Stranger escrita por Okay


Capítulo 51
Saída.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 03/12/2020



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Capítulo 51 — Saída. 

— Isso é verdade, Harriet? — Ethan insistiu. — Me fala! 

— Sim. É verdade. — Ela respondeu, após hesitar por alguns instantes. 

— E por que eu estou só sabendo disso agora? Desde quando isso tá acontecendo?

— Isso o quê?

— Desde quando você tá falando com ele pelas minhas costas?!

— Ele entrou em contato comigo na semana passada, se quer saber. Mas eu não te devo satisfações de nada! — Se exaltou, irritada. — Não aja como se eu ainda fosse a sua mulher!

— Você não acha que eu deveria saber desse tipo de coisa? — Ele falou, amuado, esboçando o amargor que sentia. — Eu achei que ele estivesse morto, Harriet. 

A mulher sentiu o peito apertar, aquele homem à sua frente era o causador de todo aquele mal, ele foi o culpado pelo filho ter saído de casa, pelo fim do casamento, por toda aquela tragédia e desgosto que sentia, como se não bastasse, ainda tinha a ousadia de exigir satisfação sobre seu filho. Claro que ele não sabia e nem se importava com o quanto Lucas sofria só de lembrar de tudo que teve que passar em suas mãos.

— Ele não quer mais contato com você. — Ela falou seriamente, soltando a respiração que segurava. 

— Não importa! — Ethan exclamou. — Ele é meu filho também, Harriet! Eu só precisava saber, só isso.  

— Não, não precisava. Por mais que hoje você diga que ele é seu filho, se não o vimos por sete anos, foi por culpa sua. Tem ideia do que é isso? Não vimos o nosso menino crescer, entrar ou se formar na faculdade. Tudo de importante na vida dele nós perdemos e você causou isso! 

— Olha mãe! — Melanie voltou, balançando uma folha. — O desenho que eu fiz! 

A mulher tentou disfarçar para a filha a expressão rancorosa que carregava e Ethan recuou, olhando para Harriet seriamente, como se dissesse apenas com os olhos que depois continuariam aquela conversa. Ele pegou as chaves do carro do bolso e olhou para a filha, dizendo:

— O papai já vai, Mel. Cadê meu abraço? 

Ela correu até ele, abraçando-o carinhosamente, recebendo um beijo dele na bochecha antes de vê-lo partir. 

Quinta-feira, dia 8 de agosto de 2013. 

Acordaram cedo e tomaram o café da manhã juntos, se arrumando para irem treinar. Marcus tinha feito um plano semanal apenas para acompanhá-lo nos próximos dias na academia e seguia para lá com ele. Lucas não teria aulas de Krav Magá naquele dia e apenas seguiria o cronograma passado, procurando por um instrutor. 

O loiro olhou ao redor e não viu nenhum professor disponível, seguindo com o namorado para as máquinas que usariam. A academia estava mais movimentada que o normal naquela manhã, com as pessoas ocupando boa parte das esteiras e outras espalhadas na musculação.

Brock se empolgou ao perceber a presença de alguém que não via há algum tempo, até fez menção em caminhar até o loiro, mas recuou um passo ao notar que ele já estava acompanhado. Não sabia quem aquele homem alto ao lado dele era, mas como não era nenhum dos funcionários dali e estava o ajudando com um movimento, provavelmente eram próximos, senão íntimos. Chateou-se, achando que ainda tinha uma chance, vendo que Lucas já tinha seguido em frente. 

Marcus olhava discretamente ao longe, reconhecendo o homem que estava olhando em sua direção, mas não necessariamente para si, e sim, para a sua companhia. 

— O que foi? — O loiro indagou, vendo-o distraído. 

— Acho que eu vi o carinha que você tava ficando. 

— O Brock? — Lucas indagou, olhando ao redor. 

— Ele deu meia volta depois de ver você comigo. 

— E você amou isso, né? — O loiro indagou, vendo-o abrir um sorriso arteiro. 

