Nicest Thing escrita por Nina Spim


Capítulo 17
Chapter Seventeen


Notas iniciais do capítulo

Hey, there!
Agora é oficial: somente postarei de fim de semana, pois consegui o estágio *-* Tô tão feliz, awn! Pelo menos a fanfic já está pronta, senão estaria perdida, haha.
Espero que gostem desse capítulo! Beijos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/383926/chapter/17

- E então? – Kurt me pergunta.

Não me movo. Meus olhos estão grudados na porta, mas não consigo fazer nada além disso.

- Não consigo fazer isso.

- Certo. Então deixa que eu faço – Kurt diz, sem muita paciência. Apanha sua chave e a coloca na fechadura. Destranca a porta e gira a maçaneta.

Estou atenta a tudo isso, porque parece um rito de passagem. Meio tipo um divisor de águas. Antes de eu batê-la, há uma semana, como eu estava? Feliz e animada. Estava prestes a embarcar numa viagem perfeita e com muitas lembranças agradáveis. E, agora, quando enfim Kurt abre a porta e se adentra no loft... Como estou? Quebrada, meio remendada, talvez. Vazia, esquisita.

Dou o primeiro passo. Ele é o mais difícil. É como se inserir num programa de Alcóolicos Anônimos e ter de admitir que convive com um vício que está te matando pouco a pouco. Você não quer admitir, não quer ser taxado de nada, quer ficar ali na sua cadeira escutando os outros participantes relatarem sobre seus casos pessoais, sobre a vez que um pai quase atropelou seu filho na garagem porque estava bêbado demais para discernir o que estava à sua frente e sobre a mãe solteira que tentou se suicidar com medicamentos tarja preta e um litro de vinho.

Você pensa: é um acidente. Essa gente perdeu a noção; ninguém quis ferir ninguém, nem mesmo se ferir. Suas capacidades estavam limitadas.

Mas é aí que está: minha capacidade também está limitada. Não consigo sequer lidar com o caos sentimental que se incutiu em mim há alguns dias, como conseguirei lidar com esse loft que me remeterá a tantas lembranças que faço força para reprimir, para esquecer, para fingir que nunca existiram?

- Rachel? – Kurt me confere. Ele está me conferindo bem mais vezes que o habitual. É como se estivesse, na verdade, averiguando se não perdi a cabeça, se não estou tendo um ataque de pânico, ou um ataque do coração. Ele não quer me perder, é esse o fato. Fica me rondando para que eu não faça nada que ele não aprove com antecedência. Colocar um saco plástico na cabeça, ou cheirar canetas marca-textos. Qualquer coisa fora do contexto o faz me trazer “de volta”, sempre chamando meu nome com cautela.

- Hum? – respondo precariamente. Sinto falta de ar. O vazio se intensifica.

- Você vai ficar aí parada na soleira? Entre, antes que eu tenha que te mover com minhas próprias mãos.

Faço o que ele pede. Movo-me, mas não muito. O suficiente para que eu, enfim, esteja dentro do loft e consiga fechar a porta. Isso aqui parece uma prisão. Parece que meu banho de sol terminou e que retornei para a minha cela cheia de sombras.

Está tudo diferente. Ela não está mais aqui. Nada dela está aqui mais. Tudo se foi. Cada pedaço, cada parte, cada cheiro. Não há indícios de que ela esteve por perto por todo esse tempo. Tudo limpo demais, desabitado demais, sem cor demais. O espaço que antes ficava sua cama agora revela o tablado e isso é a pior visão de todas. Gostava de olhar para o lado e vê-la folhear seus livros sobre Fotografia, ou sobre Freud, ou sobre lagartos amazônicos. Dói não vê-la preenchendo o espaço com seus abraços inusitados e seu riso suave. As lembranças, entretanto, precisam ir embora também. Preciso fazê-las desaparecer como ela fez com seus pertences.

- Eu ainda acho que você dev...

- Não, Blaine. Fica na sua – Kurt responde de modo sério.

Blaine, porém, não desiste. Ele lança olhares impacientes para mim e para Kurt.

- A Rachel nem a deixou se explicar! Isso não é justo! – ele alega, insistente.

- Não interessa. Não há explicação suficiente para o que essa garota fez, você não vê? – Kurt diz abertamente, mas noto que faz uma aproximação repentina de Blaine e diz, num tom mais baixo – Já a viu assim alguma vez, além do episódio com Finn?

- Por isso mesmo. Ela sabe e compreende que as coisas terminaram entre ela e o Finn.

- O que quer dizer? – rebato na mesma hora, recuperando minha fala.

- Bem, você não está certa do que sabe nem do que compreende, neste momento.  É por isso que não consegue seguir em frente.

- Como posso “seguir em frente” se em menos de uma semana ela destruiu com todas as certezas que eu tinha formulado?

- Então arranje um jeito de reformulá-las!

Fico olhando para ele. Inacreditável! Isso é realmente...

- Você não entende nada – é o que digo, incrédula.

- Certo. Então talvez seja melhor você hibernar mais um mês na sua cama para depois acordar numa bela manhã e conhecer outra colega de loft – Blaine me diz sarcasticamente, sabendo que isso vai doer em mim. Esquivo-me dele. Abraço meu tronco, tentando me proteger de suas palavras, mas é impossível rejeitar o que sinto; é constante, como um grande alarme soando no meio da noite indicando perigo.

- Blaine! – Kurt exclama, furioso.

