Stranger escrita por Okay


Capítulo 42
Fadado.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 06/11/2020



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Capítulo 42 — Fadado. 

Lucas abriu os olhos e viu que já era de noite, estava sem comer nada desde cedo, totalmente sem apetite. Bocejou, sentindo seus olhos arderem ao esfregá-los, lembrando-se de que havia passado a tarde chorando, se arrependendo de ter gasto suas lágrimas com quem não as merecia. 

Sentou-se na cama, encarando o envelope e a carta ao seu lado, não sabia o que devia fazer com aquilo. Apesar de ter em mente pensamentos como rasgar, atear fogo, dar descarga ou jogar da sacada do prédio, algo lhe impedia de concretizar aquelas coisas. 

Em todos os anos que esteve afastado de Marcus, não havia como contabilizar quantas vezes se pegou pensando em onde ele se encontrava e o que estaria fazendo. Acreditou de verdade que ele nunca tinha se importado a ponto de lhe procurar como dizia ter feito, mas aquela carta provava o contrário. 

Afinal, qual teria sido o objetivo dele com isso? Não via necessidade para que Marcus desenterrasse tudo aquilo depois de anos. Estava convicto de que ele apenas queria lhe desestruturar, mas não, ele não conseguiria. 

O loiro respirou fundo, levantando-se da cama, ainda com mal-estar. Viu as mensagens dos amigos no celular, não tendo cabeça para respondê-las agora. Tomaria um banho e pediria algo para comer, apenas precisava descansar, antes de qualquer coisa. 

Quarta-feira, dia 10 de julho de 2013.

O celular despertou para Lucas às oito da manhã, com ele enrolando um pouco até que conseguisse acordar totalmente. Já se sentia bem melhor do que no dia anterior, sentando-se na beirada da cama, percebendo o corpo levemente dolorido, mas sem nenhum enjoo.

Mesmo que estivesse recuperado, pensou que o mais prudente seria dar um tempo para seu corpo se desintoxicar da quantidade absurda de álcool que ingeriu. Se hidrataria e comeria melhor, mas deixaria o treino para o dia seguinte, não estava com coragem de pisar na academia. 

Viu mais mensagens em seu celular, Rachel e Alberto queriam saber se iriam tomar café da manhã juntos, mas resolveu não esperá-los. Não sabia o que aconteceria, com receio de que Marcus estivesse manipulando seus amigos, então não queria abrir nenhuma brecha para trombar com ele.

Depois escovar os dentes e se arrumar, saiu para tomar o café sozinho, ainda sem responder as mensagens. Pegou algumas porções de frutas, um pãozinho e café, escolhendo uma mesa distante de tudo, queria apenas paz e ninguém o veria facilmente ali. Comeu enquanto observava os arredores, tentando ter ideias para alguma publicação nas redes sociais, mas nenhuma ideia surgia. Estava tão esgotado psicologicamente que não queria pensar em nada. 

Ao terminar de comer, se levantou, caminhando para a saída, sendo surpreendido pela presença dos amigos, onde quase se trombaram por estar distraído. 

— Oi, Luke! — Rachel exclamou, surpresa. 

— Achei que ainda estivesse dormindo! — Alberto também pronunciou-se. — Como você tá? A gente te mandou mensagem. 

— Eu tô bem, só passei o dia dormindo ontem, então eu não olhei o celular ainda. — O loiro mentiu, envergonhado. 

— Vai querer malhar comigo? — Rachel indagou, mudando de assunto. 

— Ah, hoje não, Rach, não tô muito a fim… 

— E você já tomou café? — Alberto também perguntou. 

— Já sim, estava até de saída. — Lucas respondeu, ainda constrangido. — Vou tirar umas fotos pro blog agora. 

— Tudo bem, então. A gente combina de fazer alguma coisa mais tarde, se quiser. Agora vamos comer, tô morrendo de fome. — O amigo continuou. 

Lucas despediu-se deles, sem assimilar o que havia acabado de acontecer, não entendendo como estavam tão calmos. Tinha ficado o dia anterior inteiro sem contato com eles e os conhecia o suficiente para saber que estavam estranhos. 

Achava engraçado o fato de estar evitando-os com medo das perguntas que ouviria e agora que os encontrou, estranhava não terem dito nada. Até se aliviava um pouco, mas sabia que estavam evitando demonstrar preocupação, talvez Marcus já tivesse entrado na cabeça deles, como sabia que ele estaria fazendo, só não queria colaborar, permaneceria bem longe daquilo tudo. 

