco impreenchível, negro e profundo. Minha vida, simplesmente… Perdeu o sentido, minha existência não tem mais um chão para pisar.

 E minha mente, continua extremamente confusa, eu penso tanto em Edward, no meu Edward, mas penso tanto naqueles olhos azuis, tão inesquecíveis, e não entendendo á mim mesma, eu sentia falta daqueles olhos azuis, assim como sentia daqueles olhos âmbar, daquele ouro liquido.

 Mas, o que me deixava mais frustrada, e depressiva, era o fato de não saber o porquê de sentir falta daqueles olhos azuis, afinal, havia trocado meia de dúzia de palavras com aquele homem ríspido e incrivelmente hipnotizante.

 E para piorar minha situação, Charlie quer me mandar para Jacksonville novamente, para morar com Renée, outro fato que me deixa frustrada, afinal, Charlie diz que o problema em mim é que eu não faço nada. Então, Charlie quer que eu me meta em confusões? Em brigas?

 Não, mas na realidade, eu sei o que ele quis dizer, e aceitar aquilo me deixa tão mal. Aceitar que eu virei um zumbi. Sim. Acho que á quatro meses não sorrio, além de que na primeira semana do abandono, deixei de trocar uma única palavra com meu pai, e agora, vou á escola, trabalho depois das aulas até as seis e meia de tarde, volto para casa, faço a janta, mas não consigo comer, volto para o quarto, e pego no sono após o choro, e ao meio da noite, tenho os pesadelos de sempre, e acordando á Charlie com meus gritos enquanto durmo.

 -Bella…- a voz de grossa de Charlie e batida leve me fez sentar na cama, encarando a porta que se abria lentamente, fazendo um rangido arrepiante.

 -Sim… - murmurei tentando parecer normal, secando as lagrimas com a palma de trás da mão, rapidamente, escondendo que chorava á segundos atrás. Charlie me olhou piedoso, e duramente ao mesmo tempo.

 -Hmmm… Você tem… Uma visita… - concluiu ele timidamente, franzindo o cenho ao final da frase, e me fazendo franzir a testa.

 -Visita? Como assim?-perguntei exasperada.

 Talvez fosse… Alice. Ah, Alice, essa também deixara um buraco em meu peito.

  -Quem?-perguntei.

 -Ela disse que se chama… Kelly… - disse ele após coçar o queixo pensando.

 Kelly? A garota morena que havia sido querida, e sensível com o meu momento na casa de Jack…?

 -Kelly?-perguntei á mim mesma, e ele apenas concordou- Hmmm… Eu já vou descer… - propus com um sorriso forçado, Charlie suspirou aliviado, parecendo relaxado, e sorriu docemente, enquanto fechava á porta levemente.

 Dei um pulo da cama, correndo até minha cômoda, onde se abrigavam todas as minhas repetitivas peças de roupas, e puxando algo confortável, o de sempre.

 Corri para o banheiro, bufando, e querendo aquela porcaria de chuveiro que decidia esquentar quando lhe dava na telha. Rosnei furiosa, entrando debaixo da água gelada, deixando dar um impacto doloroso com meu corpo, e no outro segundo já estava quente a água. Com certeza, ficaria gripada depois desse choque térmico.

 Um, porém: nesses quatros meses, essa é a primeira vez que me sinto… Bem, sabe animada, talvez seja porque Kelly queria falar comigo… E lembrar de Kelly me fazia lembrar de Jack… E lembrar de Jack me fazia feliz e odiada ao mesmo tempo… É tão confuso!

 Me vesti depois de um banho rápido. Deixei os cabelos como estavam, meio úmidos e levemente desarrumados, e desci as escadas correndo, mas desci metade caminhando calmamente, eu já havia tropeçado uma vez durante a descida, outra tropeçada não ia ser nada… Legal? Se usa essa palavra ainda?

 De costas, analisando as fotos de meu pai acima da pequena lareira da sala, onde estavam algumas fotos minhas de quando pequena, do casamente em Las Vegas de Renée e Charlie, entre outras que são tão constrangedoras que não são questão de lembrar do que são.

 Vestindo um casaco preto, e uma calça jeans da mesma cor, com uma bota de cano longo e os cabelos presos em um coque alto, e mal feito, Kelly estava charmosa. Ela se virou, rapidamente, sorrindo longamente, e revelando que na frente do peito, caído em volta do pescoço encontrava-se um cachecol de cashmere cor caqui.

