Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 20
Capítulo 20 - O Dia Seguinte


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora :(Um capítulo com muitas conversas e as coisas ficam mais claras.Beijos, espero que gostem :)



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Daniel foi atrás do homem de capuz, porque, naquela ala, ninguém podia ir sem ser convidado. Foi até o final do corredor sem saída, mas não viu ninguém. Voltou achando aquilo estranho. “Muito estranho, ou talvez a pessoa tivesse entrado no escritório do Demétrius... e isso não é uma boa ideia.” Para sua surpresa, ao abrir a porta do escritório deu de cara com ele parado na porta.

— Boa noite, Daniel.

— Demétrius! – disse, assustado.

— Estava sentindo minha falta?

— Isso não é jeito de aparecer. Você podia ter me matado de susto! – disse no seu habitual tom irônico.

— Hahahaha. Hilário você, Daniel. Resolvi voltar pra ver como andavam as coisas. Parece que não andam muito bem.

— Está tudo saindo conforme o esperado.

— E como me explica aquela criatura saindo do MEU ESCRITÓRIO?

— Eu não sei, não sei. Esse cara é daqueles que a gente tem que pegar pesado.

— Pois eu acho que vocês façam isso, ou eu vou ter que reassumir o comando. E eu ficaria muito contrariado. Vai ser pior pra todo mundo.

Daniel logo pensa em Juliana. ‘Se o Demétrius descobrir o que ela declarou no questionário... ’.

— Calma aí, Demétrius! Você se lembra do que eu falei? O show só tá começando.

— Não quero saber de show, nem de você aqui nessa ala. Está entendido?

— Claro! Afinal, não há nada que me interesse aqui? Certo?

Demétrius o fuzilou com o olhar. Depois disse:

— Agora some daqui e vai trabalhar!

— Eu só quero lembrar que esse é meu horário de “descanso”.

— Então some pro raio que o parta!

Daniel deu um olhar ameaçador e saiu. Ainda chegaria o dia de se livrar do estimado chefe.

No saguão, Martin tinha acabado de despachar as aranhas de volta para a sala especial. Débora estava lá dando em cima dele, matando o tempo, especulando.

— Sabe Débora, eu acho que você devia procurar uma coisa pra se divertir, sem ser ficar tomando conta de nós três.

— Eu te odeio, mas eu te amo. Né Martin. Você sabe. Num dia eu amo, no outro odeio. E assim vai.

— Tá! Porque não aproveita e vai dormir?

— Você tá me dispensando assim só porque o hotel tá cheio de franguinha, né?

— Não me lembro de ter que te dar satisfação.

Débora olha pra ele com ódio.

— Por isso que eu não tenho um pingo de remorso de queimar o filme de vocês.

— Disso eu não tenho nenhuma dúvida. – ele fala.

— É legal ver as franguinhas desiludidas com vocês. Melhor ainda é saber que fui eu que acabei com a farra.

— Tá. Agora me deixa em paz.

— Não quer nem saber o que eu aprontei dessa vez? – ela sorri maldosamente.

— Só se você me prometer que vai SUMIR daqui depois.

— Nossa! Quanto amor! – ela faz cara de magoada. — É que eu falei pra gringa que o Daniel é um piranhudo e que se joga pra cima de todas. – falou se sentindo orgulhosa de sua mentira.

— Você o quê? – Martin até para com o que estava fazendo.

Ele olhou pra trás dela, sem que ela percebesse, e viu Daniel se aproximar silenciosamente, pedindo pra ele disfarçar.

Débora continuou: — Claro que sim! O Daniel fica me humilhando sempre que pode! Ontem ele teve o que estava merecendo!

— Mas pra quê você foi fazer isso Débora? Para de ficar brincando com os sentimentos dos outros.

— Ora, e no mais aquela garota aguada é noiva! Me poupe! Corto as asas dela mesmo!

— Mas como você fez isso?

— Disse pra ela que o violão com bilhete era um golpe que Daniel usava com todas. E que depois ele ia chutá-la.

— Mas isso não é verdade. – Martin replica.

— Eu sei! Mas agora já ficou sendo. – sorri satisfeita.

Daniel a surpreende segurando-a pelo braço. E ela leva o maior susto. Temia que ele tivesse ouvido.

