Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 27
Capítulo 27 - Deu Confusão


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, não teve jeito! Eu não consigo mesmo escrever rápido, as idéias só vem assim, bem picadinhas. Mas em compensação fiz um capítulo grande. Podem ler com calma porque tem muita coisa. Foi o maior capítulo até agora. Obrigada todas que comentaram, eu esperei pra responder quando tivesse capítulo novo. Espero que gostem. :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/381409/chapter/27

– Me passa os brincos, o colar e o anel! – Mano falou com Talita.

Ela olhou pra ele e falou com deboche: - Mas você falou igualzinho um trombadinha agora!

– Muito engraçada! Ha-ha-há! Por que não trabalha no Zorra Total? Pensa um pouco! É a única coisa que pode tirar a gringa do caminho!

Talita teve que concordar. Tirou as joias bufando e entregou pra ele. “Ah! Eu sou rica! Depois compro outras!” – pensou.

Ouviram risos no andar de cima.

– São eles! Vamos! – Mano puxou-a pelo cotovelo e saiu arrastando pelas escadas acima.

Subiram às escuras. Talita ficou um pouco pra trás.

– Anda logo! – Mano falou.

“Que vontade de dar um soco nesse cara!” – Talita espraguejava mentalmente.

– Tá ouvindo? Vamos por aqui.

Viraram à esquerda. Dava pra ouvir só a risada estridente de Débora.

– Vem Nic! A gente ainda não procurou lá em cima! – ela falava com sotaque.

Talita ouviu “Nic” e não gostou nem um pouco. O ciúme estava cada vez mais forte. Como se não bastasse ter que aturar Juliana, agora aparecia essa biscate – como ela achava – pra atrapalhar o seu caminho.

– A madame poderia tirar os saltos? A não ser que queira avisar pra todo mundo que ESTÁ PROCURANDO O NICOLAS ! - Mano dá um gritão.

– Para com isso! – Talita se irrita. Ao invés de ajudar você vai acabar estragando tudo com essa bur... – se segurou pra não terminar a palavra - ...rice. Mesmo fazendo cena, ela acabou tirando os saltos. – AI! Esse chão está gelado!

– Não reclama não, baby. Você quem quis vir atrás do seu irmão.

“Ele está falando “irmão” só pra me irritar! Já entendi qual é a dele!” – ela pensou.

– Supondo que seu irmão deixe a morena de lado, esse trabalho todo é só pra vê-lo vestir o pijama, deitar e dormir, né? – ele deu uma risada debochada.

– Eu já saquei qual é a sua! Vou ser direta! O problema entre o Nicolas e eu, deixa que eu resolvo, tá? Você faz só o que eu mandar!

– Ei! É por isso que ele não te enxerga! E nem vai enxergar! Você não passa de uma garota mimada e chata!

Pegou pesado com ela. Ele estava mesmo a fim de estragar sua noite. E continuou: - Quer saber? Se vira!

Ela se transformou na mesma hora, ficou desesperada.

Mano foi em frente: - E torça pro cão das trevas não aparecer pra você!

– Que cão das trevas? - ela já ficou preocupada.

– Ah! Você não sabe? - deu uma gargalhada. - Ele aparece à noite pra assombrar esse castelo! E o que é pior: ele só aparece quando alguma desgraça vai acontecer! - o olhar dele era sádico.

– N-não! Pera aí! Vamos conversar. Tá bem, me desculpa! Eu te peço, por favor! Por favor, me ajuda.

– Se quer mesmo minha ajuda vai ter que começar a usar sua educação. Se é que você tem! – ele disse, pra completar o ódio de Talita.

Combinaram de ficar escondidos e ao mesmo tempo que Talita chamasse a atenção de Nicolas, quando ele passasse por eles com Débora, Mano daria um jeito de atrair a gringa.

...

Enquanto isso, do lado de fora do hotel, finalmente havia acabado a festa e o barco parou para os convidados saírem. Eles tinham apenas 5 minutos para atravessarem a ponte. Sairam rapidamente, desaparecendo no meio da escuridão.

O ar estava gelado e caía uma chuva fina.

Não estavam tão longe da entrada, mas mesmo assim vários empregados, com grandes guarda-chuvas, esperavam os hóspedes para levá-los de volta para o hotel.

As amigas andavam devagar, acompanhadas o tempo todo por Félix.

– Meus pés estão doendo de tanto dançar! – Bia comenta.

– Se divertiu muito não é mesmo, senhorita?

– Bom, não tanto quanto eu esperava. – Bia pensava “Grande evolução! Depois de tantas horas na festa, eu voltando pro quarto sozinha! E pra quê me chamar de senhorita, podia me chamar de você, de Beatriz, Bia...”

– As senhoritas aceitam tomar um chá antes de dormirem?

– Chá? – Bia olhou desanimada.

– Não, obrigada. – Juliana agradeceu, estava com a cabeça longe. – Inclusive eu estou de saída. Vou direto pro meu quarto!

Inconformada com a lerdeza de Félix, Bia resolveu ficar para tentar falar a sós com ele depois.

– Eu vou aceitar! Então, boa noite, amiga! Vou esperar o chá. – arqueou as sobrancelhas e a amiga sorriu,tinha entendido o recado.

...

Mano e Talita estavam na espreita, e assim que teve a oportunidade, Mano puxou o braço de Débora, quando ela passou por ele.

– Ei! Psiu! Calma morena, preciso falar com vo... UH!

Tentou tapar sua boca. Mas a morena foi rápida e deu-lhe uma joelhada naquele lugar. Ele se curvou.

Débora puxou um palito de metal que parecia um enfeite de cabelo e encostou no pescoço dele.

– Mais um movimento e eu te mato! – ela disse friamente. Fez ele se levantar e acuado começou a falar fraco:

– Caramba! Onde arrumou tanta força? Eu sou um hóspede. Sou da paz, entendeu?

– Estou vendo! – ela disse. – Sei me defender sozinha!

– Deu pra ver!

– Você não deve fazer isso nunca mais!

Débora abaixou o palito, ainda desconfiada dele. – O que você tá querendo? Pense lá no que vai responder ou eu te enfio esse palito e atravesso suas tripas.

– Uau! Calma gata! Eu queria trocar uma idéia contigo. Preciso de umas informações. Posso pegar no meu bolso uma coisa que muito vai te interessar?

Ela concordou. – Sim. Mas qualquer movimento brusco e eu te furo todo.

– Eu sou da paz! – fez o sinal de V com os dedos.

No escuro, as velas provocaram um brilho tímido nas pedras do belíssimo conjunto de jóias de brilhantes.

– Nossa! Você acertou! Eu ia gostar. Mas ainda não entendi.

– Essas jóias ficariam perfeitas numa deusa como você, mas acontece que eu preciso de informações e só tenho essas jóias pra barganhar.

– Hum. São legítimas?

– São. E põe legítimas nisso!

– O que é? Fala!

– Uma informação. Ouvi falar que esse castelo tem um mistério escondido. Uma força paranormal forte foi detectada aqui. Eu li que existe um cemitério clandestino aqui dentro.

– Você mesmo viu! São ossos de verdade, de humanos. Existem muitas evidências em todo canto do castelo. Não é um lugar específico.

– Sim. Mas eu quero saber “mesmo” é sobre um escritório que tem um quarto oculto muito sinistro.

– Você já está querendo saber demais!

– O que existe lá? Eu quero conhecer.

– Desculpe, mas não é permitido o acesso de hóspedes naquele lugar.

– Eu vou voltar lá. Não paguei uma fortuna pra vir aqui brincar de filme de terror trash.

– Terror trash? Sabe o que é terror trash? É você entrar naquela sala e não sair de lá nunca mais.

Isso interessou Mano. Ele entregou as jóias pra ela, na tentativa de persuadi-la.

– Garoto, tolo. Não me importo com o quanto vocês hóspedes gastem com essas fantasias ridículas. Eu não piso lá. Se quiser ir, vá! Mas me deixe fora disso. E cuidado! Por que se o chefe te pegar lá dentro, não sairá de lá pra contar a história. Entendeu?

– Ótimo! Você acabou confirmando que existe mesmo alguma coisa oculta lá.

Ao ouvir isso, Débora ficou interessada. - Escuta aqui. Que tipo de histórias você andou ouvindo lá na sua terra?

– Então, comecei a me interessar por acaso. Eu sempre me amarrei nessas histórias paranormais, extraterrestres, assombradas. E lá onde eu moro tem uma mansão que ficou fechada por décadas, desde a morte da dona. E você sabe como é, essas coisas geram muitas histórias. O povo começou a falar coisas, que ouviram, que viram, então eu comecei a entrar na casa,sozinho. Ia lá, dava uns tragos, ouvia uma boa música e depois ia embora. Já vi coisas bem estranhas lá.

– Hum – Débora parecia interessada. – Que tipo de coisas?

– Bom. O que rola na cidade é que essa família era muito rica e de repente foi pro Brasil. Ninguém sabe por que. Aí numa tarde eu tava lá, ligado, comecei a ouvir uns passos. Eles iam até a porta do quarto onde eu estava e então parava. Isso aconteceu várias vezes. E nesse dia estava chovendo muito forte, com raios, não dava pra eu ir embora. Foi quando ouvi baterem na porta, eu fiquei lá no meu canto. E quando olhei pela janela, levei o maior susto. Não que eu tenha medo dessas coisas, mas é raro presenciar um fenômeno sobrenatural. Pensei que estava vendo coisas, mas eu vi, com meus próprios olhos! Apareceu uma palavra sendo escrita na janela, porque estava embaçada. “Help me, C.Castellamare”

– Castellamare? Esse é o nome do hotel. – ela se assustou.

– Aí que está o grande lance babe. Eu fui pesquisar sobre esse nome e as pessoas que moraram naquela casa. Vim parar direto aqui, gata. Aqui estou querendo descobrir o que tem nesse lugar. E eu sei que tem, e vou descobrir.

– Não vá sozinho. É a única coisa que posso te falar. Ele pode aparecer e se você estiver lá dentro, ele vai fechar a porta e deixar você trancado até dissecar. Alguém tem que ir junto pra te avisar se ele aparecer. Não queira dar uma de valente, de herói. Seja no mínimo inteligente.

– Eu vou levar alguém. Já tenho a pessoa certa pra isso. – Mano deu um sorriso torto, tinha encontrado uma coisa pra Talita pagar aquele favor.

...

Julie havia subido pelas escadas, com uma vela. Estava tão cansada que mal se lembrou do quanto aqueles corredores eram assustadores.

Próximos dali, Talita tinha conseguido ir pra cima de Nicolas e separa-lo de Débora, conforme havia combinado com Mano.

– Nicolas!

Talita se jogou nos braços dele.

– Talita? Mas... como você apareceu assim,do nada? E onde está a Débora?Como conseguiu chegar aqui? Com quem você veio? – ele olhou confuso ao redor ao perceber que Débora tinha sumido. Mas estava escuro demais e ficou preocupado com a Irma. – Aconteceu alguma coisa?

– Nossa! Quantas perguntas! Francamente Eu vim porque você me largou sozinha naquela droga de festa! Eu vou te dizer uma coisa Nicolas: nunca mais me deixe sozinha, nunca ...mais! – Talita deu socos no peito dele.

– Não! Nada a ver! E onde que ela foi?

– Eu quero que ela se dane! Já voou daqui, aquela bruxa!

– Calma. Eu tive que sair. – mas ele não podia falar a verdade. Não podia falar pra Talita que estava ali planejando matar o padrasto. Nicolas tinha esse cuidado com a irmã. Queria protegê-la de tudo, até mesmo da verdade.

– Eu nunca vou te deixar sozinha irmã. Isso não foi pra valer, só saí da festa um tempo. Eu saí de lá com a Débora sim, mas foi pra ela me mostrar uma coisa!

– Sei! Sei muito bem que coisa ela ia te mostrar!

– Não! Você não sabe nada! Não faz a menor ideia!

– Hum. Só você não viu o jeito que ela te secava com os olhos. Você, seu tolo! Na verdade, você não está me convencendo com essa historinha. Se você fosse meu noivo não ficaria por aí, ainda mais na companhia daquela mulherzinha.

– Eu – estava – precisando – de – uma – informação! Deu pra entender? Eu queria que ela me ajudasse a encontrar uma pessoa que eu vi no baile, bom, que eu tenho quase certeza que era ele...

– Ele quem? – Talita perguntou.

– Nada não. Esquece!

...

Julie estava bem perto dali, tinha acabado de subir as escadas e andava na direção deles. Foi se aproximando do quarto, quando algo chamou sua atenção. Era a voz da Talita e Nicolas. Mesmo que de longe, dava pra entender o que falavam. Ela soprou a vela, pra que não a vissem ali, pois a conversa lhe interessou. Ficou escutando, escondida. Começou a ligar as coisas. Sua barriga gelou. Ele achava que tinha visto um homem suspeito na festa. “E se for o padrasto? Meu Deus!”.

...

– Quem você viu, Nicolas? – Talita insistia.

– Nada! Vem cá. – puxou a irmã e deu um abraço forte nela. Ele percebeu o quanto aquilo era terrível pra irmã saber. Ela não sabia de nada, pois pensava que o padrasto tinha desaparecido há anos. Ele nunca contou pra Talita a verdade: que seu padrasto, que ela amava tanto, era um assassino.

– Ai! – ela reclamou. Seus pés estavam descalço e sentiu uma pontada ao pisar. – Acho que pisei num caco de vidro.

– Mas que idéia Tatá! Olha esses pés descalços! Vai ficar doente! Onde estão os seus sapatos?

– hum... acho que perdi.

– “Acha” que perdeu? Você bebeu né? Eu disse pra você não beber!

Ela não podia contar a verdade, que Mano deu a idéia dela tirar os sapatos e depois fez o “favor” de joga-los pela janela, no lago.

– Eu bebi um pouco. Deixa isso pra lá, vai. Me leva pro nosso quarto. – ela se agarrou no pescoço e ele pegou-a no colo.

Julie só observava tudo. Precisava fazer alguma coisa.

Ela esbarrou de propósito num quadro, fazendo-o cair da parede. O barulho foi alto e assustou os “irmãos”.

– Ai meu Deus! – Talita gritou, agarrando ainda mais o pescoço de Nicolas.

– Que foi isso? – Nicolas se virou na direção do barulho, quando de repente, Julie apareceu no meio da escuridão.

– Fui eu. Esbarrei sem querer. Eu estou perdendo alguma coisa?

– Não. Amor, eu tava ajudando a Talita, ela machucou o pé.

– Nicolas, precisamos conversar.

– Eu sei.

– Nicolas, meu pé!

Talita se irritou com a chegada da quase-cunhada. Tinha atrapalhado todo o clima, como sempre.

– Amanhã a gente tem que conversar. – Julie falou.

– Tudo bem, amor. – ele foi pra dar um beijo nela, mas ela virou o rosto e o selinho pegou só no canto da boca.

– Boa noite. Eu preciso dormir.

Os dois ficaram olhando pra Julie. Quando ela fechou a porta do quarto, Talita não perdeu a oportunidade.

– Tá vendo, Nic. É assim que ela vai te tratar! Você merece alguém melhor.

Julie conseguiu ouvir o que ela disse. As palavras de Talita não a aborreciam mais. Sabia que ela nunca aceitara seu noivado. Não fosse pela noite ter sido tão agitada, voltaria lá e mostraria pr’aquela cobra que se algo desse errado, não seria por sua causa.

Nicolas repreendeu a irmã. – Não fale assim da Julie. E vamos sair daqui, você precisa tomar um banho e dormir.

Estavam quase entrando quando uma voz gritou:

– Nicolas! Ah! Então você está aqui!

Era Débora, que vinha na direção deles. Julie ouvindo aquilo, calçou um chinelo, pôs um casaco e abriu a porta. Não estava entendendo o motivo daquela mulher estar chamando seu noivo com tanta intimidade.

– Nicolas! – Julie chamou.

Talita entrou na frente dele, encarando a morena.

– Perdeu alguma coisa aqui? Alguém chamou a criadagem? – Talita quase partiu pra cima da garota.

– Talita. – Nicolas repreendeu. – Desculpa, Senhorita Débora.

Ela não tinha ainda percebido a confusão que estava causando.

– Ah! Você sumiu, me deixou sozinha! – e riu escandalosamente. Quando jogou a cabeça pra trás, Nicolas e Talita viram ao mesmo tempo, os brincos e colar de brilhantes que ele tinha dado pra irmã sendo usados pela funcionária.

– O que é isso? Talita! Esse colar...

– Meu colar! – Talita se fez de surpresa.

– Ei! – Julie veio na direção deles. – O que aconteceu entre vocês? Eu posso saber? O que ela está fazendo com essas jóias da Talita?

Mano chegava no corredor nessa hora. Todos olharam pra ele automaticamente.

– Foi ele! – Talita gritou. – Ele pegou o colar de mim! Ele me roubou!

– Eu, o quê? – Mano ficou surpreso.

– Ora seu infeliz! – Nicolas se soltou das mãos de Talita e foi até elee lhe deu um soco. O rapaz caiu no corredor, sentado no chão. Levantou-se e num impulso foi pra cima de Nicolas. Eles se pegaram na mão.

– Socorro! Parem! – Julie tentou apartar.

Alguns hóspedes chegavam do baile e foram separar a briga, que continuou verbalmente.

– Você vai ser preso! Você beijou minha irmã à força! Ela é menor de idade! Eu vou chamar a polícia! – Nicolas gritou. Sua boca sangrava um pouco.

Débora também queria pegar Mano no tapa. Estava passando a maior vergonha por causa do presente roubado que ele lhe deu. E pra piorar ainda usou bem na frente dos donos.

– Espera aí! Podem parar! Eu exijo uma explicação. Agora! – Julie gritou com toda força. O corredor ficou em silêncio. Todos ali estavam agindo estranho e ela já tava no seu limite.

– Essa daí. Essa loira falsa! – Mano disparou. – Ela me deu o colar. Sabe pra que?

Talita gritou: - Pára de falar mentira! Cala a boca!

– Mentirosa é você! Falsa! – Mano continuou. – Ela foi atrás de mim pra eu ajudar ela a vigiar o garotão aí.

– Mentira, Julie! Ele me agarrou na festa! Todo mundo viu.

– Eu agarrei e você gostou!

Nicolas foi pra cima dele de novo, mas dessa vez o seguraram.

– Ridículo! – Talita xingou.

– Eu vou te matar! – Nicolas gritou com ele.

Julie lembrou-se da arma e ficou apavorada.

– Ela pediu pra eu ir atrás do garotão, porque ela ama o seu noivo! – Mano fala pra Julie. – Porque ela queria chamar a atenção dele! – Virou-se pra Talita e disparou: - Mas ele não quer nada com você porque é seu IRMÃO! Ele não te ama, sua idiota!

Ninguém esperava que Talita partisse pra cima dele. Ela o atacou, fazendo o maior barraco. – Cala a sua boca! Infeliz!

Nicolas e Julie estavam passados. Nicolas sabia que a irmã era louca por ele. – engoliu seco.

Julie estava com o coração disparado, não acreditava que depois de tudo o que passou naquela noite, ainda tinha que ver e ouvir aquilo.

– Ai. É demais pra mim. Eu vou pro meu quarto.

– Fala Talita. Fala que você me pediu pra ir atrás do seu irmão que tinha saído da festa junto com a morena gostosa!

Julie olhou pra trás fulminante. Queria cortar Nicolas ao meio. Voltou pra tirar satisfação. – Como é que é?

– Eu só estava querendo ajudar ele a encontrar uma pessoa. – Débora falou inocente. – Olha, e quer saber. – tirou as jóias. – Toma isso pra você pois na verdade eu achei muito cafona!

– Que pessoa? Que pessoa, Nicolas?

A coisa virou pro lado dele. E agora? Não podia revelar pra ninguém que estava atrás do padrasto e que achava que o tinha visto ali.

– Eu? Não. Eu... é...

– Não mente pra mim. – Julie disse com os lábios tremendo, já quase chorando.

– Não é nada disso que você está pensando, amor. E-eu te explico tudo, agora.

Julie não agüentava mais. Aquela noite tinha deixado ela totalmente abalada. – Não, Nicolas. Hoje não. Hoje sou eu que não quero mais saber de nada. Nem de você, nem de ninguém!

Ela virou e entrou no quarto, batendo a porta.

A confusão foi se desfazendo, porém, entre Mano e Talita nada tinha ficado bem.

– Por que você fez isso?

Ela não tinha o que dizer pra se defender. Era falar isso ou assumir a história toda. Só balançou a cabeça negativamente.

Mano e Nicolas se encararam. Agora os dois assumiram o que sentiram desde o começo, uma antipatia um pelo outro.

Débora devolveu a jóia pra Nicolas, mal olhando na sua cara.

– Me perdoa, Débora. – Nicolas tentou se desculpar, mas ela achou sua atitude muito covarde. Empinou o nariz e saiu de lá sem falar com ele.

Nicolas olhou pra Talita, que estava assustada. Olhou surpreso e irritado. Tinham muito o que conversar. O pior é que ele sabia que se fosse falar com Julie na hora errada, podia ser pior. Ele entrou pro quarto, seguido por ela.

– Por favor, não fale nada agora. – ele pediu.

Todos precisavam de um tempo pra pensar.

– Vou pensar numa maneira de você me pagar por isso! - Mano não deixaria isso por menos. - sua cobra! – falou pra Talita.

...

No hall de entrada Bia tomava seu chá de Melissa, tranquilamente.. Estava bem doce e quente. Percebeu que Félix a encarava.

– O que foi?

– O que?

– Você está olhando pra mim... – ela sorriu.

– Ah! N-nada. – ele ficou sem-graça. Estava de fato hipnotizado. – Está gostando? Digo, do chá?

– Sim. Também. – Bia foi maliciosa. O que deixou o garoto ainda mais sem ação.

Passando por eles como um raio veio Débora. Ela foi até a recepção e começou a folhear o caderno de registros.

– Hum! Cinco foram embora essa noite! Que ótimo! Até amanhã cedo deve aumentar! – ela disse e saiu fazendo barulho com seu salto fino.

Félix e Martin se entreolharam. Débora não estava com a cara muito feliz e isso não era bom.

– Eu vou subir. – Bia falou pra ver se o rapaz tomava alguma atitude. Já estava com sono de tanto esperar.

– Eu acompanho a senhorita. – Félix se ofereceu.

Ela sorriu pra ele. Era sua chance.

Subiram, ele meio tenso, travado. Quando se aproximaram do quarto, Bia fingiu que tropeçou e se jogou pra cima dele.

Foi tão rápido que num minuto ela já estava nos seus braços, que eram fortes, apesar dele parecer bem magro.

Ficaram tão perto que dava pra sentir a respiração um do outro, e até esqueceram onde estavam indo. Passaram-se alguns segundos, mas parecia que havia passado horas. Sequer piscavam.

O ar ficou tenso, eles fecharam os olhos juntos e seus lábios apenas se tocaram.

Félix se afastou, então abriram os olhos. Elea encarou, como se pedisse permissão pra fazer alguma coisa proibida. De certa forma era, pois como era funcionário, devia obedecer as regras.

“3ª regra do capítulo 1: Não é permitido aos funcionários se envolverem com os hóspedes.” – repetiu mentalmente.

Bia falou: - A gente sabe que a vida não é um filme, mas bem que podia ser.

– E se fosse? O seu seria qual? Uma linda mulher? Ou A Bela e a Fera?

– Acho que só não podia ser “O Mágico de Oz”.

– Por que não? Tem medo de não voltar pra casa?

– Não. É por causa do homem-de-lata. Ele não tem coração.

Félix automaticamente recita: “"Você quer um coração? Você não sabe o quão sortudo és por não ter um. Corações nunca serão práticos enquanto não forem feitos para não se partirem”

– Mas você tem coração. – Bia sorri.

– E tem também o leão covarde.Acho que ter coração e coragem são essenciais pra ser feliz.

– Esse é o meu problema. Eu não tenho coragem. – ele confessou.

– Mas eu tenho! - Bia então tomou a iniciativa, já que ele não se decidia.

Beijou-o de verdade, dessa vez.

Os dois pensaram a mesma coisa: estava acontecendo! O que pediram na fonte era exatamente um momento como aquele.

Félix era tímido e inseguro. Mas não tinha dúvida de que aquela garota mudaria completamente seu mundo. Ele se afastou e sorriu de lado. Segurava o rosto dela com as duas mãos, admirando-a.

– Você é encantadora! Devia ser proibido ser tão bonita! Porque é quase impossível resistir.

Bia abriu um sorriso largo. – Ah, que lindo! Assim sou eu que vou ficar sem jeito.

Se beijaram outra vez, mais demorado. Se curtiram por alguns minutos.

De repente ouviram um grito:

– Juliet! C’mon! Don’t kid me, honey! Where are you?

– Ah não! – Separaram-se, atordoados

Félix reconheceu a voz irritante de Débora. Até fechou os olhos.

– Deve estar aqui por perto. – Bia sussurrou, apreensiva.

– Não. É a voz dela que é estridente mesmo. Deve estar vindo pra cá.

– Quem é “Juliet”?

– Er... acho que é a filha da camareira. – despistou.

– Hum. É melhor eu entrar ou vão nos pegar em flagrante. – piscou pra ele que concordou, dando um sorriso nervoso.

– Good night, milady. – ele beijou sua mão. – Sonhe com os anjos.

– Sonhe comigo. – ela foi direta.

Se despediram com um beijinho.

Ele sorriu. – Bye.

– Bye. – Bia disse, soprando um beijo. Entrou e foi fechando a porta, sorridente.

Félix estava completamente anestesiado. Nem acreditava que tinha feito aquilo. E não foi tão difícil quanto ele pensou que seria. Estava encantado e queria vê-la de novo, em breve.

Deu meia-volta, na direção da voz de Débora, que gritava de novo. “Droga! Que ela tinha que aparecer agora!” – Félix reclamava.

Juliet não era filha da criada. Era na verdade algo que ele tinha verdadeiro horror. A cobra píton de estimação de Débora. Ela vinha pelo corredor segurando um rato pelo rabo. O bicho gritava agudo, igual à ela.

– Juliet! Are you deaf? (Você é surda?)

– Você ficou maluca? Por que deixou ela fugir?

– Ela deve estar com fome, tadinha. Tomara que ela não resolva comer algum hóspede.

– NÃÃÃO! – ele arregalou os olhos. – A última vez que ela atacou alguém, mandou pra sete palmos do chão!

– Melhor ainda! Já sei até quem pode ser o próximo! – ela riu diabolicamente.

– Sua doida varrida! Vou ter que acionar a segurança por sua causa.

Débora só queria criar um tumulto dos grandes. Rapidamente a notícia se espalhou, por causa da movimentação dos seguranças por todo hotel. No escuro total, era muito mais assustador pros hóspedes pensarem no perigo que estavam correndo.

Um grito atravessou o corredor da ala dos japoneses. Uma mulher fugia alucinada gritando pelo corredor afora. Os seguranças correram até seu quarto e encontraram a “Juliet” enrolada na cama da mulher.

– Vocês acharam meu bebê! – Débora falou gritou, feliz.

Eles capturaram a cobra e jogaram num saco, levando-a pra outro lugar seguro. Débora entregou o rato na mão do segurança.

– Pode dar pra ela, deve estar faminta.

...

De manhã, os hóspedes foram acordados um pouco mais tarde. Era oito horas e ninguém queria sair da cama. A ressaca da festa era maior.

Bateram na porta, Julie levantou cansada, praticamente arrastando pra atender. Ao abrir teve uma surpresa. Era Nicolas, com uma bandeja de café da manhã.

– Entra. – disse ainda sonolenta. - Não é meio cedo pra levantar?

– Não gatinha. Já são oito horas! – ele já foi entrando.

– Pois é, mas você sabe que eu fico de mau-humor quando acordo com sono.

– É, pensando bem, se a gente tem que conversar, é melhor você estar de bom-humor.

– Não. Eu ainda não tinha lembrado disso. É melhor eu estar de mau-humor, porque dessa vez você não vai me enrolar.

– Relaxa. A gente vai se entender, amor.Temos o dia todo pra conversar.

Julie suspirou fundo. Aquilo na verdade era desanimador. Um dia inteiro discutindo a relação não era sua idéia de diversão. E era pra isso que tinham ido pra Inglaterra, pra se divertirem e comemorarem. Pelo menos era isso que ele tinha prometido.

...

Enquanto tomavam café, Martin, Félix e Débora se desentendiam na recepção.

– Foram seis!

– Não! Eu só vi saírem cinco!

– Esqueceram da refeição da Juliet? – Débora gargalhou.

– Não teve graça. – Félix disse. – Faltam sete hóspedes e nós só sabemos do que aconteceu com seis.

– Falta 1 então. – Martin observa.

– Brilhante dedução! - Débora fala.

– Ele foi embora junto com o cortejo. – Clarisse aparece do nada. Parecia um zumbi. Não tinha pregado o olho porque ainda estava passada com a festa.

– É mesmo! Podem ter ido com a procissão.

– O Damien! – ela completou.

– Tá vendo! Essa idéia de deixar entrar um cortejo em plena festa não foi uma boa idéia. – Félix fala, carrancudo.

– Só podia ser idéia de quem?

Os três pensaram juntos: Demétrius. Ele estava no hotel, pelo que sabiam.

– Primeiro foi o guardião, depois aquele lugar sufocante e pra completar aquelas pessoas que pareciam ter vindo direto do cemitério. Foi um horror. - Clarisse falava transtornada.

– A senhorita precisa dormir um pouco – disse Félix.

– É melhor dormir. Eu te levo até o quarto, se quiser. – Martin se prontificou.

– Cara! Você não perde uma oportunidade hein. Incrível! – Débora falou pra ele.

Ele ignorou. Sabia que Débora devia estar morrendo de ciúmes. E além do mais não poderia ficar com Clarisse por dois motivos. Primeiro porque ela estava fora de si. E segundo porque tinha marcado de se encontrar com outra hóspede para conhecer os arredores.

De repente entrou um dos funcionários da guarita. Martin e Félix correram até a porta pra falar com ele.

– Senhor. Eu tentei impedir, mas ela veio de barco e insistiu em entrar.

No caminho vinha Annabelle, acompanhada do hóspede que estavam procurando.

– Damien? Ei! Você estava onde, que mal lhe pergunte. – Félix quis saber.

– Eles falavam línguas estranhas e estavam por toda parte! – Damien respondeu.

Todos se entreolharam.

– Ele está delirando. – Anne explicou. – Encontrei-o perdido no bosque.

– B-bosque? – Félix arregala os olhos.

– Bosques, não! Bosques Que gritam! – Débora dá uma gargalhada maquiavélica.

Félix perdeu a respiração. Seus olhos estavam quase saindo. – Mas o que é isso!

– Acho que ele seguiu um cortejo e se perdeu. Se eu não o tivesse encontrado, teria morrido. – Anne explicou.

– Seria o fim! – alguém disse.

Os Bosques que Gritam é um lugar estranho. As lendas dizem que as almas dos que lá morreram ficam vagando, às vezes gritam, às vezes choram. Alguns juram que as árvores tem vida e à noite podem ver espectros passando por entre elas, luzes misteriosas e uma névoa que aparece do nada, além da escuridão total.

– Rapaz, você teve sorte que escapou de lá com vida! Ainda bem que a Anne te encontrou.

– Vamos levá-lo lá pra cima também! – Martin fala. – Ah! Félix, você leva ele, eu levo a Clarisse.

– Ah, claro! Você é tão desinteressado que me assusta.

Pediram licença à Clarisse, que ficou no hall esperando eles voltarem.

...

– Nicolas. – Julie o chamou.

– Oi amor. – ele respondeu, todo solícito.

– Vamos conversar lá fora. Preciso respirar!

– Vamos. Ponha um casaco, tá muito frio hoje.

Saíram juntos depois que ela se arrumou.

Ao descerem a escada, passaram por Anne, mas não a viram. Ela estava do outro lado da sala, de costas. Mas Anne se virou exatamente quando eles saíam pela porta. Resolveu segui-los.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Até o próximo... beijão.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desejos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.