Após o café da manhã, Rachel e Alberto foram para as lojinhas próximas do hotel, dando uma volta não só para comprarem roupas novas, como também algumas decorações que poderiam levar na mala. Seriam as primeiras coisas que escolheriam juntos para a casa e dali em diante seria tudo assim. 

— Eu tô tão feliz… — Rachel encarou o noivo, vendo-o encaixar mais uma sacola em suas mãos, estava levando todo o peso. — Não vejo a hora de me casar com você, Sr. Mirano. 

— Eu também, futura Sra. Mirano. — Sorriu.

— A gente é um casal perfeito, fala sério! — Ela agarrou o braço dele, apontando para o espelho da loja. — Vamos fazer bebês lindos. 

— Bebês? No plural? — Alberto inquiriu, saindo com ela do estabelecimento. 

— Sim, mas poucos, só uns sete. — Gargalhou, roubando uma risada do noivo. — É brincadeira, tá?

— Mesmo que não fosse. — Encarou-a, parando de caminhar. — Eu tô aqui pra encarar o que o futuro tiver preparando pra gente… eu te amo. 

— Também amo você. — Ela puxou-o para um beijo rápido. — Você é tudo o que eu preciso e muito mais. 

Rachel recebeu outro beijo, sendo abraçada de um modo desajeitado pelas sacolas que ele estava segurando. Encerraram tudo o que queriam ver no centro, retornando ao hotel juntos, queriam aproveitar aquela tarde coladinhos. 

Não almoçaram, mas o apetite que sentiam era outro. Gastaram horas na cama sem ver o tempo passar, apenas parando para um banho, depois de ficarem ensopados de suor. Assim que a fome começou a incomodar, os dois se trocaram e desceram para um lanche, porque tinham perdido o almoço e ainda não estava na hora do jantar. 

Tomaram um café e um sanduíche, conversando do que faltava resolver até o noivado, que já seria dali três dias. Rachel apenas largou a caderneta que organizava os assuntos importantes da festa quando viu o amigo passar por eles, deixando Alberto sozinho à mesa, correndo dali. 

Ela o alcançou e pousou suas mãos nos ombros dele, vendo o sobressalto do loiro, antes de dizer:

— Luke! 

— Que susto! — Lucas virou-se para ela, com os olhos arregalados. 

— Desculpa! — Ela riu. — Faz tempo que a gente não conversa. O que tá fazendo de bom? 

— Nada, só tô meio estressado… não consigo pensar em nenhuma postagem pro blog e passei o dia perambulando caçando algo pra escrever. — Bufou. 

— Eu sei exatamente do que você precisa. — Rachel iniciou, com uma cara sapeca. — Massagem! 

— Ah, não. 

— Por que, não?! É perfeito! Você pode relaxar um pouco e perder essa cara azeda e compartilhar a experiência no blog. 

— Cara azeda? — Levantou uma das sobrancelhas.

— Eu sei que você tá chateado, eu não quero te ver assim… — Ela voltou com as mãos aos ombros dele. — Imagina você e um massagista bem gostoso passando a mão no seu pescoço, falando que vai aliviar a sua tensão! 

— Você não presta, Rach. — Riu com a sugestão pervertida dela. 

— Então tá combinado, vou marcar essa massagem pra você. — Rachel confirmou, saltitando. 

Lucas não teve como impedi-la, ela arrastou-o até a recepção, onde marcou a tarde seguinte para ser mimado no SPA. Depois conversaram sobre a ida ao centro, com Rachel contando do que gostou nas lojas, já querendo levá-lo para sair, mas deixaria para quando não estivesse tão atarefada com as últimas coisas que estava resolvendo para a festa. 

O loiro despediu-se da amiga, iria deixá-la com suas coisas, enquanto decidia o que fazer no restante do dia. Sinceramente, não estava muito animado para nada, mas resolveu pegar a câmera em seu quarto para fazer umas fotos para o blog.

Passou protetor solar e saiu do hotel, não se afastaria muito, mas andaria um pouco pela cidade, pegando uma boa luz, o dia estava lindo. Era boa a sensação de estar sozinho, principalmente quanto tinha essa opção, poderia simplesmente escolher qualquer coisa que quisesse comer e demorar o quanto precisasse nos lugares. 

Analisou algumas lojas, lembrando-se que precisava comprar um bom presente para Rachel e Alberto, decidindo que compraria algo assim que voltasse para Nova York, não queria que tivessem o trabalho de despachar algo muito trabalhoso no avião. 

Não voltou a ver os amigos naquele dia, resolvendo descansar, indo dormir um pouco mais cedo.

