Stranger escrita por Okay


Capítulo 50
Recordações.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 29/11/2020



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Capítulo 50 — Recordações.

Lucas sentou-se em sua cama, passando a mão pelo tecido do cobertor marrom, não conseguindo parar os olhos em apenas um local, olhando tudo em volta. Marcus andou devagar até ele, também admirando o quarto de adolescente, sorrindo ao tentar imaginá-lo crescendo naquele ambiente. Sentou-se ao lado do loiro e disse:

— Eu juro que eu imaginava que fosse ser um quarto de um pirralho rebelde. 

— Rebelde? — Lucas indagou, rindo.

— É. Pra ter coragem de fazer o que você fez, eu imaginava que você fosse ter vários pôsteres de rock pelo quarto, um monte de revista de bandas, tudo escuro, meio gótico. 

— Que impressão é essa que eu andei te passando, hein? — O loiro falou, vendo-o rir. — Eu sempre fui muito certinho. 

— Dá pra ver. — Marcus olhou tudo outra vez. — Parece o quarto de um menino estudioso. Olha só quanto livro!

— E eu era. 

— E o que tem ali?  

— No meu guarda-roupa? — Lucas levantou-se, indo até o armário, abrindo as portas e vendo o que tinha ali. — Ela guardou tudo mesmo, olha isso… Nossa! Eu me lembro dessa camiseta! 

— Deixa eu ver? — Pediu, vendo-o tirar o cabide da haste, lhe mostrando antes de colocar de volta. 

— Tem muito cinza aqui… — O loiro olhou para as roupas. — Acho que foi por isso que eu não quis levar quase nada. — Em comparação às minhas roupas de hoje, eu realmente queria me esconder do mundo. Agora meu guarda-roupa é bem variado, cheio de estampas, tecidos diferentes… Comprei muita coisa colorida em Cancún, também.

— Eu gosto das suas roupas, você é estiloso. — Sorriu, vendo-o explorar as gavetas agora. 

— Meu Deus! Olha o tamanho dessa calça! — Lucas mostrou a peça sobre o corpo. — Eu não acredito que já usei trinta e seis um dia, eu uso quarenta e dois hoje. É muito engraçado ver isso...

— Três números a mais só de bunda. — Marcus divertiu-se, vendo-o tentar segurar a risada. 

— Não é verdade! — O loiro falou, em falsa indignação. — Eu também desenvolvi as coxas. 

— Isso não dá pra negar. — Olhou o corpo dele de cima a baixo, se segurando para não agarrar a parte carnuda atrás dele por vê-lo de costas. 

— Sério, meu guarda-roupa era literalmente de um menino dentro do armário… — O loiro falou, agora indo até ele, sentando-se de volta na cama. — É muito estranho estar de volta, consigo me lembrar das coisas que eu fazia escondido dos meus pais, de passar a tarde lendo… Lembro de ficar aqui com o Gus também…  

— E você nunca teve a oportunidade de transar nessa sua cama de adolescente… Pobrezinho. — Sussurrou em seu ouvido, aproveitando para morder de leve a orelha dele. 

— E não vai acontecer. — Empurrou-o, rindo. — Mas é legal estar aqui com você.

— Eu também gostei de vir nessa viagem com você, conhecer mais do seu passado, ver suas coisas... Me sinto parte da família. 

— Não poderia ser outra pessoa. — Lucas sorriu. — E você já é a minha família. Você, o Al, a Rach… Não imagino a minha vida sem vocês. 

Marcus abriu um sorriso genuíno, logo ouvindo toques no batente da porta, com a conversa sendo interrompida por Harriet. 

— O almoço tá pronto. 

— Quer ajuda pra colocar a mesa? — O loiro perguntou, levantando-se. 

— Não precisa, meu anjo. Já tá tudo pronto esperando vocês. 

Marcus seguiu Lucas até a sala de jantar, onde se sentaram lado a lado, com Harriet escolhendo a cadeira de frente ao filho, que perguntou:

— A Mel não vem? 

— Ela tá numa fase complicada pra comer. — A mãe revelou. — Já comeu umas besteiras hoje e não quer almoçar… E tá até agora brincando com o presente novo.

— Quer que eu tente chamar ela? — O loiro ofereceu.

— Não, não precisa. — Harriet sorriu, abrindo a tampa da travessa sobre a mesa. — Eu não forço ela a comer nada. Lembro que isso não resolvia com você. 

— É verdade, eu era bem chato pra comer. — Lucas riu baixinho. 

