Nicest Thing escrita por Nina Spim


Capítulo 16
Chapter Sixteen


Notas iniciais do capítulo

Hey, there!
Tenho dito: está difícil postar durante a semana, sinto muito. Não consegui, por enquanto, vaga no estágio, porém meu tempo livre está bastante escasso. Sinto muito fazê-los esperar pelos fins de semana, mas será assim daqui pra frente. O bom é que a fanfic está acabando (terá apenas mais uns quatro capítulos) e vocês não precisarão sofrer mais!
Aproveitem este capítulo, beijos!



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Lucy está indo embora. Está correndo do Glee Club. Não entendo. Estou encarando suas costas, mas não entendo o que está se passando.

Puck e Finn ainda me rodeiam; Puck não parece se importar com nada do que aconteceu, apenas continua a devorar os brownies que surrupiou da cozinha do refeitório; Finn, por outro lado, está tão confuso quanto eu.

– Alguém... – me manifesto, sentindo estar perdendo toda a razão – Alguém poderia me explicar quem é Quinn e... – meu olhar encontra o de Finn, que mantém o dele perdido – O que você tem a ver com a minha companheira de loft, que, pelo que sei, chama-se Lucy...

Finn, repentinamente, se afasta de mim. Ele parece nervoso e inquieto.

– Finn?

– Olha, a culpa não é sua, ok? Nem minha, para falar a verdade! – seu tom está na defensiva e se não o conhecesse muito bem diria que ele está surtando – Eu não planejei nada disso!

– De que está falando? Nada disso o quê? – franzo minha sobrancelha severamente, louca por respostas.

– Lucy, você sabe...

– Quinn. – Puck retorna a dizer. Há certa intimidade quando profere este nome.

– Que história é essa? – pergunto a ele.

Sinto meu coração bater nas costelas, muito forte. Minha respiração está tão pesada! Parece que acabei de mergulhar vinte metros em mar aberto. Meus pulmões parecem comprimidos demais, exigindo mais e mais ar para conseguirem me manter em pé. Não vou conseguir aguentar.

– Eu a conheci há alguns anos. Muitos anos atrás, na verdade.

– Onde? Quando? Em que circunstância?

– Hey, uma pergunta de cada vez, Nancy Drew! – Puck diz com desdém e sem aparentar estar impaciente. Na verdade, ele está mais calmo do que qualquer um – Onde? Em Belleville. Quando? Acho que há uns seis anos. Circunstância? Intercâmbio cultural para o Canadá. Fiquei hospedado na casa dos pais dela. E ela se chamava Quinn, não Lucy.

– Ela... É uma agente da CIA? – Finn sugere.

– Não, Finnesa – Puck ri, rolando os olhos – É apenas uma mentirosa com dupla identidade.

Há lágrimas nos meus olhos; não sei bem quando elas despontaram, mas estão fazendo minha visão ficar turva.

Você está mentindo – alego com raiva – Não há sentido nesta história maluca, Puckerman! – tento afastar as lágrimas piscando, mas apenas pioro tudo; elas escapam dos meus olhos, e rapidamente as seco.

– Rachel, está tudo bem? Você está chorando? – Sr. Schue se aproxima de nós três e exibe surpresa no rosto. Percebo que ele nem ao menos percebeu Lucy se infiltrar por aqui por... Não sei, cinco segundos?

– Não, estou bem, Sr. Schue. E-eu apenas preciso de um minuto. É a emoção, você sabe. Glee, as músicas, todos nós juntos novamente...

– Quem fará o discurso? – Finn inclina-se na minha direção, preocupado, e sussurra.

Oh. O discurso! Se eu me afastar agora, quem fará o discurso? Eu sempre faço os discursos, mesmo que isso irrite todos os outros. Mas que se dane! Sem discurso este ano! Quem disse que todas as comemorações precisam de discursos? Nossa presença já não é o suficiente?

– Fique com ele, faça o seu melhor – respondo a ele.

– Mas eu n...