 -Olá, Bella-disse ela com um sorriso constrangido.

 Charlie pigarreou, fazendo o clima quebrar, e fazendo ambas o olharem:

 -É… Vou deixar vocês conversando… -disse enquanto pegava o casaco, e saia pela porta da frente, nos deixando só.

 -Kelly?-perguntei ofegando, descrente de que ela estava ali, me fazendo sentir-me bem, ela diminuiu o sorriso, e suspirou.

 -Sim… - disse voltando á sorrir longamente, e mostrar aquela carreira branca e longo de dentes perfeitamente retos.

 -O que… Você veio… Fazer aqui?-perguntei ofegante, ela suspirou, e sentou-se no sofá, cruzando as pernas.

 -Espero que não seja um incomodo…- comentou ela baixo.

 -Não! – quase gritei, fazendo Kelly rir baixo com meu testemunho- Não… É.- concluiu baixo.

 -Eu queria saber, como você está, fiquei preocupada com você…-disse ela calmamente, concordei e sentei-me ao seu lado,  ela sorriu novamente- Você está bem?

 Concordei mecanicamente, forçando aquele movimento.

 -Você não está muito… Saudável…-comentou tocando minha bochecha brevemente com a mão, suspirei, e concordei- Está assim… Por causa do seu namorado?

 -Ex- namorado- murmurei irritada, encarando minhas próprias mãos, ela bufou levemente.

 -Que seja! De qualquer forma, você deveria melhorar… Quando você fica mal, os outros á sua volta ficam também… Até os distantes… - retrucou ela irritadamente, fazendo-me encara-la assustada, ela suspirou, abaixando os olhos- Eu só quero dizer… Que eu me apeguei á você rapidamente… E bruxas como eu… Duram tempo demais…-comentou.

 Bruxas. Há quatro não pensava nisso, que eles eram bruxos, ou sirenas. Minha mente não havia guardado muito sobre aquilo, talvez não tivesse entendido aquilo tudo no momento, mas nesse, meu coração palpitava rápido demais, e um leve medo tomava conta de minha mente.

 -E não pretendo passar uma eternidade lembrando de uma garota que ficou anoréxica por causa de um vampiro…- disse ela sorrindo.

 -Por que disso?-perguntei me levantando ofendida, ela me encarou curiosa enquanto eu explodia- Você mal me conhece! Me abrigou por uma noite! Uma noite! E de manhã, magicamente acordei em casa, com meu pai berrando comigo, que eu estava bêbada e uma amiga havia me trazido caridosamente para casa! E ainda tenho suportar um abandono de um maldito vampiro e um xingo de uma estranha!- concluiu e ela ergueu as sobrancelhas parecendo assustada, e então sorriu calmamente, suspirando, ofegante, enquanto eu sentia minhas bochechas ficarem quentes de raiva.

 -Desculpe se pareço metida demais!- lamentou Kelly enquanto se levantava, e ajeitava no ombro a bolsa de couro bege, e suspirava negando algo á si mesma- Eu apenas… Me importo com você…- comentou ela de um jeito triste, como se reencontrasse uma irmã que a rejeitasse, ela puxou o ar nervosa- Desculpa, eu vou embora… Me meti demais-disse ela dando um sorriso doce, e passou por mim rapidamente, fazendo um vento com a passada rápida, e logo em seguida já estava na porta, com a mão no trinco da porta, pronta para abri-la.

Não!

 Gritei mentalmente para mim. Eu não a poderia deixar sair. Ela parecia se importar comigo… Como uma mãe preocupada com seu filho, e eu não poderia deixa-la ir, não antes de me desculpar, ao menos. Eu havia sido grossa, despejado um balde de lixo na cabeça de alguém que não merecia.

 -Não… Por favor, desculpe-me… - pedi baixo, nervosa, deixando meu coração doer, meus lábios tremerem, e os olhos lacrimejarem mais uma vez naquele dia, Kelly suspirou, e se virou, me olhando piedosa- Fica, por favor…- ela suspirou e sorriu concordando enquanto tirava a bolsa do ombro, e deixava ela cair no chão.

 Sorri fungando, e concordando, com um sorriso esperançoso nos lábios.