- Vocês é que não estão entendendo nada – Blaine ressalta, e seu olhar recai em mim com um intuito diferente, mas não consigo defini-lo, por isso apenas dou de ombros e o ignoro. Avanço para minha cama e me desfaço nela. Quero fechar os olhos e mergulhar num sonho cor de rosa, cheio de canções antigas, daquelas que me fazem querer dançar e convidar todo mundo para dançar junto comigo. Porém, não adormeço; fico piscando repetidas vezes para o teto, analisando todas as ranhuras dele e seguindo os padrões do laminado. Conto 23 ripas de madeira envernizada. Reconto. Perco a conta e começo pelo outro lado. Faço isso repetidas vezes, até não suportar mais mirá-las.

Preciso seguir em frente, sei disso. Por isso, apanho meu iPhone e digito uma mensagem que espero que seja respondida no mesmo segundo que envio.

Quer tomar um café?

A resposta demora dois minutos inteiros para vir. Não consigo desgrudar meus olhos da tela, apenas aguardando.

Claro, por que não? ;) Cadê você?

Estou ansiosa como uma aluna colando na sua primeira prova. Lanço olhares furtivos para Kurt e Blaine, para averiguar onde eles estão, o que estão fazendo e se estão de olho em mim. Boa parte do tempo, estão sim. Mas fingem que não enquanto desempacotam suas roupas e se vidram no X Factor.

Encontre-me no Zeze Flowers & Café, 398 E 52nd St. Chego em vinte minutos ;)

- Preciso de uma carona.

- O quê? Para onde? Quem vai encontrar? – Kurt logo começa seu previsível interrogatório, e eu rolo os olhos.

- Você vai conversar com ela? – Blaine diz esperançoso. Quase posso antever o momento que jogará seus braços ao redor de mim, todo feliz.

Corto sua empolgação:

- Não. Vou tomar um café com Brody. E aí, Kurt? Cadê minha carona?

- Rachel... – Blaine diz, decepcionado, e parecendo querer falar bem mais.

- Estou seguindo em frente. Começando agora – viro-me abruptamente para ele, tentando lidar com a excitação tomando meu corpo por estar fazendo algo novo.

- Não, você esta se forçando a fingir que está seguindo em frente. Isso é totalmente diferente. E é uma ideia muito maluca e infantil.

- Que seja! Kurt?

- Onde? – vejo que ele está lutando por dentro. Não quer me perder de vista. Mas, olhe só, preciso crescer. E não farei isso perto de você, por mais que queira.

Pego minha bolsa e sorrio para ele, agradecida e aliviada.

- Tem certeza disso? – Kurt me pergunta, depois de um gigantesco silêncio. Ele está acelerando o carro para virar na esquina do bistrô.

- É um café, não uma noite alucinada de sexo.

- Você sabe que não tem a obrigação de seguir em frente agora, não sabe?

- Pelo que eu me recordo, e você vai concordar comigo, meu primeiro e último relacionamento terminou há alguns meses, de modo que estou completamente apta a voltar a estar disponível – soo meio contundente demais, mas apenas quero indicar que estou segura da minha decisão – Luc... Aquela garota não era nada minha, agora vejo bem. Não há motivos para eu perder minhas noites na frente de musicais depressivos se posso estar bem acompanhada por um cara que aprecia estar comigo. E que não está transando com o meu ex-namorado.

Saio do carro, porque Kurt acaba de estacionar um pouco mais à frente da entrada do bistrô, por conta da fila que já está formada no meio-fio. O dia está agradável; nem frio nem calor e há nuvens decorando a imensidão azul acima de mim. Fico grata por ainda ser quatro da tarde e por estar trajando um vestido bonitinho o bastante para arrancar qualquer tipo de elogio de um cara.

Brody me aguarda numa das mesas perto da janela; o vejo e aceno. Adentro-me no recinto que não é tão sofisticado quanto a maioria dos bistrôs da região, e isso me deixa mais confortável. Gosto de simplicidade.

- Hey, Rach – Brody se levanta e me cumprimenta com o seu típico abraço – Viagem turbulenta?

Não confidenciei nada para ele, nada além de “Preciso voltar para NY” e “Algumas coisas imprevisíveis detonaram com a minha dita paz dos estudos”. Não especifiquei, por exemplo, que coisas foram estas. Não mencionei Lucy, ou Quinn, ou Finn. Preferi manter em segredo a situação em si, apenas para me precaver. Não sei bem até onde posso confiar nele, então mantive silêncio sobre a verdadeira turbulência na viagem.

- A pior de todas – sorrio para ele, mesmo que no fundo não esteja com o mínimo ânimo para sustentar este gesto – E você? O que fez durante esta semana?

- Aprimoramento.

- Que significa...?

- Passei algum tempo sendo o entregador de toalhinhas macias e de água fresca e de cafés fortes e quentes à Cassandra. Foi um desperdício de tempo, mas me manteve ocupado.

- De jeito nenhum! Sério?

- Ela me convidou, disse que atuar como seu ajudante me cederia alguns créditos extras, e claro que não pude recusar.

- Uau, isso é ótimo, não? Você está progredindo. No próximo recesso, aposto que estará limpando o apartamento dela e passeando com o cachorro.

Ele ri, e fico satisfeita por isso. Seu riso me mantém operante. Ao menos, ninguém está contando histórias tristes sobre o voluntariado no asilo, ou sobre ter ficado os últimos dias na cama assistindo a reprises de The Big Bang Teory.

- E seus amigos, como estão? – ele me pergunta. Tento pensar em algo para desviar o assunto, porque isso me deixa com um gosto amargo na boca. Arrependimento completo.

- Tudo bem com todos – digo, sendo bem sucinta para não abrir brechas para novos questionamentos acerca disso.

- Você está diferente – ele observa, apertando os olhos para mim – O reencontro não foi bom?

- Prefiro deixar isso de lado. Vamos ao café, uh? Tem um com canela que é simplesmente irrecusável, você precisa experimentá-lo.

E assim acabar qualquer tentativa da parte dele de ficar por dentro do meu recesso. Bebericamos o café com tortinhas especiais durante algum tempo, engajados em conversas inúteis sobre o futuro e sobre a NYADA. Nada pessoal demais.

Não é nada de mais. No fim, a excitação acaba cedendo, porque o encontro se torna casual demais. Andamos pelas lojinhas da redondeza, e ele me leva para o loft. Quero ser capaz de ser mais ousada que de costume, mas não consigo me forçar até o limite. Despedimo-nos com um “Obrigada pela companhia” e um abraço sem maiores intenções. Nada desmedido, nada subliminar.

Penso que estou um pouco mais leve, um pouco mais em ordem, mas a sensação perdura apenas até o momento no qual eu enfim chego ao último andar do prédio.

- Ah, meu Deus, o quê... – praticamente ofego assim que o vejo. É como uma assombração.

Finn está sentado ao lado da porta do loft. Está ali parado, olhando para o chão, aguardando alguma coisa. Ou alguém. E não preciso ser vidente para presumir que está esperando por mim. Sua expressão quando me vê delata minha constatação.

- Kurt não me deixou entrar – ele diz, levantando-se e se ajeitando melhor, exibindo um pouco de nervosismo – Parece que você tem outra visita agendada para hoje também.

Agora eu é que fico nervosa. E ansiosa. E desesperada. Outra visita? Quem? Quem poderia aparecer aqui e convencer o Kurt a deixá-la esperando por mim dentro do loft? Não faço ideia, realmente não faço. Meus pais? Claro que não, nos vimos há algumas horas. E eles nunca que se deslocariam de Lima para NY apenas para me visitar por algum motivo que pode ser muito bem discutido por telefone.

- Eu... Eu queria conversar com você, sobre... Você sabe, aquela coisa esquisita com a Lucy, ou a Quinn, seja lá quem ela é.

- Não dá. E eu estou seguindo em frente, você deveria fazer o mesmo.

- Rachel, dá para descansar a sua mente louca só um pouquinho e entender que eu não fazia a mínima ideia de que vocês dividiam o loft? Como eu saberia, se ela nunca me contou nada realmente relevante sobre a vida dela? – seu tom está frustrado e um pouco culpado. Oh, é ótimo reconhecer isso, a culpa. Ele não pareceu senti-la quando me largou.

Isso soa familiar.

Essa garota também nunca dividiu detalhes importantes de sua vida. Se ela tivesse dito algo, eu teria sabido sobre Puck, ao menos. Que ainda não sei a história inteira. Tudo o que sei é que ele era o hóspede da casa dos Fabray em Belleville, apenas. Nada mais. Depois do aniversário do Sr. Schue não nos falamos mais, exatamente como não tive mais contato com Finn – até agora, óbvio; e sua visita já está me dando pânico. E náuseas. Preciso me livrar dele o mais rápido possível para que possa receber a minha visita.

Saia da minha frente, Finn Hudson. Não dá pra perceber que eu não quero mais nada de você?

Hm, aparentemente não.

- Ok, quer saber de uma coisa? Eu não me importo – digo sem paciência alguma; mas que droga, por que eu sou tão pequena? Se não fosse, poderia já tê-lo jogado das escadas, ou algo assim – Agora, dê licença. Preciso cuidar de coisas realmente importantes. E você não é mais uma delas.

- Típico da sua parte – ele comenta, com um risinho – Então é isso?

- É isso. Adeus.

Milagrosamente, consigo me esgueirar por entre ele e o corrimão da escada – acho que ser pequena, afinal, tem lá suas vantagens – e estou cara a cara com a porta do loft. Não olho para trás, não sei se ele está resistindo estupidamente, ou se está descendo os degraus. Não quero e não vou olhar para trás. Vou apenas seguir em frente. Esse é o sentido da vida: esquecer o passado e se focar no futuro.

Quando destrancou a porta, encontro Santana com um vestido vermelho sedutor demais para um encontro entre “velhas amigas” – apesar de eu saber que ela me odeia por algum motivo que não tenho ciência –, sentada em um dos banquinhos da cozinha e desfrutando de um bom café e de uma conversa interminável sobre o que parece ser esquilos dançarinos falantes. Ou sobre esquilos assassinos falantes.

- Santana? – pergunto, embora meus olhos a estejam enxergando muito bem. A verdade é que estou muito confusa. Santana aqui? Achei que ela nunca mais quisesse pisar em qualquer lugar que eu estivesse presente; claro que o aniversário da... Ok, hora de calar a boca e seguir em frente. Não posso fazer reviver lembranças do passado que, talvez, foram todas mera ilusão.

- E aí, Berry? – ela me cumprimenta de longe. Agora, sua feição e sua voz perderam o tom brincalhão. Ela está austera, e isso me intimida um pouquinho.

- O que você está fazendo aqui? – inquiro, me aproximando dela.

- Preciso levar uma conversa de mulher pra mulher com você, Hobbit.

Estou encrencada. É isso. É claro que sim. Ela vai defender aquela garota, porque é isso que acontece quando coisas esquisitas desse nível explodem na sua cara. E Santana parece ser do tipo que comprar briga de qualquer um, inclusive de uma pessoa tão mentirosa que nem o nome é verdadeiro.

- Meninas com testosterona em excesso – Santana diz para Kurt e Blaine –, por que vocês não vão dar um passeio pelo quarteirão? Não garanto que a Berry aqui estará intacta no final da conversa, mas vou tentar não usar muito as minhas garras.

Eles concordam, porque confiam nela, apesar de tudo. Quero gritar para que não se movam, pronta para dizer que não se deixa uma amiga nas mãos de uma amiga da inimiga, mas sou incapacitada. Santana está me lançando aquele olhar que diz claramente para eu não interferir em nada até que ela termine sua tortura verbal – e depois, talvez, dê início à tortura física.

- O que você quer? – uso meu tom mais duro, tentando surtir algum efeito. Tentando demonstrar que também não estou para brincadeiras. Afasto-me dela e a observo de longe, com os braços cruzados e com a pior cara do mundo.

- O que eu quero? – Santana começa a rir, com sarcasmo.

- Se veio aqui para se rastejar no lugar daquela lá, pode esquecer – começo, ainda sustentando meu tom rude. Não estou mais tentando intimidá-la, estou sendo sincera; estou mesmo inflexível, não vou voltar atrás apenas porque ela está na minha frente agindo como a amiguinha em missão de paz – Não importa se ela envie o Andrew Garfield como porta-voz das dores e dos arrependimentos fingidos dela. Não quero mais vê-la. Deixei isso bastante claro quando enfim a verdade veio à tona.

- Parou de desperdiçar sua saliva? – Santana questiona, tão irredutível quanto eu – Ótimo. Agora cale a boca e me ouça.

- Você n...

- Acredite, eu tenho todo o direito – ela assegura com muita confiança – Primeiro, você arrancou a minha segunda melhor amiga do lar dela. Segundo, você praticamente me indispôs com ela porque é egocêntrica e infantil demais para aceitar que, sim, Rachel, você tem defeitos que ninguém é capaz de suportar. Terceiro, você não concedeu a chance de ela se defender de nenhuma acusação sua, concedeu? E é por isso que agora sou obrigada a vê-la agir, desde o dia da chegada dela, como se um vírus da Zumbilândia a tivesse atacado. Sabe quantas vezes ela chorou ao ouvir seu nome ser mencionado sem querer? Todas. Sabe quantas vezes eu a vi chorar por conta de outra pessoa, além de você? Nenhuma. Ela é forte, sim, mas todo mundo tem o seu limite. E você, está na cara que está apenas focando no próprio limite. Chegou a pensar se as poucas palavras que atirou a ela naquele último dia a afetaram tanto quanto a afetaram? Ao menos deu atenção aos sorrisos dela, antes de você acabar com tudo? Você consegue se recordar de quantas noites vocês passaram sozinhas, sendo amigas e sendo vocês mesmas? Vai dizer o quê, que nada disso importa? Parou pra pensar que tudo foi real pra ela desde o começo? Que, apesar da evidente parte insuportável que você carrega, a Quinn foi a primeira pessoa que abriu os braços para você, contrariando toda a sua depressão pós-término e todas as coisas horríveis que você proporcionou a ela no começo da estadia dela aqui? Sabe quantas vezes ela se sentiu rejeitada por você, que chegou a pensar em desistir de morar aqui? Você não sabe, porque não percebeu. Você não estava se doando tanto quanto ela estava se doando a você.

Estou tremendo. Não sei por quê. Estou parada, ainda a uma boa distância dela, apertando meus braços ainda mais. Santana pareceu metralhar todo o seu discurso em cima de mim sem nem mesmo recuperar o fôlego. Estou um pouco tonta, sentindo-me uma idiota por não ter retrucado em momento algum. Mas como poderia? Não houve brechas. Preciso me escorar em algum lugar, senão minhas pernas não irão me sustentar; sinto-as fraquejar, reclamar por suporte.

- O que você tem contra mim, afinal? – é a única frase completamente imbecil que consigo formular às pressas.

- Quer uma lista em ordem alfabética, ou prefere que eu apenas cite uns três ou quatro itens? Porque ela é infinita, pode acreditar – Santana me responde num tom seco – Mas a Quinn? A Quinn não a enxerga. Quer dizer, deve enxergar alguns itens, dois ou três, mas nunca será capaz de mudar quem você é. Ela não quer que você mude, pois a aceitou do modo que é. Ela ignorou tudo, Rachel, absolutamente tudo para ser sua amiga. Sei que você deu atenção a ela, mas nunca vai ser o suficiente para ela. Quinn não quer o mundo, ou um posto numa grande empresa. Sabe o que ela quer? – o rosto de Santana parece mais suave agora, talvez porque haja mais emoção do tipo lamentosa em seu peito. Meu coração se agita, incapaz de bater no compasso – Quinn quer ser especial tanto quanto ela sabe que você é. Ela não viajou para Lima porque odeia a família e precisava se ver livre dela, não. Ela queria ser especial junto com você. Mas você... Você despedaçou tudo. E não fez nada para remendar. Não pediu explicações decentes, não agiu como uma amiga; simplesmente a renegou e renegou qualquer esclarecimento dela. Esse é o limite dela. Quinn não aguenta mais ser renegada, entende? Ela já teve de ser chutada diversas vezes por variadas pessoas as quais achou que a amavam.

