Nicest Thing escrita por Nina Spim


Capítulo 10
Chapter Ten


Notas iniciais do capítulo

Oi, cherries!
Sinto muito estar fazendo vocês surtarem de ansiedade, por isso muito obrigada pela confiança e pela paciência!



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Heroes está tocando tão alto que sou obrigada a abaixar o volume.

– Hey! – Lucy reclama de dentro do banheiro cuja porta está entreaberta, pois ela está secando o cabelo.

Vou verificá-la.

– Então? – ela me questiona, desligando o secador e sacudindo a cabeça para dar aquele aspecto de desarrumado no penteado. Seus fios estão mais lisos que o normal e parecem mais brilhantes que me recordo.

– Espere aí – digo, indo para o meu lado do “quarto”. Quando volto, ela está na mesma posição, mas seus olhos estão analisando criticamente seu reflexo diante do espelho – Aqui. Muito melhor.

Ela se olha mais uma vez quando posiciono a presilha com pedrinhas em sua cabeça para poder segurar sua franja de lado.

– Nada mau – ela aprova, gesticulando com a cabeça – Obrigada.

– Kurt vai morrer se não tirarmos uma foto.

– Não acredito que concordei em usar as roupas sugeridas por ele.

– Por quê? Iria como? De lingerie? Vestida de Dementador?

– Dementador é uma boa.

Solto uma risada que vem do fundo da minha garganta. Ela me olha de canto de olho parecendo um pouco culpada.

– Espero que a comida valha a pena, ao menos – Lucy comenta, saindo do banheiro para vasculhar sua bolsa de mão.

– Você vai voltar pra cá? – tento não deixar muito explícito a minha óbvia curiosidade, mas sou pega, porque ela me encara de um modo que me faz dar de ombros num pedido de desculpas.

Quer dizer, não sei o protocolo. Eu nunca dormi fora daqui quando namorava o Finn; como Kurt e Blaine têm as sextas-feiras para eles, geralmente, eu as tinha com Finn, portanto boa parte delas era usada para tal finalidade, para que provássemos um pouco de intimidade. Do tipo sexual, é.

E claro que não sou burra. Sei que muitos primeiros encontros são estendidos na cama de alguém. Lucy pode completamente acabar na cama desse cara também, certo? Não que eu a julgue por isso, longe de mim. Se ela gosta de ser fácil, o problema é dela. Não é como se um amor nascesse apenas porque o casal aprecia o sexo. A vida real não é um livro. Há muito mais por baixo da apreciação mútua do sexo. Pelo menos, deveria haver.

Bem. Não que ela pretenda se apaixonar por esse cara. É o que ela afirma, ao menos.

– Como se eu estivesse planejando alguma coisa diferente – Lucy me diz como se estivesse analisando o meu estado mental – Até parece que vou começar a namorá-lo ou algo assim. Por Deus, é só um encontro.

– Tudo bem, relaxa. Só perguntei porque me pareceu conveniente. Não que eu me importe – me apresso para deixar claro; não quero que ela pense que estou minimamente interessada na vida sexual dela. Pelo jeito, na verdade, parece que esse tipo de atividade deixou de existir há algum tempo na rotina dela – Mas se ele for mesmo legal, por que não?

– Simplesmente porque depois disso tudo se complica – Lucy diz, e me ocorre que há muita convicção em sua voz. Isso me deixa curiosa mais uma vez – Não preciso de nenhum tipo de complicação.

Não que eu queria que ela tenha algum tipo de complicação. Mas realmente não entendo o porquê é tão difícil para Lucy se entregar às emoções. Talvez, ela apenas esteja bloqueando o sentimento por este garoto. Ela não quer se envolver porque não quer encarar com as consequências do amor. E eu não acho nada honesto fugir de quem amamos. Podemos estar perdendo uma grande oportunidade por conta deste receio bobo. O amor é o sonho de consumo da maior parte da população. Certo? Há quem diga que nossa missão é amar e ser amado. Então por que não?

Mas, pelo jeito, Lucy está persuadida a não arredar pé de sua opinião. Mas não acreditamos apenas no que nos é favorável? Apenas naquilo que temos certeza de que nos beneficia a curto e a longo prazo?

Talvez seja este o problema de Lucy. Ela deve se livrar desta certeza absoluta e ir em frente, sem pensar muito. Esse cara não pode ser tão intragável assim se ela enfim aceitou sair com ele! Ela pode descobrir muitas coisas legais com ele. Pode ter mais conhecimento sobre vinhos, ou sobre livros, ou sobre o que pensam os homens. Qualquer coisa. Toda relação é um aprendizado e não pode ser diferente entre eles.