– Que se dane! – esqueço-me de meu autocontrole e praticamente berro – Volto daqui a pouco!

E também saio da sala; não correndo, claro.

A princípio, saio desembestada, sem direção. Onde procurá-la? Aonde eu iria? Então lembro que Lucy – ou seria a tal Quinn? – não está familiarizada com o McKinley e que deve estar perdida em algum lugar. Repasso os possíveis locais na minha mente. Sala de Multimídia. Banheiro. Campo de Futebol. Refeitório.

Onde? Onde ela pode estar?

Aciono meu Iphone. Ninguém atende, e eu nem mesmo escuto nenhum tipo de música ecoar pela escola. Total silêncio. Será que foi embora? Mas como, considerando que seu carro continua em NY e, muito provavelmente, Hiram ou Leroy a trouxe até aqui? Como é possível que tenha se perdido? Droga, por que me desencontrei dela? Deveria tê-la seguido, não a deixado escapar. Agora, meu coração parece estar miúdo no meu peito. Minhas lágrimas banham completamente meu rosto, por puro desespero. Não sei o que me aguarda. Não quero desvendar a verdade. E se a verdade for justamente a que eu mais temo? A que Puck apresentou a mim e a Finn? Não quero lidar com ela. Não vou conseguir lidar com ela.

Ouço passos na minha direção. Lucy! É a Lucy! Só pode ser...

– Rachel?

Oh. Kurt. E Blaine.

– O que aconteceu? Por que está aqui? Cadê a L... Você está chorando?

– AH, MEU DEUS, KURT! SIM, EU ESTOU CHORANDO, ESTÁ BEM? ESTÁ VENDO ISSO? SÃO LÁGRIMAS! LÁGRIMAS, KURT! KURT, LÁGRIMAS! SATISFEITO AGORA?

Kurt arregala os olhos, pasmo. Troca em olhar com Blaine, do tipo que explicita o quanto está preocupado com a minha sanidade mental. Deve estar considerando me levar a algum grupo de apoio, ou algo assim.

– Rachel Berry, que diabos está acontecendo com você? – ele me inquire.

– Lucy. Eu a perdi. Você a viu? Preciso achá-la, preciso conversar com ela, preciso... P-preciso fazer qualquer coisa!

É, estou parecendo uma criancinha que acabou de perder o dente. Maravilha.

– Certo – Kurt se aproxima de mim e afasta minha franja de meus olhos, para que possa secar meu rosto – Apenas deixe-me entender. Por que Lucy não está comendo bolo conosco, e por que você está aqui, chorando feito uma depressiva narcótica?

– Apenas me diga o-onde ela es-tá! – exijo saber, ainda com o emocional abalado.

– Não a vimos, Rach – Blaine diz. Adoro como ele sempre é o mais centrado de nós – Mas vamos procurá-la juntos, tudo bem? Ela não pode ter ido longe, faz somente alguns minutos que a vi, e ela não conhece nada por aqui. Vamos, banheiro. Garotas gostam de chorar lá.

Ele coloca as mãos nos meus ombros e me faz girar para o outro lado; então, ainda me tocando, me guia pelo corredor. Adoro o modo como eles sempre estão me apoiando, mesmo que eu esteja agindo como se tivesse perdido a razão.

Os banheiros do andar estão vazios. Meu desespero se avoluma. Não sei ao certo por que o sinto com tanta intensidade, porém não consigo me desvencilhar dele. É porque a perdi? Ou porque ainda vou perdê-la?

– A biblioteca! – sinto-me num desenho animado, exatamente quando uma luzinha se acende em cima das cabeças dos personagens. Claro! Ela vive comentando que adora a biblioteca da NYU, que se pudesse ficaria lá para sempre, apenas observando pilhas e pilhas de livros sobre Técnicas Fotográficas...

Praticamente saio correndo na frente deles. Kurt e Blaine precisam acelerar o passo para me alcançarem. Bingo. Ela está sentada em frente à biblioteca, bem no banco onde eu mesma já passei algumas tardes... E Blaine está certo. Ela está chorando. Leva um susto quando nos vê parados diante dela.