Lucas já levantava e estava pronto para o dia no SPA, mesmo com um pouco de preguiça, arrastou-se até o salão. Não sabia se era por estar distraído, mas chegou estranhamente rápido, guardando o celular no bolso ao entrar, esperando até que fosse encaminhado para a sala. Recebeu uma toalha, ficando a sós no cômodo para despir-se e deitar na maca. 

Enrolou o tecido felpudo em seu quadril ao terminar, subindo um degrau para acomodar-se para a massagem, encaixando a cabeça para baixo no buraco da maca. Fechou os olhos, ouvindo a música terapêutica no fundo, era tudo tão calmo que nem sabia dizer se tinha cochilado quando ouviu passos no ambiente. 

A pessoa que estava designada a massageá-lo parecia calma, mexendo com o que usaria de forma silenciosa. Ouviu o desrosquear de uma embalagem que entendeu ser o óleo de massagem que agora caía em sua pele, deduzindo que eram mãos masculinas quando sentiu suas costas serem alisadas por dedos largos e um toque mais firme. 

Gemeu baixinho, sentindo o contato subir pela sua coluna, deslizando o óleo para as partes ainda secas. Rachel estava certa, era muito bom ser cuidado por alguém e devia ter feito aquilo antes, era tão envolvente, que tentava se controlar para não grunhir a cada lugar que era pressionado estrategicamente. 

A pessoa sabia bem o que estava fazendo, os dedos eram ágeis, delicados e espertos, talvez até um pouco demais, não sabendo se ter a toalha ser ligeiramente abaixada para pressionar a região dos glúteos fazia parte do processo. Mesmo assim, deixou com que continuasse, até ouvir o massagista perguntando:

— Tá gostoso, loirinho?

Lucas quase caiu ao desequilibrar-se, tentando se levantar da maca, com uma mão se apoiando e com a outra puxando a toalha para se cobrir de volta, encarando Marcus parado de pé ao seu lado, exibindo um sorriso pervertido.

— O que você tá fazendo aqui?! 

— Eu precisava te ver de novo. — Falou, limpando as mãos em uma toalha ao lado. 

— O que é que você tem na cabeça? Hein?! — Se colocou de pé, ajeitando a toalha, saindo da maca. 

— Espera! — Tocou-o no braço. — Eu não posso mais ficar nessa situação, eu preciso saber se você leu a minha carta! Eu quero que saiba que eu ainda te amo, eu quero você! 

— Me ama o escambau! Vai se ferrar! — Empurrou-o para que ele mantivesse distância. — E como você entrou aqui?!

— Eu falei pra massagista que queria fazer uma surpresa pro meu namorado e depois dei uma boa quantia. — Ergueu os ombros. — Me dê uma chance, vai, eu queria ser criativo.

— Você é doente, isso sim! — Se virou, prestes a sair, sendo impedido pelas mãos dele. — Me solta!

— Calma! — Marcus pediu, virando Lucas em sua direção. — Me fala, olhando nos meus olhos, que você não quer ficar comigo.

— Eu não quero! — Falou, tentando se livrar dos braços dele. — Deixa eu ir embora!

— Você não tá me olhando… Para de agir como criança e olha na minha cara!

O loiro deu-lhe um tapa ardido em sua bochecha em resposta, conseguindo fazer com que ele lhe soltasse, mas imobilizou-se, se mantendo próximo dele, não conseguia se afastar depois de ver a expressão dolorida que ele fez, cobrindo a região afetada com a mão. 

— Você pediu. — Lucas tentou se justificar. 

Marcus observou a feição mista de raiva e arrependimento do loiro, colando seus corpos outra vez, agora delicadamente segurando nas laterais do rosto de Lucas, abaixando o corpo para ficarem da mesma altura, perguntando. 

— Você quer mesmo ir embora? 

O loiro desviou o olhar, olhando para o lado e deixando seu pescoço vulnerável para os beijos malandros dele. Marcus esfregava em sua pele, causando-lhe cócegas com sua barba, brincando ali até perceber que Lucas se rendia aos poucos, abaixando sua guarda, deixando seus lábios serem cobertos pelos dele. 

— Para… — O loiro pediu, no intervalo que conseguiu do beijo, tendo sua boca tomada novamente. 

Marcus levava as mãos pelas costas escorregadias, descendo por sua pele, lhe provocando, fazendo-o suspirar, ao mesmo tempo que tomava a boca dele com tanta sede que sentia seu corpo exclamar por mais. Não queria se afastar, só queria mais, fazendo-o estremecer quando sussurrou baixinho ao pé do ouvido dele:

— A gente tem essa sala por mais uma hora… 

Lucas percebeu os dedos indecentes de Marcus escorregarem agora pelo seu abdômen, ameaçando libertá-lo do que estava cobrindo sua ereção, sendo deixado levar por ele. Deram passos curtos até a maca, com o loiro sentando-se nela depois de ter sua toalha arrancada.  

Estava se sentindo sujo, mas com tanta vontade que não estava raciocinando direito, sabia que se arrependeria daquilo, mas agora já era tarde demais. A boca dele passeava pelo seu corpo, descendo de seu pescoço até seu mamilo direito, que foi rodeado com a língua antes de ele continuar a dançar atrevidamente em sua pele. 

Lucas estava sentado com as mãos apoiadas atrás de suas costas, tendo levantado de supetão, ofegante e desnorteado. Olhava ao redor, reconhecendo o quarto mesmo com a pouca claridade por ainda ser de madrugada, tentando se recompor daquele sonho agitado que  parecia assustadoramente real. 

Seu coração estava disparado e sua pele ardia, parecendo ainda ter os dedos dele percorrendo seu corpo, não acreditando em como era possível sentir aqueles toques com tanta intensidade. Seu corpo todo tinha se manifestado com aquele sonho, principalmente uma parte específica no meio de suas pernas. E seria difícil dormir naquele estado. 

Quinta, dia 11 de julho de 2013. 

Lucas se sentia extremamente culpado pela noite anterior, como se tivesse cometido um crime e pior, como se as pessoas conseguissem ler o que estava em sua mente. Sabia que era idiotice se sentir assim, mas não podia evitar, estava envergonhado demais para assumir até para si mesmo sobre a noite passada. 

Sabia que enquanto não deixasse sua paranoia de lado, continuaria com o subconsciente perturbado. Era difícil aceitar que Marcus estava entrando em sua cabeça e fazendo-o se questionar de todas as coisas ao seu redor, como teria coragem para ir ao SPA com o sonho que teve? 

E se não fosse, sabia que Rachel gostaria de saber o motivo e qualquer desculpa esfarrapada não iria funcionar. Preferia ir desconfiado para receber a massagem, do que ter que contar o verdadeiro motivo. Apenas precisava aguentar só um pouco mais, dali exatamente oito dias tudo aquilo acabaria e até lá teria que se manter em alerta. 

Terminando seu café da manhã, já tinha pego tudo para ir malhar, precisava voltar à rotina. Rachel estava indo consigo, mas ela não reparou a sua agitação ao ver um homem alto de costas. Lucas estremeceu, sentindo uma vontade súbita de ir embora, não queria trombar com Marcus por ali e era ainda mais difícil se acalmar por não saber mais o que esperar dele. 

Rachel já subia na esteira e o amigo pôde finalmente respirar fundo quando o homem virou-se, percebendo que tinha sido apenas um engano. Mesmo com a paranoia diminuindo, continuou a olhar para a porta em alguns momentos, com medo de receber a presença dele, demorando para finalmente conseguir deixar o estresse de lado para treinar. 

Ambos passaram um pouco mais de uma hora por ali, ajudando um ao outro, Lucas até mesmo conseguiu se esquecer de que antes estava preocupado com a presença de alguém. Combinaram de se ver mais tarde e foram tomar banho, cada um seguindo com seus afazeres. 

Ao chegar a hora combinada de sua massagem, o loiro tentava se distrair e não pensar no sonho enquanto ia até o SPA. Era difícil, sabia que aquelas coisas estavam na sua mente apenas porque estava pensando em Marcus mais do que deveria, mas era inevitável, depois do constrangimento do karaokê, tinha que esperar qualquer coisa dele. 

A recepção que recebeu foi totalmente diferente da de seu sonho, mesmo assim, não estava totalmente tranquilo. A mulher que lhe atenderia se posicionava ao seu lado na maca, pedindo para que se deitasse. 

— Moça, por favor… você não vai sair daqui não, né? — Quis confirmar, com ela exibindo uma expressão confusa. — Não me deixa dormir, pelo amor de Deus. 

Ela riu, sem saber como responderia aquilo, começando a aquecer o creme que usaria na massagem. Conseguiu se acalmar, tentando esquecer as semelhanças daquele dia com seu sonho, até conseguindo tirar um cochilo, sem medo de que a massagista fosse subornada para sair dali. 

Estava mais calmo, disposto a aproveitar o restante do dia com a cabeça esvaziada das suas preocupações. Ao finalizar a sessão, colocou suas roupas de volta, parecia que um peso enorme tinha saído de suas costas, decidindo que era uma boa hora para escrever para o blog e começaria sobre sua experiência no SPA. 

