Stranger escrita por Okay


Capítulo 43
Sinceridade.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 09/11/2020



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Capítulo 43 — Sinceridade.

Lucas chegava ao salão acompanhado de Rachel, encontrando-se com Alberto, que ainda não tinha visto o vestido que ela usaria naquela noite. Ela beijou o noivo e ele pegou em uma de suas mãos para fazê-la dar um giro completo, dizendo:

— Meu Deus, você tá linda… 

— Eu sei, eu me superei. — Ela ergueu os ombros, sorrindo. — O Lu me ajudou com o cabelo. 

— Eu não sabia que você sabia fazer tranças. — Alberto olhou para o amigo ao lado, ficando surpreso. 

— E eu não sabia, foi a primeira vez. — O loiro riu baixinho. — Até me surpreendi porque ficou ótimo.

— E eu não tinha parado pra ver a decoração antes. — Rachel olhou tudo ao redor. — Nossa, ficou melhor do que eu imaginava! 

— Sua mãe também gostou, falei com ela agora pouco. — Alberto sinalizou, mostrando onde os pais dela estavam sentados. — Eles estão ali conversando com alguns tios meus que estão arriscando no inglês, tá sendo a conversa mais engraçada que eu já vi na vida, quer ir lá ver?

— Eu quero! — Ela riu, agarrando o braço do noivo. 

— Vão lá, gente. Eu vou pegar alguma coisa pra beber, que não tenha álcool, de preferência. — Lucas colocou as mãos nos bolsos da calça, se despedindo deles. 

O loiro viu-os se afastar, olhando os arredores, vendo as pessoas em suas mesas conversando animadas, sabendo que as duas únicas pessoas que tinha amizade, estariam ocupadas demais para passar a noite consigo. Não se desanimaria só por aquilo, aproveitaria a festa ao máximo, estava disposto a se divertir sem deixar que a presença de ninguém lhe atrapalhasse.

Antes do jantar começar, os noivos pegaram o microfone para agradecer a presença de todos ali, em inglês e em espanhol. A música se animou mais e os drinques começaram a ser servidos com os canapés. 

Marcus ainda estava à mesa, tendo visto o loiro apenas de relance, não queria ter que focar apenas nisso a noite toda, mas assim como imaginou, ele estava lindo, vestido com camisa, calça e sapatos sociais completamente pretos, como se ele estivesse querendo passar despercebido; mesmo assim, aquilo seria impossível. Não apenas para Marcus, pois outras pessoas na festa, reparavam na presença charmosa do rapaz. 

Decidiu esticar um pouco as pernas, andando pelo local, ouvindo conversas em espanhol dos familiares de Alberto e vendo algumas pessoas já começarem a ficar animadas pelas bebidas, imaginando como seria o estado delas ao final da festa. 

— Oi! — Ouviu uma voz feminina familiar lhe chamar. 

— Oi, Angel. — Virou-se, sorrindo, vendo-a segurar uma bandeja vazia. 

— Você tá lindo com essa camisa branca. — Ela encarou-o por inteiro.

— E eu nem preciso falar nada do que eu penso desses seus terninhos. — Devolveu, deixando-a corada. 

— Toma juízo hoje, hein? Eu pedi pros meus colegas não te servirem nada, então nem insista. — Ela falou, gargalhando. — É brincadeira! Mas se for pra beber, você já sabe, vê se toma cuidado. 

— Pode deixar.  

— Te achei! — Alberto surgiu, por trás do amigo. — Vamos começar a tirar algumas fotos daqui a pouco, então fica pronto. 

— Que bom que você tá por aqui, queria te apresentar alguém. — Marcus indicou-a. — Angela, esse é meu amigo, Alberto. 

— Já ouvi falar muito de você. — Ela esticou a mão para cumprimentá-lo, sorridente. — E parabéns pelo noivado, a festa tá linda! 

Alberto estava com os olhos arregalados ao observar a aparência da mulher loira, dizendo:

— Obrigado, Angela. Eu também ouvi falar de você, só coisas boas... Mas eu nunca tinha visto uma foto sua! Você é linda! 

— Obrigada! — Ela sorriu, envergonhada. — Bom, eu tenho que voltar ao trabalho agora, divirtam-se!

Ela retirou-se com pressa, tentando não demonstrar que estava levemente incomodada, deixando os dois amigos a sós. Não demorando muito para Marcus reparar na expressão atrevida de Alberto.

— O que foi, Al?

— Eu não vou falar nada. — Rebateu. — Você sabe bem o que eu tô pensando.

— Não, não sei. 

— Por que nunca me mandou uma foto dela antes? Medo do que eu iria falar? Porque você sabe bem o que tá se passando na minha cabeça agora. 

— É, é melhor você não falar nada mesmo. — Marcus encarou a expressão sarcástica do amigo. 

— Vem, vamos lá tirar as fotos. — Alberto mudou de assunto, rindo com a reação defensiva dele. 

