Stranger escrita por Okay


Capítulo 40
Determinação.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 29/10/2020



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Capítulo 40 — Determinação.  

Alberto encarava os dois com estranhamento, não entendendo o porquê de estarem tão silenciosos enquanto comiam, até tentou puxar assunto, mas a conversa não se prolongou por muito tempo. Após o fim do almoço, Marcus se despediu com pressa, deixando o amigo sozinho com a noiva na mesa.  

— Foi só eu ou você também percebeu um clima esquisito? Aconteceu alguma coisa que eu não sei? — Alberto quis saber, encarando-a.  

— Você nem faz ideia. — Rachel se levantou, sendo seguida por ele.  

— O que você quer dizer com isso?  

— Vem, vamos ir tomar um banho e no quarto a gente conversa melhor. — Ela pediu, recebendo um olhar de curiosidade dele.  

Foi com Alberto ao saguão do hotel, subindo pelo elevador até o andar que estavam hospedados. Entraram e ele não esperou muito para começar a fazer perguntas para o que queria tanto saber, fazendo-a pensar em como começaria a explicar. 

— Então... Eu vi o que eu não deveria ter visto. — Ela sentou-se à beirada da cama.  

— O quê, Rach? 

— Eu estava com o Luke do outro lado da piscina e assim que eu saí de lá pra ir com você, eu cheguei e acabei reparando que o Mark tava de pau duro. Eu disfarcei, mas eu tenho certeza que ele viu que eu percebi que ele tava assim. — Ela revelou, deixando o noivo com os olhos arregalados.  

— Isso é sério?!  

— Ou foi isso, ou ele tava escondendo uma beringela debaixo da bermuda. — Rachel ironizou. — Porque fala sério, o que era aquilo? Eu acho que ele deveria ser mandado para testes em algum laboratório.  

Alberto não se aguentava, já estava vermelho de tanto rir com a reação da noiva, se esforçando para retomar o fôlego antes de continuar o diálogo, voltando a rir por mais alguns segundos antes de ouvi-la:  

— Isso me faz pensar... Quando vocês namoraram, como foi? Vocês chegaram a ter relações, você sabe, já dormiram juntos?  

— Já. — Alberto segurava a risada mais uma vez. — E eu só posso dizer que foi, digamos... doloroso.  

— Você tá brincando?! — Ela abriu a boca em choque. 

— A gente não namorou por muito tempo, então fizemos poucas vezes. 

— Sério?! — Rachel ainda estava pasma, não conseguia imaginar seu noivo como passivo. —  Isso é muito estranho...  

— Acredite, é mais estranho pra mim, nunca imaginei que ia falar disso com você. Acho que agora falamos oficialmente de tudo. — Alberto continuou, sentando ao lado dela.  

— Mas gente, como... — As palavras pareciam fugir dela. — Eu ainda não sei o que pensar.  

— Você tá bem mesmo com isso? — Alberto indagou-a, querendo saber o que ela achava da situação. 

— Se você quer saber sobre você ser bi, você sabe que eu tô bem com isso faz tempo. — Ela riu. — Mas eu só tô um pouquinho surpresa. É que eu nunca tinha parado pra pensar nesse pequeno detalhe... quer dizer, pequeno não, né, enorme!  

— Você é impossível! — Ele gargalhou, vendo-a se jogar na cama de tanto rir.  

Deitou ao lado dela, aproximando-a para um abraço, com Rachel parando de rir aos poucos, mas ainda exibindo uma expressão brincalhona.  

— Tem mais alguma coisa que queira me perguntar? — Alberto acariciou-a no rosto, tirando alguns fios da frente dos olhos dela.  

— A única dúvida que me restou é do porquê que ele tava assim. Será que ele tava com vontade de fazer xixi? 

— Era vontade de agarrar o Lu, isso sim. — Respondeu. — Ele tava babando nele de longe.  

— Ainda bem que eu cheguei a tempo, vai que ele decide pegar a primeira pessoa por perto! — Ela provocou, com um riso arteiro.  

Rachel ouviu o noivo gargalhar, fazendo outras piadinhas infames antes de se cansar daquele assunto. Era bom poder ter dividido aquilo com Alberto, mas da mesma forma que foi sincera com ele, não poderia ser com Lucas.  

