Stranger escrita por Okay


Capítulo 44
Retribuição.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 12/11/2020



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Capítulo 44 — Retribuição. 

Apenas combinaram o horário que se veriam, com Lucas vendo Marcus se retirar, olhando-o até onde conseguiu pela pouca claridade. Mesmo com ele já longe, não tirava a expressão dele de poucos minutos atrás de sua cabeça, nunca tinha o visto daquele jeito, com os olhos inchados, vermelhos e chorando como uma criança perdida. 

Mais cedo naquele mesmo sábado, jamais imaginou que ao fim do dia iria perdoar a pessoa que lhe magoou tanto. Mas estava com a consciência limpa, se aquele lado do homem que tanto odiava já não existia mais, então não fazia mais sentido alimentar tanta mágoa quando claramente Marcus havia aprendido sua lição.

Sorriu agora sozinho, ainda em pé, olhando para o mar. Tudo estava calmo e tranquilo, como um reflexo de seu interior, Lucas podia dizer que agora sim estava transformado por completo. No fim das contas, aquela viagem teve mais do que um único propósito. 

Não soube por quanto tempo encarou o horizonte, sentindo o vento fresco que estava naquela noite, como se a brisa calma acariciasse seu rosto. Recordou-se do ano passado, lembrando-se dos piores momentos, onde tudo parecia o fim do mundo e um pesadelo sem fim, seus dias eram vazios e amargos.

Agora era outro homem, nunca imaginou que seu coração tão rancoroso pudesse se tornar tão benevolente, mas era a verdade. Era como se estivesse agasalhado, porque seu peito estava aquecido daquela sensação boa. 

E o que fez com que seus batimentos acelerassem, foi poder contemplar o céu se iluminando pela manhã que chegava devagar. Era uma pena que não estivesse com sua câmera ali, mas guardaria aquela foto mental como um marco para o fim daquele dia memorável. 

Lembrou-se do noivado e com isso, pegou a corrente que usava debaixo da camisa, encontrando o fecho e abrindo-o, a retirando do pescoço. Olhou para o colar em suas mãos. Dependeu sentimentalmente daquele mero objeto por meses, como uma muleta. 

Não que não tivesse sido grato ao que viveu naquele período difícil de autoconhecimento, mas sentia que precisava ir para a próxima etapa de sua vida. Puxou o anel para separá-lo da corrente, guardando-a no bolso, apenas mantendo a aliança em mãos. 

Olhou a gravura com o nome de Gus no interior, ainda queria que ele estivesse ao seu lado nesse momento, principalmente para apreciar aquele nascer do sol, mesmo assim, sentia paz finalmente. Sorriu, passando os dedos ao redor do anel, levando-o até seus lábios, depositando um beijo suave nele antes de arremessá-lo ao mar à frente. 

Lucas acordou assustado, arregalando os olhos, procurando o celular com pressa em meio aos lençóis, vendo que horas eram. Como foi dormir tarde, deu um pulo da cama ao ver que tinha perdido o café da manhã e estava quase na hora de sair com Marcus. 

Foi ao banheiro escovar os dentes e tomar o banho mais rápido que conseguiu, arrumando os cabelos com pressa. Ficou em dúvida de que roupa usaria e o tempo passando não ajudava muito a decidir, não gostava de fazer as coisas sob pressão. 

Não queria se arrumar demais e parecer que estava se esforçando para chamar sua atenção, ao mesmo tempo que não queria parecer desleixado. O dia não estava tão quente e como não sabia para onde iriam, vestiu uma camiseta fresca, depois pegou uma calça jeans, subindo-a com pressa pelas pernas, mal fechando o zíper enquanto calçava seu tênis. 

Ficou de pé após dar nó em seus cadarços, podendo agora arrumar o restante da roupa, fechando a calça e o botão, ajeitando a blusa no corpo, verificando se não estava amarrotada. Passou perfume, mas não muito, penteando os cabelos novamente ao ouvir o toque na porta. 

Seu coração não se conteve, sabendo que provavelmente estava nervoso por aquela situação não ser nada convencional, não sabia o que esperar e agora ele havia chegado. Por último, pegou o celular e a carteira antes de caminhar até a porta, colocando-os no bolso. 

— Oi. — Lucas falou, após abrir a porta, encarando Marcus e logo franzindo o cenho.

— O que foi? — Indagou sem entender a expressão dele ao olhar para a sua roupa. — Estou formal demais?

— Não, é que não tá frio pra tudo isso… Ou a gente vai escalar uma montanha e eu não sei? — O loiro quis saber, vendo-o com um blazer e por baixo, aparentemente uma blusa de lã. 

— Você não está com frio? 

— Não mesmo. 

— Mas não vale, eu já não estou mais acostumado com frio desde que vim pra cá. — Justificou-se. 

— Eu sei, mas isso não é normal, não. — Lucas estranhou. — Tá tudo bem? Você parece mais rouco...

— Acordei com a garganta arranhando um pouco, mas não é nada demais. — Marcus respondeu, erguendo os ombros. 

— Se está com tanto frio, deve estar com febre. 

— Eu tô bem. É sério. 

— Desculpa, mas acho melhor a gente sair outro dia. — O loiro orientou. 