A festa seguiu, tiraram fotos e depois de um bom tempo que o jantar tinha sido servido e a maioria das pessoas já haviam parado de comer, ouviram outro chamado no microfone, com os noivos se posicionando no meio do salão. 

Lucas estava à mesa, com apenas uma cadeira de distância de Marcus, bem próximos; mas ele mal parecia presente, ignorando-o por completo, nem mesmo olhando em sua direção, o silêncio era tão constrangedor quanto as brincadeiras petulantes dele. O loiro precisava admitir que estava intrigado, porém aliviado.

Lucas bebeu mais um gole de água, percebendo que não era o único na mesa que não estava bebendo nenhum drinque, já tendo reparado em outros dias que Marcus não pedia nada alcoólico, ficando ligeiramente curioso para saber sobre aquilo. Colocou a taça de volta à mesa, tendo a atenção roubada pelo pronunciamento dos amigos. 

Alberto iniciou, dizendo nos dois idiomas o que tanto amava em sua querida noiva:

— Primeiramente, eu fiquei tão emocionado de ter encontrado uma mulher tão incrível como ela que a assustei! Eu pedi ela em namoro com poucas semanas que a gente tava se vendo, já queria logo conhecer os pais dela. — Ele falou, fazendo os sogros rirem na mesa próxima dali. — E eles já ouviram essa história, mas sabem como a filha deles é certa do que quer e não aceita menos do que ela merece, então eu tive que ralar muito! Mas acabou que tudo valeu a pena, ela preparou uma surpresa linda pra mim e me pediu em namoro com esse colar que usamos hoje. 

Alberto tirou o pingente de metade de um coração debaixo da camisa que usava, com Rachel também mostrando o colar com a outra parte. 

— E o pedido de namoro dela foi o segundo melhor dia da minha vida. Porque o primeiro foi quando ela disse “sim” pra essa pergunta que eu quero repetir aqui na frente de todo mundo… — Ficou de frente para a noiva, ajoelhando-se. — Rachel Ann Cassidy, você quer se casar comigo?

Rachel aceitou mais uma vez, exclamando contente e pulando nos braços do noivo quando ele se colocou de pé, estendendo sua mão para que ele encaixasse o anel com a pedra extravagante em seu dedo anelar. Ela roubou um selinho demorado de Alberto antes de pegar o microfone para dizer algumas palavras.

Ela olhou para o anel emocionada e enxugou uma lágrima discreta no canto dos olhos antes de começar a falar. Primeiramente dizendo o quanto estava feliz por estar compartilhando aquele momento com todos, além de ter amado conhecer os parentes de seu futuro marido. 

Não conseguiu elaborar um belo discurso, mas o que pegou o próprio noivo de surpresa foi quando repetiu as mesmas palavras, agora em espanhol, demonstrando que havia treinado e que agora formava frases muito mais completas na língua nativa da família dele. 

Todos aplaudiram, contentes pelos pombinhos e Alberto se apaixonou ainda mais por ela, o que achava impossível, não tendo notado antes que ela tinha treinado o idioma para se comunicar com sua família, mostrando o quanto o amava.  

Lucas estava derretido com a cena, olhando apaixonadamente para os dois ao longe, apoiado em sua mão, com o cotovelo sobre a mesa. Lembrou-se do dia em que tinha ajudado a amiga a preparar a surpresa para Alberto, tendo gostado de vivenciar aquele momento. 

Era engraçado se lembrar disso, não imaginando que meses depois já estariam noivos. E com isso em mente, pensava no colar de coração que carregavam, dando-se conta naquele momento de que já havia um bom tempo desde que não lembrava-se da existência da corrente que também usava com o anel pendurado. 

Não que não a observasse todas as vezes em que ia tomar banho ou se trocar, mas era como se o colar com a aliança de Gustave já tivesse se tornado tão banal, que acostumou-se apenas em tê-lo ali, mas sem o significado de antes. 

Queria ter ficado triste por isso, tentando até se defender mentalmente, dizendo para si mesmo que havia esquecido pela correria e preocupação dos últimos dias com a viagem. Mas era a mais pura mentira. 

Lucas não sentia mais nada com o colar em seu pescoço, até o achava bonito, mas deixar de se lembrar da corrente não significava que não se lembrasse de seu Gus; só que estava se recordando dele com bem menos frequência que antes e com muito menos pesar que as outras vezes.

Era uma sensação boa, porque agora sabia que escolher usá-la, ou não, dependia apenas do seu gosto pessoal para os acessórios, não do compromisso que antes sentia ter com ele. O loiro se sentia bem mais leve agora por aquela constatação, satisfeito por ter percebido seu próprio amadurecimento, tendo que fazer uma nota mental para contar aquilo ao Dr. Elijah quando voltasse de viagem. 

Depois da oficialização do noivado, músicas agitadas voltaram a preencher o salão, com as pessoas levantando das mesas, indo à pista de dança. Não era como se Marcus não gostasse de dançar, mas ficar sem beber e estar sem as pessoas certas por perto para isso não era muito estimulante. 

