Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 19
Capítulo 19 - Bizarre Night


Notas iniciais do capítulo

Tenso.Se quiserem podem ouvir uma música sinistra de fundo. (risadas malévolas)



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No quarto de Julie, só ela e Daniel. Olhava pra ela como se admirasse uma obra de Monet. Sua vontade era de tirá-la dali e levá-la para um lugar onde o tal Nicolas não pudesse mais lhe pôr as mãos.

Enquanto pensava, dava passos lentos pelo quarto, como um gato. Viu o jarro d’água em cima da mesinha e resolveu se livrar logo dele. Pegou-o e seguiu até a janela, jogando o restante da água fora.

Deixou a janela aberta. Entrava uma brisa um pouco fria, então ele foi perto da cama e conferiu se ela estava coberta. Estava tudo bem, ela dormia como uma pedra.

Ele acendeu uma vela e começou a olhar suas coisas.

Daniel ficou um pouco preocupado com a caixa, mas do jeito que Nicolas estava bêbado nem ia se lembrar de onde foi que a encontrou.

Deu uma rápida olhada pelo quarto, já estava com o toque pessoal da hóspede. Seu celular, provavelmente sem bateria, estava sobre a mesinha. Seus objetos pessoais também organizados em cima de uma bancada. Foi até o armário e se surpreendeu. “Praticamente só tem roupa preta... incrível”. Pegou um vestido vermelho, uma das poucas peças de cor diferente. Tirou e ficou imaginando-a vestindo ele. Sorriu com isso. Voltou com ele para o lugar. Viu um vidro de perfume, abriu e sentiu o cheiro envolvente dele. Fechou os olhos, imaginou estar sentindo aquele perfume em seu pescoço. Guardou o perfume e fechou a porta do armário.

Suspirou fundo. Olhou pra ela e se lembrou da mágoa e raiva que viu em seus olhos na escada. Alguma coisa tinha mudado. Mesmo tendo sido um louco irresponsável com ela depois que saíram do labirinto, achou exagerada a reação dela ao descer com seu violão e sair correndo do salão.

Mais uma coisa inexplicável, além daquele sentimento desenfreado que veio do nada.

Ao se lembrar do salão, recordou que ela conseguiu cantar a música que tocou pela manhã uma única vez. Ela cantou até onde tinha escutado, não sabia o restante da letra. Então pegou um pedaço de papel e um lápis que estavam no bolso (sempre andava com um, caso surgisse alguma inspiração de compor no meio do dia – eventualmente para mandar bilhetes especiais).

Sentou-se na cama. Tinha acendido uma vela perto. Começou a escrever no papel a letra com as cifras. Olhou pra Julie, ela ainda dormia do mesmo jeito. Tocou seu rosto... “como dói perceber que o fim...”, olhava pra ela, mas seu pensamento foi se desprendendo... Foi voltando nas lembranças que aquela música despertava quando ele a compôs...

~flashback on

— Tudo vai ficar bem. Assim que terminar o trabalho eu volto e nós resolvemos essa situação. Pode ficar tranquila.

— Não, você não entende. Eu não posso esperar. Tenho que dar uma resposta.

— Não, amor. Me espera, eu não vou demorar lá.

— Ai! Fica, por favor! Eu estou com um mau pressentimento.

— Nós vamos dar um jeito. – e beijou-a docemente.

~flashback off

Ele vai voltando à consciência. A lembrança se desfez igual fumaça. Essa música trazia muitas lembranças fortes. Quase ninguém a conhecia. E Julie foi uma dessas pouquíssimas pessoas. Olhou pra menina deitada na cama.

Novamente estava diante de perder seu amor. E nunca mais poder vê-la era algo que não queria nem imaginar.

Sentiu-se angustiado, terminou de escrever a letra com as cifras. Queria que ela acordasse, mas pelo visto ela tinha tomado sonífero demais. Agora teria que conseguir ganhar sua confiança novamente. Primeiro precisava descobrir o que tinha acontecido pra ela ficar tão diferente. E porque se sentia tão estranho com ela em alguns momentos. Teria que manter o noivo afastado dela o máximo possível. Não suportava vê-lo por perto. Ainda bem que eles nem pareciam apaixonados, isso qualquer um podia ver. E tinha que pensar num jeito de tira-la daquele lugar. Ela corria um risco muito grande se o Demétrius soubesse de seu questionário.

Andou um pouco pelo quarto até conseguir pensar em algo que pudesse afastá-lo.

“Claro! Por que não pensei nisso antes?”

Ele saiu do quarto de Julie e olhou pra todos os lados até certificar-se de que não havia ninguém. Seguiu até o quarto de Nicolas. Enfiou a chave na fechadura e fez força até quebrá-la.

Deu um sorriso com o canto dos lábios, satisfeito.

Nicolas havia entrado trocando as pernas, com a caixa na mão. Talita estava dormindo.

Ele tropeçou e quase caiu, mas se apoiou em uma mesinha. Colocou a caixa sobre ela. Estava tão bêbado que nem se tocou que Talita poderia estar ouvindo.

— Ora, ora, Klaus. Você é o cara! Eu quero dar só um bem na cara dele. – disse ele, imitando alguém dando um tiro.

Abriu a caixa. Estava escuro, mal não dava pra enxergar nada.

— Só sei que isso aqui não é arma! Porra Klaus! Tá de brincadeira! – falou embolado. — mas que porra é essa...

Forçou a vista e olhou meio confuso. Não chegando a nenhuma conclusão do que era. Fechou a caixa e deixou em cima da mesinha mesmo.

— Só por isso vou matar o resto dessa garrafa. Esse é “O vinho”.

Pegou a garrafa que estava pela metade e foi pra janela, bebendo no bico.

Uns 5 minutos depois já tinha virado tudo. Jogou a garrafa longe e ela caiu no lago. Ele falou na maior altura: - Tua hora tá chegando... ”papai”! – e seu olhar mudou pra um ódio profundo.

Talita despertou com a voz dele, mas não entendeu o que ele falou.

— Nicolas? Fecha essa janela! Tá gelado aqui dentro!

— Oiiii... Maninha... Amor da minha vida. – Nicolas foi até ela e a abraçou exagerado.

Talita percebe que ele bebeu. — Você encheu a cara, né? – e percebeu também que ele estava só de cueca. Ficou até nervosa.

— Tatá, eu vou...

— O que?

— Eu...

— O que? – ela se aproximou até tocarem seus narizes. Encarando-o de muito perto.

— Vou vomitar! – ele vomitou na cama. Depois se virou para o chão e vomitou mais.

— ECA! – ela deu um salto da cama. — Que nojo! – falou tentando se limpar. Mas ele tinha vomitado em seu cabelo, em sua roupa e aquele cheiro horrível estava impregnando o ar. — Nicolas! Olha só o que você fez! – ele continuava passando mal, com a cabeça baixa, agarrando os cabelos. E vomitava mais.

— Ai! Que nojo!

Pegou uma vela e acendeu. Foi procurar uma toalha pra tomar um banho. Não lembrava onde tinha deixado. Mas sabia que tinha algumas toalhas do hotel numa gaveta. Dava pra ver muito mal com a vela. Ela abriu a primeira gaveta e, por sorte, tinha toalhas. Puxou uma com força e acabou esbarrando e derrubando algumas coisas que estavam próximas.

Nicolas nem se manifestou. Ele caiu na cama, deitando por cima do próprio vômito.

Talita estava morrendo de nojo, sentia sua pele imunda. Foi para o banheiro e acendeu várias velas lá dentro. Entrou no box e ligou o chuveiro. Começou a se lavar e esfregar. Ficou uns 20 minutos no banho. Desligou a água e quando foi pegar a toalha viu uma mancha preta. Chegou mais perto, arregalou os olhos, era uma aranha enorme na sua toalha.

— AAAAHHHHHHH!!! NICOLAAAAAAAS!!! ME AJUDA!!!! SOCOOOORROOOOOOO!

Gritou socorro sem parar mais de 20 vezes. Nicolas nem conseguia se sentar na cama.

— ALGUÉM ME AJUDA!!! PELO AMOR DE DEUSSSS!! – ela esgoelava. Ficando ainda mais histérica ao perceber que não era só uma aranha, tinham várias delas no banheiro. E algumas subiam a parede do box. O banheiro estava com uma luz fraca de velas, o que aumentou seu terror.

Ela já tinha acordado metade do hotel com seus gritos e Nicolas continuava "desmaiado".

Talita começou a chorar descontroladamente. Gritava completamente desesperada.

Dos três amigos, o que chegou primeiro na porta do quarto foi Martin. Eles sempre andavam com as chaves de todos os quartos de hóspedes no bolso. Martin pegou a chave certa e foi tentar abrir.

— CALMA! JÁ ESTAMOS ABRINDO! – gritou pra ela, nervoso. Notou que tinha uma chave quebrada no buraco. — Droga! E agora?

Alguns dos hóspedes estavam por perto aflitos.

— Vou ter que arrombar. Cheguem pra trás. – ele pega impulso e tenta. Teve que tentar quatro vezes. Quando conseguiu já foi logo entrando e deu uma olhada no chão. Passou pelas aranhas que estavam espalhadas pelo chão do quarto.

— AAAIIIIII ... SOCORRO, ME AJUDE!! DEPRESSA!!!! – Talita pede chorando.

Martin vai até o box, simplesmente ignorando a existência das aranhas.

— Vou te tirar daí, calma.

— Pelo amor de Deus! Tira essas aranhas daqui! Elas vão me matar!

— Calma! Essas aranhas não são venenosas. Como elas vieram parar aqui?

— Como vou saber! Essa porcaria de hotel é todo estranho!

— Quer sair daí ou quer que eu tire as aranhas primeiro?

— Claro que eu primeiro! – se ele conhecesse Talita nem teria perguntado isso. — Espera... Pega alguma coisa pra eu me cobrir... Qualquer coisa...

Martin tirou seu casaco, era a única coisa que tinha à mão.

— Toma. – abriu uma fresta da porta do Box e esticou a mão com o casaco. Mas deu uma olhada de rabo de olho... “sem querer”. Ela nem percebeu e ele tentou disfarçar ao máximo pra não olhar.

“Quê isso que eu to vendo?” - ele se perguntou – “Será alguma aparição?”.

— Pronto! Agora me tira daqui!!! Rápido! – Talita dava um xilique.

— Vou te pegar!

Martin sacodiu as pernas e os braços, porque algumas aranhas já subiam nele. Pegou a toalha que estava pendurada no box pra bater nas que estavam subindo e jogou-as no chão. Então abriu a porta.

A princípio nem estava reparando na beleza da garota. Segurou-a pela cintura e carregou-a pra fora do banheiro. No quarto também tinha várias aranhas espalhadas. Logo que ele viu, correu até a cama e pegou uma capa de travesseiro. Já saiu recolhendo uma por uma e jogando na capa. Fez o que pode pra pegar todas.

Talita ficou horrorizada e encolhida num canto do quarto. Olhando pra todo lado, com medo de aparecer alguma. Ainda estava escuro, só à luz de velas.

— É melhor eu sair daqui e ir pra outro quarto! Pelo amor de Deus! Não vou conseguir ficar aqui nem mais um minuto.

—Ah! Com certeza! Vamos colocar você em outro quarto. Você e esse seu...

— Amigo! – Talita se apressou a responder.

— Então. Seu “amigo”. Ele tá tão mal que nem acordou!

— Meu Deus! Como ele está? – o susto foi tanto que até esqueceu que Nicolas estava passando mal.

— Apagado. E ele fez uma bagunça danada na cama! Nem tá sentindo os bichinhos passando por ele.

— Credo! Tira logo! Por favor. – pela primeira vez reparou na boa-vontade de alguém do hotel. - Então. Vou me trocar, não olha!

— Ah! Pode deixar! - “Pode deixar não vou olhar... muito” Martin pensou já virando a cabeça disfarçadamente para o lado dela.

Ela se trocou e foi em direção a ele com o casaco.

— Toma. Obrigada por me salvar! – deu um beijo em sua bochecha e saiu correndo pra fora do quarto. Numa rara demonstração de simpatia.

Martin ficou meio abobado com o beijo da loira.

Assim que saiu ela foi cercada de gente, perguntando todos os detalhes. E ela, logicamente, aumentou ao máximo cada um deles. Até Bia estava lá, prestando atenção em tudo. Bia ofereceu seu quarto pra ela dormir. E, sem ter como recusar devido às circunstâncias, Talita aceitou.

Enquanto isso Martin se virava pra pegar as aranhas e pediu para chamarem um funcionário, cuja missão seria deixar aquele quarto brilhando antes do amanhecer.

Saiu do quarto com uma capa de travesseiro cheia de tarântulas. Ele estava morrendo de curiosidade de saber como elas foram parar ali.

— Ah! Chefe! – um funcionário gritou quando ele já ia saindo. — Pra onde é que a gente leva o rapaz?

— Tenta acordar ele. Vou lá embaixo ver onde está desocupado e já volto.

Os funcionários sacudiram Nicolas, até que, por fim, ele saiu cambaleando do quarto, e foi direto pro quarto de Julie.

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Enquanto isso um hóspede se aventurava pelos corredores do castelo. Ele se sentia um verdadeiro caça-fantasmas. Muitas portas estavam trancadas. Ele podia sentir vibrações estranhas vindo de cada uma delas. Sentia arrepios e frio na barriga e isso aumentava sua curiosidade. Ele andava e sentia olhares sobre ele.

Por estar acostumado com aventuras, sempre carregava uma lanterna e foi isso que o ajudou a vencer aqueles corredores sinistros. Subiu por outra escada, depois de andar muito. Podia sentir que estava se aproximando de um lugar que emanava uma força negativa maior do que todas as outras juntas.

Até o clima daquele corredor era diferente. A temperatura era bem mais baixa do que os demais. As paredes e o chão eram de pedras. Espalhados havia alguns candelabros com velas que pareciam chorar. Nada disso, porém, o impressionava. A não ser a atração que sentiu por aquele lugar que ninguém mais iria sozinho. Ia passando na frente de uma das portas. Mas de repente parou. Uma porta do corredor tinha batido com violência. E ninguém apareceu. “Não me querem por aqui”- sorriu.

Prestou atenção na porta e começou a se sentir mal, como se alguma coisa estivesse lhe tirando o ar. Firmou a mente. “Não vão me impressionar com isso”.

Deu um passo em direção à porta. Sentiu um vulto passar rápido por trás dele. Isso só o fez ter certeza de que tinha mesmo algo ali. Algo bem ruim.

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Daniel nem imaginava que seu plano de deixar Nicolas afastado de Julie tinha ido por água abaixo. Assim que saiu de lá, seguiu atrás dos dois amigos da onça. E o primeiro que teve a sorte de estar no caminho dele foi Félix.

Daniel foi andando para o lado dele com seu tradicional sorriso irônico e lhe pagou uma dura.

— Vocês são o que? Algum tipo de acéfalos?

— Na verdade eu estava tentando ajudar.

— Ajudar a bagunçar toda a agenda! Só se for! Onde você estava enquanto uma revolução acontecia lá no andar de cima?

— E-eu precisei sair e... Levei a garota do quarto 1 pra conhecer o jardim noturno...

— Ora! Mas quanta cara de pau!

— E eu descobri que a Emily continua indo no jardim da... você sabe...

— da MORTE! – Félix ficou mais pálido ainda. — Mas por que diabos ela ainda continua indo lá? Se bem que hoje ela não estava lá na pinacoteca. Depois eu falo com ela! Agora o assunto é com você e o bonitão, não, não... o galinhão do Martin. Onde é que ele está?

— Acho que ele subiu. Desculpa Daniel! Eu não queria te atrapalhar. Mas no fim das contas até que foi bom. Já nos livramos de dois!

— É... Tá certo... Agora só faltam mais VINTE E OITO pra gente se livrar... O mais rápido possível. Era pra ter sido PUNK. Iam uns 10 embora, entendeu? Dez! E não dois!!! Mas eu vou te desculpar, afinal somos amigos. Não é mesmo? – sorriu torto.

— Ihhh lá vem você!

— Você vai subir comigo e me ajudar a fazer a ronda! Senão vou ser obrigado a anotar isso no relatório e...

— Não, não! Tudo bem, eu vou! Afinal o que é uma ronda, não é mesmo? – falou entre os dentes.

Era bem melhor andar pelo hotel sinistro do que ir para o relatório do Demétrius.

Eles subiram por outra escada que levava à parte de trás do castelo. Onde ficava a ala dos empregados, o escritório de Demétrius e o calabouço.

Subiram a escada e Félix implorou pra ir na direção da ala dos empregados.

Daniel deu de ombros e seguiu seu caminho.

Eles não sabiam nada do que se passava no quarto de Talita e Nicolas.

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Mano segurou a maçaneta e girou. Estava aberta. Empurrou a porta e deu dois passos. Com sua lanterna iluminou a sala aos poucos. Era um escritório. A parede em frente à porta tinha janelas altas de vidro e davam vista pro lago escuro. Mano encontrou candelabros e até tochas. Tirou um isqueiro do bolso e acendeu todos. E o que viu não era exatamente assustador, a não ser pelas gárgulas espalhadas no alto das paredes, com velas vermelhas dentro de suas cabeças. O restante do cômodo era em madeira. Tinha vários tapetes, uma lareira, armas medievais, escudos e cortinas pretas. Não era bonito como os outros cômodos. O ambiente era pesado, estranho. Ele não sabia, mas era o escritório de Demétrius.

Mano sentiu que tinha algo por trás da parede atrás da mesa. Sentiu um sopro, como se fosse um bafo sinistro que vinha de trás daquela mesa. A parede de trás, também de madeira, começou a estalar e algumas velas se apagaram sozinhas. Ele estendeu as mãos e pôs sobre a parede. Sentia a vibração na palma das mãos.

Bateu na madeira algumas vezes. O som variava em determinados lugares. Ele então passou a mão de leve na parede, e sentiu uma fresta muito fina. Talvez fosse uma abertura. Colou o ouvido na parede e esperou algum som. Nada. Mas ele sabia que tinha algo lá. Tinha esse pressentimento. De repente ouviu um barulho de passos e correntes do outro lado da parede. “É uma passagem” deduziu.

Vasculhou o escritório todo. Mexeu em vários objetos, procurou qualquer coisa que pudesse abrir aquela passagem. Nem sinal. Porém, depois de alguns minutos, ouviu uma voz fraca soprar no seu ouvido.

— A estátua...

Ele se lembrou de uma estátua que estava perto da entrada. Era uma mulher decapitada segurando sua cabeça em uma das mãos. Foi até ela e virou a estátua. Nesse momento abriu uma passagem atrás da mesa, confirmando suas suspeitas.

Respirou fundo para afastar o medo. A passagem era um pulo no escuro. Não dava pra enxergar nada e lá de dentro vinha uma vibração muito sinistra. Qualquer um sairia voando dali, mas não ele. Parecia estar mais interessado ainda em saber o que havia ali, o porquê de tanto mistério. Foi andando apreensivo em direção à entrada. Acendeu sua lanterna e iluminou lá dentro.

Parado na porta ele olhava incrédulo para o horror do lugar. Ele hesitou. Entrava ou não entrava?

Sentiu algo puxa-lo pra dentro, pela roupa. Ficou tenso, era completamente assustador. Iluminou à sua volta e continuou vendo mais detalhes daquela sala macabra.

“Se fosse pra recuar eu nem tinha vindo. Se foi um humano que fez essa sala, eu também posso ficar aqui dentro!”

Deu mais um passo e foi explorar a sala iluminada só pela sua lanterna, que primeiro focou um gato empalhado com uma expressão horrível. Virou a lanterna pra esquerda. Percebeu que as paredes eram pretas. Focou em uma boneca sem olhos e com um sorriso estranho na boca. Desviou a lanterna mais pra cima. Tinha uma coleção de facas e punhais. Quem poderia ter feito uma decoração dessas? Muitas estátuas e imagens quebradas e amontoadas numa pequena bancada. Quadros com pinturas estranhas, bonecos de todo tipo. Jogou a luz da lanterna na outra direção viu um manequim sem um dos braços e com maquiagem de palhaço. Vários animais empalhados, numa das paredes a pintura de uma dama branca, parecendo uma alma.

Mano ouviu um barulho ao longe chamando no corredor. Ficou com medo de ser surpreendido bisbilhotando ali então decidiu voltar e saiu daquela sala. Passou pelo escritório e voltou com a estátua pra posição em que estava. A passagem se fechou. Ele tinha certeza de que ali se escondia algo mais do que uma coleção bizarra de coisas pavorosas.

Saiu e fechou a porta correndo, deslizando pelos corredores como se fosse uma sombra. Ouviu passos e quando ia virar o corredor deu de cara com um homem encapuzado. Seja lá quem fosse, a pessoa estava envolvida numa aura maligna. Arrepiou da cabeça aos pés.

— O quê está fazendo aqui? – uma voz cortante sussurrou pra ele. — Não devia andar sozinho por aqui. – Ameaçou.

A pessoa levantou a cabeça. Tinha olhos frios, pareciam de vidro e um rosto pálido. Ficaram se encarando por longos segundos. Até que Mano quebrou o silêncio e deu uma risada. A pessoa não esperava por isso. Pensou que ele sairia correndo. Mas ao contrário ele só ergueu uma sobrancelha e desviou dele, dizendo ‘perdão’.

No final do outro corredor vinha outra pessoa. Que só percebeu que Mano falava com um encapuzado e murmurou qualquer coisa. Foi andando até ele tentando descobrir por que diabos aquele cara estava andando por ali.

— O que você tá fazendo aqui?

— Acabaram de me perguntar isso.

— Com quem você estava falando?

— Sei lá, só sei que tinha cheiro de enxofre.

Mano saiu gargalhando... — Eu me perdi!!!!

— Sabe voltar?

— Perfeitamente! Vou pra minha suíte presidencial.

— Idiota. – disse Daniel. Ele não estava a fim de ficar paparicando hóspede metido à besta. Depois lhe daria o troco. E se ele quisesse se arrasar, melhor ainda, poupava trabalho. Ele estava mesmo interessado era em saber com quem o cara estava falando. Deu uma volta pelo corredor, mas não encontrou vestígios. “Justo aqui no corredor do Demétrius. O que será que esse Mano e companhia estão querendo aqui?” – ficou pensativo.


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Notas finais do capítulo

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