O despertador tocou e Mia esticou o braço para desligá-lo. Viu que era meio-dia. Não era hora de ir ao Mystic Grill, mas era uma boa hora para levantar e aproveitar o dia.

Mesmo assim não resistiu e ficou deitada na cama por mais alguns minutos olhando para o teto. Em seguida levantou devagar e foi até a janela. Abriu as cortinas e a luz do Sol invadiu o quarto e iluminou o seu rosto. Ela fechou os olhos e aproveitou aquela sensação aconchegante por mais alguns instantes. Depois se virou e acabou tropeçando na poltrona.

– Droga... - xingou enquanto massageava o pé.

Olhou para a poltrona com raiva. Já estava na hora de se livrar dela.

– O que você está fazendo? - perguntou Damon ao ver Mia arrastando a poltrona pelo corredor.

– Damon... Não enche. - resmungou ela.

– Ei! Essa casa ainda é minha, lembra? - reclamou o vampiro.

– Como eu poderia esquecer? Você me faz lembrar disso todo santo dia... - disse a garota enquanto continuava empurrando a poltrona na direção do quarto de Stefan.

– Mia, o que você está fazendo? - perguntou Elena aparecendo no corredor.

– Uma coisa que eu já devia ter feito há muito tempo. - respondeu ela - Me ajuda aqui.

Damon a olhou inconformado. Por que ela só era educada com Elena e Stefan? Por que com ele, ela simplesmente mandava ele parar de encher o saco? Pensou por alguns instantes e percebeu que era por que ele enchia muito o saco dela.

Elena abriu a porta do quarto de Stefan e ajudou Mia a colocar a poltrona em um canto.

– Mia, como você vai fazer Castiel se lembrar de quem ele é e do que sente se tudo o que você tem feito é tentar esquecê-lo? - perguntou a vampira.

Mia sentou na poltrona e murmurou:

– Combina bem mais com este quarto. Ficou perfeito aqui, na verdade...

– Mia, você ouviu o que a Elena perguntou? - disse Damon.

– Claro, idiota... Eu ouvi. - confirmou ela enquanto se mexia na poltrona - É bem simples, na verdade. Eu vou colocar meus sentimentos de lado e me concentrar no que eu tenho que fazer. Eu sei que não vai ser fácil, mas que outra escolha eu tenho? Sam e Dean não vão embora de Mystic Falls enquanto eu não conseguir o que eles querem.

– Neste caso, você tem meu total apoio. - brincou Damon.

Mia riu e jogou uma almofada no vampiro, mas Elena não estava convencida e continuou:

– Mia, mas o que você vai fazer se Castiel lembrar mesmo de tudo? Não importa o quanto você negue, eu sei que você ainda gosta dele. E ele gostava de você antes de tudo aquilo acontecer, de perder a memória e virar... Humano. Como vai ser se ele lembrar de tudo, inclusive do que sente por você? O que você vai fazer?

– Isso não importa. Ele recuperando a memória ou não, nada vai mudar entre a gente. Acabou. Ele fez uma escolha quando resolveu voltar pro Céu. E se ele lembrar de tudo, vai lembrar desta parte também. Ele vai saber que não tem volta. Acabou. E então Sam e Dean terão companhia para deixar Mystic Falls. Mas eu vou ficar. - respondeu Mia.

Enquanto isso, no Mystic Grill, Sam e Dean almoçavam. Jeremy estava em uma das mesas com Caroline, Stefan e com um outro cara.

– Aquele deve ser o tal híbrido que a Mia falou. - deduziu Dean enquanto observava a mesa deles - Tyler, eu acho.

– Dean, se você continuar encarando eles deste jeito, o Tyler vai acabar virando um lobo e pulando em cima de você. - brincou Sam fazendo Dean parar de olhar para eles.

– É que eu não consigo entender, Sammy. Alguma coisa muita estranha aconteceu nesta cidade. Eu posso sentir. E a Mia sabe o que foi, mas por algum motivo, ela não quer nos contar. - expôs o mais velho.

– Nós estamos em Mystic Falls, Dean. Acontecem coisas estranhas o tempo todo por aqui. - ressaltou o mais novo.

– Não... É algo maior ainda. Algo que está relacionado ao desaparecimento da Bonnie e à ressurreição de Lázaro... - desconfiou Dean.