— Eu estou, sim, um pouco resfriado... Mas a gente não precisa ir em algum lugar muito longe. — Marcus tentou convencê-lo,  entristecendo-se. — Ou você tá com medo de ficar doente também? Eu não queria deixar pra outro dia. 

— Não, não é isso, você tem que se cuidar agora. — Lucas encostou-se ao batente da porta. — Até porque você nem vai conseguir conversar com dor de garganta.  

— Mas eu tô legal. — Marcus relutou, levando a própria mão ao rosto. — Não tô com febre, nem nada. 

— Não é assim que funciona. — Riu com a tentativa frustrada dele de provar que estava bem. — Você não pode ver a própria temperatura… 

— Então vê pra mim? — Pediu timidamente. 

Levou alguns segundos para que Lucas desse o primeiro passo a frente, receoso com a aproximação. Ergueu o braço para alcançar o rosto dele, tocando-o na testa, notando um sorriso tímido de Marcus, ouvindo-o perguntar:

— E então?

— Eu estava certo, você tá bem febril. — O loiro revelou, se afastando. 

— Eu não ligo pra isso… por favor. — Insistiu, encarando-o como se seus próprios olhos implorassem para ele aceitar. — Eu não almocei ainda, a gente podia ir comer alguma coisa aqui no hotel mesmo. 

— Você tem aspirina? — Lucas perguntou, propenso a aceitar.

— Me lembro de ter comprado, só preciso confirmar. — Marcus respondeu, ainda com olhar esperançoso.  

— Então vamos resolver isso primeiro, aí a gente pensa em comer alguma coisa depois, até porque eu tô com fome também. — O loiro concordou, não tendo ideia de como o outro se agitava internamente com aquela resposta.

Marcus sorriu, vendo-o fechar a porta e o seguir. Entravam no elevador juntos, indo a um dos quartos do último andar. Lucas tentava não pensar que estava indo para a suíte dele, era um pouco estranha a sensação de que já esteve por lá, mas agora não parecia errado. 

O loiro seguiu-o porta adentro, podendo reparar no local com mais calma do que quando acordou de ressaca por ali. Era uma suíte espaçosa, com quarto e sala juntos, pelo o que tinha entendido, tinha dois banheiros e mais uma varanda grande, acompanhada de uma mesa de jantar próxima da grande porta de vidro que dava ao exterior. 

Tentou não demonstrar nervosismo por estar ali a sós com ele, se mantendo sempre um passo atrás. Viu-o ir até o armário e pegar a caixinha de remédios dali, se aproximando para ajudá-lo na busca.

— Esse deve dar. 

— Esse é bom. — Concordou, lendo o que estava na caixinha. 

Observou Marcus ir pegar uma garrafinha de água do frigobar, destacando um comprimido da cartela e o engolindo, ouvindo Lucas lhe perguntar:

— Por que não tomou o remédio antes de ir me ver?

— Porque não é nada demais, eu não costumo tomar nada quando fico mal. 

— Besteira… remédios estão aqui pra facilitar a nossa vida. Eu sei bem disso. — Confirmou, vendo-o tampar a garrafa de água. 

— Ok, o que eu tenho que fazer agora? Alguma compressa fria pra por na testa ou sei lá? 

— Tira um pouco do excesso de roupa. — Lucas aconselhou. — Você vai ficar com frio, mas é melhor. 

— Mas já? A gente mal voltou a se falar… — Brincou, roubando uma risada discreta do loiro. — Desculpa… eu não podia perder a piada. 

— Por que eu já sabia que você ia falar algo do tipo? — O loiro olhou para a expressão sacana que ele carregava. — E sim, seria bom ter uma compressa fria. 

Marcus retirou o blazer e a blusa de lã, sentindo seu corpo se arrepiar ao ficar apenas com a camiseta leve que estava por baixo de tudo. 

— Preciso ficar assim por quanto tempo?

— O quanto for preciso pra febre dar uma abaixada. — Lucas viu a expressão de desconforto no rosto dele. — Você tem alguma toalhinha pra gente molhar? Ou uma bolsa de gelo própria? 

— Só a toalha, eu vou pegar. 

Lucas observou mais do local enquanto ele pegava o que pediu, em seguida ouvindo-o abrir a torneira e a fechar antes de voltar. 

— Eu encharquei a toalha e espremi, é isso mesmo? — Perguntou já sabendo que estava certo, mas queria a validação dele. 

— Isso. Senta aqui no sofá, agora. 

Marcus foi até a sala, sentando-se, com Lucas ao seu lado. 

— É só passar na testa ou tem que deixar um pouco? — Continuou, já tendo feito aquilo antes, mas gostava da atenção especial que o loiro estava lhe dando. 

— Acho que o melhor é deixar um pouco… 

— Tá bom. — Concordou, dobrando a toalha que segurava. — Mas antes, você não quer pedir algo pra comer? Você disse que estava com fome. 

— Pode ser. 

— Eu acho que vou pedir um caldo pra mim, hoje no café da manhã só consegui comer frutas moles pra não incomodar a garganta. O que você quer comer?

— Acho que vou querer uma salada com frango, algo assim. 

— Tá bom. Vou pedir. 