Meu lábio está tremelicando. Oh, não. Não na frente dela, eu imploro. Não quero ser vista derramando mais choro, especialmente na frente de Santana. Sinto meus olhos úmidos, mas ainda consigo distingui-la através das poucas lágrimas que se juntam.

- Quem a renegou? – pergunto tão baixo que não tenho certeza se minha voz chegou até Santana.

- Está profundamente dando importância a isso, ou apenas está perguntando?

- Diga-me, por favor. Apenas quero saber quem é essa... Essa Quinn. Isso está me matando desde Lima, entende? – confesso, esforçando-me até o limite para não exibir indícios de que a onda de choro está cada vez mais próxima e mais potente.

- Quer saber quem ela é? – Santana questiona – Pergunte a ela. Use a reciprocidade.

Faço um movimento confuso com a cabeça.

- O quê? Que reciprocidade? Ela não utilizou isso nenhuma vez comigo.

- Será mesmo, Rachel? – agora Santana não parece com raiva, está centrada na mensagem; está tranquila e me tratando como se fosse minha psicóloga – Ou você apenas estava notando os próprios limites, mais uma vez?

Selo meus lábios, para que ela não consiga perceber que eles ainda estão tremendo.

- E-eu não sei – respondo. Será que isso aconteceu? Será que ela quis me contar alguma vez, ou talvez muitas vezes, sobre tudo isso, mas eu simplesmente não lhe conferi importância? Meu Deus, isso é horrível...

Ela assente, mas sem transparecer sarcasmo. Não transparece nada ruim, na verdade. Sua expressão está séria e compreensiva.

- Sabe uma coisa que aprendi durante o colegial e que nunca vou conseguir esquecer? – por algum motivo, ela está se aproximando de onde estou e sua voz está bastante suave para alguém que estava acabando comigo há apenas alguns minutos.

Faço que não com a cabeça, segurando as lágrimas. Tento fungar baixo, para que ela não perceba. Mas estou tremendo tanto que acabo fazendo tudo errado. Ela aperta os lábios num gesto solidário quando escuta minha fungada ridícula. Santana agarra com gentileza meus pulsos e, mesmo que eu esteja com medo e envergonhada por ter de encará-la, o faço ainda assim.

- Que não dá pra ser feliz com medo de amar. Amar alguém exige muita coragem, pessoas covardes não amam ninguém.

Não entendo o significado daquilo, mas faço um aceno em concordância.

- Faça por merecer, Rachel. Porque eu sei que Quinn tem certeza de que você merece. Apenas prove isso. 

~*~

Nunca me imaginei dizendo isso, mas confesso que sua ausência me provoca uma ausência de sentimentos. Não sinto falta. Não sinto dor. Não sinto medo. Não sinto nada. Nada. Nunca imaginei que seria assim, mas 'nada' agora me consola.

Os dias, vagarosos, passam. E vão passando. Cada vez mais rápidos. Todos do mesmo jeito; não saio da rotina precária NYU/Party City/dormir. Tudo tão mecânico que tudo o que sei é que estou ficando cansada, muito cansada. Exaurida, para falar a verdade. Meu corpo não se acostuma com essa brusca mudança e há pontos de tensão em diversas partes dele. Mas o nada perdura. O nada é a única coisa na qual me agarro. O nada é indolor. O nada me faz existir, mas sem viver. Estou aqui, mas não estou. Às vezes acho que não consigo respirar e que não vou conseguir acordar no dia seguinte, porque a verdade é que não ser capaz de sentir é, em alguns casos, um malefício. Você entra numa espécie de limbo sentimental. Uma depressão que você nem consegue diagnosticar por conta própria; só fica lá, respirando e repetindo os mesmos dias, ridiculamente.

Finn tem me ligado e me abordado. Eu o trato com indiferença. Não tenho nem mesmo disposição para ser rude com ele, porque tenho ciência de que, na verdade, não há por que buscar um culpado. Ao menos, não há nenhuma prova incriminadora suficiente com a qual eu possa cercá-lo sobre esse enorme labirinto de relacionamentos. Esse triângulo amoroso indecifrável. Rachel nunca me disse o nome do ex-namorado, fato um. Finn nunca disse o nome da ex-namorada, foto dois. Eu nunca mencionei o nome do Finn para Rachel, fato três. Nunca, também, deixei escapar o nome de Rachel para Finn, fato quatro. Inacreditável, certo? Certo, mas real. Verídico. Aconteceu.

E não há nada que eu possa mudar. Nada que eu possa fazer, aliás, para consertar isso. O que posso tentar mexer? Não se mexe no passado. Ele acontece, e é nosso dever esquecê-lo, mais dia, menos dia. É assim que é. Não posso remendar nada, agora. Nem com ele, nem com Rachel. Não sobre nossos desencontros encontrados, por assim dizer.

Mas, com tenha a certeza, tem aquele ponto de pressão no meu cérebro que está me perturbando. A Rachel. O que ele fez com ela, quer dizer. Porque... Bem, muitas vezes formulei na minha cabeça quem era e como era esse tal ex-namorado dela. Alguém que teve anos de puro deleite no Ensino Médio no posto de líder do time e que carregou toda a soberba de um cara popular. A imagem se concretizava perfeitamente. E daí me assalta o fato de que este mesmo cara deleitoso e arrogante teve o privilégio de namorar alguém como Rachel; alguém insegura o bastante para sequer acreditar no próprio potencial feminino e que, naquele mundo de castas malucas, não era a favorita de ninguém, à exceção do namorado. E tudo o que este cara era se perde diante deste fato: a Rachel em sua vida. E, então, não sei mais como julgá-lo. Não posso mais julgá-lo.

