"Ah”, foi o que George conseguiu dizer quando Angelina finalmente abriu a porta de seu novo apartamento.

“O que faz aqui?”, ela indagou demonstrando total surpresa.

“Você esqueceu seu casaco.”, respondeu tirando da carteira magicamente estendida o suéter preto de tecido delicado. É claro que era só uma desculpa; um milhão de outros meios poderiam ser usados para que a peça de roupa chegasse à sua dona sem que George precisasse vê-la.

“Como você conseguiu meu endereço?” Angelina, de repente, pareceu se lembrar do desentendimento da noite passada, porque rapidamente seu semblante se tornou duro. Agradeceu seca enquanto George lhe devolvia o casaco.

“Alicia.”

“Não me mate, Lina.”, George ouviu a voz da loira vinda de dentro do apartamento. A jovem apareceu ao lado de Angelina. Estava com roupas muggles bem simples, e o cabelo bagunçado, assim como a jogadora. “Oi, George.”, cumprimentou sorridente. “Depois que se resolverem, bem que você podia ajudar a gente com a mudança. A resmungona aqui insiste para que façamos tudo por modo não-mágico.", revirou os olhos, retornando para o apartamento.

Angelina, irritada, voltou-se para George.

"Você contou a ela o que aconteceu?"

"Não. Ela nem quis saber."

A artilheira cruzou os braços.

"Se você veio aqui apenas para devolver o casaco, já pode ir embora.", decretou já fechando a passagem.

"Pensei", começou George espalmando a mão na porta. "ter ouvido Alicia dizendo que vocês precisavam de ajuda.", tentou sorrir.

"Pensou errado. Boa tarde."

"Ah, Angelina, por favor.", exasperou-se o ruivo. "Vim me desculpar pelo o que aconteceu ontem.", admitiu.

"E então..."

"Angie, desculpa. Não sei o que me deu, fiquei irritado e descontei na pessoa que mais tem me ajudado nesses últimos tempos. Perdão, de verdade.", pediu como quem se rendia.

Ela manteve a pose dura somente por mais alguns instantes.

"Ah, George.", ela suspirou. "Pensei que fôssemos ficar mais três anos sem nos ver. Porque eu não iria atrás de você.", apesar do tom divertido, George sabia que era verdade.

"Sei disso, você está certa. Eu fui estúpido com você, não o contrário. Desculpa, mesmo."

"Tudo bem. Desculpo você, mas só se me ajudar com as caixas."

"Ah, pensei ter ouvido alguém...", começou ironizando, mas foi interrompido assim que ela o puxou pelo braço para dentro da nova morada.

"Cala a boca.", Angelina sorria enquanto fechava a porta. "Bem-vindo ao meu novo lar.", ela fez um movimento com um braço que abrangia todo o ambiente. Parecia infinitamente feliz e orgulhosa.

George deu uma olhada no local.

Ao lado da porta, à direita, havia uma bancada de mármore coberta por inúmeras caixas de papelão. Devia ser a cozinha. O resto do espaço era a sala. Mais caixas cobriam o chão.

Antes que George pudesse comentar, Alicia apareceu de um corredor também à direita.

"Já era hora. Vamos, temos muita coisa a fazer."

E a tarde se foi num piscar de olhos. Após cômodos lavados, pacotes esvaziados e móveis instalados, a tarefa acabou. Os três, cansados, se sentaram no sofá bege recém-colocado.

"Bom", começou Alicia que estava entre os dois. "Já que o trabalho por aqui terminou, eu vou embora porque o do Ministério acaba de começar.", suspirou e levantou-se.

"Muito obrigada, Alicia.", agradeceu Angelina erguendo-se também. "Sei que foi duro fazer tudo isso sem magia, mas..."

"Lina", a loira a cortou com uma voz suave. Estava limpando-se com a varinha. "Eu brinquei, mas não me importei de verdade. Atividade física não faz mal a ninguém. Já não sou mais a mesma dos tempos da escola.", acrescentou estalando as costas. "Ainda mais trabalhando em um lugar como o Ministério. Um dia lá, e você entenderia o que estou dizendo."