Lucas ficou sozinho no sofá enquanto ele levantava para pegar o telefone, discando o serviço de quarto. Observou-o fazer o pedido, até dar uma pausa para lhe perguntar.

— Você quer croûton na salada?

— Quero. 

— Sim, por favor. — Continuou ao telefone, voltando a encarar o loiro. — Quer suco?

— De laranja, sem açúcar. 

— Mais alguma coisa?

— Só. 

— Dois sucos de laranja sem açúcar. — Completou. — É só isso mesmo, obrigado. 

O loiro abriu um sorriso com a preocupação de Marcus em lhe confirmar cada passo do pedido, sabia que era besteira, mas por um instante achou gentil da parte dele. Viu-o desligar o telefone e voltar ao sofá, pegando de volta a toalhinha molhada. 

— Agora preciso ficar com isso na cara? 

— Só um pouquinho, daqui a pouco você tira. 

Marcus jogou a cabeça para trás, deitando-a ao encosto, colocando a toalha sobre a testa, começando a dizer:

— É engraçado você estar aqui tomando conta de mim… 

— É verdade. Esses dias foi o contrário. — Lucas afirmou, apenas completando o que estava na mente de Marcus, mas que ele não disse em voz alta. — Só não vomite em mim, por favor. 

— Vou tentar. — Riu, agora arrumando o pano que escorregava em seu rosto. — Mas olha… não fica pensando nisso como uma coisa ruim, aconteceu. Eu cuidei de você porque era a minha obrigação, eu não tive nojo nem nada do tipo, só fiquei preocupado. 

Marcus não viu o sorriso que ele abriu naquele momento, ficando em silêncio por pouco tempo antes de voltar a dizer:

— Lucas… Tá tudo bem mesmo por você, se a gente comer por aqui?

— Claro que sim. Por quê?

— Nada, só pra confirmar. — Fez uma pausa, girando o pescoço o suficiente para a toalha não cair e poder encará-lo ao mesmo tempo. — Eu ainda não sei se você tá confortável aqui e eu não quero forçar nada… 

— Se eu não quisesse estar aqui, eu não estaria. — Lucas falou firmemente. — É sério. 

— Que bom. — Agora retirou a toalha gelada da testa, ajeitando-se no sofá. — Eu fico feliz com isso, porque eu achei mesmo que apesar do que aconteceu ontem, a gente não se falaria mais.

— A gente ainda tem algumas questões pendentes. — O loiro ficou de lado no sofá, encolhendo um dos joelhos pra dentro. 

— Você quer continuar aquela conversa agora?

— Pode ser… — Lucas afirmou, desviando o olhar do dele por um instante.

— Eu posso ser o primeiro a perguntar? — Marcus quis confirmar, vendo o rapaz assentir com a cabeça. — É uma pergunta boba, mas faz tempo que quero saber…

— Fala. 

— Eu não sei se tem algum limite do tipo de coisa que devemos falar, então se for demais pra você, não precisa me responder isso. — Explicou, antes de continuar. — Mas eu me pergunto o que você fez nos seis anos que ficamos afastados. 

— Era isso? Achei que ia ser uma pergunta muito pior pelo suspense todo que você fez. — O loiro riu. — Bom, basicamente eu não fiz nada demais, por um tempo eu só fiquei sem rumo, trabalhei em restaurantes, fiz bicos em eventos sempre que podia. Depois eu comecei a querer fazer alguma coisa com propósito e comecei a faculdade, os trabalhos que eu tinha não pagavam muito bem, mas era o suficiente pra pagar o semestre do curso e o aluguel, mas aí eu fui demitido e tudo piorou de novo, é isso. Nada de esplêndido, era uma vida bem mequetrefe, nunca namorei ninguém sério pelo medo de descobrirem que eu tinha que guardar as drogas comigo e nunca tive amigos de verdade… Eram relações superficiais, a única coisa que me fez ter certeza de algo duradouro era a faculdade, eu fiquei mesmo muito feliz quando comecei a estudar. 

— E aí quando eu apareci de volta, você já estava prestes a trancar o curso, é isso mesmo?

— Sim, eu tranquei bem perto de acabar, eu fiquei muito frustrado, mas não tava aguentando mais, foi realmente necessário dar essa pausa. — Explicou. — Depois que todas aquelas coisas aconteceram e eu comecei a me medicar, consegui estudar de verdade e me empenhar como nunca. 

— É verdade… lembrei que o Al comentou sobre seus remédios. — Pontuou. — Eu também queria saber um pouco mais como foi isso pra você… se não for demais, é claro. 

— Não, tudo bem. Eu tomei um antidepressivo associado a um calmante, porque eu também tinha muita ansiedade… Foi bem ruim no começo, eu fiquei mole, com muito desânimo até meu corpo se adaptar. Nisso o Al cuidou do afastamento pra mim. — Explicou. — Foi quando melhorei que voltei a estudar, mas eu já acabei com o tratamento, levou uns sete meses no total. 

— Isso é incrível… — Encantou-se. — Eu te admiro demais, sabia?

— Eu também me admiro muito. — Riu com ele. — Foi por isso que eu te falei ontem pra procurar um psicólogo. Ele realmente sabe como trazer seu amor próprio de volta e fazer você enxergar o seu potencial, é simplesmente incrível. 

— Eu posso imaginar...

Continuaram conversando, lembrando-se de momentos em que ficaram doentes na infância, contando situações constrangedoras, entrando em assunto de vômito, joelhos ralados e quedas feias. Foram interrompidos depois de algum tempo com batidas na porta, com Marcus se levantando para ir até lá. O almoço foi servido à mesa de jantar e o rapaz responsável pelo serviço de quarto se retirou, após receber uma gorjeta gentil. 

Lucas foi com ele até a mesa e admirou a vista pela porta de vidro, mal reparando que Marcus puxava a cadeira atrás de si, lhe fazendo rir com o gesto cavalheiro, sentando-se em seguida.

— Obrigado por me tratar como a dama que eu sou. — O loiro agradeceu, fazendo-o rir. — Tá tudo cheirando muito bem, me deu mais fome ainda. 

— Quer experimentar o meu antes que eu encha ele de vírus? — Indagou, também se sentando. 

— Não precisa. — Riu baixinho. — Eu até ia te oferecer a minha salada, mas eu tenho certeza que você não quer nada crocante pela dor. 

— Não mesmo, mas agradeço. — Pegou a colher, experimentando o caldo. — E então, agora é a sua vez de perguntar alguma coisa. 

— Sério? — Lucas exclamou, de boca cheia, engolindo antes de continuar. — Eu não tenho nada em mente. 

— Começa pelo básico, sei lá. 

— Ah… acho que. — Pensou, roubando um pedaço de pão. — Do que você mais tem medo? E não vale aquela baboseira de “perder alguém que amo”, quero saber se você tem alguma fobia. 

— Eu detesto palhaços. Na verdade, eu tenho pavor. — Falou, enquanto tomava o caldo. 

— Tá zoando, né? —  Lucas segurou a risada, cobrindo a boca enquanto comia a salada. 

— Queria estar… minha mãe me traumatizou me levando pra ver “It”, quando eu tinha oito anos. 

— Pobrezinho… — O loiro falou, não contendo a risada. — Mas o que ela tinha na cabeça?

— Eu também não sei, vai ver ela pensou que eu já era maduro o suficiente pra isso, sei lá. — Ergueu os ombros. — Eu sempre fui uma criança mais alta que as outras. 

— Só por isso eu vejo que ela não era uma mãe convencional… você sente a falta dela?

— Muita. — Afirmou sem hesitar. — Ela era divertida, a alma da festa. Não tinha quem não gostasse dela. Mesmo trabalhando muito desde sempre, ela tirava tempo de onde não tinha pra passar o dia comigo e com o meu irmão...

— Não sabia que você tinha um irmão. 

— Tenho, mas não faço ideia de onde ele esteja hoje, ele abandonou a gente quando se tornou maior de idade. Aí ele se mandou e deixou a gente na pior. 

— Sério? E quantos anos você tinha quando isso aconteceu? — Lucas perguntou, voltando a comer enquanto o ouvia. 

— Catorze. — Respondeu, deixando o caldo à sua frente esfriar. — Minha mãe piorou da depressão assim que meu irmão foi embora, só ficava de cama. Eu fiz de tudo ao meu alcance pra cuidar dela… eu estudei muito, trabalhava meio período e ainda fazia aulas de autodefesa. Todo o meu salário minúsculo eu usava em casa, não dava pra cuidar das contas direito, porque ela foi dispensada do trabalho pela doença. 

— Sério? E não tinha mais ninguém pra ajudar vocês? — O loiro largou o talher que segurava, prestando mais atenção na história. 

— Não, ela foi expulsa de casa quando era adolescente por ter engravidado, o meu pai era um pouco mais velho, então ela foi morar com ele. Eu nasci uns anos depois, mas parece que foi por minha causa que se separaram, então eu nem cheguei a conhecer ele. — Continuou a contar, vendo os olhos azuis totalmente concentrados. — Ela também não guardava fotos e ele nunca mais quis saber da gente. 

— Tudo isso era uma carga muito pesada pra você lidar sozinho. — Lucas admirava-o ao mesmo tempo em que sentia pena. 

— Não totalmente sozinho, depois que entrei no ensino médio, eu conheci o Alberto. Aí tudo melhorou. — Explicou. — Quer dizer, melhorou por partes, porque ao mesmo que foi bom por eu ter conhecido ele, também entrei pra vida ilegal, o que você já sabe. 

— Se me permite perguntar… Como você começou a fazer parte disso? 

— Não foi nada mirabolante, se quer saber. — Tomou mais um pouco do caldo. — Eu fui começando a participar dos campeonatos regionais de Jiu-jitsu e comecei a melhorar e a ganhar destaque. Então eu recebi uma proposta muito boa pra ser “guarda-costas” de um cara. Foi assim, os pagamentos eram muito bons, todos em dinheiro, tudo o que eu precisava pra finalmente honrar a minha mãe, comprar as coisas pra casa e sobrar pra gastar comigo, estava tudo indo bem… até eu perceber que tinha algo errado ali, eu estava me metendo onde não devia.

