Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 8
Capítulo 8 - Desentendimentos




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Nicolas imediatamente ficou com a visão embaçada pelas lágrimas que não conseguiria segurar. Não conseguia superar a perda de sua mãe, ainda mais quando soube que ela foi assassinada. E o que era pior, pelo homem que sempre tratou como pai. Sentia-se arrasado quando tinha esses pensamentos. E logo em seguida vinha a raiva, o rancor e o ódio daquele homem. Sua irmã nunca poderia descobrir isso. Seria um golpe terrível. Ela amava o pai, e não entendia porque ele sumiu. Custou a se conformar com isso. Na verdade ela queria que ele voltasse. E Nicolas também, só que pra se vingar.

Ele desistiu de acordar Talita. Não só desistiu como achou banal brigar com sua irmãzinha por isso. Enquanto coisas muito piores já aconteceram. Mas teria que conversar com ela e descobrir porque ela fez isso. Poderia ter arruinado a viagem deles.

Nicolas foi pro seu quarto e se deitou. Ele era muito pequeno quando a mãe um dia deu aquela boneca de presente pra Talita. Ela era ainda um bebê, não tinha feito 1 ano. Mas ele já tinha cinco anos. Se lembrava muito longe daquela cena: a mãe desembrulhando uma caixa grande e tirando uma boneca. Era quase do tamanho da irmã, que fez festa quando viu. – suspirou forte com essas lembranças. Era muita saudade e tristeza também.

Muito longe dali, os três amigos leem informações sobre os próximos hóspedes. Eram 30 pessoas ao todo. 15 eram brasileiros e iam pela agência que Nicolas contratou. Mas de todos os futuros hóspedes, uma chamou a atenção dos três.

– Essa garota tá querendo se mostrar, só pode! – diz Felix. – Imagina! Eu não entraria naquele cemitério à meia-noite nem morto.

– Olha isso aqui: “O que espera dessa viagem excêntrica?” – “Espero que me convençam de que esse hotel é tudo mesmo o que falam. Não tenho medo de nada. Espero encontrar fortes emoções de verdade!” – Martin leu em voz alta.

– Tá bom! Claro que ela é o contrário de tudo o que está aí! Eu conheço gente arrogante a quilômetros. E essa daí vai ser a primeira a pedir arrego! Pode apostar! – Daniel fala um pouco irritado com a ousadia da garota.

Mesmo antes de chegar lá, Juliana já estava despertando antipatia e curiosidade nos três funcionários. E se Demétrius se sentisse desafiado, seria ainda pior.

Na manhã seguinte, Nicolas passa na casa de Julie para irem juntos ao cursinho. Ela já o esperava na janela. Quando o viu, saiu despedindo-se de seus pais.

– Bom dia, amor! Dormiu bem?

– Bem demais! Nem lembro se sonhei. – ela disse.

Ele deu um sorriso forçado. Estava de óculos escuros. Isso chamou a atenção dela.

– O que foi? Por que está com essa cara?

– Nada. Não precisa se preocupar, amor. Só as mesmas coisas de sempre.

Ela apertou os lábios. Parece que ele não queria conversar sobre isso.

– Então vamos, né. Vamos porque hoje deve ser nossa última aula.

No meio do caminho ele puxou conversa.

– Então. Ontem cheguei em casa, não consegui falar com a Talita ainda. Ela já estava dormindo.

– Ah! É verdade. Mas me conta, tinha muita coisa errada no seu formulário?

– Pois é, eu ainda não sei. Ela confirmou sem me esperar.

– Ela O QUÊ? Ela não pode fazer isso! É a NOSSA viagem, do NOSSO noivado, esqueceu?

– Calma, calma. Ela sabe de tudo isso. Ela não é burra também.

– Agora mesmo que essa viagem tem tudo pra dar errado! Bizarra!

– Ow! Espera! Não precisa falar assim! Qualquer opção que ela tiver escolhido vai ser legal! Essa viagem é muito cara! O lugar é maravilhoso!

– Então escreve o que eu to te dizendo: se a viagem for um fiasco a culpa é da sua irmãzinha que não quer ver nós dois juntos.

Ele ficou calado. Dessa vez de mau humor. E não se entenderam muito durante aquela manhã. Nem foram almoçar juntos na casa de Julie. Ele só parou o carro e ela desceu sem dar nem um beijo. Só disse tchau. Estavam aborrecidos.

Ela chegou foi direto pro seu quarto e se jogou na cama. Seus pensamentos fazendo milhares de perguntas. “Será que você está fazendo a coisa certa? Será que deve mesmo se casar com o Nicolas?”, “A Talita vai tentar tira-lo de você de todas as formas, não vai?”, “Esse é o mesmo Nicolas por quem você se apaixonou?”, “Depois de casar, será que ele vai mudar comigo? Será que vai me deixar?, “Você não vê que a Talita deseja o Nicolas e não é como irmão?”.

O celular toca. Era Bia. Sempre de bom humor.

– Boa tarde, amiga. Como é que você tá? Enfim, escolheu a festa surpresa ou o Salão dos Ossos?

Julie sorriu. – Escolhi a festa surpresa. E você também!

– Não acredito! – ela falou espantada. – Acho que você não entendeu essa parte muito bem, amiga. Estou até com medo de te perguntar o resto.

– Vem aqui pra casa, a gente conversa melhor. Estou um pouco aborrecida com o Nicolas.

– E eu idem com o Valtinho. Vou aí e te conto.

– Tá legal! Vou te esperar!

– Tchau.

Nicolas chega em casa chateado e procura Talita pela casa, mas ela não estava, nem tinha deixado recado. Então ele resolveu ir pro seu quarto mexer no computador, ver o que afinal a irmã tinha preenchido, porque tinha ficado com tanta raiva que nem leu direito pra ver o estrago. Digitou a senha e user e a página do questionário se abriu novamente. Foi olhando item por item, pergunta por pergunta. Até que Talita tinha acertado muitas coisas. Ela marcou todos os eventos de RPG, os passeios mais interessantes. Estava ótimo. Nem tinha porque reclamar de sua irmã. A não ser por ter pedido que ela não confirmasse em vão. Ele tinha que poder confiar totalmente na sua irmã, não achou certo o que ela fez. Por isso teria que falar com ela. Além de ter causado mais uma vez um problema com a sua noiva. Isso tinha que acabar. No questionário dizia que ele deveria abrir o e-mail para ler a mensagem da agência. Foi o que fez, entrou no seu e-mail e encontrou a mensagem.

Prezado Sr. Nicolas Albuquerque

Recebemos seu questionário e faremos tudo para que a viagem seja exatamente do jeito que você solicitou. Nós garantimos que será cheia de fortes emoções. Prepare-se para viver os 15 dias mais incríveis da sua vida.

Ouviu um barulho de porta, então fechou o notebook e se levantou, chegando até a porta do quarto. E chamou:

– Talita?

– Sim! Sim! Meu amoooooor! – ela veio sorridente e radiante. Trazia uma caixa enorme embrulhada. – Fui terminar de fazer as compras que faltavam e aproveitei e trouxe este aqui pra você!

Tinha um bilhete. Ele abriu.

“Um cavaleiro nunca faz longas viagens sem a melhor das armaduras. Você ficará ainda mais incrível quando usar a sua. Estarei lá pra torcer por você, meu amor.”

– O quê você trouxe aqui? – os olhos dele sorriam. Abriu rapidamente a caixa, o que fez seu sorriso ficar ainda maior. – Legal! Poxa, adorei! - era um traje completo de cavalheiro medieval, comprada em loja especializada para RPG. - Você me impressiona Tatá. Como pode saber tanto a meu respeito? Acho que me conhece melhor do que eu. Obrigado. – deu-lhe um beijo na bochecha.

Mas ela aproveitou e o abraçou forte. – Eu te amo. É por isso que te conheço tão bem.

Nicolas ficou um pouco sem jeito. Mas ele estava tão carente depois do desentendimento com Juliana que continuou naquele abraço por mais um tempo. Sabia que Talita o amava de verdade. Respirou fundo, porque, mesmo estando feliz com o presente, teria que falar com a irmã sobre o que ela fez. Mas acabou desistindo de falar, deixou pra depois.

No hotel, era mais uma sexta-feira de muito trabalho. As noites de sexta-feira tinham sempre um toque a mais de mistério. E isso era muito bom pra todos.

Ao amanhecer, os três funcionários acordam com um grito vindo do andar de baixo.

Martin acorda ainda cansado da noite anterior, que ficou acordado até tarde. Vê Daniel na janela e o cumprimenta. – Bom dia aí, Daniel.

– Que bom dia? Já viu? Esse dia está horrível! – resmungou sem paciência.

Martin olhou pra fora e ficou um tempo pensativo e disse. – Cara, você tem problema! O dia tá lindo! Faz tempo que não vejo o céu tão azul!

– Sinal que vem frio por aí! Menos mal. – Daniel estava mesmo mais rabugento do que de costume.

Olhou pra cama de Félix, que continuava apagado. – Olha só que lamentável! Desse jeito a gente nunca vai sair desse lugar. Nós temos que trabalhar! Temos que conseguir mais dinheiro se não quisermos ficar trabalhando eternamente pro Demétrius!

Ele se levanta e abre o notebook de Félix. Entra no programa do hotel e acessa a pasta de hóspedes.

– Hum... Deixe-me ver... “hóspedes da próxima semana”. Pronto! Brasileiros... Ah aqui está! Juliana Spinelli de Almeida. Então a garota pensa que vai botar banca pra cima da gente! Aposto que tem medo até de escuro! Deve ser uma nerd, feia e chata! Mas se for dessas que querem bancar o machão, vai sair daqui miando. Só assim pra eu gostar desse trabalho, viu. Acabar com a arrogância desses tipinhos que se fazem de malucos, góticos, céticos, que fingem que nada os impressiona!

– Pois é Daniel. E se conseguirmos afugentá-los, o quanto antes melhor. O pagamento é maior também. Não se esqueça.

– Olha só isso aqui! “Aposto que tudo não passa de picaretagem. Não acredito em sobrenatural.”

– Que bom! Só assim pra você se empenhar nesse trabalho.

– É... eu sei. E hoje vai chegar um casal em lua de mel. Eles dizem que são vampiros. Acredita numa idiotice dessas? Disseram que eles têm várias alterações no corpo. Vamos ver quanto tempo estes vão durar. Inclusive vou hoje ainda encomendar meu novo instrumento. – deu um sorriso irônico.

– Que instrumento? Nós nem terminamos de pagar a bateria ainda. – Martin comenta.

– É. Mas... Eu recebi uma proposta que vai ser legal pro nosso trabalho aqui. Acho que os hóspedes vão se amarrar! – piscou o olho e saiu. Ao passar pela cama de Félix puxou seu pé com força.

Félix deu um salto e acordou assustado, com a mão no peito.

– Ah! Você quer me matar de susto! – gritou com os olhos arregalados.

– A intenção não era essa! – Daniel comentou rindo pra ele. – Tá na hora!

– Droga! – Félix resmungou. – Odeio quando ele faz isso!

Bia chega na casa de Julie. A amiga já estava ansiosa esperando por ela. Foram pro quarto de Julie.

– E então Dona Juliana Albuquerque. – abriu um sorriso debochado. – Estamos perdidas com esses nossos ficantes/namorados/noivos sei lá o que!

– Eu estou pensando em desistir. Não sei se vou nessa viagem!

– Ah não! Você está ficando louca, Julie? É sério! Nós já estamos com quase tudo pronto e falta uma semana pra viagem. Eu já gastei mais do que devia e podia. Não me faça essa bobagem!

– Mas você não vai acreditar! O Nicolas deu a senha e o user pra irmãzinha dele preencher o formulário ontem. E adivinha o que ela fez?

– Não imagino!

– Ela preencheu tudo sem consultá-lo e depois confirmou. Simples assim!

– Simples assim? – Bia estava boquiaberta.

– E agora não dá mais pra alterar nada. Você já imaginou o desastre?

– Bom, mas essa questão da Talita se meter na vida do Nicolas, não é uma novidade. Isso já vem de longe e quanto mais vocês demorarem pra conversar sobre isso, pior vai ficar. E parece que ela está quase conseguindo o que ela quer, não é mesmo?

– O q-que ela quer...? O quê ela quer? O quê?

– ...

– O Nicolas... – disse quase sem voz.

– Exatamente, e se você não ficar de olho, vai entregar ele de bandeja pra sua amiguinha, porque... eles na verdade não são irmãos...

– Bia. Isso é muito sério. O Nicolas não faria isso comigo. Jamais! Ele só faz isso porque quer proteger a irmã. E ele tem pena dela.

– Julie. Sabe, eu to terminada com o Valtinho, já tem 1 mês. Depois disso a gente só se viu uma vez. A gente se beijou e tal, mas não voltamos. Eu gosto dele, muito, mas ele não quer nada com a vida. Quer ficar só na moleza. Não faz nada pra mudar.

–Usando sua linha de raciocínio, ele sempre foi assim. Não tem nenhuma novidade nisso.

– Hum, engraçadinha. Roubando minhas frases. Mas bom, então. Aí é que está o problema. Nesse dia que a gente se encontrou, o Valtinho apareceu com uma moto. Diz ele que é emprestada. Mas você sabe o que me contaram?

– Não! Nem imagino.

– Que o Valtinho fez um serviço pra uma pessoa que pediu pra ele dar um jeito num cara, um tal de Guto. E o Valtinho pediu pra um amigo da minha irmã, um carinha que faz jiu-jitsu pra quebrar o cara. Só que ele não aceitou.

– Juro que não estou entendendo.

– Pois agora você vai entender. Alguém aceitou a proposta do Valtinho, sabe por quê? Porque esse Guto estava todo quebrado. Ele levou uma surra de um lutador, mas não sabe, ou não quer dizer quem foi. Agora se segura pra próxima.

– Ai! Você tá me dando medo.

– O tal do Guto disse que o cara avisou que era pra ele ficar longe da Talita. Ele apanhou por causa da Talita. E se essa pessoa que mandou o Valtinho dar um jeito no Guto foi o Nicolas?

– Só o Valtinho pode dizer a verdade.

– Ele nunca vai dizer a verdade se for isso. – Bia estava desanimada.

Julie também estava desanimada. E será que o Nicolas seria capaz de fazer isso? A amiga tinha razão. Se ela facilitasse, a cunhadinha ia lhe dar uma bela de uma rasteira. Resolveu ir na casa dele de surpresa.

Ao chegar lá, abriu a porta sem fazer barulho. Não havia ninguém aparentemente. Subiu até o quarto dele. Entrou devagarzinho, ouvia o barulho do chuveiro ligado e resolveu espera-lo dentro do quarto, mas ficou parada olhando pra mesinha do computador, que estava ocupada pela sua querida cunhadinha. Julie só a espreitou com os olhos. Ela achou aquilo um abuso. Ficar dentro do quarto dele, com ele no banheiro prestes a sair só de toalha. “Ela é muito oferecida!”

– Talita! – Julie falou sem qualquer simpatia na voz. – O que você tá fazendo aqui no quarto do Nicolas?

Talita levou um susto. –Ah! Isso é jeito de entrar na MINHA casa? E com licença, mas porque eu estou aqui não é da sua conta!

– Ah! É sim! Esse aqui é o quarto do MEU noivo!

– E do MEU irmão! – Talita se levantou da cadeira, enfrentando Julie.

Julie desvia o olhar pro lado do computador. Notou que Talita estava pesquisando sobre RPG. “Tipos de RPG” – “parece que alguém mais está interessado nessa porcaria”.

– Não sabia que você gostava de RPG! – Julie foi irônica.

– E não sabia que você era tão bisbilhoteira!

– Eu? Bisbilhoteira? Há! – aquilo parecia uma piada. – Você se mete a responder pelo seu irmão e eu que sou bisbilhoteira? Só estou cuidando do que é meu!

O rosto de Talita pega fogo. – Pois então só vou te dar um aviso! Se você quiser se casar com o Nicolas, vai ter que querer MUITO MESMO! Eu não vou deixar ele se casar com qualquer uma! Com uma pessoa que só vive pisando nele e deixa ele chegar em casa triste! – ela fala com um dedo esticado na cara de Julie.

Julie respira fundo, até fecha os olhos. – Sai daqui Talita! Sai agora daqui! – fala em tom ameaçador.

Nesse momento Nicolas aparece no quarto. E fica tentando entender o que as duas faziam ali trocando farpas.

– Mas... o que tá acontecendo aqui ? Vocês podem me explicar?

Uma olhou pra outra com raiva. Elas não queriam se queimar com ele. Então Talita abaixa o tom de voz e disse pra ele, bem mais dócil:

– Nicolas, eu vim usar o seu notebook porque o meu deu um problema. Mas já terminei de usar, sim. Com licença.

“Cínica” – Julie xingou-a mentalmente. – E-eu vim aqui conversar com você.

Ele a olha com uma mistura de medo e mágoa. – Tudo bem. Só vou me trocar. Você pode me dar licença um pouquinho?

Ela se dá conta e sai do quarto.

Em 3 minutos ele já estava arrumado. Só jogou um perfume e abriu a porta do quarto. Estava um pouco abatido. E um pouco com medo do que ela tinha pra dizer. Devia ser alguma coisa séria, pra fazer com que ela fosse atrás dele.

Mas Julie tinha ido lá pra fazer as pazes e depois da conversa “amigável” com Talita, aí que não iria mesmo brigar com ele. Ela só esperou Nicolas abrir a porta do quarto toda, entrou e se pendurou em seu pescoço, dando-lhe um beijo demorado.

– Nicolas, eu vim pra gente fazer as pazes e ficar numa boa. Mas estou cheia de dúvidas sobre essa viagem. Você precisa me contar.

– Não se preocupe com nada Julie. Essa viagem vai ser ótima. Vai por um pouco de emoção na nossa vida. Tá?

Beijou-a, tentando distraí-la.

– M-mas... Pra que tanto mistério? Tantas perguntas? O que você não quer me contar?

– Eu vou te contar tudo o que quiser saber. Mas só quando chegarmos lá.

Ela relutou, mas não conseguiu se desvencilhar de seus abraços e beijos. E acabou deixando pra fazer o que ele disse: conversarem quando chegassem lá.


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Notas finais do capítulo

Afinal WTF o Nicolas pretende com essa viagem? :P