– Vocês não deveriam estar festejando? – Lucy pergunta, contendo a oscilação de choro na voz.

– Deveríamos, mas então... – Blaine tenta responder, mas eu o atropelo.

– Diga-me que Puck está mentindo! Que minhas suspeitas de sobre você ser especial ainda são válidas! Porque juro que se tudo o que ouvi for verdade... E-eu... - não consigo terminar, porque um soluço rasga minha garganta. E quando me dou conta, meu choro está crescente. Não consigo olhar para ela do mesmo modo mais. Não consigo insistir na ideia de que vou perdoá-la, porque é minha melhor amiga. Agora percebo que não importe quantas vezes ela se desmanche em lágrimas na minha frente, ou quantos pinky promises consolidamos, ou quantas vezes ela me faça sentir vontade de fechar os olhos a sua frente, aguardando por algo que nunca virá... Nada disso importa, porque não vou perdoá-la. Nunca.

– Nós não sabemos o que está acontecendo – Blaine indica Kurt enquanto eu fico ali, ridiculamente, apenas tentando controlar o meu choro antes de prosseguir qualquer coisa –, mas... Uau, isso está parecendo muito sério. O que está acontecendo, meninas?

– E-ela é uma mentirosa! Mentiu sobre tudo! – as palavras escapam como tiros da minha boca e não consigo compreender como sou capaz de dizer algo tamanha a dor e ódio a que estou sendo acometida – Ela conhece o Finn e, se minhas suspeitas estão corretas, ele é o tal namorado dela! E... E Puck! Ele a conhece também! Parece que todo mundo a conhece à exceção de nós três!

– Mas o garoto... Não pode ser Finn, Rachel – Blaine diz, em tom muito tranquilo, talvez para tentar surtir algum efeito parecido em mim. Isso apenas me deixa ainda mais com raiva.

– Alguma vez ela disse o nome dele para nós? – contesto – Alguma vez ela o apresentou a nós? Alguma vez ela agiu como se não soubesse do que estivesse fazendo? Está na cara que ela armou para nós! PARA MIM!

– N-não! – Lucy diz a palavra parecendo sufocar, mas eu não me importo. Quero que ela se sufoque, que ela desapareça, que ela...

– QUEM É VOCÊ, AFINAL? – grito, sustentando meu semblante molhado e mortificado. Quero arremessar algo nela, ou gritar até meu fôlego acabar numa almofada. Preciso arrancar essa coisa horrorosa que estou sentindo – O QUE VOCÊ PRETENDIA AO SER ACEITA NO LOFT?

– N-nada, Rachel! Não é n-ada disso! – ela diz, com a mão sobre o rosto.

– EU NÃO ACREDITO MAIS EM VOCÊ! E É MELHOR RETIRAR TODAS AS SUAS COISAS DA NOSSA CASA, PORQUE NÃO QUERO VÊ-LA NUNCA MAIS! QUEM SABE, PODE FICAR COM O FINN TODO PARA VOCÊ! NÃO ERA ISSO QUE VOCÊ QUERIA? POIS BEM! FIQUE, PORQUE EU ODEIO VOCÊS DOIS!

E então eu saio correndo dali, porque não consigo mais suportar encarar essa pessoa que eu achei que conhecesse. Essa pessoa que deixei fazer parte da minha vida como alguém que merece toda a importância do mundo.

Adeus, seja lá quem você seja.

~*~

Já assisti a muitos filmes sobre noivas que fogem de seus casamentos. Sobre mulheres que adiam o inevitável. Sobre espiões treinados que se salvam da morte. E o que dizer sobre a Cinderela? Perdeu o sapatinho na sua fuga e conseguiu arrebatar o coração do Príncipe! Ou seja, sua fuga do Baile Real foi essencial para seu conto de fadas alcançar a felicidade.