Ele voltou a comer no intervalo em que Lucas assimilava aquelas informações, que voltava a querer saber: 

— E a sua mãe? Ela chegou a saber disso?

— Ela ficou tão orgulhosa por eu conseguir um trabalho que pagasse bem, que eu não queria estragar isso… Eu sei que foi um erro esconder as coisas dela, mas ela tava tão mal que eu só queria dar uma vida digna pra ela. — Marcus tentou controlar a própria voz, não só pela rouquidão, mas por sentir uma vontade crescente de colocar aqueles sentimentos pra fora. — Quando vi, já era tarde demais, comecei a presenciar coisas que fizeram com que eu soubesse demais, eu já estava sujo e dentro daquilo antes mesmo que eu percebesse. 

— Eu entendo…

O loiro pôde ver o momento em que ele parecia mergulhado em lembranças ruins, parecendo totalmente sem apetite, mesmo que faltasse pouco para terminar seu prato. 

— O que mais dói é lembrar que foi por minha causa que ela… — Marcus respirou fundo, não querendo completar a frase. — Quando eu completei dezoito anos, eu quis sair, não queria mais saber daquela vida, eu queria fazer faculdade e me tornar uma pessoa honesta. Mas é claro que não seria tão simples e eu fui ingênuo… então depois disso, tudo o que me lembro é do dia em que ela me avisou que ia ao mercado, mas não voltou mais pra casa.

Lucas também já havia abandonado o que comia, vendo-o olhar para baixo, controlando um possível choro, com algumas lágrimas se acumulando no canto dos olhos, tendo que controlar a própria respiração antes de voltar a dizer:

— Eu só me pergunto em como ela estaria hoje se eu tivesse conseguido dar essa vida que ela merecia… Te ouvir falando sobre os remédios e as consultas que você teve, só me fez lembrar do quanto eu queria que ela ficasse livre da depressão, conseguindo viver bem. Eu só queria ter tido a oportunidade de ver ela feliz. 

O loiro viu-o comprimir os lábios, com uma lágrima escapando. 

— Sabe… — Lucas iniciou, pensando no que diria para consolá-lo. — Como alguém com depressão, te digo que não é só trevas. A gente consegue ser feliz, mesmo tendo que conviver com isso, até porque não tem cura… então eu tenho certeza que sua mãe foi muito feliz, principalmente porque tinha você, tinha sua companhia.  

— Eu podia ter ficado quieto. — Resmungou, fungando. — Eles nunca teriam ido atrás dela se eu não insistisse pra sair. 

— Como você pode se cobrar ser sábio aos dezoito anos?! Isso é injusto demais com você mesmo, você era só um adolescente… Eu com dezessete saí de casa e fui pra Nova York achando que seria a melhor decisão da minha vida, aceitei a carona de um estranho e olha só o que aconteceu! — O loiro contornou, sentindo seu coração apertar,  não querendo que ele se culpasse tanto, pois também sabia o que era sentir aquilo. — Então por favor, não faz isso com você mesmo… eu sei do que eu tô falando, não é saudável manter esses pensamentos. 

— Eu vou tentar. — Respirou fundo outra vez, envergonhado por estar tão emocionado. — Me desculpa, eu tenho certeza que você não queria estar em um assunto tão melancólico. 

— Tá tudo bem, eu gostei de te conhecer melhor. — Lucas assumiu, vendo-o abrir um sorriso realmente sincero. 

Ficaram à mesa até retomarem o apetite, voltando a comer, falando desde gêneros musicais até livros que leram, vendo os gostos que tinham em comum, sendo ambos fascinados nos romances policiais de Sidney Sheldon e Agatha Christie. 

— Como você tá se sentindo? — O loiro inquiriu depois de um tempo, ainda à mesa. 

— Com frio. — Marcus respondeu, rindo baixinho.

— Você devia descansar um pouco pra sua febre passar. — Lucas levantou-se, vendo-o exibir uma expressão descontente. 

— Você já vai? — Também ficou de pé. 

— É melhor. 

— Fica mais um pouco. — Pediu, esperançoso. — Eu estou doente, essas podem ser as minhas últimas palavras...

— Já caí nesse truque de você morrer, antes, não vou cair de novo. — O loiro retrucou.

Marcus sentiu a garganta arder pela gargalhada alta que deu, parando de rir pelo incômodo.

— Por favor, fica só mais um pouquinho, eu estou me… — Fez uma pausa para espirrar, cobrindo a boca debaixo da gola da camiseta. — Eu ia dizer que estava melhor, mas fui sabotado pelo meu próprio corpo. 

— Tá bom, eu fico. — Sorriu. — Mas você tem que continuar com a compressa fria. 

Marcus andou rapidamente até onde tinha deixado a toalha, pegando-a e indo com pressa ao banheiro para encharcá-la novamente, fazendo Lucas rir com o gesto desesperado de obediência. 

Caminharam juntos até o sofá e sentaram lado a lado, com um pouco menos de espaço entre os dois do que antes. Marcus jogou a cabeça para trás e colocou o pano molhado sobre a testa, reclamando por sentir seu corpo se arrepiar pelo frio, dizendo:

— Me fala alguma coisa pra me distrair da vontade de querer me embrulhar na coberta. 

