Nicest Thing escrita por Nina Spim


Capítulo 11
Chapter Eleven


Notas iniciais do capítulo

Um fato interessante sobre bons e atentos leitores: eles prestam atenção nas entrelinhas. Entrelinhas é tudo aquilo não é explicitado na narração. Lembro que antes da série de livros do Harry Potter ser finalizada e todo o fandom estava enlouquecido para saber se o Rony e a Hermione realmente se amavam, a Tia Jo disse: Leia nas entrelinhas. E, sim, estava lá. As pessoas somente não souberam interpretar. Portanto, meus caros, faço uso desta deixa da Tia Jo. Tudo já está acontecendo na história da Rachel e da Quinn, mas são detalhes que passam despercebidos por vocês, pois, creio eu, as pessoas esperam uma grande placa de neon quando se trata do amor, quando, na verdade, o amor não é nada disso. O amor é uma semente, tão pequenininha, mas que no tempo certo se torna uma obra magnífica. Apenas, no caso delas, o tempo certo ainda não chegou. Mas as entrelinhas denunciam todo o progresso da relação delas (e quando digo relação não me refiro apenas à amizade, que é o que vocês veem). E mais: gente, amor não nasce apenas porque uma das pessoas viu a outra com poucas ou nenhuma roupa, ok? Vamos tirar essa ideia louca da cabeça. É isso. Desculpem-me todo esse monólogo, mas achei conveniente e necessário! Boa leitura a todos!



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– Comece a me contar o seu lado da história – comando vigorosamente.

Meus braços estão cruzados, e estou no sofá, assistindo a reprises de Friends desde que Sam precisou acudir um “problema mecânico” sobre o qual não entrou em detalhes, pois sabe que eu não compreenderia muita coisa.

São 00:12h; normalmente, eu já estaria na cama, dormindo tão profundamente que nem mesmo os passos de Lucy me acordariam. Porém, hoje estou bastante desperta. Porque desde que Sam saiu daqui estou aguardando que ela chegue para que eu possa analisar a perspectiva dela também. Não é como se Sam fosse ótimo em explicar seus relacionamentos. Tudo que faz é dar de ombros e dizer: “Não estou apaixonado por ela”. Mas será que Lucy também pensa assim em relação a ele como este se mostrou a ela?

Lucy me olha surpresa por dar de cara comigo acordada.

– Hey, você não deveria estar sonhando com carneirinhos?

– Não vou me deitar até você não me dizer o que houve entre você e Sam do seu ponto de vista.

Ela anda até sua cama e deixa sua bolsa e seu cardigã em cima dela. Então senta-se e retira os sapatos. Ela parece um pouco lânguida; bêbada, para ser mais precisa. Mas não é muito. Apenas aparenta estar sonolenta. Não invisto nisto, pois não é meu foco. Limito-me a aguardar seu pronunciamento.

– Sei – ela diz de costas para mim enquanto se livra da blusa – Ele lhe disse que a culpa foi toda minha e que meus pais não prestam? Típico.

– Quero a sua versão.

– Não podemos esperar até amanhã? – ela se vira para mim irrequieta e se livra da saia – Acho que não fará diferença alguma. Além do mais, não me importo com a opinião dele – ela dá de ombros antes de tornar a dar as costas para mim para retirar o sutiã – Para ele eu sou uma princesinha mimada.

– Então me explica por que ele a consideraria assim, pois ele não indicou pensar isso de você. Tudo bem – reconsidero por um instante –, dá para perceber que as coisas não acabaram muito bem entre vocês, mas o que ele disse foi que você é complicada. E, sinceramente, compartilho o pensamento dele. Você faz as pequenas coisas se tornarem complicadas apenas porque não quer ter de enfrentá-las. Como esse encontro com esse cara. Por que voltou?