Eles continuaram treinando, sendo observados à distância de tempos em tempos, sem se importarem com a presença do instrutor curioso. Quando acabaram, decidiram tomar banho em casa, também tinham combinado de fazer o almoço para os amigos e estavam com pressa.

Alberto tiraria um intervalo mais longo naquele dia, saindo do trabalho e encontrando-se com Rachel já no apartamento antigo dela, sendo recebido por Lucas. Marcus estava na cozinha e eles ouviam músicas dos anos oitenta, enquanto arrumavam a mesa para o almoço. 

— Tá um cheirinho muito bom. — Alberto elogiou. — Já tô ficando com fome. 

— Falta uns quinze minutos pra eu desligar o forno. — Mark falou, se aproximando dos três na sala. 

Lucas aumentou o volume da música e a próxima a tocar foi “Eye of the tiger” de Survivor, fazendo Rachel prestar atenção em uma das músicas de treino mais clássicas que conhecia e que sempre ouvia na academia. 

— Sabe o que essa música me lembra? — Ela iniciou o assunto. — De quando eu era pequena e via lutas com meu pai… Ele amava! E eu fazia companhia pra ele na sala, imitando o pessoal do ringue. Até me dá vontade de lutar! 

— Eu topo. — O loiro advertiu. — A gente deveria fazer uma competição de luta, aqui na sala mesmo. 

— Amei! Já quero! — Ela continuou, empolgada. 

— Mas não é justo, vocês dois já treinam. — Alberto se queixou.

— Você é bem maior que eu, não teria coragem de lutar comigo? — Rachel propôs, vendo-o pensativo. — Por favor, por favorzinho! 

— Ok, eu participo também. — Cedeu.

— Então começa por vocês. — Lucas indicou ao casal, depois olhou para o namorado. — Vai participar também?

— Eu tô cuidando do forno, mas vou com certeza assistir isso. — Marcus pontuou, indo se sentar no sofá. 

Rachel se alongou, enquanto Alberto caminhava até o meio da sala, retirando a pequena mesinha dali, deixando-a onde não atrapalhasse. Ela andou descalça sobre o tapete, encarando o noivo, agora, seu oponente, indagando:

— Alguém vai nos apresentar? 

Lucas recolheu as informações deles e improvisou.

— De um lado, Alberto, pesando oitenta quilos e com 1,84 de altura, nunca chegou perto de um ringue, mas pode usar a diferença do peso de sua oponente a seu favor! E do outro, Rachel, com cinquenta e três quilos e 1,68 de altura, mas não se enganem, essa magrela pode derrubar qualquer um com golpes surpresas e sua estratégia! — A amiga riu alto e Alberto olhava fixamente para a noiva, receoso. — Está na hora!

Os oponentes se cumprimentaram e, ao sinal, iniciaram, ainda com a música de fundo. Alberto foi o primeiro a dar o passo adiante e por estar receoso de machucá-la, mal percebeu o tornozelo dela esbarrando no seu, fazendo com que caísse no chão. Em questão de segundos, Rachel se colocava atrás dele, com um mata-leão enquanto o segurava com as pernas, fazendo-o desistir e encerrando a luta. 

— Já dá pra ver quem é dominante na relação. —  Lucas riu ao ver o amigo se levantar. 

— Você nem tem ideia. —  Alberto devolveu, fazendo-o rir alto. 

— Agora é a sua vez, Luke. — Ela falou ao locutor. — Pode vir, já estou pronta. 

— Al, você anuncia a gente? — O loiro indagou. 

— Achei que não ia perguntar. — O amigo respondeu, já recomposto.

Os dois se posicionaram no meio da sala e Alberto começou a narrar.

— De um lado, a campeã da luta anterior, conhecida por ser apelona! — Falou, fazendo a noiva rir. — E do outro, Lucas, com setenta quilos e 1,70 de altura! Será que ele consegue tirar a vitória de Rachel ou ela sairá invicta? Vamos descobrir! 

Os oponentes se encararam antes do sinal para começar e após isso, Rachel foi quem iniciou, erguendo a perna em um chute alto, com seu golpe sendo interrompido pelo antebraço do amigo. Ela voltou a encará-lo de frente, dando saltos para trás para ganhar distância. 