— Deixa eu pensar… — O loiro se ajeitou confortavelmente no sofá. — A gente tava falando mais cedo de quando a gente era criança e tudo mais… Você já sabe que eu demorei um pouco pra perceber que eu gostava de meninos e até passei pelo período de negação, mas e você? Quando foi que reparou que gostava de meninos, também? Até porque eu soube que você é bi. 

— Não demorou muito pra eu perceber que sentia atração pelos dois lados. — Virou a cabeça para encará-lo, ainda apoiado ao sofá. — Quando eu era pré-adolescente eu via muito desenho animado e percebi que não só achava a She-ra bonita, como também tinha tesão no He-man. 

— Sério? — Riu com a informação. 

— É sério, eu sempre tive essa queda por loiros. — Falou, vendo Lucas fazer uma careta em desdém, tentando não rir. — Eu não aguentei, foi mal! Enfim… é verdade, quando me dei conta disso, comecei a reparar mais nos meninos da escola, mesmo ainda sem coragem pra chegar em ninguém. 

— Eu também era do grupo dos tímidos. — Afirmou, vendo-o dar outro espirro. 

— Desculpa. — Marcus pediu, segurando a toalha que deixou cair. 

— Saúde. 

— Eu tô suando. — Reparou em si mesmo. — Será que é normal?

— É sim, é o remédio fazendo efeito. — O loiro explicou. — Isso vai te ajudar a baixar a temperatura, mas seria bom você trocar a camiseta se reparar que tá molhada. 

— Tá um pouco. — Observou. — Já volto. 

Lucas olhou para o chão à frente ao reparar que ele ia ao guarda-roupa, não sabia se ele se trocaria em sua frente, mas não quis arriscar. Esperando até ouvi-lo dizer:

— Pronto… será que eu posso me cobrir agora? 

— Não acho que seja uma boa ideia… — Lucas analisou. 

— Só um pouquinho… — Pediu fazendo beicinho. 

— Pode aumentar a sua febre. — Falou, permanecendo sentado, vendo-o ir em sua direção. 

— Tá bom, doutor.

Marcus percebeu a expressão do loiro se transformar aos poucos em uma feição distante e preocupada. Sentando-se ao lado dele, não entendendo se tinha dito algo de errado, querendo saber:

— Lucas, tá tudo bem?

— É que… faz tempo que eu queria te falar, mas eu li a sua carta. — Falou, não conseguindo encará-lo. 

— E então? — Perguntou, sentindo seus batimentos se acelerarem, ansioso para saber o que ele falaria. 

— Depois de tudo isso, eu só… — Interrompeu o que dizia, parecendo pensar nas próximas palavras. — Por que você não veio me buscar? O que aconteceu lá atrás que te impediu? Eu não consigo parar de pensar nisso…

— Isso é uma coisa que eu sempre quis te dizer, na verdade. — Assumiu, vendo-o finalmente olhar em sua direção. — É complicado, eu vou tentar explicar e se você achar que não ficar claro, pode me interromper pra perguntar alguma coisa. 

— Ok. — O loiro concordou, olhando-o vidrado, esperando-o começar a dizer. 

— Então, pra começar, eu sempre tive uma rixa com um cara e eu nunca soube bem o porquê, ele era da facção também, mas cuidava diretamente do contrabando. Ele abusava de pessoas drogadas, tirava vantagem da miséria de todo mundo e se achava o máximo. Ele era realmente o pior tipo de ser humano existente. Ele gostava de tudo o que fazia… — Iniciou. — O problema é que eu sempre deixei claro isso pra ele, eu sempre demonstrei todo o meu desprezo e ele não saía do meu pé, me infernizava todos os dias, ficava o tempo todo na minha cola… Eu nunca quis uma amizade com ele, mas ele me infernizou tanto, mas tanto, que um dia eu acabei aceitando ir pra uma boate que ele sempre falava. Acho que você já sabe qual é. 

Lucas estava com os olhos arregalados e concentrado, apenas ouvindo-o. 

— Eu te conheci lá, comecei a ir com frequência pra te ver e percebi que ele se incomodou com isso, queria controlar até as pessoas que eu gostava. Foi então que eu fui chamado pra uma operação fora de Nova York. Tive que investigar um homem de quem a facção desconfiava, eu e mais um parceiro no caso. Não entendia o que eu tava fazendo lá, mas eu cumpri meu papel, fui também porque falaram que ia ser rápido. — Continuou. — No fim, durou mais tempo do que prometeram e eu só descobri depois, que foi por causa de uma  indicação que me botaram pra cuidar desse trabalho. 

— Desse cara que te infernizava?

— Exatamente, o que eu demorei anos pra entender… ele apenas fez o que fez pra me afastar de você, não só isso, mas também pra te afastar de mim. Ele sabia que eu ia voltar o quanto antes pra boate e ele se encarregou de tramar tudo. — Fez uma pausa para respirar fundo. — Esse cara era o Lars, ele se apresentou como Bob pra você. 

Lucas olhou-o estático, sem saber no que pensar ou dizer, sentindo todas as extremidades do seu corpo agora esfriarem como gelo, perguntando, quase num sussurro:

— Quando você soube disso? 