– Lázaro? - repetiu Sam sorrindo.

– Jeremy. - esclareceu Dean - E eu vou descobrir o que é.

– Ok, Dean, mas antes de investigarmos o que quer que tenha acontecido por aqui, nós precisamos nos concentrar no objetivo que nos trouxe até esta cidade. - lembrou Sam - Aliás, onde o Cas está?

– Ele ficou no hotel. Depois eu acho que ele tinha uma entrevista na escola. Coitado ele acredita mesmo que é um professor... - respondeu Dean - Mas e você, Sammy? Quando vai dar uma passada no hospital pra fazer um check up, tirar um raio X, tomar umas injeções, doar sangue?

– Eu não sei se é uma boa ideia... - desconversou ele.

– Por que não? Só por que agora a doutora sabe que você chora toda vez que vê o Ronald Mc Donald na TV? - debochou o irmão.

– Isso não tem graça, Dean. E o nome técnico é coulrofobia. - disse Sam e depois de alguns instantes, continuou - Mas eu não sei se estou pronto para rever Meredith. Eu não sou mais aquele cara que ela conheceu, sabe? Os testes, tudo que passamos este ano, me mudaram um pouco. Eu tenho medo que ela não reconheça mais aquele cara que esteve aqui há alguns meses. Eu não sei...

– Pois pra mim você continua sendo o mesmo cara alto, desengonçado, cabeludo e sem graça de sempre. - brincou o irmão.

– Dean...

– O quê?

– Cala a boca. - ordenou Sam.

Mais tarde, Mia estacionou o Mustang nos fundos do restaurante e entrou no lugar.

– Você está atrasada de novo. - reclamou o gerente olhando o relógio.

– Desculpe, chefe... - lamentou ela enquanto ia para o almoxarifado se trocar.

Sam e Dean estavam sentados em uma das mesas com Castiel que folheava um livro sobre a história local enquanto os três tomavam cerveja. Dean tossiu para chamar a atenção e perguntou:

– Então... Jimmy, como foi a entrevista com o Diretor?

– Na verdade, foi estranho. - lembrou o ex-anjo enquanto tirava os óculos e colocava sobre o livro - Ele me fez algumas sobre História Geral, perguntou sobre as minhas qualificações, mas depois ele saiu um pouco da sala para checar alguma coisa e voltou diferente. Disse que não conseguiu contato com Harvard e que me ligaria amanhã.

Sam viu Mia no balcão e se levantou dizendo:

– Com licença.

Dean esperou alguns segundos e também se afastou explicando:

– Eu vou cumprimentar uns conhecidos ali.

Castiel viu os dois se afastarem e ficou um tanto intrigado. Mas resolveu colocar o óculos novamente e voltar a ler.

– Vocês têm certeza que querem mesmo que eu faça isso? - perguntou Mia para eles no balcão.

– Sim. - respondeu Dean.

– Ok. Então eu acho que é hora do show. - anunciou ela acenando para Caroline.

A vampira levantou da mesa e foi até o jukebox. Mia saiu de detrás do balcão e seguiu na direção de Castiel enquanto começava a tocar Eternal Flame.

– Oi! - cumprimentou ela fazendo com que ele tirasse os olhos do livro - Por acaso esta música diz alguma coisa pra você?

Ele a olhou por alguns segundos e depois prestou atenção na música.

– Sim... É The Bangles. - respondeu ele - Por favor, será que você poderia me trazer mais uma cerveja? - pediu ele voltando a ler.

Mia o observou por alguns instantes e em seguida olhou em volta. Precisava tentar uma coisa.

– Com licença. - pediu ela sentando em seu colo e o beijando de repente.

– O que ela está fazendo? - espantou-se Sam.

– Sendo sútil. - ironizou Dean igualmente espantado.

Mia afastou os seus lábios dos dele e perguntou:

– Você sentiu alguma coisa?

Ele a olhou sem entender e surpreso ao mesmo tempo e perguntou:

– Eu deveria?

Mia se aproximou e o beijou de novo. Dessa vez e quase involuntariamente ele correspondeu. Caroline, Stefan, Tyler, Jeremy, os Winchesters e todos ali observavam a cena em choque. Mia afastou o rosto novamente e refez a pergunta:

– E agora? Sentiu alguma coisa?

