Catarse escrita por RafahAmorim


Capítulo 7
O casamento de Percy e Audrey




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Assim que chegou à casa de seus pais, no fim da tarde, George percebeu que viera muito cedo. A correria dos preparativos finais do casamento o deixou tonto. Fugindo da bagunça, ele saiu da lareira, subiu as escadas rapidamente e, ao chegar no primeiro patamar, ficou grato por ninguém ter notado sua presença.

Ele seguiu andando pelo corredor e estava pronto para entrar no quarto de Ron, uma vez que não mais usava seu antigo quarto, quando viu uma fresta do aposento de Percy aberta. O noivo estava em frente ao espelho, terminando de ajeitar a gravata. As mãos trêmulas denunciavam o nervosismo.

"Posso entrar?", George perguntou abrindo mais um pouco a porta e colocando a cabeça na fresta.

"Sim, claro.", falou Percy parecendo surpreso olhando-o pelo reflexo do espelho.

"Eu até me oferecia para ajudar." começou George apontando a cabeça em direção à gravata e fechando a porta atrás de si ."Mas sendo funcionário do Ministério, creio que você tem bem mais experiência do que eu."

Percy parou de ajeitar sua elegante gravata e virou-se para George, parecendo ficar um pouco constrangido. "Sei que vocês nunca vão me perdoar por eu ter agido daquela forma com a mamãe por causa do Ministério antes da guerra..."

"O que?", interrompeu o mais novo depois de entender o que Percy tentava dizer. "Eu estava brincando! Não pensei nisso nem por um momento." George ficou alarmado. A última coisa que ele queria, naquele momento, era fazer seu irmão sentir-se mal no dia de seu casamento.

Percy suspirou, exibindo um semblante mais relaxado. Não estava usando os costumeiros óculos de aro tartaruga. Com certeza, usava algum feitiço de correção temporária de visão.

"De qualquer forma, eu penso em falar disso há tanto tempo. Só nunca tive coragem. Será mesmo que sou um Gryffindor?", perguntou ele com um pequeno sorriso melancólico, como se tentasse fazer daquilo algo engraçado, porém sem sucesso.

"É claro que é.", respondeu George prontamente, não deixando de pensar que ele próprio fizera o mesmo questionamento semanas antes.

"George, eu sempre quis que você soubesse que desejei que fosse eu e não ele naquele dia.", declarou Percy, seus cabelos muito vermelhos mais alinhados que o comum.

George ficou estarrecido, sem saber o que dizer. Nunca imaginou que Percy sentia-se daquela maneira.

"Não diga isso.", interrompeu rapidamente para, em seguida, acrescentar: "Olhe, não sei se esse é o melhor momento para falarmos disso, você vai se casar daqui a pouco e..."

"Esse é o momento perfeito, George. Essa culpa me atingiu durante tanto tempo. Fiquei tão desesperado quando o vi, tão culpado por não ter protegido meu irmão mais novo."

Percy sentou-se na beirada da cama, e continuou falando, só que agora olhando para seu próprio colo. George repetiu o movimento do noivo, acomodando-se na outra extremidade do móvel, olhando para frente.

"Por tanto tempo carreguei essa angústia, essa aflição. Eu estava em desespero e Audrey foi essencial nesse momento. Ela me ajudou."

George mirou o irmão ao perceber que ele o olhava.

"Estou dizendo isso porque entendi que eu, acima de qualquer coisa, precisava me perdoar. Precisava entender que eu tinha que seguir em frente. Eu estaria tornando a morte de Fred em vão senão o fizesse" O olhar de Percy era triste, mas bastante obstinado. "Sei que você ainda não superou, e para ser franco, acho que nenhum de nós o superaremos porque jamais o esqueceremos, mas podemos aprender a lidar com a dor.”

George não sabia o que dizer. Ninguém de sua família jamais falara abertamente do assunto. E por mais que estivesse surpreso, já não era perturbador ouvir.

"Por que está dizendo isso?" George indagou ao mesmo tempo em que desviava o olhar.

"Porque eu sinto que alguém precisava falar com você. Não é preciso ter o cérebro de Hermione para notar o seu estado. Ninguém vai te julgar, George."

George voltou a encarar o irmão, que colocou uma mão em seu ombro, como um sinal de apoio. "Se você seguir em frente.", Percy concluiu sua fala e levantou-se.

George também se pôs de pé. Percy deu-lhe um rápido abraço, dando leves palmadas em suas costas.

"Saiba que nós já perdoamos você há muito tempo.", George sentiu vontade de dizer, fazendo referência ao que o irmão falara antes. Percy apenas sorriu.

"Vou deixar você se arrumar, é bem capaz de demorar mais que a noiva.", continuou ele, sorrindo.

Percy revirou os olhos. "Some daqui.", riu.