Angelina apenas sorriu. George também levantou e se despediu da ex-colega de classe. Assim que ficaram a sós, voltaram para o sofá. George sentiu uma satisfação interna ao mirar Angelina pelo canto do olho e vê-la sorrindo enquanto admirava a nova casa.

A decoração simples e aconchegante, com móveis de madeira clara ficara realmente bonita. Tudo lembrava a dona do lugar. George constatou que adoraria ser convidado para ir ali mais vezes.

"Então...", ele falou depois de uns segundos. "Você não está pensando em desistir do mundo da magia, está?", perguntou virando-se para ela.

"Que pergunta é essa? É claro que não!", colocou as esguias pernas em cima do sofá, juntando-as ao corpo.

"Ah, não sei, oras. Primeiro você vem morar na Londres muggle, depois, não usa magia para arrumar o apartamento... O que foi?", questionou quando ela deu uma gargalhada.

"Sua cara...estava hilária.", ela riu. "Não quero abandonar a magia. É só que, depois da Batalha", fez uma breve pausa. "Fazer as coisas de modo muggle, enquanto não estava jogando, foi a forma que encontrei para tentar não pensar... No fim, se tornou um hábito. Quando estou atrasada, obviamente, uns acenos de varinha não fazem mal a ninguém.", ela sorriu fracamente.

Sério, George olhou para frente.

"Por que você ficou tão irritado daquela maneira, George?", perguntou a jovem depois de um curto silêncio. "Depois da sorveteria", explicou, mas ele já sabia ao que ela se referia.

Durante a sorveteria também, refletiu.

"Não sei", declarou soltando o ar aos poucos.

"Independente do motivo", ela começou e os dois se encaram. "Uma vez você pediu para eu não sumir, e agora, te faço o mesmo pedido. Provavelmente, ainda discutiremos como os dois adolescentes idiotas que não deixamos de ser", ambos riram. "Mas não precisamos parar de nos falar por isso. Aprecio a sua presença, George.", terminou suavemente.

Ele sentiu seu rosto esquentar.

"E eu, a sua.", devolveu com a voz baixa. "E já que estamos falando de presença, faço questão de que você vá ao casamento de Percy comigo.", desviou o assunto tentando disfarçar.

"Você tem certeza? Eu não fui convidada.” Ela não pareceu perceber seu embaraço.

"Ele te convidou depois que soube que você estava trabalhando na loja. Achou que seria melhor se eu mesmo chamasse, para que fôssemos juntos." contou, lembrando-se da rápida visita que seu irmão lhe fizera em julho. "Eu não disse nada porque não faria sentido pedir para você me acompanhar, sendo que eu sequer pretendia ir. E ainda que você não tivesse sido convidada, não haveria problema algum. Percy vai adorar ter mais uma estrela de Quidditich em seu casamento.", revirou os olhos pensando no pedantismo que restara em seu irmão.

A artilheira riu.

"Se é assim, eu topo. Quando é?"

"Em uma semana."

"Uma semana, George?", ela olhou-o inconformada. "Como vou me preparar para um casamento em uma semana?"

"Magia.", respondeu sorrindo marotamente.

Ela jogou uma almofada nele.

"Ei!", exclamou falsamente indignado.

"Detesto quando você usa esse seu ar convencido."

Ele riu com gosto.

"Não é convencimento, querida. É charme. Eu te disse isso uma vez."

"Ha, ha", debochou risonha. "Você que pensa."

"Esse apartamento é a sua cara.", comentou um instante depois. "Até que você tem bom gosto."

"Sei disso.", gracejou exibida.

"E depois o convencido sou eu."

"Você é metido, eu sou realista." Não havia resquício de ressentimento pelo dia anterior em sua voz, era fácil se entender com ela. George concluiu que evitaria ao máximo as brigas com Angelina porque poucas coisas eram tão boas quanto vê-la sorrir.