— Sobre o Lars? Eu já estava aqui em Cancun e foi quando eu telefonei pro Al. Ele soltou esse nome contando o que houve com você… — Respondeu, começando a recordar-se de toda mágoa que sentiu. — Esse miserável do Lars, filho de uma puta, nunca me contou que estava te escondendo! E ele via eu te procurar todo santo dia! 

O loiro viu-o erguer a tonalidade da voz que estava ainda mais rouca naquele dia, Marcus tentava controlar a raiva que crescia, ficando com a voz prejudicada não só pela dor, como por um possível choro engasgado. 

— Foi a partir desse dia que eu… — Marcus olhou para o lado, controlando a voz embargada. — Que eu me arrependi ainda mais de ter ido embora… eu não sofri porque fui apunhalado nas costas por quem eu já nem era amigo, mas eu quis morrer quando descobri que tudo o que você sofreu foi  por minha causa...

— Mas que rixa é essa que você tinha com ele? — Lucas franziu o cenho, ainda atordoado com aquelas informações.  

— Sabe o que é pior, Lucas? — Marcus começou. — É que eu descobri que não era uma rixa… ele gostava de mim. Esse lixo humano achava que ainda conseguiria ter alguma coisa comigo, mesmo depois de tudo o que ele fez e escondeu de mim… Ele nunca disse diretamente que queria ficar comigo, então é só uma suposição, porque nunca ficou claro. Mas eu percebi depois de um tempo que tudo aquilo da boate e ficar na minha cola o tempo todo tinha um motivo, ele só estava esperando eu dar mole. 

— Isso faz muito sentido… — Lucas falou, agora raciocinando melhor. — Afinal, eu sempre me questionei o verdadeiro motivo de ele ter me poupado quando eu me neguei a continuar… Se você não estava mais “vivo”, então eu não representava mais a ameaça de antes. 

Marcus respirou fundo, um pouco mais calmo, mas ainda atribulado com o que aquela informação poderia causar no loiro, estavam bem e não queria que nada mudasse. Entretanto, não podia guardar aquilo para sempre, ele precisava saber, mesmo que custasse todo o avanço que tiveram. 

— Me perdoa. — Falou, chamando a atenção do mais novo. — Eu sinto como se todas as desculpas ainda não fossem o suficiente. 

— Para. — Lucas pediu. — Por favor, só para. 

Marcus encarou-o sem entender, vendo a expressão séria dele, ouvindo-o continuar:

— Eu já estava lá quando tudo isso aconteceu, de uma forma ou outra eu tinha que sair… é claro que eu preferiria que fosse com você, mas não se sinta mal por eu ter sido o alvo dele. 

— Isso é um alívio… — Falou, com o coração mais leve. 

Lucas sorriu, percebendo que ele tampava a boca outra vez com pressa, vendo-o espirrar duas vezes em sequência. 

— Seria bom tomar um antialérgico. — O loiro advertiu, vendo-o fungar. 

— Acha mesmo? — Perguntou, com a voz fanha.

— É melhor. Eu vi que você tem xarope. 

— Vou pegar, então. — Levantou-se, pegando a caixa de medicamentos outra vez, achando o que procurava. 

— Uma dúvida. — Lucas iniciou, vendo-o tomar a dose líquida. — Se você não gosta de tomar remédios, então porque você tem tanta opção aí?

— Não fui eu que comprei. — Assumiu. — Foi uma pessoa que cuidou de mim que montou essa caixa. 

— Ah… é sempre bom ter pessoas assim por perto. 

Pegou uma garrafinha de água e voltou ao sofá, dizendo:

— Acho que já melhorei um pouco da febre, ainda estou com um pouco de frio, mas não tanto quanto antes.

— Isso é bom, acho que amanhã você já vai estar melhor. É só não se esquecer de tomar os remédios depois do jantar, porque aí já vai estar dando a hora de novo. 

— Vai ficar aqui pra jantar comigo? — Pediu, vendo-o surpreso com a pergunta. 

— Não tá cansado da minha cara? — Riu com o pedido. 

— Você tem alguma coisa pra fazer? 

— Não, mas… você tem descansar. 

— Eu preciso de alguém pra me lembrar de tomar os remédios, sabe? — Marcus falou, pretensioso. 

— Que desculpa mais esfarrapada! — Lucas riu, achando adorável a expressão brincalhona dele. — Eu fico, vai...

— Funcionou. — Falou, convencido. — Quer assistir TV? Deve ter algum filme passando… 

— Quero sim, se tiver algo que eu entenda. — Riu, vendo-o pegar o controle remoto. — Eu treinei espanhol, mas ainda não consigo entender sem legenda. 

— Vamos ver… 

Marcus ligou a televisão, achando um filme legendado que já tinha começado, mas que era velho o suficiente para que já conhecessem todo o restante da história. Ajeitou-se, ficando mais confortável ao sofá, tirando os sapatos, dizendo:

— Você pode ficar descalço, se quiser. 

— Tá bom. — O loiro aceitou a oferta, retirando o par de tênis, agora cruzando as pernas sobre o sofá. 