– Tudo bem – dou de ombros de novo, porque não adianta argumentar mais. – Divirta-se ao menos. Dê boas risadas.

– Vai ser difícil.

Nossa. Esse negativismo dela é completamente inédito. Não me atenho nele, pois ela estende seu Galaxy para que eu possa registrar seu look.

– Vamos lá. Eternize este momento esplendoroso – Lucy disse toda sarcástica. Balanço a cabeça, incapaz de verbalizar o quanto, na verdade, sua atitude é um pouco engraçada.

Lucy faz uma pose típica de meninas posando para fotos.

Click.

Constato se a foto ficou boa. Na verdade, ficou. Lucy está trajando uma blusa branca e lisa com mangas de princesa, uma saia preta com babados, meia calça também preta e sapatos altos vermelhos. Percebo que seu cardigã é vermelho também quando ela o veste com graciosidade. Lucy verifica a foto também e diz:

– Tanto faz.

Estou surpresa. Ela está um amor com esta produção, sinceramente. Se eu estivesse pronta para ir num encontro com estas peças estaria nas nuvens e me achando bem mais bonita do que normalmente me considero. Mas aí está Lucy, totalmente alheia ao efeito que pode provocar nas pessoas. Não dá para acreditar.

A campainha soa e isso distrai Lucy.

– Ah, meu Deus. Não me diga que ele descobriu meu endereço e que veio me apanhar com um buquê de flores nas mãos!

Solto uma risada.

– Não deve ser o seu príncipe. Deve ser o Sam.

– Sam? – há um estranhamento em seu rosto. E também um reconhecimento.

– Um amigo. Nós meio que nos divertimos assistindo a filmes estrangeiros que ele compra para mim de vez em quando.

– Ah – ela diz, mas noto que está agitada. Seus olhos me acompanham até a porta para abri-la.

– E aí, Insuportável? – Sam me cumprimenta com um tom brincalhão. Ele beija meu rosto e estende a sacola de comida chinesa – Sinto muito, mas hoje sem filmes para você. Saí tarde demais do laboratório. Hey, quem é a sua am...

A voz dele morre com a mesma rapidez que Lucy exclama alto:

– Que negócio é esse, Evans?

Olho para os dois do local onde estou e franzo o cenho, confusa. Evans?

Lucy conhece o Sam? Mas... Hã?

– Você... Vocês já se conhecem? – pergunto com surpresa e ceticismo. Daí me recordo que devem mesmo já terem se cruzado algumas vezes, já que ambos estudam na NYU – Ah, vocês têm alguma aula juntos?

– O... Quê? – Lucy diz lentamente, um pouco perdida.

– O que você está fazendo aqui? – é a vez de Sam se embaralhar.

– Eu moro aqui, seu babaca – ela responde com acidez.

– Ah, uau – Sam deixa escapar uma risadinha – É bom saber que você não mudou em nada, à exceção dos cabelos. Bom revê-la, Fabray. Agora dê o fora antes que eu comece a achar que tenho poderes psíquicos, porque apenas isso explicaria o porquê estou vendo fantasmas.

– Hey, hey, hey! – exclamo. Olho para ambos com severidade, pedindo explicações e moderação – O que está acontecendo?

– Está acontecendo que esse idiota está me atrasando para o meu encontro – Lucy diz, agarrando sua bolsa de mão com força e andando até a porta demonstrando muita decisão – Vemo-nos depois, Rach.

Ela sai, e meu olhar recai em Sam.

– Alguém vai me explicar o que foi que acabou de acontecer?

Sam rola os olhos, parecendo nada contente por estar sendo o encarregado desta tarefa.

– Não é uma história muito romântica, só para avisar.

~*~

Sam Evans.

Estou descompensada, só pode. É a única explicação que encontro para esclarecer o porquê o vi na minha frente, bem dentro da minha atual residência. E mais: interagindo com a minha mais nova amiga como se fosse velho conhecido dela. Que negócio foi aquele de comida chinesa? Ele nunca comprou comida chinesa para nossos encontros!

Minha cabeça está rodopiando um pouco. Quando o motorista do táxi enfim diz que chegamos ao meu destino, pisco diversas vezes para recuperar o senso de direção. Para onde estou me dirigindo mesmo? A noite está escura e muitos casais estão na calçada. Ah, certo. Meu encontro com o monitor insistente. Ok, parece que posso seguir sozinha a partir de agora.

Pago a corrida e saio para a rua. Olho em volta. Estou perto de Murray Hill e da FDR Drive. Manhattan, uau. Como você é bonita à noite! Por que quase nunca venho até aqui?

Localizo a entrada do restaurante. Há uma cerca separando a calçada da área destinada às mesas ao ar livre. Na verdade, Bistango Restaurant é bem convidativo. Não do tipo completamente romântico, mas é um bom lugar para um encontro.

Para minha surpresa, ele já está me esperando em uma das mesas dispostas do lado de fora mesmo. Há água gaseificada em seu copo, e ele parece um pouco ansioso.

Varro da mente tudo o que ocorreu minutos antes para me concentrar em não tropeçar. Não é como se eu estivesse nervosa, ou algo assim. Não estou. Mas não posso negar que há certo friozinho esquisito no meu estômago. Talvez seja apenas a sensação de que esta é uma das burradas mais estúpidas que já fiz aqui em NY.

– Oi.

– Uh, olá – eu digo e, antes que possa fazer qualquer movimento mais certeiro, ele se levanta e avança contra mim, para plantar um beijo suave na minha bochecha. É justamente o tipo de atitude que nunca imaginei que pudesse partir dele e isso me deixa surpresa demais. Para disfarçar a minha repentina inabilidade de prosseguir diante de seu gesto comento: - Gostei do lugar, é bastante aconchegante.

Eu me acomodo na minha cadeira enquanto ele está dizendo:

– É, já vim aqui algumas vezes. A carta de vinhos é ótima. Mas podemos pedir outra bebida. Um refrigerante, se preferir. Você não é do tipo que não toma refrigerante apenas porque acha que vai engordar, é?

– Não, não acho que eu seja – eu não posso ignorar a vontade de rir. Sei que ele não está fazendo graça e isso me surpreende mais uma vez – Não sou muito fã de vinho tinto, portanto prefiro pedir um refrigerante mesmo, se você não se importar.

– Não me importo – ele diz rapidamente – A maioria das garotas prefere os vinhos brancos. Mas podemos pedir frisante. Você gosta? É bem mais leve.

– Por mim, tudo bem – concordo com ele.

Droga. Qual é o nome dele mesmo? Por que não anotei isso também?

Peço ao garçom uma porção de macarrão gravatinha ao molho funghi com queijo ralado, enquanto o monitor opta por um prato composto por espaguete de espinafre acompanhado por filé grelhado com molho madeira.

O frisante chega mais rápido e, embora eu tivesse prometido a mim mesma não ceder à tentação de beber bebidas alcóolicas, termino a primeira taça antes mesmo que possa descobrir o nome do meu acompanhante.

– Então... Você conseguiu. Quer saber o que sobre mim? Se tenho uma herança plausível, ou se coleciono múmias, ou com quantos caras já saí por pena?

– Você está saindo comigo por pena? – a sobrancelha dele sobe de uma maneira divertida.

– Um pouco. Quer dizer, você realmente me fez ficar culpada por tê-lo dispensado com tanto vigor. Não que você não tivesse merecido, é claro.

– Bem, se quer saber, não saio por aí usando a minha monitoração para sair com garotas. Mas é bom saber que isso serviu para alguma coisa além para ganhar muita dor de cabeça por suportar aquela gente neurótica.

– Não sou neurótica, apenas não quero repetir nenhuma cadeira! – finjo me indignar perante a sua sutil ofensa aos estudiosos – E pelo que entendo, você é monitor porque precisa abater as mensalidades de algum modo, caso tenha conseguido apenas metade de uma bolsa. De modo que você também deve ser um pouco neurótico com as notas.

– Não acho que eu seja – ele diz fazendo uma careta – Mas gosto de mantê-las razoáveis. Espero que não esteja desapontada por estar se envolvendo com um ser bem menos inteligente do que você.

– Não estou me envolvendo com você.

– Está, sim.

– Não estou.

– Mas vai.

– Você é vidente, por acaso?

– Mais ou menos. Olho para alguém e sei se irei ou não ter algo com esta pessoa. Sabe? Já sentiu isso?

– Algo como... Predestinação? Não, absolutamente não. Nem acredito nisso.

– Deveria. Quem sabe isso esteja prestes a acontecer conosco.

Uau, esse cara não perde tempo. Nada de indiretas. Ele deixa tudo muito claro. Não preciso fazer nem um tipo de esforço para acompanhar seu raciocínio. Gosto disso, mas também não gosto. As insinuações dele me fazem pensar que fiz a escolha errada.

– Duvido muito – respondo de maneira seca antes de enfiar mais uma garfada de macarrão na boca.

– Gosto da sua certeza. É sexy.

Engulo a comida e rolo os olhos. Esse cara sabe ser sincero, não há como duvidar.

– Não sei se devo agradecer.

– Deveria. Quando foi a última vez que alguém de fato a elogiou?

– Você está dando em cima de mim descaradamente. Não considero isso um elogio.

