Mia foi até o almoxarifado e começou a procurar o seu uniforme em um dos armários. Sam e Dean a seguiram.

– Como assim ele está em Mystic Falls? Desde quando? Vocês perderam completamente o juízo... - resmungou Mia sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo - Vocês têm noção do que estão me pedindo? Seduzir Castiel?

– Você fala como se isso fosse uma coisa ruim. - argumentou Dean - Admita, no fundo você ia adorar fazer isso.

Mia parou de procurar o uniforme por alguns instantes e se virou para eles antes de responder:

– Em outros tempos, sim. Eu realmente adoraria fazer isso, mas agora... Eu não posso.

– Por quê não? - pressionou Sam.

– Porque as coisas mudaram. Eu mudei. Eu sou uma pessoa diferente agora. Eu cresci... Houve complicações... Castiel também mudou. Ele nem é mais Castiel... É... - tentou explicar ela.

– Jimmy Novak. - lembrou Sam.

– É. Eu não posso fazer isso, sinto muito. - relutou ela.

– Sim, você pode. - insistiu Dean - Por favor, Mia, você é a única que pode. A outra alternativa é bater a cabeça dele na parede até ele se lembrar de tudo.

Mia encontrou o uniforme e continuou:

– Então eu fico com a segunda opção.

– Eu estava brincando, Mia. - esclareceu Dean.

– Sério? Porque parecia uma ótima alternativa. - disse ela - Bem melhor do que seduzir um anjo desmemoriado que há um mês estava completamente disposto a me deixar e ir embora para o Céu. Pra sempre. Aliás, que tipo de plano é esse? Se ele se lembrar de tudo o que acontece depois?

– Quando ele se lembrar que é um Anjo, ele vai lembrar de todo o resto, de Metatron, de onde aquele escriba dos infernos escondeu a graça dele e então pensará em uma forma de recuperá-la e voltar a ser o Cas de sempre. - explicou Dean - E quando ele voltar a ser o Cas de sempre, ele saberá como nos ajudar com os anjos caídos e a deter Metatron.

– É um péssimo plano. - opinou Mia.

– É o único que nós temos. - insistiu Sam - Por favor, Mia. Nós precisamos do Cas inteiro para enfrentar o que quer que aqueles anjos signifiquem. Eles podem estar quietos agora, no entanto, mais cedo ou mais tarde eles vão sair das sombras e nós precisamos estar prontos quando isso acontecer. Nós sabemos disso, você sabe disso também. Por favor, Mia, o futuro do mundo pode estar em jogo. Nós precisamos de você. Cas precisa. Mesmo que ele não saiba disso no momento. Por favor, nos ajude.

– Desculpe... Eu não posso. - relutou ela.

– Mia, eu acho que você não entendeu. - insistiu Dean - O futuro do mundo depende disso. Lúcifer era um anjo caído. Agora temos centenas deles por aí.

– E por que isso é problema meu? Ou de vocês? - perguntou ela os deixando surpresos.

– Como é? - indagou Dean.

– Vocês já pararam pra pensar que talvez seja exatamente isso? Que o mundo queira ir para o buraco? - questionou Mia - Que todos os anos vocês tentam salvar um mundo que no fundo não quer ser salvo? Que na verdade, o mundo quer acabar?

– E você não se importa com isso? - estranhou Sam.

– Honestamente, não. - admitiu ela e depois de alguns instantes prosseguiu - Eu estou cansada disso tudo. Vocês também deveriam estar. Admitam, se vocês não fizessem a manutenção todos os anos, provavelmente o mundo já teria ido pro buraco há muito tempo. Talvez o mundo queira acabar. Por que é trabalho de vocês salvá-lo?

Sam e Dean se olharam e depois olharam para ela um tanto confusos e um tanto decepcionados. Sam andou em direção à porta, mas Dean permaneceu por mais alguns instantes e respondeu:

– Porque nós somos os Winchesters e é isso que nós fazemos. A manutenção. Se você não quer nos ajudar, Mia, tudo bem, mas não finja que você não se importa com o mundo porque eu sei que você se importa. O único motivo que te impede de nos ajudar é porque um anjo quebrou o seu coração. E quer saber? Eu sinto muito por isso. Mas acredite, o Cas realmente achava que estava fazendo a coisa certa, inclusive em relação à você. E abrir mão de você foi uma das coisas mais difíceis que ele já fez. E ele falhou. E eu sei que se ele pudesse se lembrar de tudo isso agora, ele daria um jeito de consertar as coisas entre vocês porque ele pode ter muitos defeitos e ser um pouco atrapalhado, mas de uma coisa eu tenho certeza: ele gosta de você. De verdade. Eu entendo que você esteja magoada, Mia, mas o que diferencia os verdadeiros caçadores dos fracos é a capacidade de colocar o coração, todas as dúvidas, todos os medos e essa droga toda dentro de uma caixa e esquecer de tudo isso enquanto se tenta salvar o mundo mais uma vez. Fazendo o que precisa ser feito, o que o mundo precisa que seja feito e o que ele espera que você faça porque não, Mia, o mundo não quer acabar. Essa é uma desculpa usada pelos fracos.

– Dean... - tentou dizer ela enquanto seus olhos ficavam úmidos.

– Você não é uma caçadora de verdade. - disse ele antes de sair com Sam deixando Mia sozinha no almoxarifado.

Algum tempo depois, os dois estavam sentados ao balcão do restaurante bebendo cerveja e Sam perguntou:

– Dean, você não acha que foi um pouco rude com ela?

– Ela precisava ouvir aquilo, Sammy... - justificou-se o mais velho.

– Você está certo. Eu precisava. - concordou Mia aparecendo do outro lado do balcão já com o uniforme - Mas tem uma coisa que eu ainda não entendi nisso tudo. Como Castiel veio parar em Mystif Falls?

– Por que o interesse? - indagou Dean.

– Porque... Se nós vamos mesmo fazer isso, eu vou precisar de algumas informações para começar a executar o plano. - respondeu ela.

– Então você vai ajudar? - quis confirmar Sam.

– Sim. - assentiu ela - Embora eu ainda ache que seja um péssimo plano e que não irá funcionar, mas sim, eu estou dentro. Podem contar comigo.

Os dois sorriram e Mia continuou:

– Então como o Castiel veio parar aqui?

– Nós o trouxemos. - contou Sam.

– E como vocês fizeram isso? - quis entender ela - Vocês encontraram ele num trailer, ficaram amigos e ele aceitou a carona até uma cidade sobrenatural?

– Mais ou menos isso. - respondeu Dean e depois de tomar mais um gole da cerveja, explicou - Nós o encontramos, tentamos entender o que tinha acontecido com ele, pode-se dizer que nós ficamos amigos de novo, ele contou que não se lembrava de muita coisa sobre a sua própria vida, mas que acreditava ser um professor de História. E quando nós descobrimos que você tinha vindo para cá, eu lembrei que o último professor de História daqui morreu... Alaric? Aparentemente em circunstâncias sobrenaturais, e então...

– Ele veio por causa do emprego. - deduziu Mia.

– Exato. - confirmou Sam.

– Isso é loucura. - disse ela - Nós sabemos que ele não é professor. Ele nem tem documentos pessoais... Muito menos diploma... Pós graduação... Coisas do tipo.

– Isso não é um problema, na verdade. - insinuou Sam.

– Como assim? - quis entender ela.

– Charlie nos ajudou com esta parte também. Nós fizemos documentos falsos e ela até conseguiu um diploma rackeando o site de Harvard. - contou Sam.

– Harvard? Sério? - surpreendeu-se ela - Documentos falsos? Nossa... Pelo visto esse novo Cas não é tão certinho quanto o anterior.

– Na verdade, ele não sabe que os documentos são falsos. Ele realmente acredita que nós conseguimos... Segundas vias. - explicou Sam - E é Jimmy Novak. Se você chamá-lo de Castiel, o plano já era. Ele precisa se lembrar aos poucos para não entrar em... Choque.

– Ok, eu vou tentar lembrar disso. - prometeu ela - Mas então, onde ele está?

– Não entre em pânico, Mia, e nem fique com raiva. No fundo, eu sabia que você ia concordar. - disse Dean - Tudo bem, eu não imaginava que você fosse dar tanto trabalho, mas no fim você concordou, não foi?

– Como assim? - desconfiou ela.

– Foi por isso que nós economizamos tempo e o trouxemos pra cá. - revelou Sam - Antes mesmo de falarmos com você. Nós sabíamos que você ia ajudar então não queríamos perder tempo. É do Cas que nós estamos falando. E do mundo. Nós tínhamos que agir rápido.

– Do que vocês estão falando? Onde ele está? - quis saber ela.

Sam e Dean se entreolharam e em seguida olharam para um canto do restaurante. Mia seguiu o olhar deles e parou ao ver Castiel sentado em uma das mesas, folheando um livro enquanto tomava uma cerveja. Não usava mais o sobretudo, mas roupas comuns, bem típicas de professores de História. Mia não sabia exatamente que tipo de roupas os professores daquela disciplina usavam, mas algo em Castiel, ou melhor, em Jimmy Novak, a fez lembrar de Indiana Jones. Só que sem o chapéu. E com óculos. Óculos que lhe lembravam Clark Kent. Foi estranho vê-lo daquela forma. Ele realmente acreditava ser outra pessoa, embora Mia ainda visse nele algo do anjo por quem era apaixonada. Era como se ele fosse duas pessoas dentro de uma só. Castiel, o Anjo do Senhor e Jimmy Novak, o professor de História que foi enrolado por dois caçadores e uma hacker. E agora seria enganado por ela.

Droga... Aquilo ia ser mais difícil do que ela tinha imaginado. Colocar o coração dentro de uma caixa e fazer o que precisava ser feito. Mia se deu conta de que não tinha ideia de como faria aquilo e deu um passo para trás.

– Isso não vai funcionar. - previu ela.

Dean segurou a sua mão fazendo a voltar e lembrou:

– Mia, nós precisamos fazer isso. E você prometeu.

– Não, eu não prometi. Eu só disse que estava dentro. - esclareceu ela.

– Então... Você prometeu. - insistiu Dean.

– Me desculpem. Eu não posso... Eu pensei que poderia, mas eu não consigo fazer isso. Eu não consigo colocar o meu coração em uma caixa... Eu sinto muito. - esquivou-se a garota.

Mia se afastou e voltou para o almoxarifado. Respirou fundo enquanto tentava controlar todos aqueles sentimentos que tinha por Castiel e que tinham acabado de despertar novamente dentro dela. Depois de algum tempo em Mystic Falls, ela realmente chegou a acreditar que havia esquecido o anjo, mas agora, apenas por ter ficado alguns instantes perto dele, era como se nada tivesse mudado. Ou melhor, o sentimento havia ficado mais forte.

Mia passou a mão pelos olhos tentando não chorar. Precisava voltar ao trabalho. Mas não sabia se conseguiria trabalhar direito com Castiel ali, no mesmo ambiente que ela. De repente ouviu um ruído atrás de um das estantes e perguntou assustada:

– Quem está aí?

– Sou eu. - disse o irmão de Elena saindo de trás da estante.

– Jeremy... - disse ela um pouco surpresa - O que você está fazendo aqui?

Ele deu alguns passos em sua direção e explicou enquanto estendia uma pequena caixa para ela:

– Eu tentei novamente. Bonnie me ajudou. Ela disse que desta vez vai funcionar.

Mia pegou a pequena caixa e a olhou por alguns instantes antes de guardar no bolso do uniforme.

– Ela está bem? - quis saber Mia - Ela está aqui agora?

Jeremy olhou pro lado onde aparentemente não havia ninguém, depois voltou a olhar para Mia e respondeu:

– Sim, ela está aqui. Ela está se adaptando...

Mia enxugou os olhos novamente e Jeremy perguntou:

– Você está bem?

– Sim... - mentiu Mia - Eu estou ótima. Só não esperava ver uma pessoa hoje.

Ele olhou para o lado mais uma vez e em seguida disse:

– Bonnie disse para você fazer o que está pensando em fazer.

– O quê? - não entendeu Mia - Cortar os pulsos?

– Colocar o coração em uma caixa, como Dean lhe pediu. Ajudar os Winchesters. Ajudar Castiel. - explicou Jeremy.

– Eu não sei se eu consigo. - admitiu Mia.

Jeremy olhou para Bonnie e continuou:

– Ela disse que não tem dúvida. Você consegue fazer isso. E ela tem certeza de que o anjo nerd que você ama, ainda está lá. E que ele vai lembrar de tudo, mais ou cedo ou mais tarde. Ela acredita nisso e disse que você precisa acreditar também.

Mia sorriu tentando conter a emoção e abraçou Jeremy. Em seguida olhou para o lugar aparentemente vazio ao lado dele e agradeceu:

– Obrigada, Bonnie.

– O que diabos está acontecendo aqui? - perguntou Dean surpreso enquanto entrava no almoxarifado acompanhado pelo irmão.

Mia e Jeremy se afastaram e Dean empurrou o rapaz contra uma das estantes.

– Mia, parece que você esqueceu de nos atualizar em relação à uma coisa. - continuou Dean - Bruxas, vampiros e lobisomens, eu até aceito, mas desde quando Mystic Falls tem zumbis?

– Dean, não seja ridículo, solta ele. - pediu Mia se aproximando.

– Eu não sou um zumbi. - protestou Jeremy.

– Certo... - continuou Dean - Eu sei quem você é e sem ofensa, mas da última vez que eu chequei, você estava morto.

– As coisas mudaram um pouco por aqui, mas eu posso garantir que não sou um zumbi. - afirmou Jeremy perdendo a paciência.

– Só tem um jeito de descobrir. - sugeriu Sam entregando uma faca de prata para o irmão.

– Não! - pediu Mia enquanto Dean fazia um corte no antebraço de Jeremy.

E quando Dean viu que ele sangrava como qualquer outra pessoa e que a sua pele também não havia reagido ao efeito da prata lamentou envergonhado:

– Desculpe, The Walking Dead.

Jeremy o empurrou com raiva e lembrou:

– Eu disse que eu não era um zumbi! Qual o seu problema?

– Desculpe... À propósito eu sou o Dean e aquele é o meu irmão Sam.

Sam olhou para Mia e perguntou preocupado ao notar que ela parecia em choque:

– Mia, você está bem?

– Exceto pelo fato de que vocês esfaquearam uma pessoa no almoxarifado e que provavelmente eu vou perder o emprego, sim, eu estou bem. - respondeu ela.

Jeremy pegou um dos panos de pratos e estancou o sangue.

– Desculpe, Mia... - lamentou Dean - Mas você tem que entender...

– Entender? - repetiu ela com raiva - Qual o problema de vocês?

– Qual o nosso problema? - indagou Dean surpreso - Qual o problema desta cidade? Bonnie desaparece no ar e esse aí ressurge das cinzas?

– Ele tem nome. - lembrou Mia - É Jeremy e ele é meu amigo, assim como o Stefan, Elena e até o chato do Damon.

– Não muda de assunto, Mia. - repreendeu Dean - O que realmente aconteceu com a Bonnie e como o Gasparzinho aí virou um menino de novo?

– Eu já falei. Ninguém sabe da Bonnie. Ela se foi... - lembrou Mia.

– Mas como ele voltou dos mortos? - insistiu Sam.

– Acredite, quanto menos vocês souberem, melhor. Qual é? Vocês já voltaram da morte tantas vezes que eu não entendo por que tanta surpresa. - desconversou ela - Agora se vocês puderem levar Castiel, Jimmy ou seja lá quem for aquele cara sentado naquela mesa pra bem longe daqui e me deixarem trabalhar, eu agradeço.

– Mia... - murmurou Sam.

– Por favor, eu preciso deste emprego. - pediu ela.

Houve um momento de silêncio até que os Winchesters andaram até a porta e Dean disse:

– Nós ainda não terminamos esta conversa, Mia. E eu não vou parar enquanto não descobrir o que realmente aconteceu com a Bonnie.

– Não pense que você é o único que se importa com Bonnie. - disse Jeremy ainda irritado - Eu e ela tínhamos uma história antes mesmo de você colocar os pés em Mystic Falls.

– Engraçado porque eu e ela tivemos uma história enquanto você estava morto. - devolveu Dean igualmente com raiva e com certo ciúme.

– Esperem. - pediu Mia antes que Sam e Dean pudessem sair e quando eles pararam, ela disse - Essa noite já tivemos muitas emoções e eu preciso manter o emprego. Mas tragam o Castiel amanhã de novo e eu farei o que vocês me pediram.

– Mesmo? - duvidou Sam.

– Você disse que é um plano idiota e que não vai funcionar. - lembrou Dean.

– Continua sendo um plano idiota. - confirmou ela - Mas talvez funcione. E eu não seria eu, se não aceitasse o desafio. Então tragam ele amanhã. Meu coração, minhas dúvidas e meus medos estarão em uma caixa. Eu prometo que farei Castiel se lembrar pelo menos do porque que ele se apaixonou por mim. - garantiu ela.