Mas aí me retorna toda a repulsa e todo aquele sentimento de impotência diante da impotência dela, a qual ela me apresentou naquela noite que enfim me relatou sobre seu término – que parecia tanto afetá-la e que a deixou transtornada.

Como alguém que a escolheu para dividir a vida por quatro anos não teve sequer a decência de tentar se colocar no lugar dela? É claro que meninas nunca entenderão os meninos, e os meninos nunca entenderão as meninas – mas o que isso impossibilita de as pessoas praticarem um pouco mais de uma coisa chamada humanidade? Porque estar imune ao que acomete aos outros todos são capazes de se transformar, especialmente levando em conta que cada um tende a acreditar nas próprias razões, sem questionar as dos que estão a sua volta ou sem conseguir enxergar que a complexidade das suas próprias são infundadas e construídas a partir de prepotência explícita.

Não entendo.

As opiniões mudam de acordo com as circunstâncias. É como dizem: a morte pode ser enxergada de duas formas; quando ocorre com os outros é fatalidade; quando acorre conosco é injustiça. Tudo depende de onde você está, do lado de lá, ou do lado de cá. Sim ou não. Não existe “talvez”. Ou você sabe sobre o que está falando, ou não sabe.

Finn, eu sei, sabia sobre o que estava se posicionando. Ele não deveria, de modo algum, se ver preso com Rachel. Todo mundo é livre, claro que sim. Se você está se sentindo sufocado num relacionamento é porque tem algo errado; ou você mudou, ou a outra pessoa mudou. Ou, então, os seus sentimentos, mais do que nunca, se apagaram e isso, meu caro, muitas vezes não há como rescender. Você pode ter a fogueira em seu esqueleto bruto, mas sem a ignição ela não se formará. Faíscas podem se formar, mas sem a chama certa você não tem nada. E é assim com relacionamentos, também.

Relacionamentos morrem todos os dias. E não tem como localizar o culpado. A outra pessoa pode prometer modificar o que quer que seja o empecilho que esteja interferindo no bom funcionamento da relação, mas de que adianta tentar apreender alguém que já está muito longe da gaiola? Nunca mais será a mesma coisa, porque nada voltará a ser como antes. Os sentimentos se apagam e se reestruturam todos os minutos. Às vezes, não bata amar para ser amado. Anne Frank diria: o amor não é algo que se pode pedir a alguém.

O fundamental não é amar, é aprender a amar. E talvez tenha sido isso que se fez presente no namoro de Finn e Rachel. Nenhum dos dois aprendeu a amar, nem a eles mesmos nem um ao outro.

Ainda assim... Ainda assim, ele deveria ter imaginado que Rachel não se desvencilharia das memórias tão rapidamente, como se pudesse jogá-las numa lata de lixo e deixar fazer com que tudo se encaixe, que tudo se configure mais uma vez, tornando a ser como era antes. Porque nunca é. As coisas nunca voltam como antes foram.

Por isso, estou furiosa.

Ele diz me amar, mas como poderei confiar em sua palavra se já retribuiu seu amor um dia e não se arrepende por ter quebrado o coração da outra pessoa? Quem garante que ele não acabará fazendo isso comigo? Quebrando meu coração para procurar outra menina? É possível. Tudo sempre é possível, especialmente quando relacionado às angústias e dores do amor. Certo? Certo, porque eu já provei isso outrora.

- Aonde vai? – Santana levanta os olhos de seu novo livro sobre Estatística.

- Resolver um assunto pendente.

- Rachel? – há surpresa e esperança emanando de sua voz.

Nego com a cabeça, e não esclareço nada. Saio do apartamento o mais rápido possível.

O caminho está marcado no meu cérebro, apesar de não apreciá-lo. Quer dizer, o que não aprecio é a pessoa que me aguardo ao final do trajeto. Confesso, os dias e as noites que se sucederam lá foram boas. Mas eu as trocaria por quaisquer outras se eu soubesse que Rachel estaria presente nelas. É, algumas eu é que me esquivei, proporcionando, assim, grandes ausências. No entanto, duvido muito que ela tenha se queixado ou notado. Por que o faria, uma vez que ou estava com Brody ou com Sam? E eu tinha de encontrar um escape. Finn foi meu escape. Gostei disso enquanto durou. Enquanto não sabia o que agora sei. Que ele é um grande idiota. Predador. Despedaçador de coração. Chame-o como quiser.

Saio do carro e reconheço uma cabeleira loura. Franzo a testa.

- Sam?

Ele está na pequena entrada do prédio, quase batendo o portão. Olha em volta, procurando quem o está chamando. Seus olhos recaem em mim e seu rosto exibe uma expressão de reconhecimento.

- Fabray! – ele exclama. Seu tom não emana alegria, mas ele está me sorrindo – Está me perseguindo? Você sabe que não quero mais nada com você, certo? Você mesma foi bastante contundente naquela noite com a Rach expondo o quanto me odeia.

- Não o odeio – respondo confusa, mas focalizo na verdadeira razão pela qual nossa “conversa” teve início – Em todo caso, o que está fazendo aqui?

- Eu moro aqui, com Finn. O cara que você está “namorando”.

- Você sabe? Espere aí, como é que eu nunca o vi aqui antes?