– Por quê? Você não pode ser sexy?

– Não sou sexy.

– É, não é mesmo. Garotas sexys sabem que são sexys. Você é... Misteriosa.

Ah, lá vou eu de novo. Será que vou sempre ser tachada disso? Bem, certo. Na verdade, apenas a Rachel acha isso. Mas eu apenas guardo para mim mesma o que me ocorreu no passado. Não vejo necessidade de confessar qualquer coisa a ela, ainda que ela tenha sido bastante corajosa em me confidenciar sobre seu término de namoro. Com este cara, porém, apenas estou tentando manter distância, porque não quero ter nem um vínculo com ele. Não que ele não mereça, propriamente. Mas porque não quero cair neste buraco novamente.

Quer dizer, o amor, em sua totalidade, é uma porcaria. Você só se ferra, mesmo que pense que vai viver feliz para sempre. Mas acho que, na realidade, o grande problema seja as pessoas. São elas que não sabem amar do modo que pensaram ser capazes.

Então o encantamento termina e todo o resto termina junto. E daí vem o pé na bunda, a lamentação e tudo mais. Foi isso que Rachel enfrentou. E estou decidida a não enfrentar isto também. Já tenho provas suficientes de que se apaixonar é apenas uma grande perda de tempo, daquelas que, no fim, te deixa com milhares de lembranças das quais não consegue se livrar.

– Não sou nada.

– Ah, você é. O que sei sobre você? Nada, além do seu nome e do curso que faz. Ainda não me contou se mora no campus, ou se tem um cachorro, ou se seus pais são falidos.

– Meus pais não são falidos!

– Oh, uma pista! O que mais?

Ridículo. É absurdamente ridículo esse jogo. Mas, por algum motivo, me pego respondendo ao seu questionário.

– Moro com alguns amigos e, sim, tenho um cachorro, mas na casa dos meus pais.

É apenas isso que ele vai arrancar de mim. Juro. Não quero que ele ache que, por estar ganhando um pouco de confiança, alguma coisa vai rolar entre nós. Porque não vai.

Analiso sua expressão, e ela está satisfeita. Na verdade, fica satisfeita pelo resto do encontro. Não conto mais informações sobre mim durante todo o jantar, porém ele deixa escapar sorrisos que me fazem pensar que está rindo de algo completamente constrangedor sobre a minha pessoa e que não pode falar em voz alto por ser considerado muita falta de educação.

A garrafa de frisante termina, após provarmos a sobremesa. Não me sinto bêbada. Estou bem. Estou calma e relaxada, mas não do tipo bêbada descontrolada. Aprecio isso, o meu autocontrole.

Ele aguarda ao meu lado um táxi passar pela rua para que eu possa retornar para o loft. Fico surpresa por não ser assaltada com qualquer pergunta do tipo: “Quer conhecer a minha nova coleção de CDS?”. Na verdade, ele não dá a entender que quer que eu esteja em sua cama pelo resto da noite. A única vez que ele faz menção a sua ansiedade de me ter mais uma vez é quando nos despedimos.

Ele beija minhas bochechas mais uma vez com as mãos nos meus ombros. Nada sexual, estou dizendo. Nada mesmo. É tão esquisito, ele parece outro cara! Não o cara orangotango que conheci na biblioteca, mas um cara perfeitamente normal, talvez um pouco iludido. Deve achar que tem alguma chance comigo, ou algo assim. Vai ser um pouco chato desapontá-lo, especialmente depois de ter se mostrado não estar tão no ataque assim.

– Quando vou revê-la?

– Na segunda, se estiver lidando com a monitoração.

– Oh, você vai retornar a aparecer lá? Finalmente.

– Digamos que você não me deixou com a melhor impressão sobre quem é depois daquelas abordagens malucas. Não me deixou alternativa a não ser me afastar da biblioteca por um tempo.

– Desculpe. Posso pagar um café para você no meu intervalo para me redimir.

– Aceito o café – assinto assim que me adentro no táxi. O semblante dele ganha mais vida, e ele fecha a porta do carro para mim.

Antes de informar ao motorista o meu endereço acompanho o sorriso do monitor ficar maior, mesmo que inconscientemente. Rolo os olhos. Gostaria que os garotos não fossem tão previsíveis.

E eu ainda não lembro o nome dele. Com certeza vou precisar de muitos cafés para me acostumar a não estar tão na defensiva assim.


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Notas finais do capítulo

E aí, gente? Mereço mais surtos?
Apenas adianto que mais uns quatro ou cinco capítulos e tudo irá pelos ares, YAY! (comemorem, hahaha). Beijos e muito obrigada! (:



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