– Porque eu disse que voltaria, não disse? – Lucy está irritada e dirige um olhar impaciente em minha direção enquanto caminha para o banheiro, agora devidamente abrigada com seu pijama de bolinhas – E, certo, sou mesmo um pouco complicada. Não gosto de amarras, entendeu? E Sam estava me amarrando em demasiado.

– Pelo que entendi, ele estava apaixonado. Você tem noção do que isso significa? Eu nunca soube de algo parecido ocorrendo com ele!

– Rachel, já faz algum tempo. E, neste instante, eu não dou a mínima! – Lucy me responde do banheiro, antes de abrir a torneira.

– Tudo bem, vocês eram adolescentes. Mas eu não me recordo de ele estar saindo com nenhuma garota de outra escola naquela época.

Presumo que ela esteja retirando a maquiagem e higienizando o rosto, por isso sua resposta demora a sair. Assim que surge de novo no meu campo de visão, seu semblante está limpo e fresco, além de confuso.

– Espere aí – ela diz, sentando-se ao meu lado no sofá – Que história é essa de que você não se recorda? Por acaso você o conhecia naquela época?

– Yeah, ele fazia parte do clube de música também. Ele jogava futebol com meu ex-namorado no time, e este recrutou Sam para o Glee Club. Conheci Sam lá.

– Não dá pra acreditar – ela sacode a cabeça, parecendo abismada – Quer dizer, ele nunca me apresentou aos amigos dele.

– Se tivesse, teríamos nos conhecido antes, é verdade. Mas então, segundo ele, o término de vocês foi um pouco conturbado. Seus pais não queriam que você se relacionasse com garotos, é isso?

– Bem... – sua expressão está séria, e ela vira o rosto para o outro lado – Sei que é inacreditável, mas sim, eles tinham me proibido de namorar. E quando me envolvi com Sam, de algum modo, pareceu certo. Na época, ele se mostrou extremamente necessário para meu emocional. Entende?

– Você estava enfrentando algum outro término? – não consigo esconder a minha surpresa. Se bem que não poderia esperar alguma coisa diferente, com essa perfeição toda é claro que ela já teve muitos namorados.

– Yeah... Mais ou menos. E meus pais não aceitavam meu relacionamento com Sam, primeiramente porque o consideravam menos afortunado que nós – antes que eu possa me pronunciar, ela se adianta – Eu sei, ridículo demais, pois eu nunca me importei com as roupas de segunda mão dele, ou com o fato de sempre racharmos as contas dos encontros, já que ele não tinha condições de pagar a minha parte também. Mas meus pais... Para eles esse tipo de coisa é importante. Achavam que Sam não poderia me assegurar nenhum prospecto decente, achavam que ele nunca sairia de Lima e que nunca seria alguém. Por fim, é bom constatar que eles estavam completamente equivocados em suas suposições. Pelo visto, Sam conseguiu um futuro muito digno.

Assinto. Realmente é muito bom saber que Sam não ficou preso em Lima para sempre – e Deus nem deve saber o que seria de mim sem ele aqui em NY. Claro que tenho Kurt e Blaine, e ambos são ótimos, mas digamos que, normalmente, quem me salva é o Sam. Não por conta de seus presentes estrangeiros, mas porque ele carrega uma coisa especial que nem Kurt nem Blaine têm. E essa coisa especial me faz sentir... Bem, em casa. Entende? Quando estamos juntos estamos de volta aos velhos tempos, de volta ao Glee, de volta ao que éramos. Somos nós, simplesmente.

– Por que seus pais tinham lhe privado de garotos? O seu namoro anterior ao de Sam acabou mal também?

– Yeah.

É tudo o que ela se limita a dizer. E, de repente, a conversa focada em Sam perde toda a importância, porque estou morrendo de curiosidade aos poucos. Quero explicações também para suas palavras evasivas. Por que ela não pode se ater aos fatos?

Pelo jeito, vou continuar sem saber.