- Não diga para ninguém, mas eu tenho uma capa da invisibilidade – ele se aproxima de mim e lança uma piscadela. Daí percebe que sua piadinha não me agradou e retalia – É claro que prefiro estar longe daqui quando os encontros do Finn acontecem. E, na verdade, fiquei sabendo de você pela própria Rachel. Finn não me disse muita coisa a seu respeito, à exceção de tudo o que nós garotos dizemos uns aos outros.

Ergo uma sobrancelha. Péssima ideia. Preferiria não ouvir isso.

- Enfim, o que você está fazendo aqui? – Sam pergunta, sugerindo estar muito interessado. Não quero lhe revelar nada, para que ele ou Rachel não pensem que estou usando a informação como artifício, caso ele conte a ela.

Ao invés de lhe confessar qualquer coisa, dou de ombros e repito o que disse a Santana, que preciso resolver um assunto pendente. Isso, ao contrário do que imaginei, não provoca reação alguma nele. Sam somente assente. Mas depois diz:

- Tente ser você mesma ao menos uma vez, ouviu? Todo mundo aprecia um pouco de autenticidade uma vez ou outra – ele abre o portão para que eu passe e me olha mais uma vez – Preciso ir, quem sabe nos vemos por aí.

Sam se vai. Desaparece no fim do quarteirão. Eu ainda estou olhando o calmo movimento do tráfego diante meus olhos, sem realmente me ater a ele.

É, estou precisando ser eu mesma um pouco. Livro-me da minha distração e entro no lobby. Subo os três lances de escadaria e então estou frente a frente com a porta que nunca mais encararei na minha vida. Bate na madeira de maneira energética com os nós dos dedos e aguardo.

Presumo que pelo olho-mágico Finn já deve ter me conferido do outro lado, pois apenas isso explica seu sorriso animado quando a barreira entre nós é transposta.

- Hey! – ele diz.

- Nem se anime – já vou dizendo duramente – Essa é a última vez que venho aqui; aliás, essa é a última vez que nos falamos.

- Precisa de um calmante? – Finn pergunta.

- Não. Preciso de você o mais longe possível de mim – esclareço com todas as letras.

- Veio aqui para me dizer isso? Um pouco contraditório, não?

Oh, Deus! Ele está sendo cínico! Estupidamente cínico! Uma vontade mórbida de dar um tapa em seu rosto toma conta de mim; preciso refrear esse ímpeto com todas as forças que tenho para não desferi-lo.

- Você não sabe o que diz – digo com desprezo, adentrando-me no pequeno apartamento sem ser diretamente convidado – Não acredito que me envolvi com você! Eu presenciei todas as consequências que você ocasionou no emocional da Rachel. Qual é o seu problema? Acha que todo mundo é imune ao sofrimento? Porque ela sofre por você até hoje, se quer saber. Você sempre vai ser a melhor e a pior pessoa que ela encontrou.

- Lá vai você – ele suspira, mas seu tom está irritado.

- Sim – confirmo com voracidade -, com toda a certeza. Porque você tinha plena consciência de que ela não se recuperaria do término, e mesmo assim não se mostrou nem um pouco amigável em momento algum. Existem casais que, embora seus relacionamentos amorosos tenham fracassado, consentiram em manter a amizade, sabia? E me surpreende muito o fato de vocês terem crescido juntos e terem inclusive feito parte de algo especial como o Glee Club e, mesmo assim, não conseguirem manter contato algum, mesmo que por mensagens casuais escritas por velhos amigos.

- Achei que deste modo seria melhor, ok? – ele meio que explode – Achei que cortar a relação integralmente não a afetaria tanto. E que porcaria é essa, garota?! Você não pode me cobrar nada, porque sei muito bem que nem amiga dela você é mais! Ela a odeia tanto quanto me odeia!

- Bem, talvez, se tivesse sabido com antecedência que você é o ex-namorado imbecil dela nada disso estaria acontecendo! – revido com raiva.

- Oh, certo! – ele diz sarcasticamente – Porque se soubesse recusaria terminantemente todas as noites que passamos juntos! Você sabe que não! Porque você é uma derrotada sentimental: você precisou de mim para continuar com a sua farsa de menina boazinha! Você sabia que eu não iria pisar em você como outro alguém do seu maldito passado cujas informações ninguém sabe! Você é uma completa fraude, não vê? Se alguém foi enrolado nesta história aqui fui eu. Além da Rachel, naturalmente. A quem você se diz amiga, mas a quem não foi capaz de assumir sua verdadeira identidade! Sim, eu dei o pé na bunda dela. Quebrei alguma ordem mundial? Não, porque era tão injusto que eu me visse sendo o cachorrinho dela quanto ela me cobrar alguma lealdade para todo o sempre! Se eu pensei que eu suportaria todo o drama infantil dela? Sim, na época em que era ingênuo demais, pensando que ela foi um grande achado na minha vida. Mas depois que nos formamos, o elo se partiu muito fácil. De repente, já não éramos como um. Éramos opostos e, intimamente, estávamos sempre em embate um com o outro. E tudo o que eu queria era ser livre dela!

Fico piscando para ele, colocando todas as informações em gavetinhas dentro de meu cérebro.

Fraude. Rachel. Elo. Liberdade.

- Ainda assim, você não tinha o direito. Alguma vez você foi lá para conferir de perto o estado dela? Mandou alguma mensagem? Alguma coisa?

- Eu já disse: quis cortar nossa relação na íntegra – Finn me concede a resposta num tom muito irritado – Além do mais, por que eu faria isso? A Rachel é tão orgulhosa quanto uma celebridade de Hollywood. Acha que é tudo sobre ela. É egocêntrica e insuportável, na maior parte do tempo. Eu estava muito cego quando correspondi aos sentimentos dela, no colegial.

- Ninguém se apaixona por uma pessoa por estar cego, Finn. Você pode não enxergar os motivos que o levam a estar apaixonado, mas eles estão lá. Você apenas não os compreendeu. Aliás, acho que, por mais que tenha tentado amá-la, não aprendeu nem um pouco, pois fez isso como se fosse um favor. Você tinha de amá-la, uma vez que ela já estava apaixonada por você. Não foi nada recíproco. Ela sustentou todo o relacionamento de vocês e, quando você se deu conta disso, simplesmente a largou, porque era demais para você aceitar esse fato.

- Não tenho culpa se a Rachel tem a cabeça nas nuvens.

- Ela pode ter. Mas ela é uma menina, esperava mesmo algo diferente? No entanto, os pés dela estão bem firmes no chão. Você nunca aprendeu nem mesmo a compreendê-la, por isso diz com tanto afinco sobre, supostamente, ela ser insuportável. Rachel, talvez, apenas estivesse querendo lhe mostrar o quanto estava contigo. Mas você foi incapaz de compreender isso, porque nunca esteve com ela. Nunca teve aquela coisa, sabe de que estou falando?

- Não faço a mínima ideia – ele diz impaciente.

- Também não sei explicar. Sei que... Algumas pessoas a têm e nem mesmo percebem. É como uma aura que os envolve, uma magia que permeia suas histórias.

- Não me diga que está tentando descrever o amor. Vou vomitar agora.

Balanço a cabeça.

- Não. É justamente isso. Essa coisa da qual me refiro vai além disso, além do amor. É como um bônus por estar amando. É uma sintonia tão grande que, quem está ao redor, almeja tê-la também. E é inexplicável. É somente... Uma coisa. Que faz com que todos percebam que, sim, há muita felicidade sendo dividida ali. É como uma conexão de almas, entende? Como se essas pessoas tivessem sido feitas umas para as outras. Elas se completam como peças de lego onde umas se acomodam nas rachaduras das outras, tornando-as perfeitas juntas.

- Ah, meu Deus – Finn diz. Estudo seu rosto e constato coexistir três emoções ali: incredulidade, desprezo e surpresa. Essas palavras são proferidas de modo bastante diferente, e isso me leva a crer que ele encontrou uma disparidade – Não dá para acreditar.

- Não acredite, não estou pedin...

- Que se dane essa sua teoriazinha ilusória, não é a isso que me refiro – Finn ataca de imediato – Você... – ele fez uma careta que não consigo definir muito bem; ele está confuso, é isso? – Você acha que vai ficar com o meu lugar. Acha que vai poder suprir a falta que eu faço para ela. Você é ridícula, um nada. Você não é ninguém – oh, noto bastante desprezo; meu estômago está dando indícios de desconforto, mas resisto, porque preciso ir com isso até o fim. Não quero nada pela metade – Não foi você que a fez acreditar que tinha algum potencial, ou que podia ser aceita, ou que tinha um futuro próspero se contentando com o tipo de amor que dei a ela.

- VOCÊ NÃO DEU AMOR ALGUM A ELA! VOCÊ A ILUDIU! – a necessidade de pontuar a minha certeza acerca do assunto me leva a perder o controle e a gritar com ele. Posso estar parecendo desequilibrada, mas nunca me senti tão lúcida. Tão certeira quanto ao que estou falando – VOCÊ É QUE É UM NADA! PODE ACHAR QUE REPRESENTOU ALGO IMPORTANTE PARA A RACHEL, MAS TUDO O QUE ELA VAI SE RECORDAR É QUE VOCÊ NÃO DEU VALOR ALGUM AO RELACIONAMENTO DE VOCÊS, MUITO MENOS A ELA!

- Como se você se importasse o suficiente para estar tentando consertar o que quebrei. Porque você nunca vai. Eu sempre vou ser o primeiro amor dela – Finn retruca, mantando a voz contida.

- A Rachel vai fazer questão de se esquecer disso quando for a hora – respondo, ainda num tom alto, mas não berrando – Ela vai perceber que tudo não passou de uma mentira com você. E, sim, eu menti sobre algumas coisas a ela, mas nunca sobre meus sentimentos.

- Oh, yeah? – Finn é desdenhoso – Então ela sabe que você está ridiculamente apaixonada por ela? Que durante esse tempo todo você escondeu essa dita “coisa” dela? – acho que ele nota o pânico estampado no meu semblante, porque logo e seguida diz com triunfo – Achei que não. E acho que quem está se iludindo é você. Acredita mesmo que ela sente toda essa “coisa” por você? Você nunca vai ser especial para ela.

Isso me acerta de um modo que me faz perder o fôlego. Porque seu tom é tão maldoso que nem mesmo Santana poderia utilizá-lo neste momento. E também porque sei que ele tem razão. Posso ter sido especial para Rachel, algum dia. Mas agora? Agora não mereço mais nenhum tipo de apreço dela. Com certeza, deixei de ser especial a ela, depois de tudo isso.

- Adeus, Finn. A propósito, você é uma porcaria de pessoa – rebato, depois de me recompor. E saio pela porta com a cabeça erguida, muito embora meu coração esteja um pouco ferido. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ai, gente! Eu adorei escrever esse capítulo, do começo ao fim! *-* No começo me deu vontade de chorar, e depois só fiquei com cara de triunfo por ter feito a Quinn ter dado no pé, hahaha. Anyway, reviews? Até o próximo fim de semana! Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nicest Thing" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.