Fugir, é preciso encarar, pode ser a resposta para muitas situações. Situações sobre as quais você não tem o menor controle, ou as quais apenas aniquilam com qualquer tipo de felicidade sua. Como um Beijo da Morte. Ou algo assim.

Por fim, Blaine e Kurt não conseguem se mover. Rachel sai correndo para algum lugar, mas eles ficam. Estão me encarando, céticos. Ou talvez com raiva também. Não sei ao certo, porque minhas lágrimas não me deixam confiar no que estou enxergando através delas.

Kurt pigarreia. Ele está incomodado.

– É uma história estranha essa.

– Não... Kurt, eu juro que não é nada assim – eu engrolo um pouco nas palavras, porque minha voz está embargada por demais.

– Não sei se acredito em você, também.

Blaine lança um olhar repreensivo para ele, mas não diz nada.

– Kurt, por favor... Deixe-me explicar. Apenas deixe que e...

– É melhor não, entende? – seu tom está um pouco enojado, não raivoso. Isso soa pior em meus ouvidos – A Rachel é minha melhor amiga. Custei algum tempo para admirá-la e para considerá-la digna da minha amizade, mas quando isso aconteceu, eu disse a mim mesmo que não deixaria que ninguém a machucasse, sabe por quê? – Kurt está falando muito rápido, então não espera minha resposta – Porque, apesar de não aparentar, Rachel não é inquebrável. Acho que você percebeu isso logo no começo de sua estadia no loft. Viu o quanto ela estava reclusa e praticamente no fundo do poço. E tudo por conta de um cara que não lhe deu o devido valor. Ela é frágil, Lucy. E quando ela confiou em você, ela mergulhou de cabeça. Não sabia o que poderia acontecer, mas arriscou, porque você a fez sentir-se segura. Sabe com quantas pessoas ela se sente assim? Talvez apenas com nós dois. E agora... Agora você a quebrou de novo. E, sinceramente, não sei se ela vai conseguir deixar isso para lá. Sugiro que realmente saia da vida dela. É melhor para todo mundo – e ele também se vai. Não preciso fazer nem um esforço, sei para onde ele está indo. Está indo à procura de Rachel.

Não percebo, mas meu choro cessa. Meus olhos estão molhados e tento fazer o melhor possível para retirar toda a meleca que sobrou do meu rosto, por conta da maquiagem.

– Estou com o carro do meu pai, posso levá-la para a casa da Rachel – Blaine fala, depois de alguns segundos de silêncio.

– Há alguma possibilidade de eu ficar na sua casa?

Ele titubeia um pouco, pesando os prós e contras. Prós: ainda sou amiga dele, e ele não quer me deixar no meio da rua. Contras: eu magoei uma de suas melhores amigas e não mereço nada em troca, nem mesmo uma cama. A cabeça dele pende para o lado, e ele suspira, cedendo.

– Claro que há. Venha.

Ele me ampara, para minha surpresa. Andamos devagar pelo corredor, até alcançarmos a saída. O sol ainda está forte e a brisa fraca que leva meus cabelos de um lado para outro me faz ficar um pouco mais calma.

Não explico nada ao Hiram, quando ele inquire o que estou fazendo. Claro que ele está me vendo carregar minhas bagagens para a sala, ele não é cego. Mas não entende meu comportamento. Fica ali, me olhando e tentando, inutilmente, conversar.

– Obrigada por tudo, Sr. Berry. Diga que eu deixei um tchau para o Leroy. Vocês são incríveis – é tudo o que digo, porque não estou em condições de explicar que estou deixando a casa deles, pois alguma coisa saiu do controle e acabou atingindo a amizade que eu tenho com a filha deles. Ou melhor, que eu tinha que a filha deles. Sei que ele já se disponibilizou a me auxiliar uma vez, mas será mesmo que é capaz de relevar mais isso e dizer que eu deveria correr atrás do que quero? Porque, sinceramente, não sei o que quero. Nem sei, ao menos, o que vou fazer...

– Mas, querida...

Não explico, apenas sorrio e aceno. Blaine está me esperando.

– Muito obrigada – agradeço a ele, mas Blaine meramente dá de ombros. Ele não está confiante. Está duvidoso quanto ao que está fazendo, sabe que está indo justamente contra aos sentimentos de Rachel, porém está me abrigando ainda assim. Fico realmente grata. Não sei o que faria sem ele.

Quero telefonar para Sant e chorar com ela e lhe contar tudo o que houve. Mas sei que não é a melhor opção. Não há nada que ela possa fazer, por hora.

Blaine me acomoda em seu quarto, pois não há outro disponível. A casa de seus pais é pequena, diferente da dos pais de Rachel. Mas não reclamo. Não tenho por que fazê-lo, já que ele está, mesmo contra a vontade, cedendo solidariedade a mim.

– O que pretende fazer, agora? – ele quer saber, sentado diante de mim. Estou acomodada na cadeira reclinável defronte de sua cama, e ele está na cama, me observando atentamente e com muita seriedade. Está tentando captar quaisquer mudanças na minha fisionomia que delatem o quanto sou mesmo uma mentirosa, embora eu ainda não tenha entendido praticamente nada do que se desenrolou depois que entrei no Glee Club.

– Passagens novas.

– Você pode ficar aqui até o final da viagem – Blaine me garante, mas sei que não posso pedir tanto. Não quero que ele se indisponha com Rachel também. Não quero ferrar com a vida de mais ninguém, porque acho que é isso que significa as palavras de Kurt sobre eu ter quebrado Rachel de novo – Não vou me incomodar. Eu ainda nem entendi o que aconteceu.

– Nem eu – confesso, bem baixo.

Ele não questiona nada. Fica ali parado, na mesma posição.

– Santana vai ficar feliz por saber que você vai retornar a morar junto a ela.

– Acho que sim.

Transcorrem dois dias. É o suficiente. Não quero mais forçar Blaine a conversar comigo, como se não tivesse ciência do que está acontecendo com a Rachel. Não peço informações sobre ela, mas sei que ela deve estar ainda com raiva.

Quando piso em NY mais uma vez, parece que vou desmoronar. Estou desamparada, sem direção, carregando um vazio esquisito dentro de mim. Estou oca, é isso. Não sinto nada, estou anestesiada. É esquisito.

Sou abraçada por Santana e Brittany. Faço força para não chorar. Não quero derramar mais nenhuma lágrima, quero ser forte.

– Minha Lucy Ninja! Bem-vinda à bordo! – Santana diz, ainda me abraçando com força – Quero dizer, de novo. Seu lugar ainda está intacto no quarto!

Tenho a impressão de que Santana não quer deixar escapar nada doloroso demais para não me abalar ainda mais.

– Você me ajuda a remover tudo? – pergunto, referindo-me às minhas coisas no loft.

– Tia Snixx está aqui para isso, meu bem! – há algo na voz dela que me faz sorrir, mesmo que sem sentir felicidade alguma. Olá, velho hábito, senti sua falta! – Logo, logo tudo voltará nos eixos! E você vai esquecer esses meses pavorosos que viveu naquele antro de pessoas sem-graça!

– Obrigada – não tenho nada melhor para lhe oferecer.

O CD de Camera Obscura ainda está no carro dela. French Navy está tocando e, repentinamente, tudo explode. Não consigo combater minhas lágrimas. Santana emudece o CD e procura uma estação boa. In The Sun atinge meus ouvidos e, de repente, tudo o que sinto é culpa. Muita culpa. É difícil mesmo levar a culpa, noto. E não preciso ouvir She & Him para ter ciência disso.

– Certo, certo! – Santana fica desesperada – Disco! Britt-Britt, cadê aqueles CDS?

– Achei que você estivesse em depressão por conta da ausência da Lucy e os retirei daqui – Brittany diz.