Estava perambulando pelo salão antes de voltar à mesa, percebendo que Lucas não estava mais por ali. Não queria persegui-lo, mas estava apenas curioso para saber onde ele se encontrava, não demorando muito para enxergá-lo dançando com uma garotinha de provavelmente dez anos de idade. 

O loiro fazia a menina rodar segurando-a pela mão, também abaixava ligeiramente de altura para dançarem juntos e davam saltinhos fofos, girando em torno um do outro. Não teve como não sorrir com aquilo, Lucas provavelmente nem a conhecia e era adorável ver como ele gostava de crianças. 

Sempre teve o sonho de ser pai, não conseguindo segurar o impulso de imaginar um futuro ao lado dele, encarando a adoção e brincando com as crianças na sala de estar. Riu consigo mesmo, alguns pensamentos conseguiam ser ridículos, ficando aliviado por estarem apenas dentro da sua cabeça. 

Decidiu desviar sua atenção dali, não queria que Lucas se assustasse ao ver que estava lhe encarando sem parar. Bebeu um pouco do suco em sua taça e decidiu dar outra volta, levantando-se e curtindo a música enquanto andava, a festa estava agradável e não difícil de tolerar como pensou que seria.

Ficou contente por estar conseguindo aproveitar a noite especial dos amigos, era uma pena que Alberto e Rachel estivessem ocupados demais dando atenção aos familiares, mas sabia que em breve teriam muito tempo para conversar. 

Pouco depois, cortaram o bolo e a sobremesa começou a ser servida com espumante. Como Marcus não estava para doces e nem bebidas, ficou ainda longe da mesa, apenas roubando uma maçã de uma das mesas do bufê, comendo-a enquanto andava pela festa.

Quando terminou, procurou uma lixeira para jogar o miolo da fruta, encontrando uma próxima de uma das colunas dali, aproximando-se. Jogou o que segurava no lixo e logo ouviu uma conversa próxima, com uma voz familiar. Lucas estava conversando com uma mulher que não tinha visto antes, observando a cena por alguns segundos. 

O loiro exibia uma expressão de desconforto, continuando os assuntos de forma educada, sem querer dispensá-la do que parecia uma paquera desajeitada. Ela não parecia bêbada, mas era insistente como uma, fazendo perguntas sobre a vida pessoal dele, enquanto ele respondia sem conseguir se esquivar, parecendo não querer estar naquela conversa.

Queria dar as costas naquele momento, mas tinha ouvido o suficiente para saber que ele não estava confortável. Pensou por alguns segundos se deveria realmente fazer o que estava se passando pela sua cabeça, respirando fundo, sabendo que poderia botar tudo a perder, todos os seus esforços dos últimos dias seriam em vão caso pisasse na bola. 

Mesmo assim, sabia que provavelmente seria a última vez que veria Lucas em Cancún, então aproveitou a deixa e foi até lá, pegando-o de surpresa, pousando um de seus braços ao redor do corpo dele. 

— Oi, amor, eu estava te procurando! Quem é a sua amiga? — Indagou, atuando, vendo-o estático com sua presença, sem nem conseguir reagir com seu braço atrás de seu corpo. 

— Oi, eu sou Mary. — Ela sorriu, se apresentando. — E você é?

— Mark. O namorado. — Respondeu-a, com Lucas olhando-o ainda mais surpreso por aquele gesto. — Na verdade, depois de hoje estamos pensando em dar um passo a mais, não é? 

— Estamos? — Lucas franziu o cenho, encarando-o indignado, percebendo que ele retirava o braço de suas costas. 

— Bom, foi um prazer conhecer vocês. — Mary abriu um sorriso desajeitado, saindo com pressa dali. 

Marcus apenas esperou para que levasse uma surra, aceitando qualquer coisa que ele pudesse falar ou fazer. Esperava tudo, menos uma expressão esquisita que ele esboçou, a qual não conseguia distinguir, vendo-o sair sem dizer mais nada. 

Não gostava de suspense, mas ao menos tinha o livrado de uma paquera ruim. 

Andou para o caminho contrário dele, agora começando a pensar no porquê tinha decidido fazer aquilo, se arrependendo mais uma vez de ter agido por impulso. Ele não precisava da sua ajuda, conseguia se virar sozinho. Sabia que não tinha feito aquilo por ele e sim por si mesmo, apenas queria poder ter mais uma desculpa para se aproximar. 

Sem antes ter percebido a presença dela, parou os olhos em Angela, caminhando até o local onde agora colocava copos sujos sobre a bandeja, indo levá-los de volta para a cozinha. Chamou-a, sabendo que ela tinha lhe ouvido, mas que agora o ignorava. Continuou a segui-la, com ela entrando na área restrita para funcionários. Ignorou a placa, entrando logo atrás. 

— Fala comigo! — Marcus pediu mais uma vez. — Por que você tá assim? O que aconteceu?

— Você não pode entrar aqui. — Ela colocou a bandeja que carregava em cima de um dos balcões. 

