Os últimos dias de aula foram como todos os outros do ano... Um saco! Mas finalmente haviam acabado. E por incrível que pareça eu passei de ano. Não, eu não estou mentindo. Eu realmente passei e já ouvi piadas da Thalia o suficiente para me deixar com vontade de explodi-la.

Peguei a minha mochila e comecei a arrumar as minhas roupas. Está bem... Jogá-las na mala. Enquanto eu pagava as roupas e embolava uma na outra para botar na mochila, escutei a campainha tocar. Desci as escadas em direção à porta.

— Percy... – tentei fechar a porta, mas Sally colocou o pé, impedindo que eu a fechasse. — Será que nós não podemos ao menos uma vez ter uma conversa? Sem brigas ou gritarias? Prometo não demorar muito.

Um pouco hesitante acabei deixando-a entrar. Ela se sentou no sofá e eu sentei no outro, o mais longe possível.

— Então... Acho melhor que você seja rápida, o Tyson já deve estar voltando do parque e eu não quero que ele te veja.

— O Tyson... — ela sussurrou com os olhos marejados. Por um momento eu até achei que pudesse ser que ela estivesse mesmo sentida por rever o Tyson depois de todo esse tempo, mas eu então me lembrei de como ela foi covarde ao ir embora deixando meu pai com uma criança ainda pequena e aquela onde de raiva me tingiu novamente.

— Você prometeu que seria rápida! — disse rispidamente.

— Sim, sim! Percy... Por que você tem tanta raiva de mim? Eu sei que errei ao deixar você e o seu irmão, mas você também tem que ver o meu lado, você tem que me entender. A vida com o seu pai estavam ficando a cada dia mais insuportável, eu precisava recomeçar...

— E é pra isso que existe uma coisa chamada divorcio.

— Você não sabe o quanto doeu abandonar vocês, principalmente o Tyson... Meu pequeno Tyson. Eu não espero que você me aceite como se nada tivesse acontecido. Não espero que você me receba de braços abertos como se eu fosse a melhor mãe do mundo, eu apenas gostaria de ter a chance de consertar tudo que fiz. E...

— Não, ele vai chegar a tempo, eu só preciso encontrá-lo — escutei a voz do meu pai conversando com Atena e as vozes pareciam se aproximar. — Percy você vai... — ele deixou que a frase morresse ao ver a minha mãe.

— Poseidon...

— Sally... — ele pigarreou. — O que você está fazendo aqui?

— É... Eu vim ver o meu filho, eu precisava conversar com o Percy. Eu gostaria de ver o Tyson, mas ele não está.

— Filhos? Você não tem direito nenhum de estar na minha casa, você não tem direito de dizer que o Tyson e o Percy são seus filhos. Eles são MEUS filhos. Você perdeu o direito se ser mãe deles no dia em que saiu por aquela porta.

Meu pai estava gritando. Eu nunca havia o visto falar com alguém daquela forma. Eu podia ver a raiva em seus lhos.

— Poseidon, acalme-se — disse Atena. — deixe que ela fale com o Percy, se ele concordar.

Assenti com a cabeça. Relutante meu pai nos deixou sozinhos outra vez.

— Ele não acredita em mim, ele não acredita que eu possa estar arrependida e possa querer os meus filhos de volta. Assim como você também não. Eu gostaria que você pudesse me perdoar.

Nunca! Era o que eu pensava toda vez que me passava pela cabeça vê-la de novo. Mas agora eu me lembro de Annabeth e toda a sua raiva pelo Lee. Por causa dessa magoa ela não conseguia confiar mais em ninguém. Ela ficou guardando essa raiva que a deixou sempre alerta, sempre achando que todos a sua volta fariam a mesma coisa que ele havia feito. Eu não quero viver assim. Guardando uma magoa que eu sei que vai me corroer.

— Está... Está tudo... Bem... — disse com um pouco de dificuldade. — Digo... Eu não vou te abraçar e dizer que te amo, mas... Talvez... Talvez você possa, quem sabe, ter uma chance de... Consertar as coisas... Com o Tyson, claro!

— Percy... Obrigada! — ela disse e dava para ver a surpresa estampada em seu rosto. Sally deixou que uma lágrima escorresse pelo seu rosto. Então virou-se e saiu.

POV Annabeth

Acordei por volta das oito horas, o que era estranho já que eu sempre acordo às seis. Talvez seja porque eu quase não consegui pregar os olhos ontem a noite.

Tomei um banho rápido e fui para livraria.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Chris sério.

— Não. Por quê? Deveria? — perguntei franzindo o cenho.

— Bom... São quase nove horas, você é sempre a primeira a chegar.

— Eu só me atrasei, ta legal?

Depois de convencer o Chris que eu apenas havia me atrasado fui arrumar os livros em suas devidas sessões, já que muitos os tiram do lugar e não o colocam onde estava. Todos os dias eu preciso colocá-los em seus lugares para que outros venham e os tirem para que no dia seguinte eu tenha que colocá-los de novo!

Lembrei-me de Percy. Ele costuma vir na livraria, mas raramente comprava algum livro. Era só para me encher o saco mesmo. Peguei-me pensando em seus olhos verde-mar e seu sorriso torto que tanto me irritava.

Senti alguém me abraçar por trás.

— Pensando em mim? — perguntou Lee.

— Na verdade, não! E... Dá pra me soltar? Lee, eu vou pedir com muita delicadeza para que você não me beije ou me agarre outra vez. Não namoramos e malmente somos amigos. Não é porque temos nos falado nas últimas semanas que você já pode ter toda essa intimidade, então, da próxima vez que isso acontecer, considere-se uma pessoa morta!