– Se você já sanou a sua dúvida quanto ao meu lado da história, acho que vou me deitar – Lucy se levanta do sofá e vai em direção à cozinha para se servi de um copo de água – Vou pegar outro turno amanhã e, apesar de ter consumido pouco frisante, realmente acho que vou amanhecer com uma baita dor de cabeça.

– Você bebeu frisante? Uau – é evidente a minha surpresa. É incompreensível como ela não foi parar na cama deste tal monitor. Talvez ela seja mesmo bastante parecida comigo em termos de valores femininos.

– Bem, ele comentou sobre e se ofereceu a pagar. Não tive como recusar – ela retorna da cozinha e segue para sua cama. Posso visualizar um sorriso esquisito em seu rosto. Não sei interpretá-lo, mas me contenho e não questiono acerca disso. Ela deve estar bem mais bêbada que eu considerei quando se adentrou pela porta.

– Você se divertiu, então? – quero saber e estou analisando minuciosamente seu semblante para que não deixe escapar nenhum indício diferente.

Lucy dá de ombros, já sentada no colchão.

– Ele não é tão maluco quanto pensei que fosse.

– Eu disse! – tenho vontade de bradar, mas o que de fato faço é elevar minha voz o suficiente para que ela saiba que estou tendo um pequeno ataque de felicidade – Eu disse que você iria acabar gostando dele! Não falei?

– Você acredita demais em coisas inexistentes, Rachel – ela me diz – Você está vendo uma coisa completamente ilusória. Só porque ele foi agradável não significa que irei me apaixonar por ele. Não me apaixono fácil, só para você saber.

Essa é uma informação nova. Não que eu já não pudesse presumi-la, de qualquer modo, levando em conta as atitudes retraídas dela. Lucy se distancia de tudo, especialmente dos sentimentos, somente para não cair de amores. É conveniente por um tempo, mas será mesmo que ela nunca mais vai abrir seu coração para alguém?

Quer dizer, eu mesma já deixei claro que não estou pronta para me aderir a qualquer outro garoto, porém apenas porque meu término é recente. Ainda tem um buraco no meu peito. Mas e quanto a Lucy? Ela pode estar solteira bem mais tempo que eu e o processo de cicatrização das suas mágoas pode ser muito mais ligeiro. Certo?

O que diz em seguida quebra um pouco meu coração, porque é algo inesperado. Ela diz a frase com um pesar gigantesco:

– Acho que nunca mais irei me apaixonar, na verdade.

~*~

Não digo a ele, mas a verdade é que não aprecio tanto assim café. Apenas bebo um ou dois copos quando de fato necessito muito, o que ocorre apenas uma vez por semana, até menos. Não sou louca como a Rachel, que não vive sem esse líquido dos anjos. Sem contar que prefiro os moccas, os quais recebem uma percentagem de chocolate. Chocolate também é um estimulante, certo? E faz com que nos sintamos bem mais satisfeitas por conta da serotonina, ou algo assim.

Beberico mais um pouco do meu cappuccino fervente. Ele fez questão de me comprar uma tortinha de tomate seco – muito embora eu não seja fã de qualquer tipo de tomate. Qualquer que seja sua proposta, eu concordo, pois estou no meu período vago e, apesar de ter combina de comparar as respostas da última prova de Matemática Financeira com Santana, quero descanso. Surpreendentemente, Sant reagiu como se não desse a mínima para eu “estar saindo” – não de acordo com o termo literal da expressão – com o monitor perseguidor, o qual está bem mais agradável. Ao menos, ele nunca mais me agarrou nem tentou agir de modo predador, apenas... Bem, esquisito. Ele faz praticamente tudo para me agradar. Não que seja ruim, mas, apenas digamos, que não estou acostumada a isso. E que essa situação me deixa extremamente cética.

Entendo que ele se entretenha com a minha companhia, porém fico me perguntando o real motivo disso tudo. Graças a Deus, ainda não me ofereceu flores nem nada romântico demais. Apenas me deu conselhos sobre melhores livros para eu estudar e pagou meu café e minha torta. Acho que basta, certo? Para quem não quer se envolver, acho que estou me envolvendo demais. Preciso, antes que seja tarde demais, retroceder.

Mas a questão é: como farei isso sem magoá-lo? Não é como se eu fosse imune aos sentimentos alheios. Eu me importo, sim. E pelo modo, este cara tem muitos sentimentos por mim. Alguns os quais nem sei como nomear. Não gosto de brincar com as pessoas – especialmente com suas emoções. Emoções podem falir completamente um ser, sei bem disso. E não quero ser responsável por devastar alguém. Muito menos um garoto que mal conheço e que trabalha bem na minha área favorita da NYU.

– Então, de acordo com meu professor, é muito claro que tudo isso não passa de hipocrisia social barata. As pessoas de hoje apenas ignoram essa questão porque lhes parece conveniente – o garoto está dizendo, parecendo estar muito concentrado em suas palavras. Tanto que mal está notando que, na verdade, não faço a mínima ideia sobre o que está se referindo.

– Uau – forço minha boca a se mover –, parece incrível.

Vai parecer descaso demais se eu lhe inquirir sobre o que “estamos” conversando. Quando foi que esse diálogo começou, aliás? Não consigo me lembrar...

Sinto-me pior ainda quando me recordo que ainda continuo sem nem uma pista acerca de seu nome. Por que jogo fora informações que me podem ser úteis futuramente, apenas porque considero que elas, no momento no qual me são ditas, não parecem conter nem um tipo de importância? Preciso parar de fazer isso urgentemente.

– Não é – ele me oferece um sorriso desconfortável e passa uma das mãos pelos cabelos como o Danny Zuko -, é apenas um pouco surpreendente, porque quase ninguém tem ciência dessas coisas. Não é como se Filosofia fosse uma matéria obrigatória nas instituições.

Filosofia. Então é isso. É sobre Filosofia que estamos falando. Desde quando eu tenho o mínimo interesse por este tipo de coisa? Tanto faz, apenas vou continuar fingindo que sei exatamente sobre o que ele se refere. Pode ser uma tática boa.

Espere aí. Ele não é estudante do curso de Letras? Por que então diabos a tal da Filosofia apareceu no meio da conversa? Estou confusa, sinceramente. E acho que ele nota, pois sua expressão se modifica. Agora seus olhos parecem procurar evidências de que eu esteja acompanhando seu raciocínio.

– Estou entediando você, acertei? – ele diz.

– Não, absolutamente não – minto, mas com pouca segurança.

– Você gosta de Fotografia, achei que fosse gostar de Ciências Humanas. Presumo que estejam, de algum modo, interligadas. Por trás das pinturas de Michelangelo e de da Vinci há muita ciência. E as pinturas são meio que as precursoras da fotografia, estou certo?

Não faço ideia, mas concordo com ele. O raciocínio dele é realmente surpreendente. Nunca parei para analisar essas questões. Ele pode mesmo estar com a razão.

– Que esquisito – acabo dizendo involuntariamente –, nunca pensaria que você pudesse ser realmente... Interessante – prevendo sua reação de antemão esclareço melhor – Não do ponto de vista sexual, que fique claro.

– Mas você ainda vai pensar – ele dá uma piscadela para mim, divertido, sem se preocupar com nada – Mais alguns cafés e... Acontece. Você não vai se dar conta na hora. Acredite.

Esboço um sorriso comprimido.

– Não vou me apaixonar por você.

– Yeah, continue a negar, quem sabe isso produza algum efeito.

– Quer parar? – é inevitável: estou rindo. Não posso acreditar nisso! Esse cara, cujo nome me foi varrido da mente, que me fez odiá-lo por um número de dias por suas abordagens audaciosas, agora, está me fazendo rir! É incrível a mudança que ocorre quando passamos a conhecer uma pessoa; de repente, ela se torna muito mais interessante do que aparentava. – A menos que você possua algum poder de entrar na minha mente e bagunçá-la, não vou me apaixonar por você. Não pretendo me apaixonar por mais ninguém.

Ele eleva as sobrancelhas, interessado.

– Oh, yeah? Então eu estava certo sobre você ser uma derrotada sentimental?

Meu bom humor desaparece num átimo. Apesar da atenção que estou recebendo, não gosto de saber que ele precisa ter o controle da minha vida. O que lhe importa o que já fiz ou deixei de fazer? Ainda mais se sou ou não uma derrotada sentimental? Coisa que, honestamente, não sou. Não me sinto derrotada. Além do mais, já superei essa fase. Tudo o que quero, agora, é distância. Distância pode ser a chave para a felicidade. Distanciar-se dos sentimentos, das situações, das vidas alheias...

– Por que o foco sou sempre eu? Fale um pouco do seu derrotismo sentimental. Porque essa sua obsessão maníaca por mim só pode ser explicada com base nisto. Você recebeu um pé na bunda, foi isso?

Gosto da sensação de virar o jogo. Agora sou eu a investigadora. Ainda sente-se confortável, Monitor Sem Nome?

Para minha frustração, ele não aparenta estar abalado. Nem um pouco mesmo. Logo em seguida um sorrisinho nasce em seus lábios, lateralmente. E eu nem acho esse gesto mais tão irritante assim. É meio bonitinho. Quer dizer, se você gosta de caras que correm atrás de você e que abrem sorrisos a toda hora porque desconfiam que esse seja o tipo de coisa que agrada e conquista uma garota. Sim, me agrada, mas não me conquista. Não serei dele, nunca mesmo.

– Acha que sabe das coisas, uh? – ele comenta, lançando-me um olhar brincalhão – Mas não, nada de pé na bunda. Não na minha bunda, digo.

– Na bunda de quem?

Ele dá de ombros como se estivéssemos discutindo sobre o tempo, e eu tivesse acabado de lhe questionar se odeia ou não o céu nublado.

Então junto as peças. Inacreditável! Um despedaçador de corações!

– Ah, meu Deus! Não me diga, não me diga! Deixe-me adivinhar: você dispensou uma garota linda mas séria demais para a sua personalidade suportar para tentar encontrar alguém um pouco mais compatível consigo mesmo. E acha que este alguém sou eu!

Estou rindo, mas no fundo estou também chocada. Porque ELE NÃO PODE FAZER UMA COISA DESSAS! NÃO PODE ACHAR QUE EU SOU A MENINA CERTA PARA ELE! NÃO SOU A MENINA CERTA PARA NINGUÉM, NA VERDADE!

Oh, não. Não, não, não, não. Esse não pode estar de fato acontecendo! Eu tinha de ter seguido a minha intuição sobre este cara, que ele é um predador. Tudo bem, um predador com o coração aberto, mas mesmo assim... Talvez ele nem esteja apaixonado por mim, o que é compreensível, afinal como é que ele poderia se apaixonar por alguém que nunca conversou mais do que quatro vezes?

Realmente acho que vou vomitar todo o café que bebi. Sinto meu estômago tão mareado que poderia sair correndo para o banheiro agora mesmo.

E, pelo visto, apenas analisando sua feição, acertei completamente. Não dá para acreditar!

– Ela é uma garota legal, sempre foi. Mas esse tipo de coisa acontece, não? Nem todo mundo fica junto para sempre. Coisas trágicas acontecem e alteram o destino. Resta a nós lidar melhor com isto para sobreviver.

Meus olhos estão arregalados. Ele nem ao menos parece estar sentindo-se culpado por ter dado o pé na bunda da ex! É oficial: não posso me envolver com alguém assim. Definitivamente, não posso. Vai além das minhas concepções!

– Olha, não quero falar do passado, ok? – ele diz, impaciente – Sim, eu a machuquei, mas foi necessário. Por que eu deveria estar preso no relacionamento sem poder respirar direito? Isso não é justo comigo, com ninguém, aliás. Ninguém tem de sustentar uma situação apenas porque tem medo de magoar a outra pessoa. Nunca ouviu falar de amor-próprio?

Estou sem palavras. Balanço a cabeça de um lado para o outro não porque esteja negando sua pergunta, mas porque não consigo acreditar em suas palavras. São... Bem, cruéis e frias demais para alguém que presenciou a nova melhor amiga derramar dezenas de lágrimas por conta de um rompimento doloroso. Queria ver a Rachel ouvindo isso; com certeza, teria surtado de raiva.

– Entendo que você estivesse de saco cheio dela, sei que o encantamento diminui um pouco com o passar do tempo, porém... – fico o encarando, sem saber o que pronunciar direito – Já pensou como essa garota pode estar agora?

– Sei que ela está bem. Ela sempre foi capaz de enfrentar qualquer situação devastadora com a cabeça erguida. Ela tem uma confiança que é muito rara.

– Desculpe, mas você claramente não conhece a mente feminina – digo – Toda garota aparenta estar ótima na superfície, aparenta que poderia enfrentar qualquer tipo de situação, mas todo mundo tem um limite. Às vezes, são pequenas coisas, mas acredite quando digo que são poucas garotas que seguem em frente quando perdem o namorado, seja por conta de um término repentino ou por uma questão bem maior que não está no alcance de ninguém. Garotas, em sua maioria, entregam o coração inteiramente a um garoto e desejam acreditar que poderão ter seus finais felizes.

– Não me diga que você acredita em contos de fadas.

– Não, o ponto não é o conto de fada, mas o acreditar no amor. Nós acreditamos nele, nós o desejamos com todas as nossas forças não apenas porque queremos alguém para nós, mas também porque queremos ser de alguém. Saber que somos especiais para uma pessoa que realmente nos escolheu.

– Vocês são tão bobas – ele observa com convicção.

– Ah, então quer dizer que o primeiro cara que teve o desejo de voar e elaborou o primeiro “avião” é um completo bobo e maluco? – rebato na mesma hora.

– Tudo bem, isso é realista. Mas lidar com os sentimentos? Não, não é.

– Você não sabe o que fala. Não sabe.

– A quem você entregou inteiramente seu coração e a fez desacreditar no amor?

Essa pergunta me atinge tão repentinamente que penso que estou sufocando por um instante. Engasgo com a minha própria saliva tamanho o susto.

– O que o faz ter certeza de que isso seja válido?

– Você está quebrada, por isso está evitando se apaixonar por mim. Tenho certeza de que já acreditou nessa história de ter seu próprio final feliz, e então alguém fez questão de tirar toda a felicidade da sua vida.

Minha boca se mexe, mas nenhum som sai. Estou perplexa. Acho que ele está no curso errado. Deveria seguir Psicologia, faria muito mais sentido.

– Quantas horas você perdeu tentando criar toda essa suposição sobre mim?

– Alguns segundos, na verdade. O suficiente para entender que a aterrorizei completamente no nosso primeiro encontro casual na biblioteca.

– Você planejou aquele encontro.

– Sim, planejei. Mas as coisas, como você bem sabe, não saíram como inferi. Você foi antipática, me ameaçou e depois saiu correndo. Então pensei: tem algo errado. Tem, não tem? Acertei mais uma vez?

Agora ele não está ostentando sua arrogância nem sua presunção. Há suavidade em seu tom e interesse genuíno. Ele não está curioso para me entender, está demonstrando certa preocupação. É incrível, não vou mentir.

– Talvez com mais alguns cafés eu acabe lhe contando se acertou ou não. Que tal?

– Seja mais específica. Quantos cafés necessitarei comprar?

– Espere e confira na hora mais propícia – provoco-o com minhas sobrancelhas erguidas.

– Você é complicada, Lucy Fabray. Gosto disso.


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Notas finais do capítulo

Reviews? :D



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