Ficaram conversando sobre a trama da comédia pastelão que assistiam, passando as horas rindo das idiotices do filme e conforme o tempo passava, ficavam ainda mais confortáveis com a presença um do outro. Quando o filme acabou, combinaram o que pediriam pra comer, ainda sem coragem para descer, chamando o serviço de quarto outra vez.

A verdade era que Marcus estava mais do que feliz com aquele dia, tudo estava perfeito e era a primeira vez que se sentiu tão íntimo de Lucas. Sabia que não podia alimentar a esperança de criarem um vínculo romântico, mas estava tão feliz que podia morrer, era como se toda a sua vida fizesse sentido e tivesse valido a pena por aquele único dia.

Comeram juntos mais uma vez e não pouparam mais assuntos sobre o passado, lembrando de momentos embaraçosos que passaram na escola, nervosismo antes de apresentações e sobre os professores que mais odiavam.

Após comerem, Lucas lembrou-o de tomar os remédios e Marcus obedeceu, tomando água e indo para a cama, sentando-se na beirada do colchão, dizendo: 

— Vem aqui.

— Você quer ir dormir? — Lucas indagou, indo até ele. 

— Não, só quero deitar um pouco e me cobrir. — Sorriu como uma criança teimosa, repousando as costas na cabeceira e esticando as pernas. — Senta aqui do meu lado. 

— Eu vou pegar uma cadeira. — O loiro afirmou, sentindo-se constrangido ao vê-lo dar batidinhas no espaço vago da cama. 

— Sério? — Marcus riu baixinho, vendo-o roubar uma das cadeiras da mesa de jantar, voltando e colocando ao lado dele. 

— O que foi? — Falou ao sentar-se. — Você pediu pra eu sentar do seu lado, estou aqui. 

— Tudo bem, então. — Sorriu envergonhado, subindo a coberta pelas suas pernas. — Posso te pedir um favor?

— Diga. 

— Você pode conferir a minha temperatura? — Marcus pediu, sabendo que estava melhor, mas apenas queria tê-lo próximo de si novamente. 

Lucas se esticou na cadeira, alcançando seu rosto. Ajeitou os cabelos dele ao lado antes de pousar seus dedos sobre sua testa, levando alguns segundos até se afastar novamente. 

— Você tá se sentindo febril? Porque você parece bem. 

— Era só pra garantir. — Respondeu, sentindo seu coração aos pulos pelo toque dele. — Minha garganta não está incomodando como antes.

— Que bom, eu fico feliz. 

Marcus se perdeu nos olhos azuis dele por um instante, não conseguindo evitar pensar no loiro com uma fantasia sexy de enfermeiro, sem camisa, com um estetoscópio no pescoço e um quepe branco estampado de uma cruz vermelha. Engoliu em seco, tentando se livrar daquela imagem, mesmo doente, sua imaginação não lhe dava trégua. Agradecendo mentalmente pela parte inferior de seu corpo estar debaixo da coberta. 

— Mark. — Chamou outra vez. 

— Hã? — Acordou dos devaneios, ainda distraído. 

— Você tá bem? Tá sentindo alguma coisa?

“Com certeza estou sentindo uma coisa.” Pensou. 

— Eu tô bem. 

— Você tá com sono, não tá? Eu vi você controlar a vontade de cochilar no meio do filme. 

— Só um pouquinho… — Ajeitou-se mais para baixo, deitando-se. 

— Então dorme, eu já vou indo…

— Espera. — Pediu. — Eu queria te agradecer. 

— Não precisa.  

— Preciso sim. — Reforçou. — Obrigado por continuar aqui, eu não conseguiria pagar tudo o que você fez de bom. 

— Você já me pagou. Com sua sinceridade — Lucas sorriu, admirando a expressão sonolenta dele, provavelmente por conta da segunda dose de antialérgico do dia. 

— Então eu posso ser sincero mais uma vez? — Marcus esticou seu braço até ele, abrindo sua mão para que Lucas a segurasse. 

— Pode. — Tocou os dedos dele, sem entender o que queria. 

— Eu queria continuar conversando… ainda tá cedo. — Falou, bocejando.

— Eu sei, mas você tá morrendo de sono. 

— Eu só vou cochilar um pouco… — Resmungou. — É por causa daquela porcaria de xarope. Fica aqui só mais um pouquinho.

— E se não for só um cochilo? 

— Aí você me acorda, nem que seja só pra falar tchau. — Murmurou, sentindo a mão do loiro envolver a sua. — Não vai embora sem se despedir. 

— Tudo bem. — Lucas sorriu, achando graciosa aquela declaração totalmente bêbada de sono. — Eu vou esperar uma meia horinha. 

— Tá ótimo… — Marcus afirmou, fechando os olhos vagarosamente.

O loiro não sabia dizer o que sentia naquele exato momento, ajeitando a mão dele sobre o colchão, soltando-a. Aquela tarde tinha sido tão intensa, que parecia ter vivido meses em um único dia, isso porque ainda não eram nem oito horas da noite. 

Se afastou da cama ao vê-lo cochilar tranquilo, agora indo ao sofá, se esticando ali. Pensou que também não seria nada mal também cochilar um pouco, principalmente por ter dormido tão pouco de madrugada.

Fechou os olhos e quando os abriu, percebeu que já era de manhã. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo