- Mia? - chamou Sam com certo receio diante da vampira que observava ele e o irmão da bancada onde permanecia sentada e imóvel.

- Mia, somos nós, Dean e Sam, seus amigos, lembra? - tentou argumentar o Winchester mais velho - Você não pode morder os seus amigos.

Ao ouvir isso, Mia conseguiu pensar pela primeira vez em algo que não fosse sangue. Começou a entender o que Silas havia planejado. Não dava para negar que ele era esperto. E sádico. Sabia que Mia estava com fome. E estava oferecendo a oportunidade para ela se alimentar. Mas ela não podia fazer isso. Aqueles eram Sam e Dean. Seus amigos. Os caras que a acolheram nos momentos mais difíceis, que a ajudaram inúmeras vezes e que mudaram a sua vida para sempre. Então ela se concentrou neles e se esforçou o máximo que pôde para controlar o ímpeto de atacá-los. Com muita dificuldade, finalmente conseguiu se controlar. E seus olhos e dentes voltaram ao normal em seguida.

- Você não pode nos atacar, Mia. - lembrou Dean.

- Claro que não, gênios. - concordou ela descendo do balcão e se movendo rapidamente até a porta.

Apesar de ter conseguido se controlar, ela sabia que precisava se afastar deles o mais rápido possível antes que o instinto falasse mais alto.  Então tentou abrir a porta, mas ao colocar a mão na maçaneta, sua pele queimou e Mia gritou se afastando de lá imediatamente. E então Dean entendeu porque Silas usava aquela luva. O vampiro havia passado verbena na maçaneta para impedir que Mia saísse ou qualquer outro vampiro entrasse ali. A garota ainda tentou girar a maçaneta novamente protegendo a mão com a faixa do vestido, mas ela estava trancada e Mia não sentia-se forte o bastante para arrombar a porta. E novamente o cheiro do sangue a invadiu e seus olhos mudaram mais uma vez.

- Mia? Você precisa resistir... Por favor. - pediu Sam.

- Desculpe. Eu não consigo... - confessou ela olhando pelo reflexo da pequena janela da porta o seu rosto mudando de novo.

Perto dali, Damon se dirigia ao almoxarifado da escola. Estava bem escuro e ele hesitou um pouco na porta.

- Anjinho? Você está aí? - perguntou o vampiro.

Já estava convencido de que não havia ninguém ali, quando uma caixa caiu no chão.

- Olá? Cas? Mia? Van Helsing? Sansão? Alguém em casa? - insistiu ele e em seguida resolveu entrar.

Caminhou entre as estantes e olhou tudo em volta. Não havia ninguém. Então se virou para sair dali, mas ao fazer isso deu de cara com Stefan.

- O que você está fazendo aqui? - estranhou Damon depois de se recuperar do susto.

- O mesmo que você. - respondeu Stefan.

Damon observou o irmão e indagou desconfiado:

- E como eu vou saber que você não é ele?

- Não seja é um idiota, Damon. Se eu fosse Silas, eu já teria te matado há muito tempo. -  resmungou Stefan se virando para sair do almoxarifado.

- Ok... Você me convenceu. - respondeu Damon enquanto o seguia.

Mas de repente os dois pararam ao ver Dean na porta do almoxarifado.

- Eu encontrei Castiel. - contou o Winchester.

- Sério? E onde aquele anjinho sem asas se escondeu, afinal? - quis saber Damon surpreso.

- Vocês não acreditariam se eu contasse. Venham comigo. Eu vou mostrar. - propôs Dean se virando e saindo do lugar.

Stefan e Damon se olharam desconfiados, mas resolveram seguí-lo. Talvez aquele fosse mesmo o Dean. Ou talvez não fosse. Mas de qualquer forma só havia um jeito de descobrir. O seguindo.

Os três caminhavam pelos corredores da escola quando Damon resolveu sondar:

- E Mia?

- Ela está bem. Está cuidando do anjo. O desgraçado do Silas o machucou um pouco. - informou ele.

- E o Sam? Você sabe onde ele está? Porque nós não conseguimos falar com ele há mais de meia hora. Nós ficamos preocupados. - continuou Stefan.

- Não se preocupem. Sam também está bem. - respondeu Dean evasivamente.

- E Silas? - indagou Damon enquanto olhava de canto para o irmão - Você viu ele por aí?

- Não. Nem sinal do son of a bitch. - resmungou o Winchester enquanto virava em direção à outro corredor.

Stefan e Damon se olharam mais uma vez e continuaram seguindo aquele que afirmava ser Dean Winchester.

No laboratório, Mia começou a se afastar da porta e Dean tentou conversar com ela:

- Mia, você é mais forte do que isso.

- Não... Eu não sou, Dean... Desculpe. - lamentou ela.

- Você precisa resistir. - tentou argumentar Sam.

- Desculpe... Eu não consigo. - confessou ela se aproximando enquanto seus olhos ficavam estranhamente avermelhados.

O cheiro do sangue era inebriante. Era como se a chamasse. Como se a convidasse para uma deliciosa refeição. Quem morderia primeiro? Qual sangue era o mais saboroso?

- Espera! - pediu Dean fazendo a vampira parar por alguns instantes - Mia, Silas planejou tudo isso e se você nos atacar, ele terá vencido.

- Eu não ligo, Dean... - respondeu Mia só conseguindo enxergar o sangue na sua frente.

- Sim! Você liga! Você se importa! - gritou Dean - E sabe por quê? Porque você ainda é a Mia e eu não vou desistir de você!

Ao ouvir isso a garota parou de caminhar na direção deles e tentou controlar o impulso de atacá-los mais uma vez, mas aquilo era bem mais forte do que ela. Não conseguia lutar contra a sua própria natureza.

- Você devia desistir. Eu sou um monstro... - aconselhou ela voltando a caminhar na direção dos irmãos Winchesters.

- Mia, se você nos morder, se você nos machucar, a culpa vai consumir você. - lembrou Sam - Quando se é uma vampira as emoções são multiplicadas, lembra? Tanto as boas como as ruins. E se você fizer isso... Você não vai aguentar a culpa...

- Sam está certo. Isso vai acabar com você, Mia. - concordou Dean - Lembra o que você disse depois de quase morder o Cas? - desafiou ele fazendo Mia parar de novo  - Que não se pode machucar quem se ama? Que não se pode machucar as pessoas com as quais nos importamos?

- Sim, eu lembro... Mas eu estava errada, Dean. Não dá pra lutar contra isso... Contra a fome, contra a minha natureza, contra o instinto... Eu não sou forte o bastante.  - admitiu Mia dando mais um passo na direção deles - Eu realmente sinto muito, meninos, mas esta sou eu...

Sam e Dean se olharam aflitos. Precisavam impedir que Mia prosseguisse com aquilo, mas não sabiam como. E enquanto eles tentavam pensar em alguma coisa, Damon perguntou para o falso Dean logo à sua frente:

- Então, onde você encontrou Castiel?

- Eu já disse que vou mostrar. Seja mais paciente, Damon. - respondeu o impostor.

Os irmãos Salvatore pararam ao ouvir aquela resposta fazendo Silas parar também. O vampiro se virou para eles e perguntou sem entender por que eles haviam parado de seguí-lo:

- O quê?

- Do que você me chamou? - quis confirmar Damon.

- Por que isso é importante? - estranhou Silas.

- Responda a pergunta... Dean. - pediu Stefan ainda mais desconfiado.

Silas observou os dois por alguns instantes e então respondeu:

- Eu te chamei de Damon. Por quê? Por acaso este não é o seu nome? Algum problema? - estranhou Silas.

Stefan e Damon se olharam mais uma vez e então Damon se moveu rapidamente na direção de Silas e o encostou contra a parede esclarecendo:

- Sim, meu nome é Damon. O único problema é que você tem a estranha mania de me chamar de Crepúsculo. Aliás, você não. Dean tem essa mania. Mas você não é ele de verdade, é?

Silas deu um sorriso cínico e rapidamente empurrou Damon e tentou escapar, mas Stefan bloqueou a sua passagem. Damon, que havia caído no chão começou a levantar e ficou parado do outro lado do corredor impedindo assim que Silas fugisse. O vampiro estava cercado.

Enquanto isso, Dean tentava persuadir Mia dizendo:

- Mia, nós podemos parar isso. Tudo que você precisa fazer é nos soltar. Nós podemos deter Silas...

- Soltar vocês? - repetiu ela incrédula - Por que eu faria algo tão estúpido?

- Essa não é você falando. - disse Sam.

- É sim. - afirmou ela - Esta sou eu. Um monstro.

- Você não é um monstro. - discordou Sam - Mas será um se fizer isso. Se nos... Matar, será o fim da linha, Mia. Silas terá vencido. E você terá acabado com qualquer chance que a gente ainda tenha de encontrar o Cas e voltar pra casa. Juntos como uma família. Nós somos a sua família, Mia. Eu sei que é difícil resistir, mas você precisa lutar contra a fome. Você é mais forte do que isso, eu sei que é. E nós precisamos que você seja, Cas precisa... Por favor...

Ao ouvir aquele nome e tudo que Sam havia dito, Mia parou mais uma vez e seus olhos voltaram ao normal.

- Cas... - murmurou ela lembrando do anjo de repente.

Perto dali, os Salvatores andavam em volta de Silas que os observava com um sorriso ainda mais cínico.

- Onde está o verdadeiro Dean? E os outros? - quis saber Stefan.

Silas riu e lembrou:

- Eu já disse, eu vou mostrar. Venham comigo.

Por mais que Silas pudesse compelir vampiros, ele achava bem mais interessante enganá-los manipulá-los. Esse era o seu jogo. Ele se divertia assim. Compelir era muito fácil e, às vezes a única forma de conseguir algo, como para convencer Castiel a desaparecer da festa e se esconder em um lugar específico até as próximas ordens. Mas se ele compelisse Stefan e Damon para o seguir, Mia para atacar Sam e Dean, os Winchesters para matarem a vampira, qual seria a graça? O mais interessante era deixá-los fazerem estas escolhas sozinhos e se arrependerem amargamente por elas.

- Eu tenho uma ideia melhor. Você nos diz onde eles estão, nós quebramos o seu pescoço, levamos o seu corpo até lá e se você estiver mentindo, acredite, você nunca mais irá acordar. - propôs Damon.

- Vocês me matariam de qualquer jeito. - respondeu Silas - Se pudessem, é claro. A diferença é que agora vocês precisam de mim e se tentarem fazer qualquer coisa, nunca mais verão os seus... Amigos.

- Acredite, se você não disser onde eles estão, nós vamos revirar este lugar até encontrá-los. E quebrar o seu pescoço vai ser o menor dos seus problemas. - ameaçou Stefan.

Silas pensou um pouco e olhou para os dois antes de responder:

- Eu tenho uma ideia melhor.

E em seguida o vampiro se moveu rapidamente na direção de Stefan e o empurrou escada abaixo. Depois voltou e empurrou Damon violentamente contra a parede antes de desaparecer do alcance dos dois.

- Ótimo! Cas é o seu ponto fraco. - deduziu Dean diante de Mia visivelmente preocupada com o anjo enquanto aquele pressentimento ruim voltava a torturá-la - Mia, me escuta. Silas vai fazer alguma coisa com ele. Alguma coisa para atingir você. Mas nós ainda podemos parar tudo isso. Nós ainda podemos parar Silas. Você só precisa nos soltar. Por favor... Nos ajude.

- Mia, o Cas precisa de você. Nós precisamos de você. Nos solte e tudo vai ficar bem. Eu prometo. Você é como uma irmã pra gente e eu sei que você também nos vê assim. Eu sei que no fundo você não quer nos machucar, então por favor, não machuque. Eu sei que você pode fazer isso. Você consegue resistir. - incentivou Sam.

Mia parecia confusa. Uma parte dela ainda queria atacá-los, mas esta parte já não era tão forte assim. E a outra parte lhe dizia que Sam, Dean e Castiel precisavam dela e que eles eram tudo o que ela tinha.

Passou as mãos pelos cabelos nervosa enquanto andava de um lado pro outro e tentava controlar de vez a vampira dentro de si. Até que Dean a fez parar ao dizer:

- Nós somos a sua família, Mia. Pode não ser a família ideal, a mais bonita e exemplar, podemos não ter laços de... Sangue, mas nós sempre estaremos ao seu lado. Sempre. Não importa o que aconteça. E só o que esta família aqui está te pedindo, está te implorando, é pra você ficar ao lado dela também. Porque juntos nós somos mais fortes, Mia. E nós precisamos que você fique do nosso lado agora. Que você fique do lado da sua família. Por favor. Eu sei que você ainda é a nossa Mia. Não desista dela. Nós nunca vamos desistir.

Mia olhou para os dois e deixou que aquelas palavras invadissem os seus pensamentos e o seu coração. Pouco a pouco se deu conta de que Sam e Dean estavam certos. Ela precisava lutar contra aquilo. Precisava ser apenas ela mesma. Não podia atacá-los. Nem eles nem ninguém. Onde estava com a cabeça quando pensou em atacá-los? Ela era caçadora também e sabia que aquilo era errado. Não podia se tornar um monstro. Não podia machucar as pessoas. Muito menos... Sua família.

- Vocês são minha família... - afirmou ela dando mais alguns passos na direção deles - Como eu pude ser tão estúpida?

Sam e Dean respiraram aliviados e o mais novo tranquilizou:

- Está tudo bem, Mia. Você conseguiu. Eu sabia que conseguiria.

- Sério? - duvidou ela sorrindo aliviada.

- Você ainda é a Mia. - respondeu ele.

- E sabe o que seria ótimo agora? Nos desamarrar. - lembrou Dean.

Ao ouvir isso, a garota se aproximou da cadeira dele e começou a desamarrá-lo. Mas não pode deixar de notar o sangue escorrendo pelo pescoço de Dean. No entanto, resolveu se concentrar na corda e esquecer o resto por mais que ainda fosse difícil.

- Mia, depressa! - pediu Sam ouvindo passos no corredor e alguém girar a maçaneta.

- Eu estou tentando... Gênio... - resmungou ela um tanto nervosa.

Mas infelizmente, ela nao teve tempo suficiente para desamarrar Dean. Silas abriu a porta, ainda com usando a imagem de Dean, e encarou os três. Mia parou enquanto Silas se aproximava a longos passos. Ele a segurou pelos cabelos a fazendo levantar e olhou decepcionado antes de dizer:

- Você é fraca, Mia. Tentando ajudar esses dois? Sério? Se você soubesse o que eles estão escondendo de você...

Mia olhou para Sam e Dean confusa. Não fazia ideia do que Silas estava dizendo, mas pelas expressões dos Winchesters se convenceu de que o vampiro dizia a verdade. Sam e Dean estavam escondendo algo dela. Na verdade, duas. Ela não imaginava, mas eles estavam escondendo que queriam curá-la e haviam mentido sobre Crowley ter desaparecido aquela noite no Kansas quando os anjos caíram. Na verdade, Sam e Dean mantinham o demônio num lugar estratégico e seguro. Mais precisamente no porão do bunker. Porém eles acharam melhor não contar nada disso para a garota por receio de que ela quisesse se vingar do ex-Rei do Inferno e não entendesse que eles precisavam de Crowley para algo. Além disso, Mia estava instável e impulsiva demais com o lance do vampirismo. E eles se sentiam na obrigação de curá-la.

Silas puxou Mia pelos cabelos e a jogou em cima de uma cadeira. Rapidamente passou uma corda em volta dela enquanto a garota gritava. Sua pele queimava em contato com a verbena.

- Pare! Você está machucando ela, seu desgraçado! - xingou Dean.

Enquanto isso, Damon ajudava o irmão a levantar enquanto Meredith e os outros se aproximavam.

- Diga que você conseguiu. - pediu a médica.

Damon fez certo suspense antes de responder lembrando do momento exato em que empurrou Silas contra a parede e colocou o seu celular no bolso do terno dele:

- Sim. Eu consegui.

- Ótimo! - comemorou ela - Agora podemos rastreá-lo através do GPS e encontrar os outros.

Mia ainda gritava de dor e mordia os lábios enquanto Silas a amarrava junto a cadeira:

- Solta ela, seu desgraçado! Por que você está fazendo isso com ela?! Pare! - gritava Dean desesperado.

- Nós vamos acabar com você, Silas! - jurou Sam com raiva.

Mia tentou não pensar na dor e se mexer o mínimo possível para que a sua pele não tocasse ainda mais na corda. Então Silas a colocou de frente para Sam e Dean. Lágrimas de dor rolaram pelo seu rosto antes que ela conseguisse olhar para os Winchesters.

Depois Silas pegou uma cadeira e sentou com eles formando um círculo.

- Como vocês vão acabar comigo, Sam, se a única pessoa que podia ajudar você e o seu irmão está amarrada também? - provocou o vampiro.

Dean encarou o vampiro com raiva e pediu:

- Será que dá, pelo menos, pra você tirar o meu rostinho da sua cara feia? Além de não combinar com você, eu não quero que pensem que eu sou gay. O lance de imitar a Bonnie e a Jessica... Cara, você precisa controlar esse seu lado feminino.

- Tudo bem, Dean. Como você quiser. - concordou Silas tomando sua verdadeira forma.

Mia observou a imagem idêntica à de Stefan e ficou confusa por alguns instantes até que Sam explicou:

- Stefan é um Doppelgänger.

- Oh meu Deus... - murmurou Mia chocada com aquela revelação e tentando não pensar na dor provocada pela verbena, brincou - Tipo Javier Bardem e Jeffrey Dean Morgan?

- Exato! - confirmou Dean.

- Mais piadas? Sério? - cortou Silas.

- Qual o problema, Drácula? Ah! Já sei! Deixa eu adivinhar. - retomou Dean com ironia - Ninguém acreditou que você era eu, afinal, só existe um Dean Winchester no mundo. Desculpe, mas eu sou inconfundível. Pelo menos eu tentei te avisar, não foi?

- E então você ficou ainda mais decepcionado porque, ao contrário do que você imaginava, Mia não nos atacou. E para nos castigar agora você vai nos torturar com mais uma daquelas conversas bem estranhas que não levam a lugar algum. Acertamos? - completou Sam.

- Em partes, sim. - respondeu Silas friamente - Mas eu não acho que esta conversa não vá levar a lugar algum, Sam. Talvez no final dela, vocês até descubram que fim levou... Como é mesmo o nome dele... - e olhando para Mia provocou - Castiel.

- O que você fez com ele? - perguntou a garota aflita enquanto Sam e Dean se olhavam preocupados.