Naquele mesmo dia, quando foram jantar, não tocaram naquele assunto com o loiro, ele não precisava saber dos acontecimentos constrangedores daquela tarde, até porque Marcus era a última pessoa da face da Terra que ele estaria interessado.  

Passaram a noite juntos na sala de jogos, competindo um contra o outro, contando pontos e bebendo até tarde. Lucas havia se saído melhor no pinball, enquanto Rachel e Alberto haviam ganhado dele no pingue-pongue. Se despediram já de madrugada e foram aos seus quartos, com os pombinhos aproveitando da grande cama de casal antes de finalmente pegarem no sono.  

Segunda-feira, dia 8 de julho de 2013. 

A manhã começou tranquila, os amigos tinham ido tomar o café da manhã juntos e depois se separaram, Lucas foi ao treino com Rachel, enquanto Alberto se encontrava com Marcus. Hoje tinham combinado apenas de relaxarem na praia, ficando debaixo de um dos guarda-sóis, sentando-se na sombra.  

— A Rachel tá a fim de ir no karaokê a noite. — Alberto iniciou. — Você quer ir com a gente?  

— Mas o Lucas não vai estar lá? Se eu for, ele vai ficar desconfortável. — Marcus respondeu, desanimando-se.  

— Eu ainda não sei se ele vai querer ir, mas caso ele vá, é só não ficar comendo ele com os olhos como você fez ontem! — Alberto apontou, fazendo o amigo rir. — É sério! Eu vi como você não parava de olhar pra ele, até de barraca armada você ficou, vai me falar que não?! 

— Eu sabia que ela tinha visto! — Marcus constatou, indignado. — Só fiquei em dúvida se ela ia mesmo falar pra você.

— A Rach falou sim e conforme ela, não era uma barraca, era todo um acampamento. — Riu, lembrando-se das piadinhas da noiva. — E depois começou a fazer perguntas sobre como foi na época que a gente namorava.  

— E como você quer que eu vá nesse karaokê depois disso? Como vou encarar ela? 

— Não precisa ter vergonha, eu sei que você ainda não a conhece tão bem quanto eu, mas confia em mim, ela não vai tocar nesse assunto mais. — Alberto incentivou.  

— Mas você acha que o Lucas vai querer ir embora quando me ver? — Marcus inquiriu, ansioso. — Como ele tá lidando com tudo? A última vez que nos falamos foi no restaurante e depois aconteceu aquilo da academia... eu não sei o que ele tá pensando. 

— Ele não tá se abrindo comigo, mas conforme a Rach, ele parece estar bem, é só você provar pra ele que veio em paz. — Riu baixinho.  

— Eu queria poder fazer muito mais que isso. — Revelou, suspirando, encarando o mar azul à sua frente, não conseguindo deixar de lembrar-se dos olhos do loiro. — Eu tô com saudade dele...  

♚ 

 Lucas e Rachel passaram a tarde aproveitando o SPA depois do almoço. Ela ficava feliz por saber que o amigo agora parecia estar começando a curtir a viagem, torcendo para que continuasse assim, era bom vê-lo feliz.  

Então quando a noite chegou, o loiro se arrumava para ir ao karaokê, já sabendo o que enfrentaria. Os amigos tinham avisado de que Marcus também iria, mesmo assim, não mudou de ideia, porque se ele continuasse mantendo distância como parecia estar fazendo nos últimos dias, a convivência seria fácil.  

Jantariam no próprio salão do karaokê, que era algumas quadras do hotel, podendo irem a pé. Rachel e Alberto escolheram a mesa e Lucas apenas seguiu-os, procurando um certo alguém pelo local, não o vendo de início, juntando-se com os amigos à mesa.  

— Você podia cantar hoje, né, Lu? Sua voz é tão linda... — Rachel sugeriu, vendo o amigo abrir um sorriso sem graça.  

— Se eu estiver bêbado o suficiente pra isso, quem sabe? — Lucas brincou.  

— Você já cantou em público? — Alberto perguntou-o, vendo que o local estava começando a encher.  