— Eu só queria entender… 

— Eu também, Mark! — Angela admitiu, revoltada. — Eu só queria entender o que se passa nessa droga da sua cabeça! 

— O que eu fiz?!

— Você quer que eu finja que eu não percebi a cara que seu amigo fez quando me conheceu, é isso? Eu não preciso explicar o porquê de ele me olhar tão surpreso quando me viu, preciso?! — Ela indignou-se, aproximando-se dele. — Eu sou a porra da tua válvula de escape! Ok, eu sei que é normal a gente não querer nada sério com alguém porque não consegue superar o ex, mas porra! Você acha que eu sou idiota?! Achou que eu não ia saber quem ele é?! Eu estou a noite toda te observando… eu acabei de ver vocês dois! 

— Angela, para. — Tentou acalmá-la. — Não tem nada a ver… 

— Não tem nada a ver?! Caralho! Para de se fazer de sonso! Eu sou a porra da sósia dele! 

— Isso é ridículo. — Marcus bufou, não conseguindo entender como aquilo tinha a deixado tão agitada.

— Eu também acho ridículo! Principalmente o fato de você não ser homem o suficiente pra assumir isso nem pra você mesmo! — Berrou, empurrando-o fracamente com as duas mãos. — Você é um puta de um cretino! Você pagou de santo desabafando comigo! Eu fiquei do seu lado porque eu sou uma idiota! Eu dei meu cu, meu cu! Como eu não percebi antes?! Eu sou uma idiota!

— Angela, por favor. — Tentou controlá-la, vendo-a se afastar de si mais uma vez. — Tem gente ouvindo. 

— Você é ridículo… — Ela encarou-o, com lágrimas de ódio nos olhos. — Você não vê que ele tem nojo de você?! Você tava lá fora arrastando asa pra cima dele, abraçando ele! Você não percebe que ele não quer te ter por perto?! Isso porque ele já sabe que você não presta! Você é assim! 

Marcus viu-a enxugar as lágrimas de nervosismo, sem conseguir se defender, talvez porque também acreditasse naquelas palavras.

— Eu não consigo mais olhar na sua cara… E o pior de tudo é imaginar que naquele dia que você me deu um pé na bunda, o que eu tinha para falar é que eu queria algo mais sério com você… Eu sou estúpida. — Ela abaixou o tom de voz, ridicularizando a si mesma, rindo de nervosismo. — Vai embora daqui, Mark. Me faz esse favor, sai de perto de mim e nunca mais fala comigo. 

Obedeceu-a, sabendo que desde sempre, o melhor para todos era se distanciar, sentindo o peito doer ao passar pela porta. Tinha uma tendência a estragar a vida de todas as pessoas que fazia parte e não gostava nem um pouco de ver o cenário caótico dos destroços por onde passava. 

Ficou desnorteado, sem saber para onde ir, apenas acelerando para longe dali, acabando por decidir entrar no banheiro masculino. Jogou água no rosto para amenizar os seus sentimentos, mas seus olhos vermelhos não escondiam que estava chorando. 

Enxugou o rosto com papel, amassando-o com ódio, jogando no lixo com o sentimento que queimava em seu peito. Queria simplesmente apagar as mensagens de Angela de sua cabeça, mas ela estava mais do que certa. Ela tinha sido cruel, mas sincera. 

Ela não estaria sendo injusta à toa, apenas doía saber que o mundo seria um lugar bem melhor para todas as pessoas ao seu redor se ele não existisse. Pensando em todos os erros que já havia cometido por puro deslize e estupidez de sua parte. 

Já Lucas, agora voltava à mesa, percebendo que mesmo olhando ao redor, não via nenhum sinal de Marcus. Não imaginou antes que teria uma noite totalmente imune a ele, mas também não imaginou que o primeiro contato seria daquela forma, quer dizer, até imaginou, mas não achava ser possível pela forma que ele estava agindo nos últimos dias. 

Estava sozinho à mesa, com o loiro sentindo falta do silêncio constrangedor que se formava quando estavam juntos. Não teve como não se lembrar das palavras de Marcus para Mary, raciocinando, formando diversas questões em sua cabeça, mas para todas elas, estava sem resposta. 

Marcus procurou um café, indo para as máquinas de expresso em um canto afastado, pegando uma xícara e lhe preparando uma dose grande, levando-a consigo dali, indo sentar-se em um dos sofás próximos da entrada do salão. 

— Onde você conseguiu isso? Eu vou querer um. — Lucas indagou, chamando sua atenção. 

Demorou alguns segundos para que caísse a ficha de que não tinha mais ninguém ali e o loiro realmente estava falando consigo. Marcus abriu e fechou a boca sem saber o que diria, se esforçando para iniciar um contato com ele, até tomar coragem. 

— Você quer? — Perguntou em voz baixa, erguendo a xícara para lhe oferecer. — Eu ainda não comecei a tomar. 

— Não, tudo bem… — Sentou-se ao lado dele. 

— Eu posso ir fazer um pra você também, se quiser. — Falou, desengonçado, não sabendo se deveria se levantar ou permanecer sentado, não entendendo o que ele queria ao seu lado. 

