Julie e Nicolas saíram pra conversar. Ao descerem as escadas Julie viu de longe um rapaz de cabelos cacheados. Sentiu um frio na barriga, estava com medo de ser quem ela estava pensando: Daniel. Desde aquele tapa, eles não se falaram mais. E se de repente ele viesse falar alguma coisa? Se quisesse se vingar? E se o Nicolas percebesse alguma coisa estranha. Isso ela nunca poderia contar! O Nicolas não podia desconfiar que ela e o Daniel tivessem qualquer tipo de ligação.

Mas a verdade é que teriam que passar por ele, o Daniel.

Quando o rapaz se virou ela viu que não era o Daniel. Sentiu-se aliviada na hora, mas também alguma coisa dentro dela queria que fosse ele. Ficou um pouco decepcionada. Ela podia não querer admitir isso, mas no fundo torceu pra ser ele.

– Sabe Julie, eu não tenho sido legal com você. – Nicolas cortou seu pensamento.

– Não mesmo! Você praticamente me deixou de lado. Você está escondendo alguma coisa de mim.

– Sempre vai ser pra te poupar, viu? Mas eu reconheço que tenho sido um idiota com você.

– Que irônico, não é Nic? O primeiro passeio que vamos fazer sozinhos nessa viagem é pra ter uma DR! – ela se lembrou dele falando “Uma viagem romântica”... “Vamos comemorar”...

– Eu sei que tem toda razão de estar com raiva. Eu devia ter feito isso antes. Mas olha, eu vou te explicar tudinho.

– Será? Você não sabe o que estou sentindo depois de tantas mentiras!

– Julie. Você sabe que as pessoas mais importantes pra mim nessa vida são você e a Talita.

– Eu não sei de mais nada!

– Calma! Eu não menti. Essa viagem era pra curtirmos juntos nosso noivado, mas aconteceram coisas que eu não conseguia te contar.

– Juntos! Sim, é claro!

– Tenho uma coisa séria pra resolver aqui.

Nicolas mudou de fisionomia. Parecia perturbado.

– Há 2 anos eu descobri uma coisa... - seus olhos encheram de lágrimas. Dava pra ver que estava emocionado de verdade. – Minha mãe... foi assassinada.

– Mas e o laudo? – Julie ficou surpresa. - No laudo não diz que ela teve um enfarto?

Mas se arrependeu de falar isso, ele estava abalado. Julie o confortou e esperou que ele se recuperasse.

– Eu sinto muito Nic.

– Eu descobri que foi o meu padras... – parou de falar, não conseguia pronunciar aquela palavra mais. - O desgraçado do Elias envenenou minha mãe.

Na mesma hora Julie se lembrou do seu encontro com Elias antes da festa. Até pensou que fosse loucura do Nicolas querer uma arma pra matar o padrasto, mas pelo jeito que ele estava emocionado, quem mentiu foi o Elias. “O Nicolas está correndo perigo! O que faço agora?”

Se ela contasse isso, seria uma tragédia. Nicolas ia querer achar o padrasto de qualquer jeito. Mas esse foi bem claro, eles tinham 3 dias pra irem embora.

– E então eu descobri que ele fugiu pra Inglaterra. Foi quando eu decidi viajar. Mas isso não quer dizer que não foi pra ficarmos juntos. Eu queria muito poder esquecer tudo isso, viver a nossa vida a dois, mas não consigo. Toda vez que me lembro da minha mãe me dando boa noite...

– Ah, Nicolas! Não fica assim! É melhor pra você deixar isso nas mãos da justiça. Você tem dinheiro, pode pagar os melhores advogados pra colocar esse canalha atrás das grades.

Ele só suspirou e abaixou a cabeça. Seria difícil voltar atrás.

– Foi por isso que você fez aquilo? Cortou os pulsos?

– Eu tinha acabado de descobrir. Como eu queria esquecer aquele dia!

– Nicolas, eu sei que isso tudo é difícil de aceitar. Mas eu queria te dizer uma coisa. Antes que seja tarde, vamos voltar pro Brasil. Eu quero ir embora e você não vai conseguir melhorar as coisas ficando aqui. Vamos embora. Quero que você decida isso até hoje à noite! Ou você volta comigo pro Brasil, ou estamos terminados. Não posso te apoiar nessa loucura! E não pensa que não sei que você está esperando uma arma.

– Quem te disse isso?

– Não importa! O que importa é que se for pro seu bem, eu vou embora daqui hoje mesmo!

Nicolas puxou seu rosto e deu um beijo.

– Eu vou te dar a resposta mais tarde, Ju. Não posso resolver de uma hora pra outra. Vou sair um pouco com o pessoal do RPG.

Só de ouvir essa palavra Julie já ficou irritada. Na lista do noivo ela vinha em terceiro lugar, isso é fato.

Ouviram uns gritos chamando por ele. Eram os amigos que já estavam se preparando pra irem no vilarejo pro segundo dia de festival.

– Vamos? – Nicolas segurou sua mão. – Quer ir comigo ver como é o festival? Acho que você vai gostar.

“Engano seu Nicolas, vou odiar”. – mas disse apenas: - Ah! Prefiro voltar e arrumar minhas coisas, descansar. Tenho certeza que você vai tomar a decisão certa.

– Então tá. Espera só um pouquinho aí. Só vou ali acertar umas coisas com o pessoal.

– Tudo bem. Vai lá! Vou voltar pro hotel, você me alcança no caminho.

– Tá certo! – ele deu um selinho e correu pro lado dos amigos.

Pronto! Agora já estava feito. Não dava mais pra voltar atrás. Era o único jeito de tirar o Nicolas e todos dali antes que acontecesse outra desgraça. Agora não tinha dúvidas de que Elias era perigoso. Talvez até um psicopata. Porque todos esses anos ele agiu como inocente e ninguém tinha percebido que ele planejou tudo pra fugir do Brasil com o dinheiro da herança. Talita até achava que o padrasto tinha sido seqüestrado.

Mas essa decisão de ir embora balançou sua segurança. Nunca mais ela veria o Daniel. – ficou pensativa.

Mesmo o Daniel tendo feito todas aquelas loucuras, não conseguia deixar de gostar dele. Ele só apareceu no momento errado da sua vida. Pensando bem, até ela tinha exagerado. Ele não merecia aquele tapa na cara. Estava tentando desde a noite não pensar nisso pra não se sentir culpada. Agora, com a sua decisão de ir embora dali, talvez, amanhã a essa hora já estivesse no Brasil. Pelo menos queria pedir desculpas pra ele antes de ir.

“É isso. Não vou embora sem pedir desculpas. Afinal, passamos alguns momentos legais juntos.”

Decidida a contar a decisão pra ele e a pedir desculpas, ela voltou pro hotel, olhando em volta se o achava pelo caminho.

Ninguém se deu conta da presença de Anne. Ela estava lá e depois de ouvir aquilo tudo, ficou injuriada. A garota não pensou um momento sequer no Daniel, em como ele se sentiria. Também ficou intrigada com a tal história do padrasto do rapaz. “Quem será esse Elias? Pode até ter vindo pra Inglaterra, mas aqui eu nunca ouvi falar dele.”

E Anne não parou. Foi atrás de Julie, estava mais interessada que nunca nessa história.

Julie não viu nem sinal de Daniel pelo caminho. Entrou no saguão, estava vazio. Mas logo se interessou por uma conversa entre Martin e Débora.

– Por onde anda o Daniel, hein? Ele sumiu desde ontem!

– Não sei! Hoje não vi o Daniel ainda.

– Estranho. – Débora falou. – Ele sempre está em todo canto. Parece uma praga. Está até uma paz hoje sem ele aqui!

– Vai ver que é folga dele.

Julie foi até o balcão e perguntou se tinham visto a Bia. Débora logo saiu de perto pois tinha ficado com muita raiva dela e seus amigos.

– Oi Srta. Juliana. – Martin respondeu. - Ela estava aqui agora há pouco. Aliás o Félix também estava aqui até agora a pouco. Entende...

– Ah... obrigada. - achou o comentário de Martin meio maldoso. Será que... – sorriu. Mas seu sorriso não durou muito, porque se lembrou que não tinham visto o Daniel por lá até aquela hora. E isso era péssimo sinal. Precisava falar com ele e justamente agora ele sumiu

Assim que Julie subiu, Anne entrou e foi até Martin.

– Escuta, você sabe onde está o Daniel? – pergunto u como se já não soubesse.

– Não... – ficou tentando lembrar. – O que tem o Daniel? Todo mundo parece que tá atrás dele hoje.

– Todo mundo quem?

– Ah... a Débora, o Félix, o Demétrius... Mas escuta, não serve eu? – Martin brincou com ela.

– Há! Você? Até parece que já não te conheço né honey. Até mais ver!

– Hey! Onde você vai?

– Vou procurar o Daniel. – e subiu a escada. Na verdade ia atrás de Julie.

Julie andou por alguns corredores, mas nada de ver o rapaz. Então se lembrou da senhora camareira que o Daniel tinha tantas vezes pedido pra entregar bilhetes pra ela. Pensando bem, tinham sido momentos muito felizes com o Daniel. Ela sentia uma atração inexplicável por ele, se divertia, se aventurava. Isso sim foi o lado bom da viagem. E agora que sentia que talvez nem pudesse se despedir, não parava mais de pensar em um jeito de falar com ele. E foi correndo atrás da senhora pra tentar descobrir o paradeiro dele.

A Sra. Sue foi simpática. Lembrava-se muito bem do quanto ele gostava daquela moça.

– Hi, Mrs...? – olhou com cara de interrogação pra camareira.

– Não se preocupe, - a mulher falou com sotaque forte – eu entendo português, aqui os garotos falam assim.

– Ah! Que bom! Então, é que eu preciso falar com o Daniel, é caso de vida ou morte. Mas disseram que ele não voltou pro hotel, desde ontem.

Lady Sue ficou preocupada. Ele não era de fazer isso. Ainda mais sem avisar. – Não? Senhorita, me desculpe mesmo, mas eu não vejo o Daniel desde ontem. Será que aconteceu alguma coisa com ele? Vou tentar descobrir e assim que eu souber vou no seu quarto avisar.

– Está certo! Eu preciso muito mesmo falar com ele!

Ela também saiu preocupada. “Será que aconteceu alguma coisa?” Ele tinha saído da festa chateado.

Resolveu ir pro quarto esperar alguma notícia. Enquanto isso aproveitou para tomar um banho.

Anne, que estava na espreita, ficou indignada com Juliana. “caso de vida ou morte!”. Então ela tá pensando que vai atrás do meu amigo pra enganar ele de novo! Se ela está pensando que vai brincar com os sentimentos dele, ela que se prepare! Não vou permitir que ela faça ele sofrer mais.

Mal Julie entrou no quarto, Anne foi atrás da Sra. Susana.

– Hello! My dear hear! – era assim que Anne sempre falava com a senhora.

– Ohhh Annabelle! – se abraçaram.

Anne era só amor com a Sra. Susana, ou Lady Sue, como gostava de ser chamada . Tanto ela quanto Daniel enchiam-na de mimos.

– So pretty! (tão linda) – a camareira falou pra ela.

Anne conseguiu convencê-la a ajudar no seu plano. Mas a Sra.Susana confiava nela e também só sabia de parte desse plano.

– É, sem querer eu ouvi a garota falar com a senhora que precisava falar com o Daniel com urgência. E cá entre nós Lady Sue, você sabe que ele está apaixonado por ela né. Eu sei onde ele está. Ele também queria muito falar com ela, mas só que não pode ser aqui.

– Então, o que eu vou fazer?

– A senhora confia em mim, né?

– Claro, Anne. Confio!

– Então, você vai chegar pra ela e falar o seguinte...