George saiu do quarto, não mais sentindo necessidade de se esconder de seus familiares. A conversa fora breve e inesperada, porém ele saiu sentindo-se mais leve de lá, como se precisasse daquele aval. Desceu as escadas e deparou-se com Ron e Hermione ao lado da lareira.

"Eu disse que aquela chave de portal não funcionaria, Ronald.", ralhou Hermione que, assim como seu namorado, não reparara a presença de George.

Ele ficou observando a discussão entre os dois e estava pronto para fazer uma brincadeira quando sua mãe entrou na sala.

"Ah, querido, que bom que chegou. Está lindo!", exclamou Molly, com um sorriso bondoso.

George a abraçou e acenou para Ron e Hermione que finalmente o haviam notado. Saiu da sala e seguiu para o espaço ao ar livre, que agora abrigava a mesma tenda que havia sido usada no casamento de Bill e Fleur, quatro anos antes.

Andou para o leste e esperou num canto afastado, no local que haviam combinado de se encontrar. Alguns minutos passaram-se até que ela surgiu, a alguns metros de distância. Eles sorriram um para o outro, e George seguiu em sua direção.

"Você está linda.", elogiou ao mesmo tempo em que depositava um beijo em seu rosto.

Ela usava um vestido longo laranja em um tom fechado, que aproximava-se do vermelho. Era justo e evidenciava suas formas curvilíneas. Usava um sapato um pouco alto, mas ainda assim permanecia mais baixa que George.

"Você também.", devolveu Angelina com um sorriso genuíno. Os cabelos dela estavam presos lateralmente num elegante coque.

George discordou internamente, mas apenas sorriu em retribuição. Seu terno e sapato eram muito bonitos, pretos e brilhantes, entretanto não havia nada demais nele. A única coisa diferente eram os cabelos que ele aparara de manhã cedo.

O ruivo cruzou o braço com o dela, e a levou para dentro da tenda. A cerimônia demoraria um pouco para começar, mas eles já garantiriam um bom e discreto lugar. George queria evitar olhares curiosos sobre si e sua acompanhante.

Quando adentraram o local, George pôde observar que a festa era a cara do de Percy e Audrey. Toda a decoração era preta, azul e prata, o que dava um ar sóbrio e discreto ao local. Algumas das flores, do tipo angelica, estavam suspensas no teto, como se estivessem presas por cordas invisíveis; outras, em uns bonitos arranjos, encontravam-se presas aos bancos no lado que dava para o corredor por onde a noiva entraria. Luzes redondas, nas mesmas cores da festa, voavam por todo o ambiente, proporcionando uma iluminação personalizada. Os bancos eram de madeiras e pretos, reluzentes.

Outros convidados já ocupavam o espaço, e mais alguns apareciam. George, enquanto procuravam um assento, observou Luna Lovegood, que usava um exótico vestido cor de musgo, entrar e riu ao vê-la observar o teto como se fosse o quadro mais interessante do mundo. Andromeda Tonks apareceu também, com bonitas vestes bruxas em tom de preto, trazendo o pequeno Teddy que correu em direção a Victorie, que entraria com as alianças no colo de seu pai.

George e Angelina acabaram por sentarem na quarta fileira, contando a partir do fundo da tenda até a entrada.

"Sabe no que eu estava pensando?", Angelina perguntou quando se acomodaram. "Poderíamos criar um kit-casamento, presentes divertidos para presentear o casal.", sugeriu sorrindo.

"Brilhante.", George elogiou. "Vamos expandir nosso público-alvo.", afirmou com entusiasmo. Angelina não trabalharia mais na loja, mas continuaria ajudando na criação dos novos artigos.

Rapidamente, um diálogo animado sobre essas invenções começou e só foi interrompido quando o som da valsa invadiu a tenda. Os dois se colocaram de pé, como os demais presentes. Audrey apareceu dentro de um clássico vestido branco. Os cabelos castanhos estavam presos de lado. Elegantemente, ela chegou ao lado de seu futuro marido. O responsável pelo cerimonial iniciou seu discurso.

Enquanto observava o enlace, George ficou perguntou-se como chegara ao ponto de se pensar em não ir ao casamento do irmão. Seu próprio irmão! Por Merlin, mudara de ideia a tempo. Mirou Angelina pela visão periférica, e ficou feliz por tê-la trazido.

O rito terminou sem muitas delongas. As pessoas levantaram-se novamente, aplaudindo os recém-casados. De repente, a tenda desapareceu. A festa seria ao ar livre. Já estava anoitecendo, e a natureza proporcionava aos convidados um belo espetáculo crepuscular.

Os bancos tornaram-se mesas e cadeiras quadradas, da mesma cor de ébano. George e Angelina foram parabenizar o casal recém-casado e sentaram-se no que antes era um banco. Uma banda bruxa apareceu e logo uma música animada preencheu o ar. A iluminação continuou a cargo das luzes flutuantes.