— Na verdade eu vim falar com você. — Parou de enrolar. 

— Ah...

— Eu não sabia que a gente ia ficar noivo, eu nem bebi hoje. — Iniciou, em uma tentativa frustrada de ser engraçado, vendo-o ficar mais sério. 

— Sobre isso, me desculpa… eu não...

— Calma. — Interrompeu-o. —  Aquilo foi até engraçado… ela fez uma cara impagável.

Marcus nada disse, apenas desviou o olhar, envergonhado, dizendo quase num sussurro:

— Eu não estava pensando direito, eu queria ter deixado você em paz hoje… 

— Mas como você sabia? — Perguntou, vendo-o encarar o café esfriar. 

— Você parecia desconfortável. — Respondeu, ainda sem querer olhar em sua direção para não ter que se encontrar com os olhos azuis. — É a mesma cara que você faz quando eu estou perto de você.

Lucas imobilizou-se, sem conseguir pensar em nada rápido para dizer, deixando a situação ainda mais chata. Viu que ele fez menção em se levantar, se colocando de pé, ainda segurando a xícara cheia. 

— Vou fazer outro café. 

Lucas também se levantou, sem saber o que dizer, na verdade, nem sabia direito o porquê estava enrolando, tentando ser gentil. Deixou a falsa simpatia de lado assim que viu-o dar as costas, chamando a atenção dele, novamente.

— Não conseguiu pensar em uma desculpa melhor? 

Marcus virou-se, devagar, se deparando com a expressão fechada do loiro, que voltou a dizer:

— Eu tentei ser gentil… você tá agindo como uma criança agora. 

— O que você quer que eu diga? — Perguntou, olhando-o de relance, voltando a encarar a xícara que segurava.

— Qualquer coisa, menos uma justificativa idiota pra fugir. — Lucas cruzou os braços. — Me enfrenta como homem… ou você só consegue fazer isso quando é conveniente pra você?

Lucas continuou encarando-o, vendo que ele agora deixava o café sobre a mesa de centro dali, se aproximando em seguida. 

— Eu estou bem aqui. — Marcus afirmou, finalmente olhando nos olhos dele, firmemente.

Lucas descruzou os braços, colocando as mãos dentro dos bolsos da calça.

— Por que você comprou a passagem pra mim? — Quis saber, sem rodeios. — Isso foi antes do Al e Rachel decidirem fazer o noivado aqui… então o que você estava esperando, especificamente? 

— Quer a verdade? Eu não sei. — Assumiu, agora sendo o loiro que desviava o olhar do seu. — Eu até pensei que sabia, mas tudo o que eu acreditava já não é mais o mesmo. Então não faz diferença mais. 

— Faz. — Lucas reafirmou. — Faz sim… porque você sempre dá um jeito de manipular as coisas ao seu favor! Vai falar que não tava com nenhuma segunda intenção? 

— Eu queria ver você! — Afirmou, vendo-o lhe encarar com o cenho franzido. — Eu me arrependi por tudo o que eu te fiz! Já te disse isso, mas eu sei que não adianta mais me desculpar, porque as minhas palavras não tem mais valor algum pra você, então eu nem tento mais… Mas não queira começar uma briga comigo por alguma coisa que não aconteceu! Se quiser brigar comigo pelo o que eu te fiz em Nova York, ou até mesmo no karaokê, ótimo! Mas não venha com suposições do que você não sabe… 

— Tá. — O loiro reconheceu. — É isso. 

— É isso, o quê? — Marcus inquiriu, sem entender. 

— Quero ver se você tem coragem mesmo… pra falar do que aconteceu. — Desafiou-o. — Eles já estão guardando tudo lá dentro, Alberto e Rachel já foram embora e não temos mais obrigação moral aqui… 

— Então você quer conversar? — Quis confirmar, vendo-o assentir com a cabeça. — Nós podemos… só acho melhor a gente sair daqui. 

Estavam na entrada do salão, então não era um local pouco movimentado e nem discreto. Marcus caminhou, sendo seguido por ele, saindo pelo caminho que dava para as costas do hotel, estavam no exterior, próximos da piscina e da praia. Continuaram caminhando lado a lado, sem saber direito para onde estavam indo, pensando em quem deveria ser o primeiro a começar a falar. 

— Do que quer conversar? — Marcus quebrou o gelo, ainda dando passos vagarosos pela área externa, se afastando da piscina. 

— Depende. — Lucas iniciou, sem encará-lo, agora descendo os degraus que davam até a praia. — Do que você tá disposto a falar?

— Qualquer coisa. 

— Eu duvido. — O loiro abaixou-se, sentando-se no penúltimo degrau, com os calçados sociais já sujos de areia. 

— De quê? — Acompanhou-o, sentando ao seu lado. 

— Que você responderia todas as minhas perguntas. — Lucas encarou-o por alguns segundos, antes de desviar seu olhar. 

