Que ótimo.

  Como deixei as coisas chegarem a esse ponto?

  No momento, eu me encontrava encolhida no sofá aos prantos com aquela vagabunda ainda desmaiada.

 Droga. Droga. Como eu e Dylan ficaríamos agora? Tudo seria mais fácil se ele tivesse permanecido em Londres... e... Foco Louise foco.

  Passei pelo corpo alto e quase descoberto de Violet, e caminhei até a porta, saindo e batendo-a com força logo em seguida. Tomara que quando eu voltasse àquela vadia já estivesse fora dali, senão eu a colocaria a força.

  E agora? Não posso aparecer na casa do Dylan assim do nada, não depois de tudo isso, mas dentro daquele apartamento que eu não ficaria.

  Fui tomada por incansáveis devaneios, e mal percebi quando tropecei e quase cai de cara no asfalto.

- Ei Louise tome cuidado.- alguém quase gritou em meu ouvido, ainda segurando meu pulso impedindo que eu me desfigurasse toda.

  Era Jason.

- D-desculpe.- murmurei me levantando e passando as costas de minha mão rapidamente sobre meus olhos, tirando qualquer registro de lágrimas dali.

- Você está bem?- droga, ele me conhecia como ninguém.

- Eu... Bem... Na verdade não.- deixei escapar. Sei que seria muita sacanagem minha falar de Dylan para o loiro, mas tudo aquilo estava preso em minha garganta e eu já não conseguia mais me segurar.

  O garoto me levou para uma lanchonete perto dali. Pedimos refrigerante e algumas fritas. Contei tudo, tudinho mesmo. Falei sobre a biscatinha da Violet, do jogo idiota de mímica, sobre como a mãe de Dylan e ele ainda se lembravam de mim, e quase de o garoto descobrir sobre quem eu realmente era, por conta, novamente da biscatona. Chorei por alguns momentos e em outros fui consolada.

- O que eu faço Jason? Estou perdida.- afirmei colocando três batatinhas fritas de uma vez na boca, após me recompor.

- Sinto lhe informar... Mas você está em uma bola de neve, Louise.- indagou seriamente dando bebericadas no refrigerante.- Pare de mentir, em cada situação tudo vai ficando cada vez mais difícil.

  “Tudo vai ficando cada vez mais difícil.”

  Essas últimas palavras soaram sobre meu inconsciente. Estava tudo um caos! E era verdade... Nada havia melhorado desde então. Eu não era Lílith! Era a Louise! E só agora percebo... Que mentir para o homem que eu amo dessa forma... Só o deixou ainda mais magoado.

- Jason... Obrigada.- murmurei e fui concedida por um abraço caloroso e envolvente do mesmo.

  Após isso, nos despedimos e meu próximo caminho era certo... A casa do meu Dylan.

  Não demorou muito, e as enormes e asfaltadas ruas de Camberra foram tomadas por gotas de chuvas grossas e rigorosas. Tentei cobrir minha cabeça com a toquinha de minha blusa. Tudo em vão.

  Apressei o passo, finalmente parando em frente ao portão do garoto, completamente ensopada.

  “Toco ou não?”- pensei com o dedo quase na campainha e tremendo pelo frio.

  “Ah foda-se!”

  Toquei apenas uma vez. Se ele não me atendesse... Azar dele. Queria contar toda verdade... Mas se Dylan não quisesse escutar, eu é que não o obrigaria.

  Acho que quase cinco minutos se passaram, e já desistia da ideia de ser recebida pelo menino. Olhei para o horizonte percebendo o banho que tomaria e suspirei pesadamente.

  “É isso ou nada Louise.”

    Mas, no último momento, o mesmo veio apressadamente me atender. Seu rosto era sério, porém preocupado.

- Ei Lílith! Saia já dessa chuva.- indagou abrindo o portão e me puxando para dentro.- Está gelada! Você é doida de andar por aí com esse temporal?

- Dylan... Eu...- gaguejei.- Precisamos conversar.

- Depois. Primeiro, venha comigo.- e caminhamos até a porta principal. Entrando logo mais.

  O garoto sumiu pelos corredores, e, em seguida, voltou com uma toalha branca juntamente de agasalhos.

- Pode usar minhas roupas. Vai ficar um pouco grande, mas tudo bem.- e sorriu.

- Quer que eu tome banho na sua casa?- ri.

- Eu não quero.- afirmou convicto.- Eu estou mandando. Vai ficar enrolando ou quer que eu te arraste para o banheiro?

  Preferi não contraria-lo, afinal, eu estava batendo com os dentes e os lábios já completamente roxos. Entrei no banheiro no final do corredor, trancando a porta atrás de mim.

  Deixei que a água quente rolasse sobre o meu corpo pequeno e pálido, suavizando o frio que sentia. A tensão me consumia por inteiro.

  Fiquei exatos vinte minutos ali. Meu cabelo deveria estar uma bagaça por conta da quentura, mas eu estava pouco me importando... A hora da verdade havia chegado, e eu realmente estava com medo.

  Sequei-me com a toalha e vesti as roupas largas e calorosas que o moreno havia me emprestado. Penteei minha juba e a ajeeitei um pouco. Respirei pausadamente por um logo tempo... e desci.

- Heei Lílith.- Dylan gritou da sala vendo que eu já estava completamente aquecida.- Nós poderíamos...

- Dylan!- chamei sua atenção.- Eu realmente preciso falar com você.

  Ele silenciou-se por um momento e assentiu calmamente. Guiou-me até o sofá, segurou fortemente em minhas duas mãos enquanto fitava-me com seus penetrantes olhos azuis.

- O que você quer conversar?- sussurrou e eu me senti calma pelo tom de sua voz.

  Fechei os olhos apenas vivenciando aquele momento único. Talvez ele jamais me perdoasse. Porra. Como pude ser tão burra? Foi quando Dylan quebrou o silêncio:

- O que foi?

- Não foi nada...

- Vai mentir pra mim agora?

- Olha... Eu não aguento ficar assim.

- Assim como?

- Assim... Eu não suporto a ideia de perder você. Quando você se afasta, eu enlouqueço. Eu sempre acho que você pode cansar e ir embora. E você sabe que eu não suporto ver você indo embora. Você sabe que a ideia de não te ter mais aqui, me enlouquece. Me tira totalmente do sério. Porque... Eu quero estar com você. Mas eu simplesmente não consigo te fazer ficar. *

  O silêncio predominou sobre o local. Abaixei meu olhar para minhas mãos inquietas. Foi quando o garoto puxou meu queixo pra cima, fazendo-me olhá-lo intensamente.

- Eu também não suporto a ideia de te perder Lílith.- sussurrou.- Tenho medo de você ir embora e...

- Pare!- gritei colocando as mãos sobre meus ouvidos com desespero.- Pare com isso Dylan!- berrei já totalmente fora de mim

- Lílith... O que foi?

- Isso.- lágrimas já rolavam sobre minha face.- Pare de... Me chamar de Lílith.

- O que você...

- Eu... Eu prefiro Louise.

(...)