Foi ao quarto para pegar seu notebook, fones de ouvido e o cartão de memória com as fotos que tinha, levando tudo para o térreo. Se ajeitou confortavelmente próximo a piscina, estava inspirado, tanto com a vista, como com a tranquilidade que sentia, preparando tudo para começar a trabalhar. 

Já fazia dois dias desde que Marcus não via Lucas, ainda estava com os últimos acontecimentos na cabeça, então precisava relaxar, caso contrário, não demoraria muito para ter um colapso nervoso, de tanta coisa que vinha pensando.  

Decidindo nadar para refrescar a cabeça e descontrair, colocou uma roupa fresca e foi à piscina. Estava olhando os lugares vagos para escolher onde sentar e pousou os olhos sobre uma espreguiçadeira livre, percebendo que o dono do assento ao lado estava distraído com o notebook no colo, provavelmente sozinho. 

Pensou então que ele não se importaria com alguém ao lado, então em seu segundo passo naquela direção, desorientou-se e quase se esqueceu de como andava, vendo de quem se tratava. Engoliu em seco e recuou, trombando em uma mulher que estava atrás de si, reclamando para que ele olhasse por onde andava; mas não conseguiria quando quem estava à sua frente era o loiro que não saía de sua cabeça. 

Lucas estava com os fones de ouvido, fazendo-o pensar em qual música ele estaria ouvindo, a única certeza de Marcus, era que não seria “Always” de Bon Jovi. Riu internamente, vendo-o concentrado, passando os dedos rapidamente pelas teclas e parando alguns instantes para reler e continuar escrevendo. 

Era tentador, queria continuar por ali e ter uma visão privilegiada da expressão séria dele enquanto digitava, mas teria que se retirar. Pegou o elevador e ao chegar em seu quarto, ainda estava pensando nele e no quanto ele estava lindo enquanto possivelmente trabalhava no blog. 

Sentou-se no sofá e lembrou-se de quando passou a noite ali. Era irônico pensar que quando soube que ele estava vindo para a viagem, assumiu que imaginou que o veria em sua cama, porém, em outras circunstâncias. O que só o fazia pensar que tinha que abandonar qualquer proposição que carregava. Tudo seria diferente. 

Estava mais uma vez com a cabeça cheia, era cansativo pensar em como as coisas continuariam. Tinha que se acalmar, porque sabia que quando eles retornassem para Nova York seria mais fácil. O problema maior era saber que ele estava tão perto fisicamente, mas o mais afastado emocionalmente que poderia imaginar. 

Lembrou-se mais uma vez da manhã de terça-feira quando entregou-lhe a carta, pensando se ele a teria lido. Gostaria de ter pedido para que ele ficasse mais, para que conversassem, mas não, não adiantava mais insistir, quanto mais cavava, mais as coisas desmoronavam e se afundava em mais angústia 

Respirou fundo, apoiando o cotovelo ao sofá, olhando para a mesinha de centro com uma sacola sobre ela, lembrando-se do que se tratava. Levantando-se e a tomando em mãos, indo ver quem sempre lhe ajudava, descendo até o andar onde o melhor amigo estava hospedado, tocando na porta de seu quarto. 

— Oi! Não achei que ia te ver hoje! — Alberto abriu a porta do quarto.

— Não quero atrapalhar, é coisa rápida. — Estendeu a mão, lhe entregando o que segurava. — Eu só queria saber se você poderia entregar isso pro Lucas. É a camiseta dele. Chegou da lavanderia ontem, mas esqueci de trazer antes. 

— Ah! — O amigo exclamou, olhando a sacola e depois voltando a encará-lo. — Mas por que você não entrega pessoalmente?

— Bem que eu gostaria, mas eu sei que ele não quer me ver. Além disso, também quero deixar ele em paz, você e a Rachel que me disseram pra fazer isso, já se esqueceu? 

— Claro que não, eu só não achei que você obedeceria a gente. — Sorriu, roubando um riso tímido dele, percebendo a expressão dele se fechar em seguida.

— Bom, eu vou indo, então… 

— Não parece que você quer ir… — Alberto chamou-o. — A Rachel saiu e eu não tô fazendo nada... não quer mesmo entrar? Vamos conversar sobre o porquê que você tá com essa carinha tão abatida. 

Marcus entrou sem relutar, sentando-se em uma poltrona, enquanto Alberto deixava a sacola de lado, acomodando-se na beirada da cama, antes de perguntar:

— Aconteceu alguma coisa entre você e o Lu?