— Já, na época da escola. — O loiro respondeu, percebendo a agitação dele. — Por quê? Você tá nervoso?  

— Um pouquinho... — O amigo respondeu. 

— É mesmo, vocês nem me falaram qual música vão cantar. — Lucas quis saber, percebendo uma aproximação, já sabendo quem havia chegado apenas pela fragrância no ar.  

— Oi gente, desculpa o atraso. — Marcus sentou-se ao lado de Alberto.  

— Acabamos de chegar também. — O amigo respondeu, sorrindo.  

— Do que estavam falando? — Perguntou, ajeitando-se na cadeira.  

— Da nossa apresentação. — Rachel continuou. — E não, não vamos falar qual é a música, é surpresa.  

— Eu não sabia que iriam cantar. — Marcus surpreendeu-se, percebendo que Lucas o encarou por alguns segundos, logo desviando o olhar.  

— Mas eu preciso comer antes, isso se eu conseguir. — Alberto suspirou, sua ansiedade estava começando a aumentar.  

Fizeram seus pedidos e continuaram a conversar, pelo menos, três deles, já que Lucas permanecia em silêncio desde a chegada de Marcus. No entanto, o clima não estava estranho como Alberto pensou que estaria, não só pelo loiro, como também pelo o que tinha acontecido no dia anterior com Rachel e o velho amigo.  

Seus pratos chegaram e pediram mais bebidas, nisso, Lucas finalizou o último gole do suco em seu copo, olhando para a amiga logo em seguida, percebendo que um pedaço do frango que estava no garfo dela havia caído em um local escondido entre seus peitos.  

Tentou segurar a risada, mas Rachel não colaborou, começando a rir alto, chamando a atenção de Alberto e Marcus que conversavam entre si, parando para encará-la. O loiro não conseguiu mais segurar, já estava vermelho pela risada, quase perdendo o ar, deixando o talher de lado para levar a mão até a boca, cobrindo seus dentes enquanto gargalhava.  

— Gente, o que aconteceu?! Eu quero rir também! — Alberto pediu, vendo os dois rirem sozinhos.  

— É que... Um pedaço de... de frango, caiu no decote da Rachel! — Lucas soltou, tentando controlar o riso, não mais cobrindo sua boca.  

— Sério?! — Tentou segurar a risada, sem sucesso.  

Marcus abriu um sorriso com aquilo, vendo os três rirem, mas apenas um deles em especial. Não tirava sua atenção do som da risada do loiro, era uma das coisas que mais sentia falta. Ficando feliz por finalmente vê-lo à vontade na sua frente, seria capaz de tudo pra ouvir o riso dele todos os dias.  

Quando conseguiram se acalmar, Rachel removeu discretamente o que estava em seu sutiã e suas bebidas chegaram, sendo o suficiente para mudarem de assunto, não demorando para começarem a ver as apresentações dos primeiros corajosos que se arriscavam no karaokê.  

— Acho que eu vou colocar tudo o que eu comi pra fora. — Alberto reclamou, sentindo-se agitado. — A gente tem mesmo que fazer isso?  

— Olha, vai ser legal, não vai ser tão ruim assim... confia em mim. — Rachel sorriu para o noivo, lhe passando confiança. — E, qualquer coisa, você não precisa olhar pra plateia, só pra letra na tela e pra mim, quanto antes a gente subir lá, mais rápido vai ser. 

— Tá bom... tá bom. — Alberto encorajou-se, não era a primeira vez que a noiva falava aquele tipo de coisa para animá-lo a fazer algo. 

— Vocês vão se sair bem. — Lucas afirmou, percebendo que recebia todos os olhares daquela mesa e um deles com mais intensidade.  

Após os amigos levantarem para começar a apresentação, o loiro mal teve tempo de pensar se ficaria sozinho na mesa com quem tanto lhe encarava, pois assim que saíram, Marcus também se retirou, deixando-o confuso, porém, aliviado. Não teria que entrar em nenhum diálogo desnecessário por estarem a sós. 

Então Lucas levou sua atenção para o palco, vendo Alberto e Rachel subirem as escadinhas laterais, parecendo ainda mais ansiosos que antes. Levou alguns segundos para que selecionassem a canção, mas a melodia começou, a reconhecendo logo de cara, já que “You’re the one that I want” do filme Grease, era um clássico.  

Alberto começou os versos iniciais da música, tentando alcançar timidamente os agudos de John Travolta, conseguindo desprender-se da vergonha assim que finalizou seu trecho, com Rachel começando a cantar sua parte. Algumas pessoas de outras mesas deram uns gritinhos de animação, fazendo a moça do palco sorrir.  

Lucas entrou na agitação da música, soltando-se sem impedimentos já que estava sozinho na mesa, começando a cantar enquanto os amigos se apresentavam.  

— You’re the one that I want. — Alberto e Rachel cantaram em uníssono, rapidamente, repetindo o verso. 

— Ooo-ooo-oo honey! — Todos da plateia completaram, inclusive o loiro. 

Repetiram o refrão e a melodia desacelerou para continuar com o próximo trecho da música, com Rachel iniciando e alcançando os agudos de Olívia Newton-John, mostrando que era iniciante, mas que sabia cantar.  

Ela e o noivo arriscaram alguns passinhos de dança como no filme, com o pessoal das mesas assobiando e se empolgando com eles. Já estavam mais confiantes com a apresentação enquanto rumavam ao final, sendo seguidos por todos novamente. 

— The one I need. Oyes indeed! — Exclamaram juntos, ao fim da música, após repetirem o refrão pela última vez.  

Lucas estava feliz com os dois se soltando no palco, vendo aquela declaração de amor, onde basicamente diziam um ao outro que eram tudo o que o outro precisava, derretendo-se pela fofura que os dois eram como casal. Eles finalizaram, interrompendo a dança que faziam, ouvindo aplausos e aclamações, realmente tinham sido cheios de energia.  

Os dois chegaram à mesa animados, rindo consigo mesmos, Rachel voltou para seu lugar e Alberto indagou, curioso: 

— Ué, cadê o Mark?  

— Não faço ideia, ele saiu da mesa assim que vocês foram pro palco. — Lucas respondeu, erguendo os ombros. 

— Será que ele não viu nossa apresentação? — Perguntou, sentando-se. 

— Eu tenho um palpite, acho que ele viu. — Rachel falou, apontando para o palco, vendo que Marcus subia pela escada. — Acho que ele tava ali só esperando para ser o próximo. 

— Ele vai cantar?! — Alberto indignou-se, não era do feitio do amigo fazer aquele tipo de coisa, não publicamente, pelo menos. — Isso é sério?!  

Nem Lucas parecia acreditar, pois não conseguia dizer nada daquela situação, até lhe dava uma pontada de curiosidade para saber o que ele fazia ali, vendo-o ajeitar o microfone para sua altura, precisando subir a altura do apoio.  

— Eu tenho certeza que ele vai cantar algum rock de época, não imagino ele cantando nada além disso. — Alberto falou, ainda sem tirar os olhos do palco. — A não ser que ele tenha adquirido outro gosto musical e não tenha me falado... 

A dúvida do que ele cantaria foi sanada por todos, com as primeiras batidas da melodia iniciando, fazendo Alberto e Rachel arregalarem os olhos, reconhecendo a canção, sabendo imediatamente que “Always” do Bon Jovi era uma péssima escolha.  

Lucas não queria acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo, sabia que Marcus não faria uma coisa daquelas senão para lhe provocar. O ponto principal era... por que aquela música? 

O trecho inicial foi cantado ele arrastando sua voz rouca pelas primeiras frases, onde a letra mostrava todo o arrependimento de um homem que estava sofrendo desde que foi deixado por alguém, fazendo o loiro irritar-se, desmanchando a expressão contente que carregava.  

Marcus expressava não só em sua voz, como em suas feições o que estava sentindo, deixando os olhos fechados enquanto cantava o trecho anterior ao refrão, com a letra demonstrando o pesar que carregava em metáforas sobre estar se afogando em tristeza, não vendo felicidade em canções de amor, isso por estar sofrendo.  

— And I... will love you, baby... Always. — Esforçou-se nas notas, agora abrindo os olhos para olhar em direção a pessoa para quem estava cantando aquilo.  

Lucas sentiu seu peito queimar, franzindo o cenho, estava nitidamente incomodado e não fazia ideia do que se passava na cabeça daquele homem para estar cantando aquilo, não queria saber se ele o amava, muito menos se o amaria para sempre, só queria que ele saísse daquele palco e parasse de lhe encarar com aquela expressão melosa estúpida.   

Alberto respirou fundo pelo nervosismo, já era tarde demais para voltar atrás, não fazia ideia de que ele estava planejando cantar e se fizesse, falaria sem sombra de dúvidas para ele não fazer aquilo, cantar uma música romântica era a pior forma de fazer com que o loiro se apaixonasse por ele de novo.  

Lucas parou de olhar para o palco, sabia que se continuasse, ele continuaria a encará-lo e só queria que aquela apresentação acabasse logo. Tentou ignorar, olhando para o copo vazio na mesa, sem conseguir deixar de ouvir o que era cantado, o mais irônico era o quanto esse homem da música dizia que estaria lá para todos os momentos, mas Marcus não aguentou sequer um minuto na primeira discórdia que tiveram lá atrás. 

O loiro tentava se desligar do que ouvia, mas apenas encarava o vazio, sentindo-se enjoado com as declarações, com a letra se tratando do que ele seria capaz de fazer por ele e de que ele daria tudo para tocá-lo mais uma vez, de se aproximar e poder dizer o quanto estava arrependido pelo erro.  

Ignorou-o até depois do refrão seguinte, mas não conseguiu ficar indiferente quando a música se guiou ao final, com Marcus cantando o trecho onde pedia mais uma chance para poder refazer os seus sonhos antigos e assim poderem viver uma vida juntos. Lucas levantou a cabeça, olhando indignado para o palco, vendo-o inabalável na canção, confiante que o fim da canção deixaria ele emocionado.  

O loiro pensava no que fazer após aquilo, queria poder mostrar seu descontentamento, mas sabia que Marcus apenas estava esperando o momento para que o confrontasse, então não iria cairia naquele jogo, não daria aquele gostinho para ele, mas também não o deixaria sem resposta.  

O show acabou e havia apenas uma mesa sem aplaudir, tal lugar com as três pessoas que sabiam o quanto aquela canção tinha sido imprópria devido ao momento em que estavam. Rachel sentia vergonha alheia por Lucas, sabendo só de olhar que ele estava estressado, torcendo para que a veia ressaltada na testa dele não estourasse, já Alberto nem sabia mais o que pensar, apenas dizendo: 

— É, eu acertei, era um rock antigo...  

O loiro bufou antes de se levantar e Marcus chegou à mesa sem vê-lo, juntando-se a eles, querendo saber o que diriam, mas eles mal sabiam o que pensar, com Rachel tentando disfarçar o constrangimento e Alberto pensando no que diria a ele. Não queria magoá-lo porque ele parecia orgulhoso do que havia feito, mas ao mesmo tempo, não queria deixar de ser realista.  

— Bom... eu acho que você vai ter a sua resposta. — Alberto apontou ao palco, com Marcus tendo um sobressalto ao notar que Lucas regulava o microfone para a sua altura.  

Um toque delicado e triste de piano se iniciou, deixando claro que era outra canção famosa, mas um pouco mais recente do que as anteriores, “Because of you” de Kelly Clarkson. Lucas se concentrava com os olhos fechados, para pegar o tom perfeito antes de começar a cantar:  

“Eu não vou cometer os mesmos erros que você. Eu não me permitir causar ao meu coração tanta miséria. Eu não vou desmoronar como você, você caiu com tanta força... Eu aprendi do jeito mais difícil, a nunca deixar chegar a esse ponto.” 

O refrão começou e embalou todos os presentes na melodia triste e suave que o loiro cantava, falando sobre alguém ser a causa do seu medo e de ser tão cauteloso, não se permitindo confiar em ninguém, sendo difícil de confiar até em si mesmo.  

 Because of you... I’m afraid. — Abriu os olhos finalmente, encarando uma única pessoa na mesa que estava antes. 

Marcus desviou o olhar por alguns segundos, voltando a encará-lo, pois mesmo que a canção fosse triste, teria a oportunidade de ouvi-lo cantar para si pela primeira vez, torcendo para que tivesse alguma esperança no fim daqueles versos melancólicos.  

“Eu perdi o meu caminho e não demorou muito tempo para que você apontasse meus erros.” Ouviu, conseguindo lembrar-se do dia em que o acusou-o tão gravemente, o dia que estragou tudo.  

“Eu não posso chorar, porque eu sei que isso é fraqueza aos seus olhos. Eu sou forçado a fingir um sorriso, uma risada, todos os dias da minha vida... Meu coração não pode se partir, quando ele nunca esteve inteiro para começo de conversa.”  

Marcus sentiu seu peito apertar, tendo em mente o sofrimento que fez ele passar e as consequências das suas ações, sentindo-se sem fôlego ao vê-lo iniciar outro refrão com seus agudos perfeitos e a voz preenchida de alma e ressentimento.  

“Eu vi você morrer, eu ouvi você chorar, todas as noites enquanto dormia. Eu era tão jovem, você deveria saber mais do que simplesmente me reprimir. Você nunca pensou em mais ninguém, você só via sua própria dor...”  

Era como se uma parte de si tivesse morrido ao vê-lo fechar os olhos e cantar tal parte, lembrando-se de que ele tinha apenas dezessete anos quando o conheceu, uma criança, sem escolhas.  

“E agora eu choro no meio da noite, pelo mesmo maldito motivo.” A exclamação ao final da frase fez com que sua angústia aumentasse, forçando-o a comprimir os lábios para tentar evitar com que seu queixo tremesse. 

Sentiu o nó crescer em sua garganta, que desatou-se no refrão, trazendo suas lágrimas adiante, deixando com que escorressem pela sua bochecha, não deixando de encará-lo.  

“Por sua causa, eu fiz o meu melhor pra tentar esquecer tudo, por sua causa, eu não sei deixar mais ninguém se aproximar. Por sua causa, tenho vergonha da minha vida, porque ela é vazia... “  

Era como se tivesse levado a mais profunda e dolorosa facada, vendo Lucas olhar em sua direção com os olhos vermelhos e a voz ficando ligeiramente prejudicada pelo choro. Seu coração doía tanto que poderia arrancá-lo com as próprias mãos, sabendo que tinha desencadeado toda aquela mágoa e que merecia cada palavra daquela música. 

Fungou e enxugou seu rosto bruscamente, olhando para Alberto e Rachel também se desmancharem em lágrimas.  

“Por sua causa...”  

Lucas cantou a última frase quase em um sussurro, encarando-o uma última vez, não esperando os aplausos para sair com pressa do palco.  

— Eu vim pra me divertir, não imaginei que sairia daqui com o rímel todo borrado. — Rachel murmurou, enxugando os olhos com o guardanapo de papel.  

— Tá todo mundo chorando. — Alberto olhou para as outras mesas, vendo as pessoas aplaudirem com os olhos vermelhos. — Ele arrasou.  

— Acho que eu deveria ir falar com ele... — Marcus anunciou o que parecia ser o começo de outra possível péssima ideia.  

— Tem certeza? — O amigo tentou colocar juízo em sua cabeça.  

— Eu fiz besteira, Al... — Assumiu. — Eu sei que eu deveria ter pensado melhor antes de fazer o que eu fiz, mas agora eu preciso tentar consertar as coisas. Olha essa música que ele cantou, tá mais do que claro.  

— Se você quiser, eu posso ir ver como ele está — Rachel ofereceu-se. — Eu acho que ele foi lá pra fora.  

— Eu quero mesmo ir. — Marcus insistiu. — Eu tenho que pelo menos tentar. 

Alberto e Rachel desejaram boa sorte mentalmente para ele, já prevendo que aquela conversa não seria boa, com medo de como ficaria a situação dali em diante, pois tudo estava indo tão bem antes e sabiam que, a partir de agora, as coisas não continuariam daquele jeito.  

Eles permaneceram na mesa, esperando a próxima apresentação, enquanto Marcus saía do karaokê, não demorando para achar o loiro caminhando na calçada do outro lado da rua.  

