Sentei sobre a singela escada que ficava em frente ao nosso apartamento, fiquei por alguns minutos ali sentada observando a madrugada urbana. Até que senti algo vibrando na minha coxa esquerda, assumo que levei um susto com meu celular, um tanto idiota. Enfim, era uma mensagem de texto do Dylan:

'' Lílith preciso falar com você, me encontre amanhã cedo no parque. Por favor (...)''

Me animei com a mensagem, o Dylan querendo ou não fazia meu coração bater mais forte, é algo inevitável ele está em minha vida desde sempre, nunca saiu dos meus pensamentos. Subi, estava ficando cada vez mais frio, as previsões de alvejar em Camberra saíram a semana inteira. Deitei-me sobre minha cama, não me preocupei em ir ao quarto de Violet, afinal poderia encontrar qualquer coisa lá.

Devorei uma barra de chocolate que eu guardava no frigobar, que era algo necessário ninguém tem pique para levantar e ir até a cozinha nesse frio. Depois assisti algumas trilogias me sentia culta assistindo-as, e finalmente cai no sono.

O dia amanheceu asqueroso, estava frio, nublado, encontrava-se lama em todas as calçadas, além dos mugos que formavam-se nas calçadas, arvores e paredes. Mesmo assim Violet acordou reluzente:

– Louise acorda, o dia está lindo.- Abriu as cortinas proporcionando a explosão dos meus olhos.

– Está? Esse dia está fúnebre Villu- Disse enquanto levantava e fechava as cortinas.

– Por favor, todos os dias são lindos.- Falou jogando-se sobre a cama com os braços abertos.

– O que aconteceu?- Espirrei, o frio atacava minha rinite.

– Eu passei, passei muito- Gritou, erguendo os braços e fazendo alguns movimentos escrotos.

– Passou aonde minha filha?

– No teste do time de dança da escola. Resumindo líderes de torcida, agora terei mais chances na faculdade.- Levantou me abraçando.

– Nesse caso você não passou muito.- Admito que ela não era boa em línguas.- Mas parabéns, você merece.- Correspondi ao seu abraço.

– Sério cara, estou muito feliz.- Se levantou apontando para sua roupa, estava com um vestido curtíssimo e com uma jaqueta de couro.- Vou sair para comemorar, volto na segunda.- Saiu rapidamente do quarto sorrindo.

– Legal (...)- Sussurrei.

Então me arrumei para encontrar ao Dylan, não dei a mínima em ficar bonita. Apenas vesti um moletom por cima do pijama e troquei minhas pantufas por um all star. Meu cabelo estava completamente liso então não me preocupei em penteá-lo. Desci as escadas Villu estava se maquiando em frente ao espelho:

– Aonde você vai?- Indagou com a boca aberta, passava um batom rosa fúcsia.

– No parque, vou ver se encontro algum vendedor de churros.- Disfarcei.

– Logo de manhã?

– Algum problema? Eu gosto de churros na manhã, doce de leite com fritura é super saudável.

– Claro, carboidratos sempre.

Soltei uns ruídos com a boca e ignorei. Tinha chamado um táxi para ir ao local:

– Parque da rua principal.- Disse ao motorista.

Não tinha costume em conversar com as pessoas, então ficou um silêncio constrangedor para mim. Mas acho que normal para ele, só abri minha boca para perguntar o valor da corrida:

– Deu 8.- Entreguei o dinheiro.- Obrigada moça.- Sorri.

Olhei por todo parque, Dylan estava próximo á uma árvore cheia de flores que brotavam especialmente no inverno:

– Como vai?- Pegou em minhas mãos e sorriu.

– Vou péssima. Desculpe o drama, mas eu odeio esse clima. E estou com um peso na consciência.- Respondi, o que podia ser apenas um estou bem e você?

– Ah, o clima passa (...) O resto você resolve Lílith, é uma menina forte.- Soltou das minhas mãos, colocando as suas em seus bolsos.

– A sua camisa combina com as flores.- Peguei uma flor que estava caindo sobre o chão.- Foi de propósito?- Sorri, a blusa dele era lilás quase azul, em tons pastéis.

–Não, eu gosto dessa cor. A árvore me atraiu- Falou sério parecia querer mudar de assunto.

– Por que me mandou a mensagem?

– Então, Lílith andei falando com a Villu e ela me disse algo que ficou pregado em minha cabeça.- Colocou a mão direita sobre sua nuca.

– O que ela lhe disse?- Estava enrolando uma mecha de cabelo com os dedos.

– Lílith, você sabe quem é Louise?

Meus olhos esbugalharam, minha voz e pernas ficaram tremulas. Ele se lembrava? Mas e agora como eu contaria isso para ele?

– Por que quer saber?- Indaguei, ignorando a pergunta.

– Louise foi uma menina muito importante para mim, nunca esqueci de seu olhar. Ela era minha pequena comandante, ainda carrego comigo a nossa corrente.- Percebi que seus olhos azuis estavam juntando lágrimas.

– A corrente (...)- Sussurrei.

– O que você disse?- Passou as mãos sobre os olhos, para seca-los.

– Nada...Eu não sei quem é Louise, Dylan me desculpe.

– Pensei que você poderia, afinal você e Violet são amigas.

–É nos somos, eu preciso ir.- Disse me afastando, não estava conseguindo me conter.

Então saí dali correndo e esbanjando lágrimas. Pude perceber que Dylan me gritou uma ou duas vezes mas não o correspondi. Era bom ele ter lembrado, mas eu menti para ele, como irei contar sobre quem sou (...)