Lucas retomou a proximidade e no que tentou segurá-la pelo quadril para derrubá-la, ela conseguiu girar o corpo e se desvencilhar dos braços dele, pegando-o de surpresa com um chute aéreo no ombro, saltando para a frente no mesmo segundo, aproveitando a distração do golpe anterior para levantar o queixo dele para trás com a palma de sua mão, assim empurrando o corpo dele ao chão

O loiro caiu e para não ficar em uma posição vulnerável, abraçou-a com as coxas, tentando derrubá-la também, onde ela se esforçava para se soltar das pernas pesadas dele. Rachel se desequilibrou e rolou ao chão, conseguindo ficar de pé antes que fosse pega por ele, vendo-o também se levantar. 

Ele ia para cima e ela levantou o braço com o punho fechado, fazendo o loiro desviar o corpo do ataque, segurando o pulso da amiga enquanto arrastava o pé para derrubá-la. Não abandonou a mão ao vê-la caindo, deixando o braço dela em uma posição desfavorável para se defender, assim vencendo o combate. 

— Vou querer a revanche, hein? — Ela riu, se levantando do chão.

— Minha vez. — Marcus se levantou, surpreendendo a todos, indo para o meio da sala. 

— Você nem tava participando. — Lucas reclamou. 

— Tá com medo, é? — Provocou. 

— É claro que não, se você lutar comigo, sei que vai me deixar ganhar de propósito. — O loiro ergueu uma das sobrancelhas em desdém. 

— Não vou fazer isso. 

— Então vamos. — Aceitou. — Al, apresenta a gente.

— Ok… Vamos lá! De um lado, o campeão que destronou a rainha Rachel, aluno dedicado no Krav Magá! E do outro, Mark com quase duas décadas de experiência no Jiu-Jitsu, pesando cento e vinte quilos e com 2 metros de altura! — O amigo introduziu-os. — A briga vai ser feia! 

Lucas respirou fundo, precisava ser rápido em qualquer movimento se quisesse vencê-lo, pois pela diferença de peso, apenas conseguiria derrubá-lo com estratégia. Ao sinal, o loiro mal conseguiu pensar, estavam de frente um para o outro e a alguns passos de distância.

Marcus acelerou e em uma fração de segundo, levou seus braços para as costas dele, abraçando-o depois de correr em sua direção. Aproveitou a força do impacto para levar o tórax de Lucas para trás com a força do seu corpo, indo para o chão com ele, protegendo-o para que não batesse a cabeça na queda. 

O loiro estava com as pernas estiradas, deitado enquanto sentia o peso de Mark agora em seu quadril. Ele se sentou sobre seu corpo, levando as mãos aos seus ombros, deixando os braços esticados para manter os socos longe de si. 

Sendo difícil de se movimentar naquela pose, Lucas precisou pensar, abrindo um sorriso pervertido, esfregando a parte inferior de seu corpo no dele, dizendo sugestivamente:

— Você quer ser passivo logo nessa hora? 

O loiro conseguiu o que queria, não só os amigos que assistiam, riram, como o oponente também soltou uma risada alta, se distraindo e deixando ser desestabilizado. Lucas encolheu as pernas rapidamente, apoiando os pés ao chão e com isso erguendo o quadril, levando-o junto enquanto girava o corpo ao lado e tirava Marcus de cima de si. 

O oponente caiu ao lado e não gostou nada de ter sido manipulado daquela forma, não dando brecha para que ele se levantasse, pegando as pernas do loiro e agora entrando no meio de suas coxas. Uniu seus corpos e jogou todo seu peso sobre o corpo dele outra vez, segurando-o no pescoço, contra o chão.

Alberto observava tudo atentamente e Rachel cutucou-o, sussurrando baixinho para ele:

— Nossa, o sexo deles deve ser incrível...

O noivo segurou a risada, ainda observando-os, vendo Lucas lutar ineficientemente.

O loiro tentou afastá-lo de si, mexendo o quadril, tentando fazer o mesmo com a perna que antes, mas não conseguia força e nem brechas suficientes para se livrar do mais alto, enquanto ainda tinha seu pescoço segurado por ele. 

— Vai ter que desistir. — Marcus falou convencido, com ele tentando se livrar de suas mãos. 

— Ai! 

— O que foi? — Livrou o pescoço dele, com medo de tê-lo machucado. 

Lucas aproveitou que ele mais uma vez caiu em sua artimanha e conseguiu afastar o corpo dele o suficiente para encolher os joelhos, segurando uma das mãos dele que antes estava em seu pescoço enquanto enlaçava o braço dele com as pernas, esticando-as ao mesmo tempo que torcia a mão que segurava, numa clássica chave de braço. Agora ele não sairia mais dali. 

Ele deu três tapinhas leves em rendimento, rindo contrariado por ter perdido daquela forma, levantando e dizendo:

— Ganhar trapaceando é fácil, né, seu safado? 

— Trapaceando? — Lucas também ficou de pé, abrindo a boca em falsa indignação. — Foi totalmente justo, você é que não sabe perder!

— Não pense que vai sair impune disso. — Marcus aproximou-se dele. 

— E qual é a minha punição? — Abraçou-o, ganhando um beijo.

— Mais tarde você vai ver. — Deu-lhe um tapa ardido na bunda, fazendo-o rir. 

Já haviam se passado alguns dias desde que Harriet havia explicado todos os detalhes da visita de Lucas para Ethan, que quis saber mais sobre ele e se ele viria novamente. Com tudo isso tendo acontecido, ela ainda não havia avisado o filho, com medo de que ele cortasse as relações com ela mais uma vez, mas era algo que não podia esperar mais. 

Marcus estava no sofá acompanhado do loiro, deitados conversando sobre os próximos lugares que queriam visitar, parando de falar ao ver que o namorado tirava o celular do bolso ao perceber que ele tocava, podendo ler o nome “Harriet” na tela. 

— Alô? — Ele atendeu. — Oi, mãe. Tá tudo bem sim… 

Continuou a ouvir a conversa, afagando os cabelos dourados enquanto Lucas conversava com a mulher. Percebeu que o assunto principal se tratava do pai dele, querendo entender melhor, esperando que ele terminasse a chamada antes de saber mais sobre. 

— É, aconteceu. Agora meu pai sabe sobre mim. — O loiro revelou, sentando-se de frente para o namorado. — Ela disse que a Mel contou pra ele e ela não teve escolha.

— E aí?

— Bom, pelo que minha mãe me disse, ela explicou onde estou morando, o que faço da vida, falou da nossa visita e também mostrou algumas fotos minhas atuais pra ele… — Lucas contou. — E o pior é que mesmo depois disso tudo é que eu não faço ideia do que ele pensa sobre mim. Ele não esboçou reação nenhuma pra ela, nenhuma. 

— É sério? 

— Ela disse que ele só olhava as minhas fotos sem falar nada. Tipo, paralisado mesmo, e depois de um tempo foi embora. — Falou, contrariado. — O meu medo é saber que agora, se eu for visitar ela de novo, tem chances de ele querer me ver… 

— Você não precisa ver ele se não quiser, é só se afastar. — Marcus afirmou, vendo-o pensativo. — A não ser que você queira dar uma chance pra falar com ele. Você tem curiosidade de saber como seu pai está hoje? Se ele tá arrependido ou…

— Eu não sei. — Desviou o olhar, encarando o chão fixamente. 

— Você provavelmente vai visitar sua mãe muitas outras vezes e há chance de você e seu pai se trombarem, você tem que estar preparado. 

— Eu não quero ir pra lá se você não estiver comigo. — Lucas declarou, seriamente. 

— Então sua mãe vai ficar bem triste, porque os encontros serão bem espaçados. — Marcus rebateu, sarcasticamente. — Eu não vou ficar em Nova York pra sempre e você sabe disso, vai ter que ir pra Elmira sozinho uma hora ou outra. E você tem que estar pronto pra qualquer coisa. 

— Isso só me faz pensar que você tá prestes a ir embora daqui uns dias… Passou muito rápido. — Se queixou.

— Passou mesmo. 

— Você não pode ficar mais? — Pediu, fazendo beicinho. 

— Não pega bem pra imigração, eu já te expliquei isso. 

— Eu sei… Eu sei. Vou ficar sem te ver por seis meses. — Bufou, revirando os olhos.

— Olha só você, distorcendo tudo o que eu te disse! — Riu baixinho. — São seis meses afastados, sim, mas intervalados. Eu sei que não é agradável, mas também não é o fim do mundo… Poderia ser pior. 

— Como pode ser pior do que eu perder metade do seu ano? — Lucas emburrou-se. — E por quanto tempo a gente vai viver assim? Você vai ficar indo e voltando pra me ver, talvez eu vá pra lá algumas vezes também, mas até quando?! 

— Eu sei que é desgastante, mas é como dá pra fazer, por hora. E eu estou pesquisando as possibilidades de vir pra cá. 

— E tem algo em mente? 

— Bom… Tem um visto, o EB-5, que é pra atrair investidores. Eu preciso investir uma quantidade significativa, o que não seria um problema pra mim. E depois disso, eu poderia vir pra morar permanentemente, mas…

— Mas? — O loiro indagou, querendo que ele continuasse.

— Nada é perfeito, tem dois pontos negativos, eles investigam a origem de cada centavo investido, além do processo demorar cerca de dois anos. 

— Eu não sei o que é pior. — Lucas suspirou, entristecido. 

— Não fica assim… eu ainda nem comecei a estudar as opções direito. Eu vou conseguir voltar pra cá, eu sei.  

— Se no fim das contas nada der certo, pelo jeito eu vou ter que morar no México. — O loiro abriu um sorriso fraco. 

— Você já disse que não queria. 

— Eu sei que não, mas por você, eu poderia. É claro que seria melhor se a gente morasse aqui, mas… — Lucas interrompeu o que falava, arregalando os olhos e o encarando. — Marcus. 

— Oi?

— Tem um jeito relativamente simples da gente resolver essa questão. Eu sou estadunidense, a gente tá junto… Você sabe o que eu quero dizer com isso. — Iniciou, esperançoso, vendo a expressão do outro se fechar. 

— Lucas, eu te amo, você tá cansado de saber. Eu quero sim me casar com você, mas não assim. — Afirmou, seriamente. — Eu já fiz muita coisa errada nessa vida e eu não posso te colocar em perigo por causa disso, é muita coisa em jogo, não é tão simples. 

— Por que não? A gente tá namorando, não é uma farsa, não tá tecnicamente errado. 

— Mas se for pra gente casar um dia, eu quero que seja porque a gente realmente tá tomando essa decisão consciente, felizes e bem-resolvidos… Eu não quero mesmo que seja assim. 

— E eu não quero que a gente continue pra sempre como a gente tá agora… 

— Eu sei que você ainda não pensou nas consequências disso, mas imagine que se a gente optasse pelo casamento pra eu poder vir morar aqui. Já pensou em quantas coisas você teria que abrir mão? — Falou, percebendo que o outro parecia magoado. — Você está começando sua carreira agora, você teria que abandonar tudo, nem teria a oportunidade de crescer, porque se você estiver em evidência, eu também estaria e a gente já sabe que a minha cara não pode estar por aí. 

— Caso eu realmente ficasse famoso, você não precisaria ir aos eventos comigo. — O loiro tentou refutar, logo vendo pela expressão dele que não se tratava apenas daquilo. 

— Isso seria só uma das coisas, só o começo. — Marcus continuou. — Eu quero que o nosso grande dia seja especial, não um arranjo que ainda pode te prejudicar no futuro. Eu estaria sendo egoísta se te pedisse isso. 

— Eu sei de todos os perigos, tá bom? Se eu não tivesse ciente de todos esses riscos, eu nem estaria com você hoje, pra começo de conversa. — Lucas falou, tentando não se entristecer mais, respirando fundo. — Eu te amo, só queria que você pudesse ficar aqui comigo. 

— Vai dar tudo certo, vamos achar um jeito. — Encorajou-o, vendo que ele olhava para baixo, parecendo desolado. — Vem cá. Me abraça. 

— Mas até quando a gente vai precisar ficar nessa situação? — Engatinhou sobre o sofá, indo até os braços dele, envolvendo-o. 

— O quanto for necessário. — Acariciou as costas dele, lhe dando um beijo no topo da cabeça. 

Havia chegado o tão temido dia que ambos queriam evitar, Marcus voltaria para Cancún e Lucas teria que esperar por, pelo menos, mais duas semanas antes de vê-lo outra vez. E depois de passarem quatro semanas sem se desgrudarem, era difícil imaginar como seria estarem sozinhos novamente. 

Lucas tinha se despedido dele no aeroporto, vendo-o partir. Achou que seria mais fácil, principalmente por ter aproveitado ao máximo o tempo juntos naqueles últimos dias, mas estava completamente enganado, a dor era equivalente a ele estar levando uma parte de seu coração com ele. 

O loiro ia agora para a casa, não conseguindo parar de pensar naquela situação, tentando pensar que poderia ser mais fácil, já tinha a certeza de que queria ficar com ele, então porque precisariam passar por aquilo?

Pensava que todas as próximas vezes seria assim, teria que dividi-lo com Cancún, o teria pela metade e ambos perderiam eventos importantes na vida um do outro pela distância. Não conseguia imaginar como aquilo poderia funcionar a longo prazo. 

Lucas chegou em casa completamente desolado, o apartamento parecia vazio como nunca e seu peito doía, fazendo-o soltar o choro que segurou na despedida. Não sabia dizer se estava triste apenas pela ida dele ou pelo casamento recusado. 

Não houve claramente um pedido, mas sabia que aquela opção era a melhor saída para eles e não gostou de vê-lo tão irredutível. Doía imaginar que talvez ele pudesse não amá-lo tanto para não querer se arriscar com ele. 

Marcus chegava em casa, lembrando-se de Lucas ao deixar as malas de lado, sabia que precisava contratar alguém para uma limpeza pelo tempo que ficou fora, mas era como se ouvisse a voz do loiro para deixarem aquele tipo de luxo de lado. Riu por um momento, mas desfez o riso quando lembrou-se de que não teria a presença dele, mal havia pisado no México e já queria voltar. 

Tentou ligar para avisá-lo, mas ele não atendeu, decidindo então enviar uma mensagem para falar que havia chegado bem. Suspirou, encarando o celular, se sentindo infantil pela carência súbita.

Nos próximos dias voltou para sua antiga rotina e estava odiando, não só por estar sozinho, mas por também perceber que Lucas estava distante. Ele não atendia os telefonemas e dizia estar ocupado todas as vezes que queria conversar, falando apenas poucos minutos com ele por dia. Estava chateado, mas ao menos o loiro respondia suas mensagens, conversavam mais por texto do que por ligação.

Depois de quase uma semana sem ele, apenas queria poder vê-lo, decidindo insistir na vídeo chamada, até que, para sua surpresa, ele atendeu. 

— E aí, gatinho? — Falou ao ver Lucas arrumando os cabelos. — Que saudade. 

— Oi. — O loiro sorriu. — Também tô. O que tá fazendo? 

— Só tô no quarto, sozinho. — Marcus inclinou o notebook que estava em seu colo para que ele pudesse ver que estava sentado na cama. 

— Ai, tadinho. — O loiro falou, fazendo-o rir. 

— O pior de tudo é que tá chovendo e eu só queria poder deitar com você e ficar ouvindo o barulho da chuva. — Falou, não deixando de esboçar seu descontentamento. 

— Do jeito que eu te conheço, sei que você provavelmente ficaria roçando em mim como sempre faz antes da gente dormir. — Declarou, debruçando na cama. 

— Por que você acha que eu só penso em sacanagem? — Indagou cinicamente. 

— Por que é verdade? — Lucas fez uma pergunta retórica, rindo. 

— Agora que você comentou isso… Tava pensando naquele dia que a gente lutou, se lembra? Depois que o Al e a Rachel foram embora, você me agarrou e me levou pro quarto… Acho que foi uma das vezes mais violentas que a gente fez. Você pedia pra eu ir cada vez com mais força e eu fiquei até assustado. — Riu, exibindo um sorriso safado que o outro já conhecia bem. — Queria que você tivesse aqui...

— Para, nem entra nesse assunto. — O outro interrompeu-o. 

— Por quê? Eu só ia falar que tô com vontade. — Marcus ergueu os ombros. 

— Eu sei, eu conheço essa sua cara de pervertido. 

— Não tá a fim de dar um pulinho aqui, não? Eu compro a passagem agora se você quiser vir. — Ofereceu, vendo-o rir baixinho. 

— Não dá, mesmo. Eu tô com alguns projetos em aberto. — O loiro negou, vendo a expressão desanimada no outro pela sua tela. 

— É, você me disse esses dias, mas o que é mesmo que você tá fazendo? — Marcus indagou. 

— Não quero falar disso agora. — Lucas rebateu, esboçando cansaço. — Na verdade, acho que já vou dormir.

— Tão cedo? — Falou, conferindo que ainda eram nove da noite para o loiro e sabia que ele não costumava dormir antes das onze. 

— É, hoje saí com a Rachel e andei bastante. — Lucas afirmou, não encarando-o enquanto dizia aquilo, parecendo desconfortável. — Depois a gente se fala, tá bom?

Marcus aceitou, mas aquele “depois” eram sempre conversas superficiais e nada longas. Ficava em dúvida se Lucas tinha se chateado por ter tocado naquele assunto íntimo, mas com o passar dos dias ele continuava estranho, então não poderia ser apenas medo de fazer sexo por chamada. 

Ficava preocupado, pois se não fosse isso, teria algum outro motivo para ele parecer tão distante. Sabia que podia estar exagerando na paranoia, mas não deixou de desabafar com Alberto sobre suas dúvidas em relação ao loiro. 

Mesmo com apenas uma hora de fuso-horário e com a facilidade das redes sociais, não foi a mesma coisa manter o contato naquelas duas semanas que ficaram afastados. Marcus temia pela relação com Lucas, com medo de que ele quisesse desistir do que tinham, percebendo que ele não parecia muito feliz naqueles últimos dias.

Insistia ao máximo para se falarem, tentava ligar sempre, mas ele não parecia o mesmo, nem um pouco empolgado para falar consigo e aquilo machucava. Sabia que o ideal não era voltar tão rápido, mas não aguentou muito mais que duas semanas longe dele, mal conseguindo se concentrar em nada durante esse tempo distante. 

Marcus estava finalmente voltando para Nova York depois daquele período sofrido de dúvidas e angústia. Queria vê-lo, apenas precisava olhar nos olhos dele para saber que estava tudo bem, mal via a hora de tê-lo mais uma vez em seus braços e ter a certeza de que ainda ficariam juntos. 

Alberto e Rachel não poderiam comparecer ao aeroporto da cidade que estava pousando, mas Lucas tinha confirmado que iria buscá-lo. E mesmo a viagem de avião sendo de poucas horas, era como se o tempo não passasse, deixando a ansiedade tomar conta quando chegou e passou pela imigração, pronto para ir ao portão de desembarque. 

Avistou o loiro lhe esperando e se apressou, soltando a mala média ao vê-lo de perto, abraçando-o com força. Levantou-o alguns centímetros do chão, soltando-o apenas para tocá-lo no rosto e abaixou-se para encará-lo de perto, roubando os lábios dele com pressa. 

Depois de beijá-lo, pôde olhar mais uma vez nos olhos de Lucas, ele sorriu, mas parecia distante, totalmente distraído e apático, parecendo preocupado ao dizer: 

— Marcus, a gente precisa conversar. 

 

 

 


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