— Quer apostar? Eu respondo qualquer coisa… 

— Com total sinceridade?

— Manda a ver. — Marcus propôs. — Não precisa pegar leve. 

— Então tá. — O loiro se ajeitou, ficando de lado para poder encará-lo. — Você já matou alguém?

Lucas estava convicto de que ele se recusaria a responder ou que ficaria em choque, mas arregalou os olhos ao ouvi-lo dizer:

— Diretamente, não. 

— O que quer dizer com isso? Que já matou? — Quis saber exatamente do que ele dizia.

— Já. — Assumiu, também ficando de frente para ele. — Mas não com as minhas próprias mãos.

— Eu presumo que você deve estar falando do homem que estava no seu lugar, quando teve o acidente com o seu carro.

— Sim, foi um deles. — Falou, percebendo mais curiosidade nos olhos azuis. — Eu não me orgulho de nenhuma das vezes. Eu não sei se o Al te contou… mas eu não ganhava a vida legalmente, querendo ou não, aconteceram algumas mortes por minha causa, rixa de facções, vingança… minha mãe foi uma dessas vítimas. 

— O que você fazia?

— Eu era guarda-costas, depois passei a investigar e encontrar os foragidos, trazer eles de volta… cobrar favores. — Ergueu os ombros. — Foi por isso que eu tive que fazer o que fiz, mudar meu nome, vir pra cá… 

— Eu assumo que já sabia de algumas coisas, mas poucas, só o que falei com o Al. — Lucas respirou fundo. 

— Eu disse que ia ser sincero. — Falou decidido. — Você está com medo de mim, agora? 

— Não. — Respondeu seriamente. — Não estou. 

— Que bom… — Olhou para baixo, constrangido. — Porque tem detalhes que eu não conto nem mesmo para o Alberto, eu sei que ele não gosta dessas coisas e fica apavorado quando sequer imagina o que eu já fiz.

— Eu amo o Al, mas ele não entende… — Lucas manifestou-se, quase num sussurro. — Ele não passou pelo o que a gente passou, ele nunca vai entender o que é viver com medo, do que é ser capaz de matar pra não morrer... ou de pedir pra morrer. 

Marcus ouviu-o, sem saber o que dizer com aquela constatação tão verdadeira e sincera vinda dele, sentindo seu coração apertar. O loiro olhou para a própria mão, como se tivesse algo extremamente interessante em seus dedos, agora em silêncio. 

— Eu sei que não era só isso que você tinha para me perguntar.

Lucas encolheu-se, olhando para a areia, raciocinando antes de se levantar, sem saber direito o que estava fazendo ali. Com medo de continuar aquela conversa. 

— Espera, não vai embora, não. — Marcus voltou a dizer, também ficando em pé. — A gente precisa disso. Eu preciso disso. 

— Qual é o ponto? Aonde a gente vai chegar? — O loiro quis saber, angustiado. 

— Não interessa, a gente vai descobrir. — Marcus assegurou, vendo-o de cabeça baixa. 

Lucas começou a caminhar pela frente, já era tarde da noite e a praia estava iluminada não só pelo hotel próximo dali, como pela luz fraca da lua. Andava devagar, percebendo Marcus logo atrás de si, não quis afastá-lo, continuaram caminhando juntos, sentindo o vento fresco e ouvindo a maresia. A mente de cada um estava longe dali, pensando em como haviam chegado até aquele ponto. 

Marcus não se incomodava com os sapatos sociais ficando ligeiramente molhados por estar caminhando na areia molhada, próximo onde as ondas quebravam. Mantiveram o percurso, não precisando de telepatia para subirem juntos a um deck que os levou até mais alguns metros à frente sobre o mar. 

Ouviram seus passos na madeira e Lucas estava prestando tanta atenção nas ondas quebrando nas colunas debaixo do deck, que se surpreendeu ao ouvi-lo dizer:

— Me pergunta qualquer coisa… Qualquer pergunta idiota que seja. 

— Ok. — O loiro aceitou. — Você fez faculdade? 

— Não, não fiz. 

— O que você escolheria, se decidisse cursar o ensino superior? 

— Acho que Direito, pra entender melhor das leis… Se eu tivesse uma segunda chance pra fazer as coisas certas nessa vida, eu talvez até poderia defender pessoas inocentes, pessoas que não merecem ser presas. 

— Você seria um bom advogado. Claro, isso se você não taxar seu cliente de traficante no primeiro minuto, sem ouvir o que ele tem pra dizer, depois jogar fora toda a porcaria da droga que ele tem com ele e o abandonar com uma dívida de milhares de dólares. — Lucas atropelou as palavras, deixando de encará-lo em seguida. 

Marcus engoliu em seco, apesar de ter se arrependido de insistir num diálogo, não podia negar que não importasse o rumo da conversa, não podiam simplesmente ignorar o que houve. O loiro agora cruzava os braços, comprimindo os lábios, olhando para o horizonte. 