– Tudo bem, vamos ficar em silêncio. O silêncio é uma boa, não é? – ela me questiona. Mas eu não estou em condições para confirmar nada. Meus ombros se chacoalham devido aos meus soluços e estou abraçando minhas pernas. Quero muito, muito mesmo, ficar sozinha, esquecida em um canto inóspito da Terra – Ah, pelo amor de Deus! Isso não é o fim do mundo!

Não entendo o que ela quer dizer. Não entendo mesmo. Permaneço afogada nas lágrimas até o final do percurso.

Ainda estou incapacitada uma hora depois. Estamos bebericando cafés muito amargos no sofá, caladas. Santana é a primeira a se manifestar.

– Então? Você falou com ela depois daquilo?

Não respondo. Não há o que responder, e eu sei que Santana já sabe a resposta.

– Olha, isso é ridículo – ela perde a paciência, rolando os olhos – Você não tem culpa pelo ex-namorado dela ter se interessado por você sem saber quem você era. Já ouviu falar em coincidências? Sim, elas existem. Aí está. Uma infame coincidência!

– Ela nunca mais vai querer me olhar, depois disso.

– As pessoas crescem. São capazes de esquecer o passado. Isso também existe.

– Não sei o que isso significa.

– Significa que ela vai perdoá-la, Lucy.

– Quinn.

– O quê? – ela pergunta, pega de supetão.

– Meu nome é Quinn.

Santana franze a testa.

– Certo. Quinn – ela assente – Vai ficar tudo bem, Quinn.

Pisco para ela.

– Você... Por que você...

– Você acha mesmo que eu deixaria isso escapar? Tive o privilégio de dar alguns telefonemas preciosos. Sei que você era a Quinn em Belleville.

– Você falou com o Puck?

– Seu primeiro namorado que ferrou com a sua vida? – ela ergue uma sobrancelha – Sim. Absolutamente. Não deixo passar nada. Meu plano de vingança já está sendo arquitetado, não se preocupe.

– Não, não quero vingança. Quero somente... Esquecê-lo.

– Talvez você possa esquecê-lo. Mas vai esquecer a Rachel?

Desvio meu olhar. Pensar na Rachel dói meu coração. Abraço meu corpo, depois de largar a xícara de café. Não quero chorar. Não quero.

Santana se aproxima de mim e me abraça.

– Ah, querida. Vai ficar tudo bem. Não agora, é claro. Mas... Um dia, quem sabe.

– Não vai, não vai não – sussurro, com o meu rosto enfiado no ombro dela – Porque... Eu já estou apaixonada por ela.

Minha declaração não faz com que ela me largue e comece a dar pulinhos pelo quarto, finalmente dizendo que “sabia que eu iria mudar de time”. Santana apenas fica me ninando.

– Tudo bem, ninguém liga – ela enfim diz – Ainda somos uma trindade. Você sendo Quinn ou Lucy, ou gostando de um cara perdedor ou de uma garota com sérios problemas cognitivos.

– Rachel não tem problemas cognitivos – digo, por entre meu choro – E eu... Eu não pedi por isso. Aconteceu.

– Sempre acontece. Acho que a gente não se dá conta logo de cara – para minha surpresa é Brittany quem diz isso.

– Eu não entendo. Isso não deveria estar certo. Não posso estar apaixonada por ela. Rachel é tão... Quero dizer, até cinco meses atrás ela estava sofrendo absurdamente por um garoto!

– Isso não muda nada. E a situação é sobre você, não sobre ela.

– Eu? – olho desesperada para ela. Meu coração está em pânico – Mas eu não sou... O que está pensando.

– É difícil no começo, eu sei. Eu também não queria aceitar que, na verdade...

– Eu não sou gay, Santana! Por Deus! – tenho vontade de berrar para ela, mas tudo o que continuo a fazer é chorar.

– Ok, ok. Não importa se você é ou não gay. O importante é que você ainda é a mesma pessoa. Apenas não deixe ser definida por rótulos medíocres, entendeu?

– Entendi.

Não me sinto melhor, ainda assim.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Beijos!



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