— Então é assim que você retribui tudo o que eu faço por você, né?

Daniel olhou sério pra ela, e com raiva. Débora olhou pra Martin irritada.

— Seu traíra! Por que não me disse que ele tava aqui?

— Eu não vi. Juro. – ele mentiu.

— Bem capaz mesmo, seu sonso. – virou-se pra Daniel e tentou se explicar. — Dani, e-eu fiz isso porque você foi estúpido comigo. Você foi grosso! Eu me senti humilhada.

— O que vai ser de você quando eu parar de te proteger do Demétrius, hein? – deu um sorriso torto. — Vai virar brinquedinho dele?

— Não, Dani. Por favor. Eu faço o que você quiser, mas não me deixa na mão.

— Então você vai desfazer essa mentirada sua. Vai contar pra Juliana que você inventou tudo isso.

— Tá eu faço isso, faço qualquer coisa. Mas não me deixa nas mãos daquele nojento. – fez uma careta.

— Eu devia e seria um prazer te jogar nas mãos dele. Bruxa! Vai lá agora!

Débora encheu os olhos de lágrimas. - Eu vou falar com ela. Com licença.

— Poxa, Daniel. Pega leve com a mina. – Martin interfere. — Ela só é meio maluca.

— Ela merece! Quase acabou com a única coisa boa que aconteceu na minha vida em todos esses anos.

Nesse momento entra um vigilante do castelo.

— Com licença, senhores. Encontrei um monte de patos mortos lá na beira do lago. Parece que foram envenenados.

— Droga! – Daniel lembrou-se que Félix tinha visto Emily no jardim de plantas venenosas. — Chame alguém pra te ajudar a tirar todos os patos de lá antes do amanhecer.

— Será que foi quem eu estou pensando? – Martin pergunta preocupado.

— Acho que foi a Emily. Viram ela perto do jardim.

— Daniel, a gente tem que dar um jeito nela. Vai acabar envenenando os hóspedes um dia.

— Não, ela seria incapaz. Pode deixar que vou falar com ela mais tarde. Agora preciso ir até a sala de música me preparar pra acordar a primeira leva de hóspedes. Essa noite tem o baile, né?

— Sim! Só faltam alguns detalhes.

— Ótimo! Vou subir! Daqui a pouco é hora do show. – sorriu misteriosamente.

Félix tinha acabado de chegar no saguão, mais pálido que uma parede pintada de cal.

— Como foi a ronda? – pergunta Daniel ao passar por ele.

— Não gosto de andar sozinho naqueles corredores de madrugada. Você sabe bem!

— Ainda te livrei de dar de cara com seu chefe lá em cima. – Daniel o lembrou.

— Chefe? – Martin pergunta. — Você diz o Demétrius?

— Claro! Aliás, era pra você ter visto ele passar por aqui não acha, Martin? Você está bom pra vigiar é uma tartaruga!

— Eu juro: por aqui ele não passou! – Martin falou surpreso.

— Ainda bem que eu não encontrei com ele por lá. – Félix disse aliviado.

— Então fiquem ligados! Ele está na área!

.......................

5 horas da manhã em ponto, Daniel começa sua performance surpresa no órgão. A introdução de Mr. Crowley. O som podia ser ouvido muito além das propriedades do castelo porque Daniel acoplou amplificadores que dariam pra derrubar uma casa. Não houve quem não acordasse com aquele som. Na verdade três pessoas não saíram da posição que estavam: Nicolas, obviamente amargando uma ressaca monstro, Talita porque dormiu com tampão no ouvido e máscara de erva-cidreira e Mano, que dormia sobre uma mesa com o corpo esticado e mãos cruzadas sobre a barriga. Nos corredores todos meio cambaleantes procurando alguma informação sobre a desagradável melodia que os acordaram.

Eles levaram um susto ao verem se aproximar um homem extremamente pálido, de olhos arregalados e andar encolhido. Esse era o Félix depois do despertador escandaloso. O dia estava começando a nascer. Ele carregava uma lamparina e poderia se passar tranquilamente por uma assombração, se não o tivessem reconhecido.

— Ah! É o cara do hotel! O magrinho de cabelo preto!

— Nossa! Ainda bem! Agora vai falando o porquê desse órgão tocando a essa hora.

— É hora de despertar vocês que vão pro evento no vilarejo. Hoje é a abertura dos jogos. Vocês tem que se trocar e descerem pra tomar o desjejum.

— Então temos que acordar o Nicolas. Onde ele está?

— Ele não pode faltar, senão nossa equipe é desclassificada.

— Ih... Acho melhor vocês não contarem com isso. O Nicolas deve estar morto.

Félix conseguiu arregalar ainda mais os olhos.

— M-morto? Como assim?

— Não! Morto é o modo de falar. Ele bebeu mais que um gambá. Quem vai tirar esse homem do coma?

— Ah. Se falar em RPG ele levanta até das catacumbas.

— E verdade!

Todos riram alto. Nicolas não perderia esse evento por nada.

Daniel desceu correndo para ver a reação dos hóspedes. Claro, afinal, que graça teria toda sua performance se ninguém desse a mínima? Estava feliz por saber que a garota estava com raiva dele por causa de uma mentira que logo, logo seria desfeita. Foi em direção ao corredor onde ela estava hospedada. No meio do caminho encontrou Débora.

— E então? Já contou a verdade pra ela?

— Você tá louco? São 5 horas da manhã, ela ainda nem se levantou.

— Mas agora já deve ter acordado!

— Não dá pra falar com ela agora! O corredor está a maior loucura. E é justamente na porta do quarto dela.

— Mas, por qual motivo?

— Parece que você está tão preocupado com essa garota que nem tem feito seu trabalho direito. Quem te viu, quem te vê, hein?

— Fala logo! Aconteceu alguma coisa com ela?

— Com ela não. Na verdade a confusão é por causa do NOIVO dela. Que está mortinho de ressaca e querem arrastá-lo pro festival.

— Hum, aquele idiota.

— E se ele não for todos estarão desclassificados.

— E qual é o drama? Por que não arrastam logo esse idiota do quarto e o levam pra bem longe?

— Porque ele está dormindo no quarto da MOCINHA.

— COMO ASSIM? ISSO NÃO TÁ CERTO! NÃO PODEM FICAR MUDANDO DE QUARTO SEM O MEU CONSENTIMENTO.

— Vai falar isso pra ele e a irmã! Só falta você me dizer agora que não tá sabendo da invasão de aranhas no quarto do pobre coitado. Estranho, né?

— Aranhas? Que aranhas? –perguntou se fazendo de desentendido, até com as sobrancelhas tortas.

Débora desconfiou daquela cara.

— Umas aranhas que apareceram misteriosamente no quarto do... noivo... da garotinha que você tá de olho.

— Sério? Meu Deus! Esse hotel está saindo do controle mesmo! Essa foi a gota d’água!

— Acho bom você ter uma boa explicação pra dar pra esses gringos.

— Não devo explicação de nada! O contrato sempre é bem claro! Vem quem quer!

— Agora posso ir? Mais tarde falo com a boneca.

— Mais tarde tipo... daqui a uma hora.

— Ai! – Débora revirou os olhos. — Isso é que dá não ver mulher há 500 anos.

— Adeus, Débora! Vai que já tá tarde!

— Corre lá, dá um jeito de tirar o gringo da cama dela.

Daniel trincou os dentes. Não era possível! Depois de todo seu esforço o gringo aguado foi dormir tranquilamente no quarto dela!

Daniel foi pisando em ovos até o corredor onde estava o tumulto. Chegou lá preparado pra ser bombardeado. Se não fosse isso teria dado um jeito de arrancar o gringo de lá.

Mas eles são noivos. E daí se são noivos? Não posso dar dois passos que as coisas desandam! Bem-feito, o playboy deve ter se mijado com aquelas tarântulas!– Eram alguns de seus pensamentos.

Estava um tumulto. Assim que pisou no corredor, viu Juliana argumentando com alguém na porta. Fez menção de caminhar até lá, mas ela o viu e entrou rápido, fechando a porta.

Os hóspedes não podiam estar mais ridículos – ele pensava. Estavam vestidos com fantasias de todo tipo: guerreiro, bruxo, monge, cortesã... e até alienígena. E não se entendiam! Então Daniel se propôs a fazer o que todos ali também queriam: tirar Nicolas do quarto da Julie.

— Atenção! Atenção! Vamos resolver isso de forma ci-vi-li-za-da.

Por algum motivo, todos prestaram mesmo atenção nele.

— Bem. Acho que vocês estão certos. Não vieram de tão longe para perderem o que mais desejam por causa de uma ressaca. Vou até lá negociar para que pelo menos o corpo dele esteja presente nesse evento.

Todos concordaram e Daniel foi até a porta do quarto de Julie. Chamou três vezes até que ela abriu. Juliana se escondeu atrás da porta ao ver quem era.

— Bom dia! – Daniel a olhou sem disfarçar o quanto ela o desconcertava com seus olhos castanhos.

— Bom dia! – ela desviou o olhar. — Olha, o Nicolas apareceu aqui, nem sei como e...

— Espera. Só estou aqui pra dizer o que estão pedindo. Pra você acordar o Nicolas e que se ele não se levantar vão perder a vaga no Festival de RPG.

— Ah! Meu Deus! “RPG! Nicolas você me paga!” – Julie sabia o quanto esse Festival era importante pro Nicolas. Ele não a perdoaria, embora ela não tivesse culpa dele estar amargando aquela ressaca.

— Tudo bem. Me dê 5 minutos que eu prometo que vou colocá-lo pra fora.

Ela já foi fechando a porta, mas Daniel segurou.

— Juliana, você me perdoa por ontem... Tem uma coisa que você precisa saber...

— Não precisa explicar nada, dá licença!

Ela bateu a porta na cara dele, o coração disparado. Como era difícil lidar com aquela situação. Mas tinha que reagir, desencantar, pôr um fim àquele conto de fadas que parecia ser tão real. Enquanto Daniel ficou com cara de idiota do outro lado, sob os olhares de todos.

Juliana foi acordar o noivo. A vontade era de jogar uma jarra de água fria nele. Lembrou-se da jarra e foi procurar. A jarra estava lá, mas vazia. “Droga! Que sede é essa que me fez beber uma jarra inteira de água!”.

Julie ainda não sabia nada do que se passou na madrugada. Só sabia que tinha que acordar o noivo.

Foi pegar a jarra pra encher de água da torneira e então encontrou o bilhete que tinha vindo com a água e um papel. Ela leu o bilhete rapidamente. Sorriu com as palavras, mas logo se interessou pelo outro papel. Desdobrou-o correndo e ao ler, foi percebendo do que se tratava. Seus olhos brilharam. Mesmo contrariada não podia deixar de achar aquilo uma atitude bonita daquele rapaz misterioso. “A letra e a cifra daquela canção! Como ele pode ser o que é escrevendo versos tão lindos?!”

Dobrou tudo de volta e enfiou no bolso.

Foi até o banheiro, encheu a jarra e não hesitou em jogar aquela água gelada na cara do noivo. O loiro acordou imediatamente, assustado.

— Que isso! Porra Julie!

— Acorda, Nicolas! Levanta logo que tem um monte de gente te esperando lá fora! E vê como fala comigo!

Ele fez cara de dor e pôs a mão na cabeça, com os olhos quase fechados. — Ai! Eu to mal!

— Dá pra perceber que a madrugada foi ótima! Mas o que é que você tá fazendo aqui no meu quarto? Não é você que não podia deixar a Tatá sozinha?

— Como eu vim parar aqui? Eu não sei!

— Muito menos eu! Agora saia! Já pra fora daqui! Só fala comigo quando for pra me contar tudo sobre essa e outras mancadas que você já deu!

Nicolas se levantou todo molhado, só de cueca, grogue e com uma cara horrível. Saiu do quarto e deu de cara com seus colegas fantasiados, que o olhavam boquiabertos.

— Poxa Nicolas! Que vacilão hein! Vamos ser desclassificados por sua causa!

— Me deixa trocar de roupa, já volto!

Nem precisou se preocupar em abrir a porta, pois a mesma estava arrombada. Foi direto no armário e pegou uma roupa estilo medieval. Vestiu, nem ao menos tomou um banho. Colocou seus óculos Ray Ban.

2 minutos depois: - Eu não disse que voltaria rápido! Vamos pro Festival!

Os colegas disfarçadamente saiam de perto dele, que estava cheirando muito mal e sujo.

Passaram pelo salão de jantar onde estava sendo servido o café da manhã. Uma mesa farta de mais de 5 metros estava à disposição dos hóspedes, na maioria homens.

Logo um funcionário veio avisá-los que sairiam em 10 minutos. Nicolas foi ao banheiro e jogou água no rosto. Estava fraco. Tudo o que queria era uma cama, mas teria que encarar uma manhã movimentada pelo jogo. Estava pálido como uma vela.

“Não sei por que fiquei tão mal! Foi só um vinho que eu bebi...!”

Como combinado, saíram do castelo em 10 minutos. Foram em direção ao vilarejo onde o Festival teria início.

Julie tinha voltado a dormir. Dormiu até por volta das 8:30h, quando alguém bateu na porta pela 5ª vez. Ela enfim acordou e reconheceu a voz de Bia. Levantou e abriu a porta, ainda sonolenta.

— Bom dia, amiga! O que aconteceu? Você tá hibernando desde ontem! Até trouxe uns bolinhos com suco pra você comer. Nossa! Você perdeu o “breakfast” que acabaram de fazer. Foi na cobertura do hotel. Fizeram uma mesa completa e a vista de lá estava incrível! O lago estava prateado e a neblina baixa! Fantástico!

Juliana olhava pra ela sonolenta e desanimada.

— Que foi amiga? – Bia parou de falar as novidades e focou sua atenção na amiga.

— Obrigada pelo café da manhã! Mas estranho, eu ainda quero dormir mais.

— Ah deve ser a viagem, relaxa. Já dormiu o suficiente né amiga.

— É... que horas são? – Juliana nem tinha noção.

— São quase 9 horas. Eu acordei, junto com a Talita. Tomamos café e ela foi pro salão. Aliás, nós também vamos! – disse toda feliz. — Tem um salão que faz penteados pra festa e o mais incrível: depois poderemos alugar um traje de festa aqui mesmo!

— Sério? Eu só não entendi a parte que você falou sobre a Talita. Estranho vocês duas amiguinhas.

— Ah, você tá brincando né amiga! Não está se lembrando do apocalipse que virou esse corredor de madrugada?

— Não! Eu te disse, dormi direto! Não faço a menor ideia!

— Como não acordou? O hotel todo acordou com os gritos da sua cunhadinha. Tudo bem, vamos dar um desconto porque foi uma invasão de aranhas gigantes.

Juliana arrepiou na hora.

— O quê? Que história é essa de aranha?

— Aranhas, sabe, daquelas peludas bem nojentas? Então! Várias delas dentro do quarto do Nicolas. Ele nem viu, mas a Talita, coitada, está traumatizada.

— Credo, Bia! Eu odeio aranhas! Como é que vai ser agora? Deve ter um surto de aranhas nesse hotel! Ai meu Deus!

— Não. Parece que era só lá mesmo, no quarto deles. No meu quarto não tinha nenhuma. Nem no quarto de mais ninguém.

— Como isso pôde aparecer assim do nada? Muito estranho!

— É! Muito estranho mesmo, como tudo nesse hotel!

— É mesmo! Tudo tá estranho! O Nicolas está estranho! Eu também!

— O Nicolas está estranho há um bom tempo, né. E o que foi aquilo ontem à noite lá no salão? Você saiu feito um furacão de lá e depois apagou!

— É uma longa história, tenho que te contar!

......................

— E agora a pouco encontrei esse papel aqui com a letra da música completinha.

— Ele te deu?

— Não sei. Quer dizer, não lembro. E-eu só me lembro de ter entrado no quarto e deitado. Dormi com a roupa que eu tava.

— É. Mas que história esquisita essa! Quem é essa Débora? Você não a conhece, nem a ele. Então, por que resolveu confiar nela?

— Porque ele ficou muito estranho de repente, Bia. Ele muda de um instante para o outro. E parece que tem um ciúme louco.

— Ih! Você só atrai cara ciumento viu! Sei lá! Acho que você devia falar com ele. Quer dizer, com os dois! Não se esqueça de que o Nicolas é seu noivo e que vocês nem conversaram até agora.

— O Daniel cismou que eu tenho que confessar que estou mentindo! Ele é paranoico!

— Quer saber? Vamos tentar nos divertir! Vamos nos arrumar e dar umas voltas por esse castelo. Não pode ser de todo mau.

— Então tá né. Mas e aí me conta como foi a sua noite.

— Nossa! Aconteceram várias coisas estranhas ontem à noite...

...............

Mais de 1 hora depois, saíram do quarto e continuavam conversando. No caminho deram de cara com Talita.

— Nossa! Você está linda! O salão deve ser mesmo ótimo! – Bia comentou tentando parecer simpática.

— Querida! Eu SOU linda! O salão não tem nada a ver com isso. Agora vou lá pra dar uma olhada nessas “tais” roupas, mas duvido que possam chegar aos pés das minhas.

“Affe! Convencida!” – Bia e Julie pensaram ao mesmo tempo.

— O Nicolas pode ir preparando o bolso. Ele vai me pagar por ter me deixado pra trás! – Talita estava espumando de raiva porque o irmão não a convidou pra sair junto com ele.

— É. Parece que o seu dia não está indo muito bem. – Juliana provocou.

— Mas o dia ainda não acabou. O jogo pode virar. Com licença.

As duas fazem cara de nojo pra loira esnobe.

— Vem amiga – Bia arrasta Julie pelo braço - vamos até à janela pra ver se lá fora ainda está com aquele clima delicioso de frio, neblina e o lago prateado.

Chegaram na janela e viram um grupo de 5 japonesas conversando no jardim. De repente as cinco olharam pra trás. Automaticamente as duas amigas olharam na mesma direção, para verem o que tinha chamado a atenção das gringas.

— É o Daniel! – Julie murmurou. Ela o reconheceu de costas.

Ele estava caminhando para o lado direito da propriedade e quando passou pelas japonesas acenou com a cabeça. As garotas sorriram e, depois que ele se foi, ficaram se cutucando.

— Ai! – Julie revira os olhos, tentando disfarçar o ciúme. — Não vi nada de interessante dessa janela! Vamos descer, temos que procurar este salão!

— Sei...

No meio do caminho do saguão foram surpreendidas por Félix.

— Bom dia, senhoritas. – ele disse muito educadamente.

— Bom dia! – disse Bia sorrindo fácil.

— Bom dia! – Julie cumprimentou-o simpática.

— Aonde as senhoritas querem ir agora?

— Onde é o salão de beleza?

— Impossível deixar as duas mais belas, mas vou acompanhá-las até lá.

— Ah! Não precisa exagerar viu! – Julie sorriu.

— Quanta gentileza! – Bia disse, encantada.

Desceram as escadas e caminharam por outro corredor no andar de baixo.

— Chegamos. – Félix pediu licença e entrou no salão à procura de Débora. Ela que cuidava daquele setor. Voltou de lá acompanhado dela.

— Bem, esta é a Srta. Débora. Ela é que administra o setor de estética do hotel. E, Débora, elas são Juliana e Beatriz.

— Prazer! – Bia cumprimenta.

— Prazer! – Débora respondeu. Depois se voltou para Juliana: — Você eu já conheço! – deu um sorriso lindo.

Lindo até demais!” – pensou Félix, desconfiado.

— Félix, você pode deixa-las sob meus cuidados. – Débora disse.

Félix acena com a cabeça de leve e sai.

— Vamos entrar meninas?

Depois de conversarem por 20 minutos, as amigas decidem fazer penteados diferentes. Juliana decide fazer uma trança trabalhada com aplique, para parecer mais longa. Depois colocaria alguns cristais. Já Bia resolveu fazer cachos em todo o cabelo e prendê-lo no alto, deixando os cachos caírem até o pescoço. Também podiam fazer as unhas, se quisessem, e a maquiagem seria feita mais tarde.

— Bom, o cabelo já pode ficar pronto desde cedo! Na hora do baile é só ajeitar. Mas a maquiagem tem que ser feita depois.

— Ah, não precisa! Eu gosto de maquiagem bem suave.

— Eu também gosto! Mas confesso que queria colocar uns cílios iguais aos seus!

— Ah! Os meus são verdadeiros! – Débora mentiu. — Mas podemos colocar se quiser. – piscou pra ela.

Débora deu um jeito de separar as duas, inventando que para o penteado de Bia, ela teria que usar um creme que ativava os cachos por 30 minutos. Aproveitou esse tempo e foi com Julie até o espelho onde estavam todos os acessórios de salão. Débora passou as coordenadas para as cabeleireiras em inglês, e ficou ao lado de Julie, esperando a deixa para conversarem.

— Sabe, Juliana. – Débora ia contar outra mentira, mas do nada alguém entrou e foi até ela dar um recado.

— Srta. Débora, o Daniel pediu pra avisar que o Demétrius vai chegar a qualquer momento.

Julie prestava atenção no que o rapaz disse, embora falasse em inglês muito rápido ela pôde entender muito bem os nomes.

Débora ficou tensa. Ela entendeu como um recado. Ia dizer que Daniel tinha obrigado ela a desmentir a história, mas ele foi mais esperto.

— Você ia falar alguma coisa? – Juliana perguntou pra ela, assim que o rapaz saiu.

— Bem. É que eu – respirou fundo. — menti pra você sobre o Daniel. – ela apertou os lábios.

— Como assim? – Julie olhou perplexa. – Espera! Como pode fazer isso comigo?

— É que... Nós nos desentendemos ontem mais cedo. Eu fiquei com muita raiva e resolvi me vingar.

— Francamente! Jamais te dei o direito de se meter na minha vida desse jeito!

— Me desculpa. – Débora olhou pra baixo, com vergonha. “O Daniel me deve essa!” – mas não tinha outra saída. Era falar ou encarar o nojento do Demétrius. Isso lhe dava náuseas.

— Estou muito ofendida! Só não vou dar queixa de você porque poderia me causar mais problemas, e realmente você não tem nada a ver com a minha vida.

— Olha, Juliana. Eu te pedi desculpa. Agora, se você vai perdoar ou não é problema seu. – Débora disse isso com a maior naturalidade.

— Então, você não tem que dar atenção pra minha amiga não? – Julie olhou com a cara fechada pra ela, que entendeu e saiu dali com toda sua arrogância, sem qualquer comentário.

Julie ficou resmungando com raiva de Débora e de si mesma. Como tinha sido estúpida!

A cabeleireira, que não entendia nada do que falava, continuou fazendo seu trabalho.

— Droga! Estraguei tudo com essa minha ingenuidade! Essa garota não vale nada! Profissional? Alô! Profissional mandou lembranças! – resmungava. — E o Daniel? E agora? Nossa! Estou tão passada que nem sei o que pensar! Tá ele não tem culpa dessa mentira! ... Mas isso não quer dizer que ele não seja estranho! – ponderou. — Numa hora me adora... Na outra me ameaça! E aquele olhar dele! Que medo! Eu só me meto em furada! Será? Será que eu mereço? Cadê meu noivo pra me tirar todas as dúvidas!? ... Droga! Estou confusa! Não sei o que vou fazer!

1 hora depois as duas saíram de lá. Débora já tinha desaparecido. Julie e Bia estavam lindas. Mas a cara de Julie era de desespero. Bia tentou conversar com a amiga, mas essa não se acalmava. Elas trocaram algumas ideias e por fim, Bia resolveu investigar aquilo por ela mesma.

— Amiga, eu vou descobrir a verdade sobre esse Daniel. Mas escuta. O Nicolas é seu NOIVO. Você ainda se lembra disso? E vocês TEM que conversar!

— Já conheço bem o Nicolas! Vai me enrolar, vai fazer um drama, por fim vai continuar sem esclarecer nada.

— Sabe o que eu acho? Você e o Daniel estão a um passo de uma paixão louca. Mas, sabe. Daqui a 13 dias tudo isso vai acabar! Aliás, nem sei se vamos aguentar ficar nesse lugar por tanto tempo! E se o Nicolas descobrir sobre vocês? Não vai prestar! As chances de vocês dois são mínimas.

— Se fosse você... O que faria?

— Ai amiga, isso é uma decisão sua. Não posso me meter! No fundo, eu não acho que você ame o Nicolas!

— Bia!

— É a verdade! Não sei se esse Daniel é o cara certo. Mas tenho certeza de que o Nicolas é o cara errado!


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Notas finais do capítulo

Aumenta o terror ou o romance?



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