– Definitivamente... Sim. - admitiu Castiel colocando a mão na cintura de Mia e a olhando de um jeito diferente.

Ela sorriu e perguntou:

– Qual o seu nome?

– Jimmy... - respondeu ele ainda surpreso por ela ter o beijado.

– E o meu?

Ele olhou o nome gravado no uniforme e respondeu:

– O seu é Mia. Por que...

Ela levantou e bateu em seu ombro dizendo:

– Continue tentando lembrar, meu anjo.

Em seguida ela se afastou e voltou para o balcão. Ao passar por Sam e Dean lembrou:

– Eu falei que era um péssimo plano.

– Você está demitida. - comunicou o gerente se aproximando.

– Ótimo! Eu não aguentava mais este emprego mesmo... - comemorou ela antes de ir para o almoxarifado enquanto Castiel a observava à distância.

– Que diabos... - resmungou Dean terminando a cerveja.

Mia trocou de roupa com raiva e depois saiu pelos fundos em direção ao estacionamento. Parou em frente ao Mustang e procurou a chave na bolsa. Quando finalmente encontrou, ela caiu no chão e Mia se abaixou para pegar. E quando se levantou ouviu alguém dizer:

– Eu me lembro de você.

– Oh, meu Deus! Você me assustou... - surpreendeu-se ela se apoiando no carro e olhando para Castiel há alguns metros dela - O que você disse?

– Eu disse que me lembro de você. - repetiu ele fazendo Mia se encher de esperança por alguns segundos, para em seguida, dizer - No Kansas. Naquela noite em que alguma coisa caiu do céu.

– Alguma coisa? - repetiu Mia decepcionada - Certo... É você lembra bem de mim.

Ela girou a chave e ele perguntou dando alguns passos a frente:

– Por que você me beijou?

– Eu não sei... Acho que é porque eu gosto de caras idiotas. - zombou a garota.

– Eu estou falando sério. - insistiu o ex-anjo.

– Eu também. - garantiu ela derrubando a chave novamente - Droga...

Mia se abaixou para pegar a chave e Castiel fez o mesmo. Suas mãos se tocaram por um instante e Mia segurou a chave antes de levantarem. OK. Aquilo definitivamente era estranho. Estava difícil colocar os sentimentos de lado ou em uma caixa.

– Naquela noite você agiu como se nós nos conhecêssemos. - continuou ele - Como hoje. Há pouco. Quando você...

– Beijei você. - completou ela.

– É. A questão é: nós nos conhecemos? Desculpe perguntar isso, mas a verdade é que antes daquela noite é como se eu não existisse. É como se nada existisse. Um grande e inexplicável vazio. Eu não lembro de nada. Então, eu preciso saber, nós dois nos conhecíamos? Nós tivemos algum tipo de... Eu não sei... Uma história? - aprofundou-se Castiel.

Mia não sabia o que responder. Não podia simplesmente contar toda a verdade para ele. Tinha que dar um passo de cada vez. Não sabia como ele iria reagir. Então resolveu seguir com o plano inicial e respondeu:

– Não, Jimmy, nós não nos conhecemos. Mas...

– Mas?- repetiu ele dando mais um passo a frente e ficando bem próximo de Mia.

– Mas... Eu adoraria... Te conhecer. Se você quiser, é claro... - propôs ela sem perceber.

– Sim. Eu quero. - concordou ele imediatamente.

– Sério? - perguntou Mia sorrindo e sem acreditar.

– Sim. - garantiu ele passando as mãos pela sua cintura - Eu quero te conhecer de verdade... Mia.

Ela teve vontade de beijá-lo, mas precisava ordenar os seus sentimentos ou acabaria estragando tudo. Precisava seguir com o plano. Aos poucos. Um passo de cada vez. Então sorriu e se afastou abrindo a porta.

– Então eu acho que te vejo amanhã. Jimmy...

Ele a observou intrigado enquanto ela entrava no carro e dava partida.

Mais tarde, Damon e Elena estavam na sala e ouviram um ruído no andar superior.

– O que a Mia está aprontando desta vez? - perguntou o vampiro enquanto olhava para cima.

Elena sorriu e respondeu:

– Ela está levando a poltrona de volta pro quarto.