— Desculpa. Eu achei que...

— Achou errado! Então, o que você quer? Vai comprar alguma coisa porque eu estou ocupada.

— Ah, é... Nós tínhamos marcado para almoçar juntos. Você ainda vai sair no seu horário de almoço, não é?

Olhei para o relógio. Não podia ser. Eu cheguei neste instante... E já é quase meio dia. Acho que perdi a hora enquanto pensava nos olhos verde-mar e cabelos desgrenhados do Cabeça de Alga.

— Sabe Lee... Eu vou sair, sim. — respondi. Lee abriu um sorriso, que infelizmente eu teria que tirar do rosto dele. — eu preciso fazer uma coisa, na verdade, eu preciso falar com alguém, mas a gente se vê por aí qualquer hora dessas.

Como eu disse, o sorriso do Lee sumiu de seu rosto. Dei as costas e sai.

...

Não demorou muito até eu estar em frente a uma casa grande branca. Bati na porta e para a minha surpresa quem abriu foi a minha mãe.

— Ei, mãe onde está o Percy, eu preciso falar com ele... Ahn... O que você está fazendo aqui.

Ela levantou a mão e apontou para o anel em seu dedo. Ah, é verdade! Eles estão noivos! Não que eu ache isso bom, quer dizer, eu quero o melhor para a minha mãe, mas... Poseidon Jackson? Não sei se ele é a melhor escolha. Ele é legal, mas é pai do Percy e então já viu, não é? E ele e a minha mãe vivem em pé de guerra, como poderiam ser um casal?

— Mas então, e o Percy?

—Ele não está querida. Eu te disse que ele estava indo para Grécia, não disse?

Eu não acredito! Como eu pude esquecer isso? Eu deveria ter vindo mais cedo... Acho que cheguei um pouco tarde... Ou não?

POV Percy

Acho que a conversa que eu tive com a Sally não foi uma das coisas mais agradáveis do mundo, mas parece que um peso foi tirado das minhas costas. Minhas coisas já estavam prontas, as malas no carro, passagem, passaporte, todos os documentos em ordem. Graças a Atena, claro, porque se dependesse de mim ou do meu pai teríamos esquecido alguma coisa.

— Então, tudo pronto? — perguntou meu pai.

— Sim... Acho que sim!

Atena passou a mão pelos meus cabelos bagunçados, como sempre.

— Boa viagem! — talvez isso tenha sido um pouco estranho, pois eu sempre achei que ela me odiava pelo jeito que me olhava, como se fosse perfurar minha alma.

— Ah, obrigada.

Depois de me despedir de todo mundo meu pai me levou ao aeroporto. Fiquei sentado esperando o meu vôo ser chamado.

Uma garota de cabelos loiros, cacheados passou por mim, lembrando-me Annabeth. Gostaria de estar olhando seus olhos cinza-tempestade agora. Não sei porque, já que ela não quer me ver nem pintado de ouro, mas fiquei olhando para o portão achando que a veria ali, pedindo para que eu ficasse.

O meu vôo foi finalmente chamado. Dei uma última olhada, ainda sabendo que ela me odeia, mas, como dizem, a esperança é a última que morre. Nada de Annabeth! Na verdade, eu já sabia que ela não apareceria. Suspirei e fui para o portão de embarque.

POV Thalia

Luke tem me evitado desde que eu dei um fora nele por causa do Nico. Apesar de não amá-lo, sinto algo muito forte por ele. Luke e Annabeth são como minha segunda família. Eu os conheço desde... Sempre! E, apesar de eu não gostar de ficar sem falar com ele, não podia fingir que o amava, se na verdade, gosto mesmo do esquisito do meu primo. É muito estranho namorar o meu próprio primo?

Estava sentada com Nico em frente a casa do meu pai quando vi Annabeth passar.

— Não é a Annabeth? — perguntou Nico.

— É! Mas o que será que aconteceu com ela?

— Ahn? Nada...? Por que você acha que aconteceu alguma coisa com ela?

— Talvez porque eu a conheça melhor que ela mesma, seu idiota! — respondi levantando. — Eu tenho que ir.

— Mas... — escutei Nico falar alguma coisa, mas deixei pra lá e fui atrás de Annabeth.

Ela andava rápido, mas eu consegui alcançá-la.

— Ei, nervosinha. — chamei. — o que aconteceu?

— Nada! É só que... Eu deixei que o meu orgulho idiota fosse maior que... Argh!

— Você está falando do Percy? — perguntei fazendo uma careta. De verdade, eu não sei o que Annabeth viu no retardado do meu primo.

— Ele... Ele foi embora! Eu deveria ter ido falar com ele antes, mas... Mas o meu orgulho era maior. Eu fui burra e agora ele foi embora!

— Ahn... Annie... Você sabe que o Percy só foi passar as férias com a nossa tia, Héstia, não é?

Annabeth parou subitamente. Ela me encarou com a testa franzida.

— O que?! Então ele só...

— É! Todo ano nós vamos para Grécia. Os nossos avôs são de lá, você sabe, e meu pai e meus tios passam o natal lá, todos juntos. Uma droga!

— Ah, então... Quer dizer que ele não... — concordei com a cabeça. — então todos você vão pra Grécia? Tipo, todos mesmo? Até... Você?!

— Infelizmente, sim!

— Hum...