— Lucas! — Chamou-o sem sucesso, atravessando a avenida para se encontrar com ele. 

Acelerou os passos para conseguir alcançá-lo, começando a caminhar ao seu lado, enquanto ele se recusava a aceitar sua presença, andando sem encará-lo, de cara fechada.  

— Eu preciso falar com você, por favor... — Implorou, tocando-o no braço.  

— Não encosta em mim! — Deu um tapa em sua mão, parando de andar — Quem você pensa que é, hein?! Que porra foi aquela? 

— Eu não pensei direito... — Marcus desviou do olhar furioso dele, olhando para os dedos vermelhos pelo tapa. — Me desculpa, só depois que eu cantei que eu percebi o quanto eu estava sendo ridículo! Mas eu não posso voltar atrás!

— O que você achou que ganharia com aquilo?! —  Lucas indagou, franzindo o cenho. — Achou que eu ia, sei lá, cair nos seus braços depois daquela porcaria de serenata?! Porque, sinceramente, aquilo me pareceu premeditado, não vem com esse papo de que não pensou direito. Fala sério! 

— Mas e quanto a sua letra?! — Rebateu. — Vai me falar que não estava com ela na ponta da língua?!  

— Eu estava, sim. Não nego, eu já conheço essa música há anos e sempre cantei. Mas eu não estava pensando em subir no palco até você me obrigar a isso! Eu espero que tenha sido uma boa resposta pra sua imitação de segunda categoria do Bon Jovi. — Irritou-se, voltando a andar com pressa.  

— Mas foi tudo verdade! — Afirmou, agora sem andar, vendo-o deixar para trás.  

Marcus percebeu que ele nem sequer olharia para trás, continuando a andar com seu orgulho. Engoliu em seco, já sabia que aqueles esforços seriam em vão, mas não pensava que seria tão ruim assim.  

Voltou para o karaokê, encontrando Alberto e Rachel ainda juntos à mesa, puxando uma cadeira ao lado deles, desabafando:  

— É isso, ele me odeia... 

Rachel parecia sem graça com a situação, prestes a se levantar, dizendo: 

—  Eu vou deixar vocês a sós... para conversarem.  

— Não precisa. — Marcus interrompeu-a. — Fica, ouve o que eu tenho pra dizer e aí você dá a sua opinião. Pode ser? 

Ela continuou ali, ouvindo suas palavras do que aconteceu e a reação de Lucas ao que tinha dito, com ambos avaliando a situação. Eles não disseram o que Marcus queria ouvir, mas sim o que ele precisava, tinha que deixar o loiro em paz e daquilo já estava cansado de saber, mas daquela vez tinha que botar em prática pra valer. 

Rachel começou a enxergar Marcus de forma mais imparcial, vendo o quanto ele parecia arrependido, sabendo que também faria coisas desesperadas caso realmente quisesse ter alguém que amasse tanto de volta. Ele não parecia tão misterioso quanto antes, apenas solitário.  

Assistiram à algumas performances para tentarem se distrair do acontecido, mas a cabeça de Marcus não queria pensar em nenhuma outra apresentação senão a de Lucas. Lembrava-se de cada trecho cantado por ele, cada suspiro, cada tom angustiado que ele cantava com a voz triste mais linda que já tinha ouvido em toda a sua vida.  

Era difícil ficar ali com os dois amigos pedindo bebidas sem poder fazer o mesmo, sentindo o cheiro dos drinks que tomavam, até ficando tentado a pedir algo. Mas seus exageros eram algo que ainda lhe envergonhavam e que provavelmente assustaria os amigos, então só queria poder beber em paz, longe de qualquer olhar conhecido para lhe julgar.  

Já não sabia dizer quanto tempo tinha se passado ali, decidindo então dar um basta. Tinha feito um trato consigo mesmo naquele instante, iria ao bar do hotel e caso Angela estivesse lá, ela saberia exatamente o que fazer para que continuasse no seu propósito de abstinência, caso não a encontrasse, era um sinal para voltar a beber. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Todas as músicas citadas aqui possuem seus direitos reservados ♕