— Não, eu só… — Falou, dando uma pausa para suspirar. — É que eu vi ele hoje… Não sei, acho que a minha ficha finalmente tá caindo, sabe? Ainda é difícil pra mim, ver ele todo charmoso andando por aí e eu não conseguir nem me aproximar… 

— Eu te conheço muito bem, você sempre foi impulsivo, deve estar sendo uma tortura! — Exclamou, roubando um sorriso fraco do amigo. — Mas você tá se saindo bem. 

— Eu não posso falar que eu não sabia que o melhor desde o início era me afastar e dar um espaço pra ele, mas não tinha compreendido de verdade, faz sentido? — Tentou explicar. 

— É claro que faz.

— Eu ainda estava esperançoso e nem parei pra pensar nos sentimentos dele… eu sabia que ele estava magoado, mas nunca pensei nos danos reais que eu causei e nas marcas emocionais que eu deixei nele. — Marcus continuou. — Foi difícil, mas eu consegui engolir que eu realmente tenho que me retirar e deixar ele viver a vida dele… Até porque ele tem muito mais juízo que eu.

— Isso é verdade, o Lu amadureceu demais. — Alberto sorriu, concordando. — Mas olha… Eu sei o que você tá sentindo, me lembro de ficar assim no ensino médio, logo depois que a gente terminou. Eu me lembro de pensar que eu tinha estragado toda a nossa amizade, jogado tudo no lixo… Mas quando eu vi que tudo ia ficar bem, eu me acalmei. Acho que daqui a pouco você vai perceber que não era pra ter se preocupado tanto assim.

— Não é a mesma coisa, Al. A gente já era muito amigo antes de tentar um compromisso sério. E quando não deu certo, nós dois concordamos que não tava indo pra frente e foi isso. Foi meio chato, mas conseguimos seguir com a nossa vida. — Marcus esclareceu. — Com o Lucas não é tão simples, porque o pior de tudo é me lembrar todos os dias que fui eu que estraguei as coisas… Eu tenho que lidar com as consequências agora, não vou poder sequer ter uma amizade com ele. 

— Até porque eu acho que isso não funcionaria. — Alberto brincou, roubando uma risada fraca dele. 

— Até você sabe disso. — Marcus continuou, ainda com o olhar desmotivado. — Eu sei que eu vou ver ele no noivado de vocês, mas durante os outros dias eu vou manter distância, se eu não consigo controlar esses meus impulsos idiotas, então é melhor evitar que eles apareçam.

— Esses seus impulsos têm nome. — O amigo pontuou.

— Amor? 

— Tesão acumulado. — Alberto rebateu, finalmente fazendo-o abrir uma gargalhada sincera. — Mas eu sei que não é só por isso que você tá mal… ou eu estou errado? Tem alguma coisa que você não me contou? 

— Tem. — Marcus levantou a cabeça, encarando o amigo. — Você se lembra daquela carta que escrevi pra ele? 

— Que você guardou por anos? É claro que eu me lembro! Sempre pegava você se martirizando, relendo e chorando pelos cantos. — Alberto riu, levantando-se da cama, agora indo para a poltrona ao lado dele. — Por quê? 

— É porque eu entreguei pra ele. — Suspirou, abaixando o olhar em constrangimento. — Eu não sei se fiz certo. 

— Se você tava guardando isso por tanto tempo, então eu acho que você realmente precisava entregar. — Alberto concluiu, vendo-o encarar o chão. — Mas e aí? Ele leu?

— Eu não faço ideia, acho que não. Na verdade, acredito que ele nem vai tentar ler, eu só queria entregar aquilo pra não ficar revivendo mais essa situação toda. — Passou a mão sobre o rosto, suspirando. — Eu tô cansado de ficar imaginando tudo o que a gente poderia estar vivendo agora se estivesse junto… eu não aguento mais, eu precisava dar um ponto final. 

— Bom, então você não tem com o que se preocupar. — O amigo ergueu os ombros. — Eu sei que era uma carta bem melosa e isso é a última coisa do mundo que o Lu quer ler, mas acho que, com isso, vocês encerram a história com tudo esclarecido. Se ele já teve alguma dúvida do quanto você amou ele e que o procurou por todos esses anos, ele não vai ter mais. 

— Se ele entendesse isso, mesmo que não sinta mais nada por mim, eu já vou ficar realizado, de verdade. — Marcus diz, sorrindo tristemente, desviando o olhar para disfarçar um possível choro. — Mas ainda dói muito, eu só queria não sentir mais isso. 

— Fala sério, olha só por quanta coisa você já passou! Essa dor vai diminuir com o tempo, acredite em mim… Isso vai passar, você só tem que ser paciente. — Alberto aconselhou. 

— Eu espero mesmo que sim… só tô torcendo para que não leve mais sete anos. — Comprimiu os lábios com força, mudando de assunto. — Mas me fala, como estão os preparativos para o noivado?

Lucas terminava de se arrumar para jantar com os amigos, passando perfume ao ouvir batidas na porta do quarto, indo ver de quem se tratava. Ao abrir, viu Rachel e Alberto sorrindo, com a amiga logo dizendo:

— Que gato! 

— Já tô pronto. — O loiro sorriu com o elogio. — Vamos?

— Aqui, guarda. — Alberto esticou o braço, lhe entregando uma sacola. 

— O que é? — Pegou, abrindo-a. 

— Sua camiseta, o Mark deixou comigo mais cedo pra te dar. 

— Ah! — Exclamou, surpreso. — Valeu. 

Lucas entrou no quarto para guardar a camiseta, não se lembrava dela e agora que pensava nisso, não entendia como Marcus não aproveitou aquela deixa para ir vê-lo, já o conhecia tão bem que só conseguia estranhar aquela situação. 

Colocou-a sobre a cama e voltou até eles, pegando o cartão de acesso, fechando a porta do quarto. Foram ao elevador, com Rachel falando sobre alguns detalhes da festa até o loiro se pronunciar, dizendo:

— Gente… eu sei que vocês estão evitando falar do que aconteceu depois do karaokê, mas apesar de eu estar agradecido por isso, eu também queria me desculpar por não dizer nada. 

— Luke, você não precisa se explicar. 

— Eu quero. — Encarou ambos antes de continuar. — Foi vergonhoso, mas eu quero falar o que aconteceu. 

Chegaram ao saguão enquanto ele contava sobre o que houve, pelo menos, do que soube por Marcus, com os amigos fingindo que não tinham ouvido todos aqueles detalhes antes. 

— Bom, eu não lembro de nada direito, então não sei se tudo o que ele me disse aconteceu exatamente assim, mas foi o que ele contou… — Terminou de falar. — E eu não quis falar antes disso porque foi vergonhoso demais pra mim. 

— A gente sabe, Lu. — Alberto se pronunciou. — Relaxa, tá? 

— Você nem precisava ter se explicado, nós entendemos. — Rachel completou. — E a gente pede desculpa por não ter visto as mensagens dele, uma parte disso é nossa culpa, eu podia ter ido ficar com você. 

— Vocês não tem culpa de nada, eu que exagerei e bebi demais. — Lucas rebateu. — Mas apesar de constrangedor, não foi a pior coisa do mundo… 

Rachel sorriu e Alberto percebeu o loiro desviar o olhar, ainda envergonhado, sem saber o que aquela timidez que ele exibia significava. 

Na sexta-feira, cada um tomou um rumo separado. Depois do café da manhã sem os amigos, Lucas foi à academia sozinho, Rachel estava atarefada demais e sem cabeça para se exercitar, seus pais e alguns primos chegariam dali algumas horas para passarem a noite no hotel por conta do noivado e Alberto a ajudava com os últimos detalhes.

Marcus aproveitou para tentar se distrair do fato de que no dia seguinte veria Lucas na festa e tentou mentalizar o que precisava fazer, não podia estragar tudo mais uma vez. Tinha que ficar próximo o bastante dos amigos para a situação não ficar estranha, mas longe do loiro o suficiente para que ele ficasse confortável. 

Já Lucas usou o dia para escrever mais um pouco, completando uma postagem que estava em rascunho. Carregando algumas fotos e lançando o artigo depois de reler várias vezes, para verificar se deixou algum erro passar batido. E de noite, aproveitou para relaxar e fazer alguns cuidados pessoais, esfoliando o rosto e se hidratando, cuidando da pele para ficar bem nas fotos da festa. 

Como estava ansioso, tratou de pendurar a camisa já passada, que usaria amanhã no noivado, deixando-a do lado de fora do guarda-roupa. Indo dormir imaginando como seriam as coisas, tentando se concentrar na celebração dos dois amigos e não em outra pessoa. 

Sábado, dia 13 de julho de 2013. 

Marcus levantava um pouco mais cedo, tentaria aproveitar bem o dia antes da festa, precisava se manter ativo, então logo depois do café, já rumou à academia. Começou o treino depois de se aquecer, fazendo as primeiras séries com menos intensidade, aumentando a carga aos poucos. 

Como havia treinado os membros inferiores no dia anterior, agora focava nos músculos das costas, se preparando para a barra, se posicionando e iniciando com um impulso. Fazendo até seu limite antes de finalmente descer, tocando o chão, indo para trás sem ver que quase esbarrou em alguém.

— Desculpa. — Lucas deu um passo para o lado, aumentando a distância entre os dois antes mesmo de encará-lo. — Ah, oi. 

— Oi. — Foi o que Marcus conseguiu dizer, abalado, sem imaginar que ele estaria ali. — Eu já acabei aqui. 

— Não, pode ficar. — O loiro respondeu, olhando por alguns segundos para a tatuagem no braço esquerdo dele. — Eu só vim pegar as anilhas. 

— Ah… — Observou-o ir para o suporte dos pesos logo ao lado. 

Tentou não encará-lo enquanto ele abaixava-se para pegar as anilhas, segurando-se para não oferecer ajuda, apenas trocando um olhar rápido com ele enquanto via-o se afastar. Tudo não tinha durado mais do que cinco minutos e já tinha sido o suficiente para sentir seu coração escalar seu esôfago, prestes a pular para fora do corpo. 

Encarou a barra novamente, tendo que enxugar suas mãos agora suadas antes de continuar. E mesmo que se esforçasse, seu rendimento não era o mesmo, enquanto subia só conseguia se lembrar dos olhos dele desviando dos seus e de perceber ele encarando a tatuagem. 

Seu coração acelerava tentando entender o que se passava na cabeça dele, mas sabia que não podia ficar criando teorias e alimentando os pensamentos involuntários. Interrompeu as subidas com menos da metade dos movimentos da última vez, largando a barra, suspirando, não parecia estar com o mesmo fôlego de antes. 

Talvez Alberto tivesse razão em dizer que aquilo tudo só parecia o fim do mundo agora e, que lá na frente, entenderia que não precisava ter feito tempestade em copo d’água, mas o amigo não estava em seu corpo para sentir o que estava sentindo e para tentar lidar com tudo aquilo. Não era forte o suficiente, não conseguia ser frio para apenas abstrair, então juntou suas coisas e decidiu parar por ali, tinha que ir embora. 

Apesar de querer, se controlou para não procurar Lucas enquanto saía, sentindo um misto de alegria e tristeza. Ter os olhos dele sobre si era uma das coisas que mais desejava, mas agora, a que mais temia. Estava decidido a seguir em frente mesmo que seu coração tivesse ficado para trás. 

Já em seu quarto, tomou um banho demorado, não queria sair debaixo da água quente, ela embalava suas melhores lembranças, ao mesmo tempo que se esforçava para voltar à realidade. Mas era muito melhor viver nas suas memórias. 

Fechou o registro, puxando a toalha, enxugando-se, esfregando seu braço esquerdo. Viu os traços da tatuagem, lembrando-se do seu aniversário do ano passado, os olhos azuis arregalados vieram em sua mente mais uma vez, lembrando-se do momento em que Lucas puxava seu sobretudo para baixo, apenas querendo confirmar pelo desenho em sua pele se era quem dizia ser. 

Levou a toalha até o quadril, se enrolando, saindo do banheiro, sentando-se na cama, como se estivesse sem mais forças para continuar de pé. Jogou o corpo contra o colchão, suspirando, encarando o teto, sem saber o que faria dali em diante. 

As horas se passaram e não havia conseguido aproveitar o dia como tinha planejado, tendo almoçado sozinho e passando o resto do tempo sem conseguir fazer muita coisa, totalmente desanimado.

Chegou a hora de se arrumar para sair, pegando a calça social e a camisa que usaria. Vestiu-se e arrumou os cabelos penteados para trás, com alguns fios caindo sobre o rosto enquanto tentava mantê-los atrás da orelha. 

Se sentia culpado por não estar feliz pelo noivado do amigo, sabia que seria um evento importante para ele e precisava dar seu apoio, torcendo para que aquela noite passasse rápido, pois nem beber poderia para conseguir aproveitar a festa. 

Desceu até o hall e se dirigiu ao salão onde seria o evento, já conseguindo ver que estava totalmente arrumado, mas havia chegado cedo, notando algumas pessoas desconhecidas perambulando e a maioria das cadeiras estavam vazias. 

Tocava uma música tranquila enquanto caminhava pelo salão, procurando a mesa que ficaria. Viu seu nome antes de se sentar, olhando as plaquinhas próximas a cada sousplat, não sendo uma total surpresa ao ver o nome do loiro estampado ali. Estariam próximos durante a noite toda, sabendo que só bastava aguentar firme pelo resto daquele dia e não precisaria passar por isso novamente, assim sentando-se no lugar designado. 

— Oi! — Alberto pousou as mãos em seus ombros, em pé atrás de si. — Que carinha é essa? Você tá bem?

Marcus abriu um sorriso, que apesar do esforço, não foi nada convincente ao dizer:

— Eu tô ótimo. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo