Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 18
Capítulo 18 - Primeiros Dissidentes


Notas iniciais do capítulo

Olá! Esse capítulo tem um pouquinho de terror. Se não arrepiar o suficiente me avisem pra eu poder caprichar no próximo.Espero que me dêem sugestões e que gostem do capítulo.Beijos, boa leitura.



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A noite estava propícia ao mistério. E Daniel desceu para o saguão, onde encontraria o grupo daquele tour.

— Vamos conhecer um pouco da história do hotel. Estão todos aí? – ele fala.

— Pera! Minha noiva não! Eu quero ir lá acordá-la e... – diz Nicolas.

— Não podemos esperar. – Daniel responde rapidamente.

— Mas eu preciso falar com você sobre um grande equívoco que acabou acontecendo e...

— É só me procurar amanhã. Agora não resolvo problemas de hospedagem. – falou assim pra ele não insistir mais com o assunto.

— Que otário! – Nicolas fala entre os dentes. Mas Daniel conseguiu ouvir. Só deu uma encarada nele e um sorriso indecifrável.

— Ora, Nicolas! Vai ver a Julie não tá a fim de ficar o tempo todo grudada em você! – Talita aproveita a deixa.

— Mas a gente mal tem se falado! Eu acho que tenho sido um estúpido com a Julie. Amanhã cedo vamos conversar e fazer as pazes. – Nicolas fala todo confiante.

Talita odiou ouvir isso. Estava tudo indo tão bem pra ela. E Daniel estava ligadíssimo, embora parecesse indiferente.

— Vamos começar nosso passeio, sigam-me. – ele chama o grupo de aproximadamente 20 pessoas. Eles o seguiram, cada um levando uma vela. Talita e Nicolas foram bem próximos a ele, enquanto os demais estavam misturados ao grupo de japoneses. Por último vinha um casal jovem de japoneses e Mano.

Mano era meio sensitivo. E era o que mais se interessava por fenômenos sobrenaturais. Mais do que qualquer outra coisa, o que ele mais queria nessa viagem eram evidências dessas manifestações.

Julie não viera e Bia estava no jardim junto com Félix.

Como Martin estava “muito ocupado” tentando entender a “língua” japonesa e Félix decidiu virar guia particular, Daniel ficou sozinho, o que deixava o grupo mais solto. O problema é que alguma coisa poderia sair do controle. Mas isso era o que menos o preocupava, e sim a reação de Julie quando acordasse. Porém ele logo ficaria sabendo.

— Começaremos por este corredor (o mesmo por onde Julie tinha se aventurado).

— Este castelo foi habitado por muitas gerações de famílias nobres, guerreiros, prisioneiros... Porém ele foi comprado por um milionário e agora abriga um hotel. Mas a história desse castelo é cercada de mistérios. Alguns dizem que os fantasmas dos antepassados não queriam que fosse vendido e até hoje exigem ser donos da propriedade.

Um funcionário traduzia o discurso de Daniel para o japonês. Ele continuou: - Nem pensem em andarem sozinhos por aí, vocês não conhecem o lugar.

Eles caminhavam pelo corredor escuro, iluminado apenas por velas.

— Ah! E mais importante ainda é seguir essa regra: SE VOCÊ NÃO CONHECE, NÃO CONVERSE!

Só se ouvia os passos ecoando pelo corredor. O chão desse andar era de tábua corrida. Todas as portas estavam fechadas. E as janelas idem. Para quem tinha medo de lugares fechados ali era uma péssima opção.

Clarisse era uma dessas. Começou a se sentir mal com aquele ar pesado. Abriu uma janela pra pegar um vento. Acabou ficando um pouco pra trás, sendo ultrapassada até por Mano.

Daniel avisou a todos que desceriam as escadas e deviam ficar em silêncio “para não acordarem ninguém”.

— Tem quartos lá embaixo? – pergunta uma curiosa.

— Não. Não são os hóspedes que dormem aqui embaixo.

Seguiram Daniel sem fazerem mais perguntas.

Desciam as escadas, tensos. Algumas tábuas da escada rangiam. Lá embaixo, completo breu. Daniel pediu para que esperassem e sumiu naquela escuridão e silêncio. Só enxergavam a vela que ele carregava ir pra longe. Um pouco depois ele acendeu uma tocha, e mais outra, o que deixou o ambiente um pouco iluminado. Eles estavam num corredor. Mais à frente tinha uma sala grande. Nas paredes havia alguns quadros. Aliás, havia um pouco de parede naqueles quadros.

— Essa é a nossa pinacoteca. Silêncio. São os quadros dos antepassados... Eles não gostam de serem importunados à noite.

Os hóspedes se aproximavam com cuidado, segurando suas velas. Nicolas estava de braços dados com Talita, que a essa altura não conseguiria falar, mesmo se quisesse, tamanho era seu medo. Nicolas aproximou sua vela de um dos quadros. Era a imagem de uma jovem triste, de longos cabelos castanhos cacheados. Ela usava um vestido azul claro com renda branca e chapéu. Aqueles estranhos olhos tristes pareciam olhar diretamente pra ele. Como se adivinhassem o que estava pensando. Balançou a cabeça e quando olhou pro quadro, a moça estava olhando pra longe. Ficou muito confuso, saiu de perto meio impressionado. À medida que Daniel acendia as tochas, a sala ficava mais sinistra. Sentiram uma atmosfera estranha. E um forte aroma de tabaco surgiu do nada. Nicolas olhou pra Talita e os dois ficaram sem entender.

Aqueles quadros antigos de homens e mulheres importantes, momentos em família, cavalos, jardins, os mesmos jardins que até hoje circundavam o castelo; crianças, bebês... não importava o que foram, mas que agora, todos ali já estavam mortos.

Talita olhou para um quadro que mostrava um homem com seus trajes de montaria. Ficou observando e o quadro ganhou movimento. Ficou perplexa, e não conseguia desviar os olhos. Ela via nitidamente aquele homem cavalgando rápido sobre um cavalo branco. Só despertou quando Nicolas deu um sacolejo nela.

— Talita. – sussurrou.

— Pssssiu. Não falem... – Daniel advertiu.

Enquanto o grupo descia as escadas, no andar de cima, Mano sentia alguma vibração diferente naquele corredor. Perto dele um casal de japoneses aproveitava aquele clima misterioso pra se agarrar.

Clarisse estava tomando ar perto da janela. Apenas Mano escuta, a princípio, batidas fracas em uma das portas. Ele se aproxima e ouve uma vozinha baixa e chorosa:

— Open the door, please. Open the door! (“Abram a porta, por favor. Abram a porta”.)

Aos poucos as batidas na porta vão ficando mais altas. E a voz também, mas não muito. Só o suficiente para que os outros três hóspedes olhassem naquela direção.

—Open! Open the door! Please! I wanna get out! (“Abram! Abram a porta! Por favor! Eu quero sair!”)

Os três ficam arrepiados. Mano logo põe a mão na maçaneta.

— Ei! – Clarisse fala apavorada. — Você não tá pensando em abrir essa porta né? – Os japoneses estavam completamente paralisados com a situação.

— Claro que estou! – Mano diz, com um sorriso. Acabou de girar a maçaneta e a porta se abriu, rangendo.

A voz para de choramingar e uma luz vem saindo de lá. Era uma vela, segurada por uma menina, uma criança vestida com uma camisola estranha. A luz da vela destacava ainda mais sua palidez. Ela foi andando, olhando pra eles sem piscar.

— I want to get out of here! (Quero sair daqui!)

Ela desvia o olhar pro lado de Clarisse, que chega pra trás assustada... Clarisse vai se afastando apavorada. A menina olha fixamente para ela. Mas então pára de frente à janela, sobe e se joga.

Os três gritam, completamente desesperados com a cena. Já Mano parecia fascinado. A menina se jogou no pátio interno do castelo.

— Ai meu Deus! O que ela fez? V-você que soltou ela de lá! Você é o culpado! – gritou Clarisse pra Mano.

Os japoneses estavam histéricos. Viram a criança pular da janela altíssima do 2º andar, direto para o chão do pátio. O medo e o pavor corriam em suas veias. Mano correu até a janela e confirmou o que suspeitava.

— Ela sumiu! Sumiu! Não está lá embaixo! – olhava e sorria esquisito.

Os outros três o acompanharam e viram que lá embaixo não havia vestígios de nada vivo. Nem morto. A luz das tochas era fraca, mas seria impossível que a menina estivesse lá embaixo e não vissem nem o seu vulto. Nem houve nenhum grito. Nada.

— Eu quero ir embora daqui! Eu quero ir embora! Por favor, me tire daqui desse lugar. – Clarisse pedia pra Mano, aos gritos.

Mano resolveu voltar. E como tinha treinamento de escoteiro, não se perdia tão fácil quanto os outros. Ele levou os outros três pro saguão, mas por dentro ele se sentia incrível por presenciar aquela manifestação de um fantasma tão de perto.

.

Na hora que a menina fantasma assustou os hóspedes, os que estavam na pinacoteca ouviram gritos estridentes vindos do andar de cima.

— Que foi isso? Um perguntava para o outro. Logo foram repreendidos por Daniel.

— Vocês querem atrapalhar o repouso dessas almas? – mas Daniel também estava preocupado. — Esperem aqui que eu vou lá em cima pra ver o que aconteceu.

Agora tudo tinha ficado absolutamente silencioso. Todos estavam até com medo de respirar pra não fazerem barulho, pois agora estavam sozinhos ali.

— Quem foi que riu? Quer parar! – Fabiane sussurra.

Uma risada macabra soou pela sala, o som vinha da direção dos quadros. Todos perceberam. Começaram todos a falar juntos, apavorados, e outras risadas foram ouvidas. A agitação tomou conta do lugar.

— Isso tudo é coisa da mente de vocês! – Nicolas tenta acalmar os colegas. — É só o medo que está fazendo vocês ouvirem coisas! Não há nada aqui!

Enquanto todos se agitavam e começavam a falar mais alto, uma gargalhada atravessa a sala e um imenso quadro cai da parte mais alta da parede.

As pessoas subiram gritando pelas escadas escuras, deixando velas caírem no chão, pondo o hotel em risco de um incêndio.

Daniel já tinha entendido o que havia se passado no andar de cima. “Maldito Félix! Onde ele se enfiou? E o Martin?”. Daniel tinha percebido que a porta de um dos cômodos trancados estava aberta. E isso só podia ser uma pessoa, ou melhor, alma. — Nina...

Daniel queria saber quem foi o estúpido que destrancou a porta. Mas sabia que Nina também tinha seus meios de destrancar aquela porta. Mas de repente Daniel foi surpreendido por uma onda de pessoas correndo apavoradas em sua direção. Ele recuou pra dentro do cômodo aberto e deixou a maioria passar. Estavam tão apavorados que corriam pelo corredor escuro mesmo.

Daniel voltou correndo pra pinacoteca. Ainda viu os últimos a subirem e passou por eles, mais preocupado com o estrago que fizeram. Ele desceu. As velas se apagaram todas ao mesmo tempo. Daniel começou a falar alto:

— Calma! Acalmem-se! Eu sei que estão com raiva, mas temos um trato! Se é que querem continuar nessa parede, ou poderão virar uma fogueira.

Daniel dá as costas e volta pro andar de cima, pisando duro. Foi atrás dos hóspedes. Mas eles já tinham arrumado um jeito de se enfiarem em seus quartos.

Daniel então viu que não tinha mais o que fazer. Estava irritado com o fim tão rápido do passeio. “Já vi que vai levar mais tempo do que eu pensava pra me livrar desse povo. O que será que passa na cabeça de uns viajantes desinformados que escolhem um hotel assombrado para passarem uma temporada! Sorte deles que o Demétrius não está aqui.” Teria uma boa conversa com os dois amigos depois.

Daniel sobe para seu quarto.

No andar de baixo Martin finalmente aparece, acompanhado de uma japonesa gata. E é recebido por três apavorados hóspedes e um maníaco.

— Obrigado por deixar seu amigo sozinho com a rapaziada. Valeu franjão...

Mano tira um sarro com Martin, que obviamente não gosta.

— Com licença, senhor. Aconteceu algum problema lá em cima?

— Aconteceu uma parada muito louca, tá ligado! Foi uma das coisas mais incríveis que eu já vi!

Clarisse intervém. — É Martin, você tava muito ocupado, né. Mas vou fingir que nem vi. Sabe, ainda estou sem chão por causa daquela menina. A garota apareceu do nada e saltou a janela. Depois sumiu! Você tem que ir lá ver o que aconteceu!

O casal de japoneses agarrou Martin pelo paletó e repetiram a mesma frase em japonês, mesmo sem conseguir entender o significado, dava pra ver que estavam histéricos.

— Já entendi. Tá olha, já ouvimos muitas histórias parecidas aqui. E, acreditem em mim, o melhor que vocês podem fazer é voltarem para os seus quartos e dormirem.

— Hahahahahaha- Mano dá uma gargalhada que ecoa pelo saguão. — Agora que estava ficando bom você vem cortar o barato? Tenho uma idéia melhor... vou dar uma volta sozinho pelo hotel.

Martin não pode impedi-lo, porque o mesmo subiu as escadas correndo e sumiu na escuridão.

— Ele é o culpado! – Clarisse resmungou, com os olhos arregalados. — Se ele não tivesse aberto aquela porta, a garota não tinha saído.

— Vocês precisam é dormir. Sleep. Sleep...

Clarisse até aceitou, mesmo um pouco contrariada. Pegou sua vela e virou-se pra Martin.

— Será que ao menos poderia me levar até o meu quarto.

Martin fica tentado, mas a japonesa ainda estava ali do lado, esperando ele resolver a situação.

— Bom, eu não vou poder agora. Mas deixa, vou pedir pra um funcionário te ajudar. – chamou um ajudante, que a acompanhou muito à contragosto até o quarto.

Enquanto isso, num jardim longe dali...

— Gosta de mim? Mas como assim? – os olhos de Bia se fixaram nele. Estava surpresa e curiosa. Tinha ficado feliz com o que tinha acabado de escutar.

— S-sim, quer dizer, gosto... Gostei de você desde a primeira vez que te vi. Quer dizer, te admiro. Sabe, uma garota bonita, simpática e que gosta de ler. – pela primeira vez Bia viu aquele sorriso encantador de perto. Era incrível como ele era bonito sorrindo assim.

— Sinto-me feliz de saber. Eu também “gostei” de você.

Eles se olharam dessa vez sem tentar disfarçar o interesse que ambos sentiam.

Bia volta o olhar para sua boca, e pôde reparar bem de perto seus lábios. Félix segura suas mãos e as levanta, levando os lábios até elas, e beijando-as.

Sentiram um suave arrepio percorrer seus braços e Félix acabou ficando desconcertado e rapidamente voltou com as mãos dela pro lugar, envergonhado.

Olhava pros lados pra disfarçar, e de repente eles vêem uma mulher com roupa antiga azul clara e renda branca, com chapéu, andar em direção a outro jardim mais adiante.

Onde será que ela vai, e por que está vestida assim?

— N-não é melhor não saber.

— Vamos pra lá. Aqui está garoando. Vou ficar toda molhada. E lá tem uma cobertura.

— É melhor ficar molhada.

— Mas como assim? Não acredito que você disse isso. – Bia fechou a cara.

— Ah, não... desculpe. E-eu me expressei mal. Não quis dizer isso, eu quis dizer que era melhor ficar molhada do que ir pra lá.

— Não me convenceu. Está escondendo alguma coisa? – ela cruzou os braços.

— Não, nada a ver. – mas sua cara condenava.

— Então me leve lá.

— Tá. Tudo bem. Mas... Você tem que me prometer que não vai tocar em nada.

— Prometo.

— Por mais que você ache bonito.

— Tudo bem. Prometo. Agora vai, me leva lá.

Andaram até o outro jardim, que não era muito longe dali. Era estranho, pois o jardim era cercado por uma imensa grade ferro. Estava fechado e muito escuro. No alto das árvores podiam ouvir os pios de muitas corujas. Árvores de troncos retorcidos.

— Pra onde foi a mulher?

— Ah, sei lá. Deve ter ido embora. Quer voltar?

— Claro que não. Pera. Você tá com medo?

— Por você, sim.

Ela riu pelo nariz. – Não entendi.

— Olha atrás de você.

Bia se vira lentamente e força a vista pra enxergar o que estava escrito em uma placa.

“Keep Away. The Death Garden” (Fique longe. O Jardim da Morte)

— Que horror! – ela sentiu medo dessa vez. — Quero sair daqui.

— Ótimo. Vamos embora.

No caminho de volta, Félix contou pra ela que aquele jardim se chamava assim, porque só havia plantas venenosas lá. Letais e poderosas. E algumas tinham flores lindas, mas letais.

Bia suspirou fundo. Seu pensamento se encheu de imaginações. Imagina se alguém louco entrasse ali... e envenenasse todos.

Félix quase lê seus pensamentos.

— Beatriz. Pode ficar tranquila. Ninguém tem acesso àquele jardim.

— É bom que ninguém saiba mesmo. E aquela mulher? Ela entrou lá! Como ela conseguiu?

— Não se preocupe com ela. Não tem como ninguém entrar lá, eu te garanto.

Sendo assim Bia se conformou. Mas esperava que não tivesse ninguém curioso o suficiente para entrar lá. Apesar de saber que tinha.

Voltaram conversando pelo caminho. Félix recitava algumas citações de livros, algumas poesias e a encantava com isso. Só não teve coragem de ir além e dizer que o tipo de gostar que ele se referia era mais do que admiração.

No meio do caminho eles se deparam com uma carruagem que vinha a mil. Ao avistar Félix o cocheiro para e troca algumas palavras com ele em inglês. Bia entende uma parte da conversa.

“Vão embora... uma criança pulou a janela... sumiu...”.

Dentro da carruagem o casal continuava assustado. Bia sentiu o pânico no olhar deles. E levavam malas. A carruagem entrou em movimento e pela velocidade que ganhou a ponte estava prestes a subir. Ela não conseguiu ver, a carruagem sumiu na escuridão. Logo depois ouviram o ranger da ponte.

— Pra onde eles foram?

— Foram embora. Sabe, Bia. Eu te disse antes, gosto de você. Gosto muito de você. E não quero que fique em perigo lá dentro.

— Quanto mistério! Por que eles foram embora?

— E-eu não sei. – mentiu. — Só vou saber quando chegar lá. – mas Félix resolveu apertar o passo, pois sabia que Daniel a essa hora devia estar querendo seu pescoço. Segurou a mão de Bia e sutilmente foi puxando-a mais rápido.

Daniel estava em seu quarto com a encomenda que tinha pedido mais cedo. Uma caixa de madeira, do tamanho de uma caixa de sapato, com fecho. Pegou-a, abriu e balançou a cabeça afirmativamente. Estava pensativo. Fechou a caixa novamente e travou.

Foi direto para o quarto de Julie. Olhou bem para o corredor e quando se certificou de que não havia ninguém, entrou.

Seu coração acelerou ao vê-la tão perto...

~POV Daniel

“Sei que meus métodos não são lá muito aconselháveis. Mas aqui estou eu, no seu quarto, vendo-a dormir tranquilamente, graças a mim. E até agora não sei se o que vou fazer está certo. Eu queria uma prova, porque conhecendo bem o meu oficio, sei que ela está blefando agora, ou quando preencheu seu questionário. Mas o que valia para o Hotel era o que estava escrito. Eu não concordava com aquelas palavras dela. Apesar de teimosa, não tinha visto ela ser arrogante em nenhum momento. Não combinavam com seu jeito doce e alegre. Acho que, encantadora é a palavra certa. Ou era, até a hora em que eu estava a caminho do labirinto...

Foi muito estranho. Eu estava pisando nas nuvens. Acho que eu estava feliz, não me lembro bem como é isso, sentindo-me mais leve. E, quando vi, já estava discutindo com ela, dentro daquela gruta. Só me dei conta de que era ela quando olhei bem no fundo de seus olhos. Não sei por que fiz aquilo. Tudo ficou confuso.

Enfim, não sei quem é ela de verdade.”

Daniel andou até a beira da cama e olhou pra garota. Ela estava dormindo profundamente. Serena até demais. Teve a sensação de que ela não respirava. Ficou apavorado.

“Será que exagerei no sonífero?

(Sim, ele tinha pedido à Lady Susana, que levasse água com um sonífero. Assim, ela dormiria profundamente e ele a pouparia de mais sustos por aquela noite. Depois de ter visto a reação de Julie horas atrás, teve certeza de que ela estava com medo o tempo todo. Olhou com bastante atenção pra ter certeza de que respirava. Ficou aliviado ao ver seu peito se mexer.).

Ela só não admite. Então... Às vezes penso que ela estava blefando no questionário. Isso é bom pra mim, mas ruim pra ela.”

Se ele não provasse o contrário a reação de seu chefe poderia ser a pior de todas, pros dois.

Não era só por orgulho. Ele era obrigado a zelar pelo renome do hotel. Ninguém nunca havia saído de lá decepcionado.

E ele estava ali, com algumas horas pra decidir se provaria de uma vez por todas que tudo não passava de uma grande mentira da garota.

Colocou a caixa ao lado da cama, no chão. Sentou-se na cama e pegou sua mão. Em seu coração um sentimento profundo se espalha. Olhar pra ela lhe fazia bem. Era tão bom quanto dar um abraço em alguém com saudade. Ainda era capaz de sentir tudo isso, mesmo depois de tantos anos.

Ela tinha dormido com a roupa que estava no jantar. Apenas tinha tirado as botas. Daniel esticou as mãos e tocou em seus cabelos, ajeitando algumas mechas. Ela nem se moveu. Parou os olhos em seu decote de gota e se lembrou de tê-la beijado ali antes. Entrelaçou seus dedos e se lembrou do momento em que ela pegou o violão e tocou a música que ele tinha cantado apenas uma vez, naquela manhã. Certamente tinha sido importante pra ela, e, no entanto, sem que ele se lembrasse de ter feito nada, ela agora o desprezava. Por quê?

Não podia deixar isso assim.

Eu não posso deixar que a única garota que gostei em todos esses anos fique com ódio de mim. Não posso, não vou ser capaz de machucá-la por causa de um blefe em um questionário. Não sou tão estúpido. Sei que vou dar um jeito de resolver isso. Porque agora eu já não sei se consigo me afastar dela.

Olhou pra sua mão e só então percebeu a aliança. Isso revirou seus sentimentos. Uma raiva de saber que alguém tinha algum espaço em seu coração lhe invadiu.

~FIM DO POV

Um barulho na maçaneta o surpreende e ele corre e se esconde.

No meio da madrugada e por uma infeliz coincidência, Nicolas entrou no quarto. Aparentemente bêbado e só de cueca.

Daniel ficou louco. Não queria saber se o garoto era noivo ou não. Ele não podia toca-la e pronto.

Nicolas entrou falando.

— Boa noite, bebê. Vim aqui pedir dessss-culpa pelos meus erros.

Daniel revirou os olhos. Além de tudo o garoto entrou com um discurso de bêbado.

Nicolas nem desconfiou que estava sendo observado. Sentou na cama no mesmo lugar que Daniel estava antes e se debruçou sobre Julie, roubando um beijo melado.

Ela não se mexeu.

— Que isso amorzinho. Vai me maltratar agora. Eu vou te pedir perdão de joelhos.

Nicolas se ajoelha e dá uma cambaleada. Apoiou-se na caixa que estava no chão. Olhou pra caixa demorando a perceber o que era.

— Hum... é a caixa que o Klaus ia me mandar ... vou levar lá pro quarto, depois eu volto.

Daniel franziu a testa. “Ai mais essa agora! O imbecil tá achando que essa caixa é dele. Vai ter uma bela surpresa”.

Nicolas se esqueceu de Juliana ao se lembrar da encomenda de Klaus e logicamente de seu padrasto. Saiu do quarto com a caixa, trocando as pernas e foi pro seu quarto.

Daniel correu até a porta, tirou um chaveiro do bolso (que tinha cópias de todas as chaves) e trancou o quarto dela por dentro.

Aquela visita inesperada aumentou o seu desespero de não deixar Juliana escapar de sua vida. Era forte demais o que sentia e faria qualquer coisa pra ficar com ela.


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Notas finais do capítulo

O que tinha na caixa? Daniel vai continuar cismado com a Julie? Coisas estranhas aconteceram ou é tudo armação do hotel? u.ú



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