“Eu vou pegar umas bebidas. Quer?”, Angelina indagou indicando com a cabeça uma mesa, ao lado oposto ao qual eles estavam. Sua superfície estava repleta de garrafas, dos mais variados tipos, e copos.

“Sim, obrigado.”, George respondeu e a observou seguir o trajeto até a mesa.

“Posso me sentar aqui?”, Charlie apareceu.

George revirou os olhos quando o vi acomodando-se numa cadeira vaga sem esperar por uma resposta.

“Eu tenho um convite para você.”, Charlie falou sorridente.

"Que convite?"

"Teremos o Festival Romeno de Dragões lá na reserva esse ano. Que tal, hein?! Três dias. Música, bebidas e dragões."

"Obrigado, mas dragões não são minha praia." George conhecia aquela festival, ocorria de três em três anos. Quando era mais novo, ele e Fred eram doidos para ir. Molly nunca permitira, e quando eles finalmente tornaram-se maiores de idade, estavam ocupados demais com a loja.

"Não era o que você dizia quando tinha 15 anos. Qual é, George? Vamos. Você terá diversão aos montes e ainda nos ajudará.", o festival tinha a função de arrecadar fundos para o reservatório natural.

"Mamãe mandou você me chamar?" George questionou rispidamente, irritado com essa ideia.

Charlie bufou. "Não. Já passei da idade de ser obrigado a levar meu irmão mais novo aonde quer que seja. Eu estou te convidado. Acho que está na hora de você conhecer."

George o olhou, ponderando se a fala seria verdadeira ou não.

"Estou me divertindo."

"Sei.", ironizou seu irmão.

"E eu continuo tendo a loja, permaneço sem tempo." George voltou seus olhos para onde Angelina deveria estar. Ela continuava no mesmo lugar, com as bebidas em mãos, mas agora conversava com Ginny animadamente.

"O festival vai do dia 5 ao 7 do próximo mês. Na sexta, você pode chegar depois do expediente. Sábado você tira uma folga, e domingo a loja não abre." Charlei insistiu, parecendo já esperar por uma negativa, uma vez que a solução parecia ter sido pensada anteriormente.

"Ok. Eu vou.", George cedeu sabendo que seu irmão não desistiria até que ele aceitasse.

"Ótimo! E leve sua namorada.", Charlie falou lançando um olhar sobre Angelina, que estava voltando.

"Ela não é minha namorada."

Charlie girou os olhos. "Já ouvi esse discurso antes.”

"Sim, pois ele é seu. Quantas vezes você já apareceu com alguma garota e jurou que não estava namorando?”

Charlie riu. "É diferente."

"Como diferente?", George perguntou irritado.

"Você vai descobrir.", seu irmão respondeu enigmático. "Nem pense em não aparecer por lá.", falou levantando-se.

Ele cumprimentou Angelina, que finalmente retornara, e se foi, caminhando para perto de uma convidada.

"Por que ele saiu? Atrapalhei alguma coisa?", a mulher perguntou enquanto colocava uma tulipa cheia na frente de George.

"Não, nada."

Os dois começaram a beber e conversar, mas George não contou o que Charlie dissera. As palavras de Percy voltaram à sua mente. Acabou por ficar incomodado ao associar, involuntariamente, as frases motivadoras do irmão à imagem de Angelina. Teria que seguir em frente de outra forma... E convidá-la para ficarem três dias juntos num lugar distante não era o melhor jeito de conseguir isso.

A música alta preenchia todos os ambientes. Muita gente foi ocupando a pista de dança depois que os anfitriões finalizaram a valsa nupcial. George e Angelina aumentaram as doses dos fortes líquidos. George sentiu os efeitos da bebida quando tentou levantar-se para buscar mais firewhiskey. A tontura gostosa que o álcool oferecia finalmente chegara. Encarou Angelina, que também parecia estar ficando bêbada.

“Quer dançar?”, ela perguntou.

George não percebera a hora que ela saíra de seu assento a frente dele, e fora para seu lado. Não ficavam próximos assim desde o beijo.

“Quero.”, ele respondeu sem se controlar, não se recordando de que não era boa ideia ficar tão perto dela. Ergueu-se de novo, dessa vez com cuidado para manter-se de pé. Ela repetiu o gesto e os dois andaram até a pista aos tropeços, rindo como se tivessem acabado de ouvir a piada mais engraçada do mundo.

O som era gostoso e agitado. George segurou-a pela mão e a girou. Enquanto dançavam a terceira música, a situação lembrou-lhe o Baile de Inverno, que acontecera nos seus tempos em Hogwarts. Angelina fora o par de seu irmão. Pensar naquilo não fez bem a George, e a alegria extasiante que estava sentindo transformou-se numa melancolia súbita. Mesmo embriagado, ele soube disfarçar a mudança de estado, mas ao final da quarta canção, inventou alguma desculpa esfarrapada para retornar à mesa.


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