— Eram poucas as coisas que você gostava de verdade… Então eu fiz essa carne assada com molho, porque me lembrei que você gostava, também fiz um risoto de cogumelos e uma saladinha. Ah, e arancini de queijo também, porque sabia que você amava. 

— A minha barriga já tá gritando. — O loiro falou rindo. 

— Tá tudo com uma cara ótima, Harriet. — Marcus elogiou.

— Quer que eu coloque pra você, meu bem? — Harriet indagou ao genro.

— Por favor. — Respondeu, com ela pegando um prato para ele. 

— Mas a boa notícia é que hoje eu já não sou mais chato pra comer. — Lucas revelou, fazendo a mãe sorrir, enquanto os servia. 

Harriet se serviu por último, depois de oferecer suco aos dois, já que não bebiam refrigerantes e nem bebidas alcoólicas. Ela deixou tantas opções prontas para eles pela ansiedade para que tudo fosse perfeito, que provavelmente sobraria comida e bebidas, mas era a última coisa que ela se importava nesse momento. 

Ela se sentiu honrada ao ouvir mais que um elogio da sua comida, ficando envergonhada ao ouvir os dois se agradando da refeição. 

— Acho que eu sou a única pessoa nessa família que não cozinha bem. — Lucas falou, roubando um arancini. — Eu nunca fiz massa nessa vida. 

— Eu posso te ensinar. — Ela falou, pegando mais salada para si. — Você só vai precisar me visitar mais vezes pra isso. 

— Eu posso. — O loiro afirmou, fazendo-a sorrir. 

— E eu com certeza virei junto. — Marcus entrou na conversa. — Eu não tive a sorte de nascer em uma família de italianos.

— Mas agora faz parte de uma. — Harriet afirmou. — E eu vou cozinhar pra vocês todas as vezes que vierem. 

— Mãe… — Lucas a chamou, dando um gole no suco. — Eu sei que talvez você não queira falar disso agora, mas aproveitando que a Mel não tá aqui, como foi essa questão do divórcio? O que aconteceu?

— Olha… Pra começar, pra mim já tava tudo acabado quando você foi embora, eu não consegui olhar pra cara do seu pai por um bom tempo, ficamos uns meses sem nos falar, isso morando dentro da mesma casa. — Ela iniciou. — Mas ele pedia desculpas pra mim todos os dias, mostrava arrependimento. Então eu dei mais uma chance pro nosso casamento, mas ainda assim não era a mesma coisa, entende? 

— Ele chegou a ser violento com você? — O loiro perguntou em voz baixa, com medo de que a irmã pudesse ouvir. 

— Não, ele só chegou a levantar a mão para mim uma única vez, mas percebeu logo o que tava fazendo e foi isso. — Harriet disse, sinceramente. — Ele sempre se exaltou com muita facilidade, mas até que melhorou com o tempo, conseguimos continuar com o casamento por uns dois anos. Foi então num descuido que fiquei grávida da Mel… Nossa, hoje ela é a minha bênção, mas quando descobri, aquilo foi o fim do mundo pra mim. 

— Eu posso imaginar. — Lucas a encarou, vendo-a abaixar o olhar por um momento, parecendo retomar coragem para continuar a contar. 

— Ele nunca mais se mostrou aquele homem violento de antes, mas acabei ficando sobrecarregada com os pequenos abusos psicológicos, chantagens emocionais da parte dele para que a gente não se separasse… — A mulher continuou, passando a mão pelo cabelo, tomando um gole de água. — A minha gestação toda eu me sentia culpada porque eu só queria me separar dele e eu pensava sobre o que seria dessa criança. Aí assim que ela nasceu, eu pedi pra ele registrar ela, então ela tá com o sobrenome dele… E o divórcio veio quando ela estava com três meses. 

— E ele te ajudou a cuidar dela? — O loiro quis saber, precisava de mais informações sobre o pai. 

— Sim, ele me ajudou bastante, mas eu não enxergava ele como nada além do pai da Mel, não tinha mais nenhum vínculo afetivo… Eu não conseguia mais sentir amor por ele. — Ela falou, tomando uma pausa para respirar profundamente. — Ele magoou a todos nós, disse coisas que a gente não se esquece facilmente e afastou você de mim. Todas as desculpas do mundo não seriam suficientes pra apagar o que ele fez. 

Harriet parecia desconfortável com o que falava, não querendo parecer emocionada, mas ao olhar para o seu menino, vendo-o finalmente consigo, conseguiu sorrir para vencer a vontade de chorar.

