Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 30
Capítulo 30 - Live and let die


Notas iniciais do capítulo

Mudei a faixa etária da fic pra poder ficar mais livre pra escrever os próximos capítulos. Este também ficou um pouco 'pesado'.

Nas notas finais eu coloquei o link para o tumblr que criei pra fic. Tem fotos do lugar e o clipe e a tradução de uma música que rola no capítulo.

Também fiz umas perguntas e preciso muito saber a opinião dos meus leitores. Quem puder responde ou faz um comentário. Pleaseee.

Obrigada por acompanharem, por lerem, pelos comentários de todos. Espero que vocês gostem deste capitulo. :)



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POV JULIE

“Ai! Meu pai! Fui sequestrada! E agora?” – soquei o vidro com força.

– EI! PÁRA ESSA COISA! ME DEIXA SAIR!

Foi o mesmo que não dizer nada. A carruagem fazia um barulho infernal e não consegui abrir a porta.

Mas o que era ruim ainda podia piorar.

Olhei pela janela e notei que a estrada não era a mesma que eu conhecia. Essa passava perto de uma floresta. E a primeira impressão que tive foi perturbadora: eu jamais iria num lugar desse!

Mas, por mais que eu socasse de todas as formas, a porta não abria.

Até que a velocidade reduziu bruscamente. Olhei pra fora e agora percebi que a estrada era bem mais estreita. Estávamos dentro da floresta!

Minha vida se passou em um segundo diante dos meus olhos. Seja lá quem fosse, não podia estar com boas intenções! Era minha única chance de fugir antes que pudessem me pegar. Acertei minha bota com toda força contra o vidro, que se espatifou. Rapidamente tirei o casaco e limpei ao redor da janela pra poder passar. Minha sorte é que sou bem magra e consegui passar metade do corpo pra fora e, então, puxei a maçaneta. Consegui destrancar a porta. Quando ela abriu, me joguei e saí rolando no chão. Acabei me machucando um pouco. Quando já ia me levantar, percebi que a carruagem tinha parado e o cocheiro não estava mais lá.

Eu não sabia onde estava, mas precisava fugir assim mesmo. Me levantei e decidi voltar por onde tinha vindo. Corri muito! Ouvi passos atrás de mim. Quando virei pra trás, vi que era o cocheiro. Ele usava uma touca ninja e por cima um chapéu. Só isso já bastava pra ter certeza de que era algum maníaco.

– HELP! HELP! – gritei desesperada.

Ele se aproximava rápido. Eu não ia aguentar!

– HELP! HELP!

Não tinha mais fôlego. Não dava pra correr mais que aquilo por causa da bota que me atrapalhava.

Foi questão de segundos pra ser puxada e derrubada no chão.

– O QUE VOCÊ QUER DE MIM? – Gritei apavorada. Nem me lembrei de que ali ninguém entendia português.

Ele estava de pé na minha frente. Pensei que era o fim. Levantou sua mão e ... tirou o chapéu. Ao tirar a touca, seus longos cabelos dourados se espalharam pelos ombros. Reconheci aquele rosto pálido e olhar frio! Eu a conhecia!

– ANNE! - Minha respiração estava descontrolada e eu tremia demais. – O que está acontecendo?

Ela deu um sorriso fraco de lado. Me olhava hostil.

– Você não queria ver o Daniel?

– Como? Quem te disse? Ah, claro! Foi a camareira! – “como pude ser tão estúpida?”.

– Não foi ela!

– Não faça nada comigo, por favor! – eu já olhava ao redor procurando um jeito de fugir de novo.

– Nem pense em fugir! – ela tirou um punhal de dentro do casaco.

– Você vai me matar! – eu estava horrorizada.

– Eu te avisei pra deixar o Daniel em paz!

– Eu só quero pedir desculpas pra ele! – gritei, já chorando.

– Está lembrando que eu te avisei pra você não fazer meu amigo de idiota outra vez? Não me importo em te matar aqui mesmo!

– Por favor, não!

– Mas eu não vou te matar agora, porque o Daniel nunca me perdoaria. Então, vou te dar uma última chance de continuar viva.

Eu concordaria com qualquer coisa, estava desesperada.

– Venha comigo! E não banque a esperta! Você não iria muito longe aqui no bosque.

Sombrio e assustador”. - Assim eu descreveria o bosque. - “Devia ter ficado no meu quarto”.

– A sua sorte, garota, é que eu nunca vi o Daniel dizer que ama ninguém aqui. E se isso for verdade, você ainda tem uma chance de sobreviver.

– Você não tem esse direito!

– E quem se importa? Pensa bem no que vai falar porque eu posso mudar de ideia!

Não aguentei, falei o que me veio à cabeça. – Grande amiga você é! Ele nunca aprovaria isso!

Anne apertou minhas mandíbulas com tanta força que pensei que iria quebrar. Tive que pedir desculpas. Não era o momento de descarregar todo ódio que estava sentindo dela. Não parecia, mas ela era bem mais forte, além de estar armada.

– Por aqui! – me chamou. E seguimos numa trilha pra dentro do bosque.

– Pra quê?

– Você fala demais! Não faça perguntas!

Tive que segui-la. Me senti num filme de terror. Não estava passando bem porque o ar dentro do bosque era sufocante, pesado. Ouvia as folhas quebrarem. Era outono e o chão estava coberto por elas. As árvores estavam secas, sem uma folha, dando um ar de lugar abandonado. Mais pra frente a vegetação começou a aparecer. Anne andava rápido e passava pelos lugares mais difíceis... Mal conseguia acompanhá-la. De repente ela resolveu parar.

– Espera! – ela disse. Foi correndo pra trás de umas árvores mais distantes e me deixou sozinha ali. - Fique aí e me espera! – e entrou atrás das árvores, ficando fora do campo de visão.

Ouvi um ruído atrás de mim. Dava pra ouvir meu coração de tão alto que batia, quase saindo pela boca. Sentia calafrios no estômago.

Ai! Tem alguma coisa atrás de mim!” – queria chamar a Anne, mas minha voz sumiu. Eu tremia muito mais que antes. Minhas pernas estavam bambas. Só queria que aquela desequilibrada voltasse logo.

Mas Anne não tinha pressa nenhuma. Pelo contrário, ela estava fazendo de propósito.

Ouvi um barulho no alto das árvores. Tive que tapar a boca pra não gritar e ser vista. Vi um homem enforcado. Estava balançando pela corda. Só pisquei com força pra visão ficar mais limpa e ele tinha desaparecido, como se tivesse sido uma alucinação minha.

Eu sentia falta de ar e enjoo de tanto medo. Fiquei repetindo mentalmente: - “não pode ser verdade” – com um nó na garganta. O medo me fazia ouvir e sentir coisas, como arrepios e vozes chorando e pedindo ajuda.

Aqueles barulhos congelaram meus ossos. Meus olhos começaram a arder pra chorar. Fechei -os. Por Deus, eu não queria estar ali!

Fui andando devagar, meio temerosa, com medo de pisar em alguma coisa ou ser surpreendida, porque motivos pra ter medo naquele lugar era o que não faltava. O pior não é o que a gente está vendo, mas aquilo que a gente imagina.

Eu tinha os piores pensamentos possíveis. Era incontrolável. Minha cabeça começou a doer.

Fiquei ainda mais apavorada. Eu estava ouvindo passos, vindos do outro lado onde Anne estava. Estava rezando baixinho para que ela voltasse logo. “Está vindo pra cá!” – estava pronta pra correr. – porém, não ouvi mais nada. “Acho que estou enlouquecendo”.

Nunca tinha estado num lugar tão horripilante. Não tinha vida, não tinha pássaros e nenhum som que se costuma ouvir em uma mata. Estava tudo morto.

Se eu precisasse sair correndo ia me perder, com certeza. Mas não queria pensar nisso! Só rezava pra ela voltar logo.

Onde estava Anne? Ela pediu pra eu esperar, mas e se ela não voltar?

Comecei a ouvir conversas vindas de onde ela tinha entrado.

– Anne! Por favor, volta aqui! - Não respondia. – Não me deixa aqui sozinha!Não aguento mais!

Ela finalmente apareceu e veio na minha direção. Fiquei um pouco aliviada. Ela me olhou sorrindo. - “Não acredito que ela está se divertindo com isso!

– Você se comportou muito bem!

– Com quem você estava falando? O que vai fazer comigo? Você vai me matar né?

– Não estava falando com ninguém sua tola!

– Eu ouvi! Ouvi conversas e vinham do lugar onde você estava!

– Não tinha ninguém comigo! Sabe, quando você ouvir alguma coisa, não procure saber o que é. Pode ser perigoso.

Engoli seco. Estava entendendo tudo agora. Ela queria me torturar.

– Você nunca ouviu falar de Wish, não é menina?

O “menina” soou como desprezo.

– Não! Se eu tivesse ouvido nunca teria vindo pra cá!

– Ainda bem que não ouviu. Se tivesse ouvido estaria bem mais apavorada agora.

Isso não ajudou em nada. Imagina as coisas horríveis que podia ter naquele lugar!

– Anne, eu não to brincando! Me tira daqui! Eu não quero ficar aqui! Por favor! Eu vou embora e nunca mais procuro o Daniel!

– Ahhh! Eu sabia que você ia atrás dele só por vaidade. Queria ir até lá pisar nos sentimentos dele de novo! Você é horrível!

– Eu juro que não. Você não sabe nada que estou passando.

– Sei! Eu ouvi tudo que você falou hoje pela manhã. Chega de conversa. Se não quiser vir comigo, pode ficar por aí. Não me importo!

– Não! Eu vou com você!

– Você não é tão burra! Então, fica calada que não aguento mais essa conversa!

Anne foi andando rapidamente pro interior do bosque. Eu quase tive que correr pra acompanha-la. A mata ficava cada vez mais fechada. Em poucos minutos já não dava pra ver o céu.

Andamos cerca de vinte minutos até encontrarmos uma clareira. Havia uma casa de madeira bem no centro.

– Onde estamos?

– Na minha casa.

– Ninguém pode morar num lugar desses. Só um louc... – me arrependi de ter falado.

– É aqui que você vai ficar hoje. Vai na frente.

Respirei fundo. Ela estava planejando alguma coisa terrível. Eu podia sentir.

– Sobe!

Tive que subir uma escada de madeira pra chegar na casa. Ela me mandou entrar e a porta estava destrancada. Quando entrei, logo me assustei com aquele lugar. Ela vivia numa casa que parecia abandonada. Tinha muitos quadros e posters antigos na parede. Li um nome “Johnny Klein” num deles. Era algum cantor de rock bem antigo. Ela percebeu e resolveu falar.

– Esse é o meu noivo. O Johnny. Essa casa era dele. Mas desde que ele se foi, resolvi me mudar pra cá. Estou esperando ele voltar.

Achei aquilo muito louco. Com certeza tinha alguma coisa errada nessa história.

– Eu amo o Johnny sabe. Você sabe o que é amar alguém? – me perguntou.

– Na verdade, não sei. Pode ser que sim, pode ser que não.

Ela sorriu de lado. E não gostou da minha resposta.

– Como eu pensava. É claro que não! Se você soubesse o que é amor, diria na hora.

Desviei o olhar pra baixo. Não queria que ela percebesse meus sentimentos por Daniel.

– Meu amigo amou uma garota há muito tempo. Mas o destino não quis vê-los juntos. Agora ele se enganou com uma garota mimada. Ela não o merece.

– Está falando de mim, mas você não me conhece. Se existisse amor, o seu noivo não tinha ido embora daqui!

Anne se jogou em cima de mim e apertou meu braço, me olhava com ódio. - Anne sentia um ódio muito grande por mim. A única coisa que a impedia de me matar era o Daniel. Ela tinha que ver a reação dele antes. A vida da Julie estava nas mãos dele.

– Cale-se! Ele não foi embora e me deixou. Ele morreu.

Me senti péssima. Não devia ter dito isso pra ela. - Me desculpa. E-eu estou nervosa. Não quis te machucar.

Ela me soltou e friamente foi andando até a porta. Foi então que eu disse:

– Anne, eu amo o Daniel.

Acho que não foi boa ideia ter falado isso. Ela estava visivelmente furiosa. Antes de sair disse:

– Não venha atrás de mim. Se hoje for seu dia de sorte, você vai saber se o Daniel ainda te ama.

Bateu a porta e desceu as escadas. Quando cheguei à janela já não a vi mais.

O que ela quis dizer com ‘se hoje for seu dia de sorte’, porque pior que está não podia ficar!

Olhei em volta e agora aqueles quadros pareciam olhar pra mim. Fui me sentindo fraca e só deu tempo de me segurar num sofá velho. Não me lembro de mais nada.

...........

Não me lembro da última vez que fiquei tão agitado. Já não tinha nada que eu pudesse fazer naquela casa. Já tinha afinado todas as guitarras duas vezes. Colocado os discos em ordem de preferência e importância, começando pelo da minha banda, é claro. Não tenho muitos discos, gostaria de ter mais. São apenas 459 no total. Já tinha trocados os pôsteres de lugar e organizado minhas camisas de banda. Era a coisa que eu mais gostava de colecionar das tranqueiras que os hóspedes deixavam pra trás. Preferia as pretas. Gostava tanto dessa cor que tinha um quarto onde só as paredes não eram pretas. Basicamente a parede era coberta de pôsteres e guitarras. E também tinha uma coleção de aviões.

Resolvi abrir minha caixa onde guardava todos os presentes que sempre recebia das garotas depois dos shows. Eu não tinha só uma caixa, tinha várias. Mas essa era onde eu guardava os presentes mais especiais.

Foi então que me lembrei que tinha um show daqui a dois dias no vilarejo. Todo mundo sabe que aquele pub é assombrado, mas vão assim mesmo.

– Já sei! Vou ensaiar pro show!

Peguei minha Fender Stratocaster, igual à do Hendrix. Comecei tocando alguns riffs famosos pra aquecer os dedos. Depois toquei “Creep” do Radiohead.

"Quando você esteve aqui
Não conseguia te olhar nos olhos
Você é como um anjo
Sua pele me faz chorar

Você flutua como uma pena
Em um mundo tão belo
Eu queria ser especial
Você é muito especial


Mas eu sou uma aberração, um estranho
Que diabos estou fazendo aqui?
Não pertenço a esse lugar

Eu não ligo se isso machuca
Eu quero ter o controle
Eu quero um corpo perfeito
Eu quero uma alma perfeita

Eu quero que você perceba
Quando eu não estiver por perto
Que você é tão especial
Eu queria ser especial

Mas eu sou uma aberração, um estranho
Que diabos estou fazendo aqui?
Não pertenço a esse lugar

Ela está fugindo de mim
Ela está correndo
Ela corre, corre, corre, corre
Corre

Seja lá o que te faça feliz
Seja lá o que você deseje
Tão especial
Eu queria ser especial

Mas eu sou uma aberração, um estranho
Que diabos estou fazendo aqui?
Não pertenço a esse lugar"

Quando terminei já estava arrependido de escolher essa música. Me deixou muito mais deprimido. Me senti um lixo.

Peguei minha guitarra com raiva e soquei no chão até ficar em pedaços. Não sou desses que destroem guitarras, mas era melhor descontar nela do que em alguém. Peguei uma garrafa de vodka e sentei num canto. Bebi só um pouco, não estava a fim.

Tudo que eu queria era poder rever a minha mãe e a Letícia. Mesmo depois de tanto tempo. Mas eu sabia que isso nunca ia acontecer.

“- Sei que fiquei em dívida com ela. Como será que ela está agora?“

Ouvi a porta bater e fiquei esperando no mesmo lugar, largado.

– Daniel! – era Anne. Revirei os olhos, não queria ninguém perto de mim.

– Daniel! Eu sei que você tá aí. Eu ouvi você tocando!

Logo ela estava girando a maçaneta e entrando. Abriu um sorriso largo quando me viu. Veio correndo me abraçar.

Ela era minha amiga de verdade. Gostava dela também. Só que eu queria ficar sozinho. Dar um tempo.

– Oi. – foi tudo que falei.

– Meu Deus! O que você fez com a Fender? – viu os destroços no chão.

– Nada demais.

– O que foi com você Dani? Você está triste.

– Não foi nada.

– Está assim por causa dela, né? Não sabia que isso ia te abalar tanto assim.

– Ela quem?

– Ah Daniel! A garota! A hóspede!

– Ah! Eu não sinto mais nada por ela. – menti. – Isso foi só uma loucura da minha cabeça.

– Loucura? Sei...

– Eu estava pensando era na minha mãe e nela. – mostrei a foto da minha primeira namorada.

– Ai, Daniel. Quantas vezes eu vou ter que te dizer pra esquecer isso. Olha, pelo menos por enquanto, não tem nada que a gente possa fazer.

– Não, Anne. Eu nunca vou esquecer isso.

– Olha, eu sei uma coisa que vai fazer você esquecer um pouco isso.

– Ah é? E o que é então?

– Bom, é que... eu quero saber se você realmente esqueceu essa garota.

– Anne, eu não quero saber! Não me interessa mais! Eu não sinto mais nada por ela. Por que você está insistindo nisso?

– É porque eu não quero te ver assim: triste. E porque eu nunca te vi interessado de verdade em alguém desde que te conheci. E faz tanto tempo que você já está aqui e raramente te vejo com alguém. E pela primeira vez te vejo feliz e agora por causa de uma briguinha você desiste de tudo.

– Não vai dar certo mesmo! Ela não me ama!

(Isso partiu o coração de Anne. Ela não sabia que ele estava sofrendo e ainda amava Julie. Por isso resolveu falar algo para lhe dar um alento.)

– Não foi isso que ela me disse!

– Te disse quando? – quase sorri quando ouvi isso. Mas mantive a pose.

– É que eu fiz uma coisa.

– O quê?

– Eu disse pra você que não ia deixar barato. E ela sabia disso. Então, resolvi tirar isso a limpo. Levei-a pra minha casa.

– Não, Anne! Leva ela de volta pro hotel! Eu quero ficar um pouco sozinho. Dar um tempo. Não quero tirar nada a limpo! Isso não me importa agora.

– Tudo bem! Se você realmente não se importa, ela vai continuar lá. Pra sempre. Porque se você não for até lá, eu vou entender que ela não é importante pra você. Ou seja, não é importante pra mim também.

– Você está completamente louca! Você não tem o direito de fazer isso! Você não pode obrigar ninguém a amar outra pessoa.

– Eu sei, mas também não posso deixar que você deixe de amar alguém por causa de uma briguinha.

– Quer saber! Dessa vez, Anne, você passou de todos os limites!

– Eu fiz isso porque ela estava vindo aqui pedir desculpas pra você.

– Olha só isso! Não faz o menor sentido!

– Não faz se você não souber a verdade.

–...

– Pergunta pra ela a verdade! Por que ela queria te pedir desculpas!

– Acho bom não ter acontecido nada com ela, Anne. Senão eu nunca vou te perdoar! - saí e bati a porta.

Anne foi atrás, mas por causa do nevoeiro não o achou mais. Mas tinha certeza que ele iria atrás dela.

..............................

Eu não sei o que aquela louca quis dizer com “Se hoje for seu dia de sorte, você vai saber se o Daniel realmente te ama.” Mas eu não ia ficar ali pra descobrir. Tinha que sair dali de qualquer jeito!

Você não devia ter vindo atrás do Daniel.” - Ela não deixava de ter certa razão. Mas não justificava seus atos.

Ele ia ficar ainda mais triste se eu fosse lá dizer que estava indo embora. Tomei a decisão errada.

Agora estou aqui. Talvez eu encontre alguém que me tire daqui. – já estava fraca de tanta sede e fome. Olhei ao meu redor, estava no meio do nada.

Eu vou conseguir sair daqui! Não andei tanto assim. A saída não deve ser tão longe.” – mas eu estava enganada.

Pra piorar a situação agora tinha uma névoa. Saí da casa e rapidamente lembrei por que eu estava com medo de andar ali. Tentava não pisar em um buraco ou tropeçar. Olhei pra trás, a casa já estava longe. Pensei em voltar, mas me lembrei que se eu não tentasse sair dali podia ser que ela nunca voltasse. Tinha que correr contra o tempo, antes que escurecesse. Além do mais aquela casa era assombrada.

Me sentia muito fraca. - “Acho que não vou aguentar andar mais.” – estava tonta. Tudo girava e eu não sabia mais nem onde estava, nem pra onde ia. Encostei numa árvore e chorei como nunca. “Ninguém ia me achar aqui.”

Senti uma presença estranha. Eu não sei o que era. Ouvi claramente uma voz pedindo água, quase sem forças e longe dali um grito horrível cortou o silêncio. – estava paralisada pelo medo.

Comecei a delirar e não sabia se estava dormindo ou acordada. Tudo estava longe. Comecei a imaginar uma pessoa trazendo água pra mim. Quando fui beber levei um susto e despertei. Vi um vulto passar perto de mim e chamei

– Daniel! Me ajuda! – quase sussurando.

Não era ele. Ninguém sabe que estou aqui. E nem eu sei onde estou.

.............................................

Daniel saiu desesperado. – “Como a Anne pode fazer isso comigo? Não posso deixar acontecer nada de mal à Julie.” – chegou na pousada onde ele e Julie haviam parado antes de entrarem na mata que levava até sua casa. Onde ele tinha comprado morangos pra ela. Pegou um cantil com água e umas barras de cereais e enfiou no bolso. – Depois eu volto e pago! – gritou pra funcionária que já o conhecia. – Eu preciso de um cavalo emprestado! Onde tem um? – ela me mostrou onde era e montei em um. – ele relutou bastante. Mas já tinha andado nele algumas vezes. Acho que ele lembrava.

Fazia um tempo que eu tinha aprendido a montar, mas era raro precisar disso. Sai em disparada em direção aos bosques. Anne tinha dito mais ou menos onde tinha entrado na mata. Mas não importa, sabia andar por ali e esperava conseguir alguma ajuda. Cada vez que ia naquele lugar tinha a sensação que a estrada tinha mudado de lugar. Não gostava muito de ir ali, era muito triste e sombrio. Muitas histórias de pessoas que nunca mais saíram de lá. Só fui mesmo por causa da Julie.

Eu sou orgulhoso sim. Mas não ao ponto de deixar a Anne fazer uma barbaridade dessas. Entrei na mata a cavalo mesmo. Sabia que assim que entrasse “eles” iriam me ver.

– Coronel, eu sei que você está aí! Se está me vendo, me ajude! – pouco depois vi pegadas vindo em minha direção. Só as pegadas. Mas, apesar de estar ali, o coronel não apareceria pra mim. Era apenas um sinal de que não tinha problema eu entrar na mata. Os espíritos não iriam me incomodar.

Esse coronel tinha morrido enforcado no bosque e desde então seu espírito vagava por lá. As pessoas às vezes o viam e nem desconfiavam que era um fantasma.

Daniel fez o cavalo entrar pela mata na direção da casa de Anne. Queria chegar logo e tirar Julie dali. Devia estar assustada e desesperada. Fiquei muito preocupado com ela.

Chegou num ponto que o cavalo não quis mais andar. Ele ficou nervoso, relinchando e subindo nas patas traseiras. Obviamente caí.

– Que foi? São só espíritos perdidos! Volta pra casa então! Vai! - e não é que o cavalo entendeu! Realmente aconteciam coisas estranhas nessa cidade.

Tive que correr pela mata. Vi alguns vultos, uns gritos, nada de diferente. A maioria tinha morrido por ali. E alguns nem sabiam que já tinham morrido e ficavam enchendo o saco, pedindo pra ajudar a sair de lá. Eu falava que não adiantava sair de lá, que eles estavam mortos! Por isso nem gostava muito de ficar indo lá.

Vi que já estava chegando perto de uma clareira. Era ali a casa de Anne. Fui correndo, queria logo ver a Julie. Não devia estar bem. Subi as escadas e entrei. Não tinha ninguém ali.


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Notas finais do capítulo

Citei a música "Creep" do Radiohead.
tradução: http://ficdesejos.tumblr.com/post/97899448348/letra-de-creep-traducao-aberracao

vídeo: http://ficdesejos.tumblr.com/post/97899351803/musica-que-o-daniel-toca-canta-no-capitulo-30


Depois me diz o quanto o capítulo foi assustador ou tenso pra você?

Eu queria que ficasse assim. E também estranho.

Ficaram curiosos com alguma outra coisa?

Esse lugar existe mesmo. Veja fotos aqui:

Bosques que Gritam: http://ficdesejos.tumblr.com/post/97898157383/screaming-woods-dering-woods-bosques-que

Bosques que Gritam 2: http://ficdesejos.tumblr.com/post/97898356198/mais-fotos-dos-bosques-que-gritam-em-pluckley

Vocês acham que Anne está certa? E o Daniel vai conseguir encontrá-la?

Ele deve perdoar a Anne?

Depois disso como vai ficar a situação Juliel? O que acham?

E essa ex-namorada do Daniel, vai aparecer? Tem algum palpite?

Poucas perguntas ^^ obrigada por lerem



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