— Se você acha que eu não penso no que fiz, você está enganado… Eu me lembro disso todas as vezes antes de dormir, todos os dias desde que isso aconteceu! — Justificou-se, com ele ainda sem lhe encarar. — Esse foi o pior dia da minha vida, você não precisa me castigar, porque a minha consciência já se encarregou disso…

— Olha só para isso. — Lucas descruzou os braços, ainda olhando ao mar à sua frente. — Você estava aqui no paraíso, enquanto outra pessoa limpava as merdas que você deixou para trás! 

— Eu devia ter ficado. — Marcus concordou, parado ao seu lado. — Mas não foi um processo rápido pra mim, eu demorei pra entender o que fiz de verdade… não foi da noite pro dia que eu deixei de me tornar aquela pessoa. Eu já estava aqui quando quis largar tudo e voltar. 

— Por favor, eu não acredito nessa história de que você tá mudado… — Olhou-o por alguns segundos antes de revirar os olhos. — Você só mudou de nome, só isso.

— Tem razão, eu não mudei a pessoa que sou. — Respirou fundo, fazendo-o lhe encarar finalmente. — Mas eu amadureci, aprendi com os meus erros. Tô tentando evoluir, apesar de não conseguir totalmente e às vezes me deixo levar, como você mesmo presenciou no karaokê e hoje no noivado quando fingi que a gente tinha algo. Mas eu melhorei. 

— Melhorou mesmo? Como eu posso ter tanta certeza?

— Você não pode… esse é o problema. — Marcus olhou para baixo antes de encontrar seus olhos nos dele, sorrindo como se quisesse chorar. — Eu nunca vou conseguir te garantir isso… mas você não pode achar que eu não sofri. Cancun é maravilhosa, sim, mas todo esse cenário incrível só servia pra jogar na minha cara que eu não estava com você aqui! Que eu te deixei pra trás! 

Lucas não conseguia imaginar palavras tão desejadas e erradas ao mesmo tempo, por muito tempo quis ouvir aquele tipo de coisa saindo da boca dele, mas era como se aquilo tivesse vindo totalmente fora de hora. Sentiu seu coração apertar enquanto se lembrava da ligação que ele lhe fez quando ainda estava em Nova York, lhe implorando por perdão. 

— Você tem todo o direito de não querer mais dividir o mesmo espaço comigo. — Marcus voltou a dizer. — Eu sei que eu sou a última pessoa da face da Terra que você gostaria de estar conversando agora… mas eu tô bem com isso, não feliz, mas bem, porque eu finalmente entendi… de verdade. Eu me peguei pensando em tudo isso várias vezes, principalmente no que eu faria se eu estivesse no seu lugar. E eu jamais estaria aqui conversando comigo mesmo. Você não tem essa obrigação e você ainda está aqui. 

Marcus agora não estava mais pedindo desculpas, não estava se humilhando com o propósito de convencê-lo, apenas parecia afirmar o que tanto doía em seu peito, queria tirar todas aquelas coisas de dentro do seu coração.

Distanciou-se, começando a falar mais baixo, com Lucas percebendo que a voz dele agora estava trêmula.

— Hoje eu sei que você é inocente, mas eu me pego pensando… e se você não fosse? Qual teria sido o grande problema, afinal? Eu te amava...  Eu com certeza conseguiria lidar com aquilo, eu não deixaria de querer fugir com você e ter uma vida do seu lado, mesmo que você não fosse inocente… — Falou com amargura e com os olhos inundados. — Eu só precisava ter ficado. Eu só precisava ter te ouvido… 

Lucas sentiu o pesar daquelas palavras, estava totalmente sóbrio, então não se sentia nem um pouco confuso, estava realmente acreditando nele. Viu-o dar-lhe as costas, levando uma das mãos até o rosto, provavelmente enxugando os olhos. 

— Eu achava que estava no controle da minha vida. — Marcus falou, ainda sem se virar. — Quando vi, eu já estava afundado no álcool… demorou vários meses para que eu percebesse que estava fora dos limites. Já faz uns dois meses que eu não bebo nada, mas eu não só maltratei a mim mesmo, como também magoei quem tentou me ajudar nesse período. E eu não sei mais o que fazer… eu sempre consigo piorar tudo.

— Você precisa de ajuda profissional. — O loiro se pronunciou. — É o melhor caminho…

— É… — Virou-se para ele. — Mas eu devo ser um caso perdido. 

— Eu procurei um psicólogo e consegui melhorar em muitos pontos, por coisas que eu não estava reparando antes. — Revelou. — Você devia tentar. 

— Eu vou. — Forçou um sorriso. — Obrigado… não só pelo conselho, mas por estar aqui e me ouvir… 

— Você parece mais humano agora. — Observou. — Era o que faltava em você, se expor. Antes você só se escondia. 

— Eu não vou mais cometer esse erro. — Marcus confessou. — Eu deixei de fazer isso lá atrás e perdi a coisa mais importante que eu já tive… agora que você tá conversando comigo de novo e conseguindo olhar na minha cara, eu só quero manter assim. Essa é a melhor recompensa que eu poderia ter… Melhor que isso, só se algum dia você pudesse me perdoar de verdade pelo o que eu fiz. Acho que seria o melhor dia da minha vida. 

Lucas viu-o encarar o chão de madeira, sorrindo nada convincente, parecendo querer chorar novamente. Marcus estava desajeitado pelo que falou, não sabia se lhe encarava ou se disfarçava encarando o mar ao lado, nervoso com as próprias palavras, quase gaguejou ao voltar a dizer:

— Não que eu não esteja bem agora… me desculpa. Não queria te deixar nessa posição. 

O loiro sorriu ao vê-lo tímido, era engraçado estar em sua frente daquela forma, nunca tendo essa sensação de superioridade antes. Ele parecia pequeno e indefeso, totalmente rendido, envergonhado e sem saber o que fazer. Lucas apenas deu um passo à frente, dizendo:

— Então acho que hoje é o dia mais feliz da sua vida… 

— O quê? 

— Você entendeu, vai… — Lucas sorriu, vendo-o parecer ainda mais triste, lhe deixando confuso. — O que foi? 

— É isso mesmo? — Marcus perguntou baixinho, quase num sussurro, com medo de que fosse brincadeira ou que tivesse entendido errado. 

— Eu acredito em você, em tudo o que disse e que está trabalhando pra melhorar. — O loiro esclareceu o que pensava. — É claro que você ainda tem um longo caminho pela frente, mas acho que agora a gente pode erguer uma bandeira branca e conviver em paz… Não só pelo Alberto, mas porque eu gostei de ver essa mudança em você, então sim. Eu estou te perdoando, de coração sincero. 

— Jura? — Perguntou, sem fôlego, com o coração aos pulos. 

— Sim, eu estou falando sério. — Reforçou. — Isso não significa que eu queira recuperar o que a gente tinha. Não é isso, só pra deixar claro. 

— Já é mais do que o suficiente… — Declarou, ainda sem acreditar, encarando-o estático, sem conseguir conter a alegria. — Eu posso te abraçar?

Lucas estranhou a pergunta, mas sabia que ele estava se segurando para aquilo. Até pensou que já seria demais, mas ele lhe encarava como uma criança pidona, com os olhos vermelhos, não conseguindo recusar, abrindo os braços, dizendo:

— Pode, mas não abusa. 

Marcus levou suas mãos trêmulas para o meio das costas dele, sentindo o tecido da camisa dele com a ponta dos dedos, com medo de que estivesse sonhando. Não conseguiu controlar o nó em sua garganta, sentindo uma lágrima descer ligeiramente pela sua bochecha, caindo nos cabelos loiros dele, pela cabeça dele estar apoiada em seu peito. 

Marcus fechou os olhos, respirando fundo, abraçando-o com mais força ao começar a soluçar. Não sabia o que Lucas estaria pensando, não queria que ele se afastasse, mas também não tinha coragem para soltá-lo, queria aproveitar aquele abraço gostoso até não poder mais. 

Lucas acariciou as costas de Marcus ao perceber que o choro dele se intensificava, sentindo os solavancos que o peito dele dava por soluçar agora com mais força. Decidiu envolvê-lo mais um pouco, até porque também estava se sentindo bem, como se um peso enorme tivesse saído de suas costas.

O loiro ouviu um grunhido triste vindo dele, sentindo seu coração apertar com a voz chorosa dele em meio ao choro, com a respiração falha, tentando entender se Marcus estava querendo dizer algo. Se antes havia qualquer resquício de incerteza de que ele realmente tinha se arrependido, agora não restavam mais dúvidas. 

Lucas permaneceu no abraço, sentindo o perfume gostoso que ele usava, lembrando-se dos dias que sofreu sentindo falta dele, ao mesmo tempo que não conseguia se lembrar mais do ódio que carregava, muito menos da mágoa. Estava feliz. 

— Me desculpa por isso… eu te molhei. — Marcus pediu, se afastando do abraço, com a voz totalmente fanha. 

— Não se desculpe. — O loiro reafirmou. — Não existe vergonha nenhuma em chorar. 

— Eu só queria… — Iniciou, fazendo uma pausa para enxugar o rosto. — Te agradecer por isso. Você pode ter noção, mas não faz ideia do quanto isso é importante pra mim…

— Faço sim, até porque eu também precisava disso… 

Marcus sorriu, com os olhos inchados e sinceros, sem saber mais como continuar na frente dele, totalmente envergonhado, dizendo:

— Já tá bem tarde… é melhor eu ir agora. 

— Tudo bem. — Lucas concordou, dando um passo para trás ao perceber que ainda estava perto demais do corpo dele. — Sabe? A Rachel e o Al vão passar o dia ocupados com os parentes, eu não vou estar fazendo nada, então... A gente poderia continuar essa conversa amanhã, se você quiser.

Era como se rosto de Marcus se iluminasse na escuridão que estavam, abrindo o sorriso mais sincero que esboçou na vida, respondendo:

— Eu adoraria.  

 

 

 


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