— É engraçado porque esses anos todos eu nem consegui trocar as chaves da entrada de casa, pensando que um dia você poderia voltar… — Ela confessou, mal sabendo o quanto aquilo atingia o filho. — O Ethan sabia disso, então eu morria de medo de ele voltar pra cá, mas ele nunca fez isso, mesmo insistindo pra gente ficar junto. 

— Eu não consigo imaginar ele como essa pessoa que você tá descrevendo… — Lucas falou, sentindo o coração apertar ao pensar que suas antigas chaves ainda serviam pra casa da mãe. — Eu não consigo imaginar ele pedindo desculpas por nada. 

— É, você devia ver… — Ela riu discretamente. — Parece até outro homem, às vezes ele ainda insiste pra gente voltar. Também não namorou com nenhuma outra mulher, não que eu saiba, pelo menos. E ele cuida bem da Mel sempre que eu preciso. 

— E o que ele fala sobre mim? Sobre eu ter saído de casa? — O loiro continuou.

— Ele sabe o que ele fez. — Harriet respondeu, convicta. — Mas eu não sei se ele se arrependeu de verdade, não sei se ele sente a sua falta como eu sinto… Ele nunca falou nada sobre isso, todas as vezes que eu tentava entrar nesse assunto, ele se esquivava. Uma vez eu vi ele olhando o seu quarto, parecia meio emocionado, mas disfarçou quando percebeu que eu estava perto. 

Lucas pareceu ter mais dificuldade pra engolir o que mastigava com aquela última afirmação da mãe, tomando mais um gole do suco. Marcus encarou-o por alguns instantes, tentando decifrar o que ele pensava. 

— E isso me faz pensar… Alguma hora ou outra ele vai descobrir que você entrou em contato comigo. — Harriet analisou. — O que você vai querer que eu diga pra ele?

— Pra ser bem sincero, eu não sei. — O loiro respondeu, encarando a própria comida. 

— E se ele quiser falar com você?

— Eu não sei se eu quero contato com ele. 

— E você não tá errado, tem todo o direito. — A mulher afirmou. — Mas sobre a gente, espero que eu possa te ver muito mais, meu filho. Eu não quero mais ficar longe de você.

Lucas sorriu, levemente envergonhado, encarando a mãe por alguns segundos e desviando o olhar. Marcus percebeu o quanto aquele assunto tinha se tornado delicado e apenas se manteve em silêncio, dando o tempo para os dois se recomporem daquela conversa. 

— Mas e então, me fala de vocês… — Harriet mudou de assunto. — Como se conheceram?

— Ah, nós temos um amigo em comum, o Alberto, que a família é do México e o Mark é de lá. Nos conhecemos há alguns anos por ele, mas foi depois do noivado do Al que não nos desgrudamos mais. — Lucas respondeu, já contando a versão enfeitada da nova identidade do namorado. 

Marcus encarou-o orgulhoso, vendo que o loiro contava a história com convicção, embalando o assunto com as paisagens de Cancún. 

— Eu nunca fui ao México. — Harriet contou. — Deve ser maravilhoso. 

— E é mesmo. Tiramos muitas fotos lindas. — Lucas continuou. 

— E falando em foto, não posso deixar de tirar pelo menos uma foto com você. — Ela exigiu, voltando a comer. — Não me deixe esquecer, depois de comer a gente tira… Ah, e tem sobremesa, viu? Suas panacotas estão só te esperando. 

O loiro abriu um sorriso que ainda não havia dado antes, estava começando a se sentir menos deslocado ali, finalmente se sentindo em casa. Marcus também tinha uma sensação boa de que estava no lugar certo, parecia realmente uma casa aconchegante de família, algo que fazia tempo que não sentia. 

Terminaram de almoçar e Harriet não demorou a buscar as porções individuais do famoso doce que fazia tão bem, apenas esperando o filho provar para poder ver a expressão de deleite que ele exibiu ao dar a primeira colherada. Ele elogiou e ela sorriu orgulhosa, também recebendo a aprovação do genro.

Melanie correu até eles quando viu que a sobremesa estava sendo servida, querendo o doce, vendo a mãe parecer pensativa antes de deixar que ela pegasse uma tigela. 

— Mas no jantar você vai comer direito, hein? — Harriet exclamou, vendo a menina sorrir animada, se juntando a eles na mesa. — E então, Mel, você já agradeceu pela casa de boneca?

— Obrigada. — Ela lambeu o próprio lábio sujo de framboesa. — Eu gostei muito. 

— Que bom que gostou. — Marcus sorriu. 

— E qual é o nome da boneca que é dona da casa? — Lucas quis saber, continuando a comer a panacota. 

— Daisy. — A menina respondeu, sorrindo. — Ela vai dar uma festa hoje. 

— É sério? E a gente tá convidado? — Marcus indagou, vendo-a balançar a cabeça positivamente. 

— É daqui a pouco. — Melanie continuou, ainda comendo, fazendo uma pausa apenas para cobrir a boca para tossir. 

— Tá tudo bem, Mel? — Harriet inquiriu.

— Uhum. — Ela voltou a comer.

— Você vivia tossindo quando tinha a idade dela… Ela aparentemente ainda não desenvolveu bronquite asmática, mas estou de olho. — A mulher disse ao filho. — E como você tá, hoje? Melhorou da asma?

— Melhorei sim, também tô me exercitando, o que só ajudou. — Lucas afirmou. — Faz tempo que tive uma crise pela última vez, mas o Mark sempre me faz trazer o inalador pra todo o lugar que vamos, inclusive, tá lá no carro. 

— Que bom que você tá cuidando bem do meu menino. — Ela sorriu contente, olhando para o genro. — Eu fico mais tranquila assim. 

— Isso não é nada, ele é quem cuida de mim o tempo todo, mesmo eu sendo alguns anos mais velho. Ele até já cuidou de mim com febre. — Riu baixinho. — E me pergunta sempre se eu tô bebendo água direito. 

— Ele sempre foi assim. — Harriet olhou para o filho, tendo lembranças boas. — Eu ficava até tarde trabalhando com as encomendas de doces e ele ficava do meu lado, às vezes ele tinha que acordar cedo pra ir pra escola, mas não ia dormir até ver que eu tinha acabado tudo… Me ajudava a limpar a cozinha, conversava comigo, até cantava pra mim, tinha uma voz tão linda!

— Ainda tem. — Marcus reforçou. 

— Eu não duvido. — A mulher sorriu. 

— Não é pra tanto. — O loiro falou com modéstia. 

— Mas você era o meu parceiro, sempre me fazia companhia.

— Eu lembro disso. — Lucas sorriu timidamente. — Eu não achava justo o Ethan ir dormir e você ficar sozinha até de madrugada.

— Você nunca me disse isso. — Ela admirou-se, não sabendo como conseguiu amá-lo ainda mais naquele minuto. — Você fez muita falta. 

— Você vai voltar a viajar? — Melanie surpreendeu a todos com a pergunta direcionada ao irmão. — Vai sumir de novo?  

— Eu vou parar de viajar por enquanto. — O irmão respondeu forçando um sorriso, sentindo os olhos marejarem. — Eu vou vir mais vezes, tá bom?

— Acho bom mesmo. — A garota falou, determinada. — Porque a mamãe já chorou muito. 

Lucas sentiu uma pontada no peito, vendo que Harriet parecia sem graça com a declaração dela, tentando desviar o assunto, dizendo:

— Então, nós temos uma foto pra tirar, né? 

— O Mark pode tirar pra gente. — O loiro sorriu, ficando de pé. 

Harriet aproveitou para abraçar o filho mais uma vez enquanto posava, não deixando de apertar o seu menino que estava finalmente ali, de volta em casa. Ela beijou a bochecha dele e o fez rir com mais apertos. Mark tirou a foto dos dois juntos e com Melanie, sendo surpreendido ao ser chamado pela mulher para aparecer também. 

Ficou feliz com o convite, dando um jeito de encostar o celular em uma das superfícies da sala para aparecer na fotografia, tendo que se abaixar para que se enquadrasse direito na lente e sua altura não destoasse muito dos outros. 

Depois dali, Harriet lembrou-se de pegar os álbuns que tinha de Lucas e mesmo que Marcus já visse fotos do loiro espalhadas pela casa toda em porta-retratos, não se cansaria de ver mais imagens de infância dele. Estavam no sofá e enquanto via as fotografias, Mark foi interrompido pela garota, que chamava-o com pressa. 

— Vamos! A festa da Daisy vai começar! — Melanie exclamou, puxando sua mão.  

Lucas sorriu ao ver o namorado ser levado pela irmã até o centro da sala de estar, onde os brinquedos dela estavam espalhados pelo tapete. E depois de levá-lo até lá, ela também foi buscar o irmão, que segurava um dos álbuns, tendo que abandoná-lo. 

— Vão lá brincar com a Mel, eu vou tirar a mesa e já volto. — Harriet se levantou do sofá após ele.

— Não vai precisar de ajuda? — O loiro indagou, com a garota ainda puxando-o.

— Relaxa, eu vou colocar tudo no lava-louças rapidinho. 

Sentou-se no chão ao lado de Marcus e cruzou as pernas, vendo a irmã se ajeitar ao seu lado, pegando suas bonecas e oferecendo para eles. 

— Você parece ele. — Ela entregou o boneco masculino ao irmão. 

— E qual é a minha? — Mark perguntou à cunhada. 

— A Sarah. — Melanie pegou a outra que sobrou e lhe deu. — Ela é uma princesa.

— Eu tô vendo! Gostei do vestido dela. — Marcus pegou a boneca, vendo-a sorrir contente.

A garota começou a brincadeira, dando vida aos bonecos como eles, gargalhando com os diálogos que os dois faziam. Harriet voltou para a sala e admirou a cena por alguns minutos, concretizando o sonho de ver os filhos brincando juntos. 

A mulher assustou-se ao ouvir a campainha, que não só chamou a atenção dela, como de todos os presentes ali. Ela andou até a porta de entrada, se aliviando ao perceber que era a irmã, pois não queria sequer imaginar em ver Ethan por ali 

— Oi, Nine! — Cumprimentou-a, recebendo um beijo na bochecha. 

— Espero não estar atrapalhando. — Ela iniciou o assunto, ainda parada na entrada com ela. — Ele tá aí? Eu só vim ver como ele está. 

— Ele está sim, quer entrar? — Ofereceu, dando espaço para ela passar pela porta. — Você não comentou com mais ninguém, não né?

— É claro que não. — A irmã sussurrou de volta, indo para a sala com ela, vendo o sobrinho se levantar de onde estava, indo até ela. — Menino, como você tá lindo! 

— Oi, tia. — Lucas caminhou até ela, recebendo um abraço apertado. 

— Oi, tia Nine! — Melanie gritou de longe. — Olha o que eu ganhei! 

— Que linda a sua casa da Barbie! Fazia tempo que você queria né?  — Ela exclamou para a menina, que balançou a cabeça positivamente, voltando a brincar. — Mas e você, Lucas? Como você tá? Como estão as coisas?

— Eu tô ótimo. — Abriu um sorriso, recebendo as mãos da tia em seus ombros, em um afago carinhoso. 

— Ele acabou de se formar em Jornalismo e está morando em Nova York. — Harriet se gabou orgulhosa. — E acabou de voltar de férias do México. 

— Nossa, que chique! Meus meninos também foram estudar longe, tô morrendo de saudade deles… — Ela admirou-se, logo voltando a atenção ao outro homem brincando com a menina no chão da sala. — Mas me fala, quem é? 

— Ah. É o Mark, meu namorado. — Lucas respondeu, percebendo que ele os ouviu de longe e acenou, ainda sentado ao chão. 

— E eu ainda tô sem ninguém. — Ela falou, em seguida abaixando o tom de voz para para que apenas o sobrinho e a irmã ouvissem. — Mas olha, você tá de parabéns, viu? Ele é um gato.

— Nine! — Harriet arregalou os olhos, vendo o loiro soltar uma gargalhada gostosa. 

— O que foi? — A mulher mais velha disse, abrindo um sorriso sugestivo. 

— Você não tem jeito. — Reclamou, tentando fingir que não havia achado engraçado. — Eu vou fazer um café pra gente. 

— Eu quero. — Lucas afirmou, seguindo-as até a cozinha.

Marcus e Melanie continuaram a brincar na sala, enquanto os três que conversavam em pé foram até o cômodo ao lado. Lucas apoiou-se no balcão enquanto a mãe verificava a água e ligava a cafeteira. Conversou com a tia sobre o trabalho no blog e a última viagem, não comentando o motivo da sua fuga de casa, pois todos já estavam cansados de saber e aquele era um assunto delicado demais para abordar. 

Quando voltaram para a sala, viram os dois que antes brincavam ao chão, agora em pé, com a menina imitando uma posição de luta. Como estavam de costas para os que voltavam da cozinha, Marcus continuar a ensinar a cunhada, dizendo:

— E o que você faz se estiver encurralada? 

— O que é encurra… — Ela tentou repetir, sem entender a palavra. 

— É quando você tá sem saída. Imagina que você tá num corredor e tem um palhaço do mal na sua frente. O que você faz? 

— Eu chuto bem nas partes baixas! — Ela respondeu rindo, dando um chute no ar. 

— Isso mesmo. E depois?

— Eu derrubo ele? — Melanie respondeu, em dúvida.

— Não, aí você grita e sai correndo. — Riu com a menina, logo percebendo que tinham companhia. 

— Mãe, olha o que eu aprendi! — Melanie falou, empolgada, pegando o cunhado de surpresa com um soco certeiro na barriga, fazendo-o grunhir no mesmo instante, tocando o local atingido.

— Mel! — A mãe arregalou os olhos, vendo o genro começar a rir ao perceber que a menina sacudia os dedos com dor. 

— É autodefesa! — A garota exclamou, fazendo o irmão soltar uma risada alta. 

— Mas não é pra sair batendo nos outros, minha filha. — Harriet envergonhou-se, enquanto Janine segurava a risada.

— Tá tudo bem. Ela aprendeu rápido. Bate aqui, Mel. — Marcus falou, esticando a mão para ela, que cumprimentou-o, sorridente. 

— Agora tá na hora de você recolher essa bagunça da sala, não acha? — Harriet falou à filha, que esboçou descontentamento. 

— Ah não, mãe…

— Agora. — A mulher insistiu, vendo-a bufar antes de obedecer. 

Melanie foi até seu quarto, levando os brinquedos contrariada. Harriet viu o genro se aproximar, logo dizendo a ele:

— Mark, pelo amor de Deus, me desculpa por isso! Eu juro que essa menina deve ter algum parafuso a menos.

— Que isso… Ela é uma graça. E fica tranquila, fui eu que inventei de ensinar luta pra ela.

— Você tem toda a liberdade de corrigir se ela fizer esse tipo de coisa, eu não incentivo esses comportamentos. — Harriet continuou, totalmente séria. 

— Mãe, tá tudo bem. — Lucas entrou na conversa. — Ela só tem cinco anos, relaxa. 

— Eu gostei de brincar com ela. A Mel é muito inteligente. — Marcus afirmou.

— Eu já disse isso pra ela. — Janine concordou. — Essa menina pode parecer meio maluquinha, mas é um gênio. Tão novinha e já fala cada coisa! 

— É porque ela não te mata de vergonha todo santo dia. — Harriet falou à irmã mais velha. 

— Eu gostei de conhecer ela melhor. — O loiro continuou. — Depois você me fala do que ela gosta pra eu poder trazer na próxima vez.

— Não se preocupe, vocês até deram a casa da Barbie, que não precisava! Além disso, o mais importante, é que você veio ver a gente. — A mãe abriu um sorriso orgulhoso. — Eu ainda nem acredito… 

— Foi muito bom ter vindo. Também gostei de te ver aqui, tia. — Lucas assumiu, fazendo as duas sorrirem. — E falando nisso, já tá dando a hora de ir… 

— É sério? Fica mais um pouquinho. — Harriet ofereceu.

— A gente ainda tem umas cinco horas de viagem, contando o trânsito de Nova York. — O loiro respondeu, recusando. 

— Então, tá bom, meu anjo. — Ela aceitou, não conseguindo disfarçar a tristeza. — Você me avisa quando chegar?

— Aviso sim. 

Foram até a porta e Harriet chamou Melanie pra vir despedir-se do irmão. Lucas abraçou a mãe, em seguida a tia e a irmã, com sua mãe querendo outro abraço, envolvendo-o com força. Marcus segurava a sacola com as panacotas que a sogra correu para buscar enquanto ouvia-os conversar pela última vez, dizendo poucas coisas, apenas deixando que o namorado aproveitasse aqueles últimos minutos. 

Harriet continuou observando os dois até entrarem no carro e Melanie voltou correndo ao seu quarto, entristecida pela ida do irmão, com medo de que ele não voltasse mais. E Janine aproveitou a ausência da menina para dizer: 

— Com um homem desses, eu também não voltava pra casa.

— Que horror! — Exclamou, vendo a irmã mais velha rir de sua cara de espanto. — Eu achei que ia falar algo do Lucas!

— Ele tá uma graça, Harriet, continua educado como sempre foi, parece ainda mais inteligente que antes e eu tô muito feliz por você. — Pontuou. — Eu só não pude deixar de reparar que além disso tudo, ele também tem bom gosto, só isso…

Não conseguiu segurar a risada, a irmã sempre teve esse humor impróprio e conseguia alegrar seus dias quando ninguém mais podia. As duas foram para a sala enquanto Janine especulava sobre intimidades do casal que havia acabado de partir.

— Que absurdo! — Harriet berrou pasma, enquanto a irmã se divertia ainda rindo. — Chega desse assunto, não quero imaginar meu filho fazendo esse tipo de coisa! Que Deus me ajude a tirar essa imagem mental! 

Em Nova York já era de noite quando chegaram, tendo comido apenas um lanche rápido na estrada, combinando de jantar com os amigos. Lucas mandou uma mensagem para a mãe enquanto caminhavam até o apartamento de Alberto e Rachel. 

Foram recebidos pelos dois ansiosos para ouvir como o encontro com a mãe foi, ficaram emocionados em ouvir cada palavra da história do loiro. Era lindo ver como depois de tantos anos, Harriet ainda amava o filho da mesma maneira. 

Terminaram de comer e não ficaram por muito mais tempo, estavam exaustos e precisavam descansar. 

Segunda-feira, dia 5 de agosto de 2013. 

— Marcus! — Lucas gritou, saindo da sala e encontrando-o no quarto, tirando as roupas da mala para colocar no espaço que o loiro deixou para ele no guarda-roupa. 

— Oi? — Falou, dobrando uma regata, vendo que ele segurava o notebook.

— Eu recebi uma proposta! Eu nem terminei de ler, mas queria que você visse!

— Deixa eu ver. — Pegou o computador, colocando-o sobre a cama e lendo o e-mail. — Cinco mil é um bom valor pra esse teste.

— Como assim teste? 

— Eles querem que você vá pra essa primeira sessão de fotos e pelo o que entendi, terão outras. Eles provavelmente fazem isso porque não sabem como a pessoa vai se sair… E eu não duvido que você vai se dar muito bem. 

— Então você acha que eu deveria aceitar? 

— É óbvio. Estão nitidamente te oferecendo uma parceria.

— Então eu vou responder agora. — Sentou-se na cama, voltando a pegar o notebook, escrevendo a resposta para a empresa. — Prontinho, enviado… Ah, você quer ajuda com as roupas?

— Não precisa, já tô acabando. 

— Tá bom. — Lucas sorriu, vendo-o pegar um cabide para a camisa social que segurava, observando cada mínimo movimento dele. 

— O que foi? — Marcus indagou ao perceber que ele o encarava demais. 

— Nada, eu só… Tô gostando de morar com você, pra ser bem sincero, não achei que a gente fosse se dar tão bem. — O loiro confessou, envergonhado.

— Por que não achou que a gente se daria bem? 

— Ah, sei lá! Eu não sou um poço de paciência e você também não era… Você lembra da nossa briga aqui em Nova York, foi feia. 

— Eu fui um idiota. Você sabe disso. — Afirmou, parando de cuidar das roupas, se aproximando dele. — Eu nunca mais vou erguer a voz pra você… Quer dizer, não pra brigar. 

— É melhor você não gemer alto aqui! — Lucas soltou uma risada, entendendo bem o que aquele tom de voz dele significava. — As paredes são super finas, já ouvi os vizinhos transando e não foi legal. 

— Ah, que isso! A gente pode dar o troco neles. — Sentou ao lado dele na cama, vendo-o segurar a risada. — Não quer se vingar deles agora? 

— Talvez mais tarde. — Riu baixinho, sentindo beijos curtos irem da bochecha até sua boca. 

Lucas devolveu o beijo, vendo-o voltar a guardar as roupas. Mudaram o assunto para o tamanho do apartamento e conversaram sobre que tipo de casa gostariam de ter, fazendo uma pausa para decidirem o que fariam para almoçar. 

Cozinharam juntos e depois de comer, o loiro parou para olhar o notebook, dizendo:

— Eles me responderam…

— O que diz aí?

— Já estão querendo marcar a sessão pra depois de amanhã, só preciso confirmar com eles se o horário da manhã está bom. — Analisou o e-mail. — Você pode ir comigo? Tá falando aqui que posso levar acompanhante. 

— É claro que eu posso.

— Nesse ritmo, você vai ter que virar meu agente, tá comigo pra todo o canto que vou.

— Agente, guarda-costas, namorado, marido.... Tudo o que você quiser, meu bem. — Falou, fazendo-o rir, roubando mais beijos dele. 

Quarta-feira, dia 7 de agosto de 2013. 

Marcus observava a equipe dar as instruções para Lucas, mostrando as roupas que ele provaria e falando do tipo de imagem que gostariam de passar com elas. Ele ouvia tudo atentamente, até ir ao vestiário, voltando totalmente de branco, com uma calça jeans rasgada nos joelhos e uma blusa de gola alta e sem mangas, incrivelmente lindo. 

O loiro foi até ele, deixando consigo suas joias que não poderiam aparecer nas fotos, aproveitando para lhe dar um beijo rápido de boa sorte. 

— Suas mãos estão geladas. — Marcus falou, após guardar o que ele lhe entregou nos bolsos. 

— Eu tô nervoso. — Lucas confessou em voz baixa, olhando tudo ao redor. 

— Relaxa, respira fundo. — Pediu, vendo-o inalar e exalar vagarosamente. — Vai dar tudo certo, tá? 

— E se eles perceberem que eu sou iniciante? E se eles não gostarem de mim?

— Calma… Se pensar assim só vai se estressar à toa. — Marcus levou as mãos aos ombros dele, massageando-os. — Você tá lindo demais, confia em mim. 

Lucas comprimiu os lábios, respirando fundo mais uma vez antes de se afastar. Mark continuou o observando de longe, vendo duas pessoas começarem a cuidar dele, uma ajeitando o cabelo e a outra aplicando uma leve camada de maquiagem enquanto o loiro esperava com os olhos fechados. 

O modelo partiu para as fotos e interagiu com o cenário que estava montado, agindo timidamente de início, sem saber muito o que fazer. Marcus ficou de pé atrás do monitor onde exibiam as imagens recém-tiradas, vendo na tela grande como ele estava em cada lente. Ouviu os fotógrafos darem dicas de algumas poses, tentando passar confiança ao modelo, que ainda estava acanhado, então aproveitou o momento para exclamar para ele:

— Você tá um gato! Lindo! 

Lucas não conseguiu segurar a risada ao ouvir sua voz, olhando em sua direção e rindo, com Marcus percebendo disparos das câmeras agora mais constantes. Olhou para o computador e viu uma das fotos tiradas, apontando para a que mais gostou, indicando-a para o homem que as analisava, dizendo:

— Eu posso ficar com essa aqui? 

O loiro continuou a posar, trocando de roupa depois de vários minutos. Se saiu melhor nessa troca, mais solto do que a última vez, arriscando mais em expressões diferentes e fazendo o que seu instinto mandava. 

Depois de quase duas horas, a sessão acabou. Lucas voltou para as suas roupas e no que encontrou com Marcus, viu que ele conversava com alguém. 

— Aqui, imprimimos a foto que pediu. Espero que possa acompanhar as próximas sessões, você nos deu uma das fotos mais espontâneas que tiramos dele. — Uma das responsáveis falou, entregando o retrato. — E só por curiosidade… Você é modelo também? 

— Não, não sou. — Mark respondeu, sorrindo. 

— Mas tem o perfil pra isso. — Ela analisou-o. — Caso queira, eu tenho uma colega que tem uma agência, posso passar o contato dela. 

— Eu agradeço, mas prefiro o anonimato. — Falou, fazendo-a rir, sem ter a mínima noção do quanto aquela sentença era verdadeira. 

A mulher sorriu ao notar a presença de Lucas ali, elogiando a performance dele antes de ser chamada por outra pessoa da equipe, tendo que se retirar. O loiro encarou o namorado por alguns segundos, vendo a foto que ele segurava.

— Eles te deram uma foto minha?

— Sim, porque eu pedi e falei que era pra um uso exclusivamente pessoal. — Marcus afirmou, rindo com ele. — É a foto que eu te fiz rir… Foi a minha preferida. 

— É... pelo jeito você é o meu maior fã.

— É claro que eu sou. Já até te persegui nas ruas, esqueceu?

Harriet estava lotada de encomendas naquela semana, tendo que recorrer ao ex-marido para buscar a filha na escola naquele dia. Ela ainda estava de avental quando a filha correu para lhe abraçar. 

— Oi, meu amor! — Abaixou-se para envolvê-la com seus braços. — Você chegou! 

— Eu fiz um desenho pra você! — Ela falou, empolgada. 

— Sério? Eu quero ver! 

— Vou pegar! — A garota saiu correndo para onde tinha deixado sua mochila. 

— Harriet? — Ouviu a voz que reconhecia bem, entrando na casa. 

— Estou aqui. 

Saiu da cozinha e encarou Ethan andando com pressa até ela, dizendo:

— A Mel me contou que o Lucas veio aqui nesse fim de semana… Que história é essa?

 

 

 


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