Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 17
Capítulo 17 - O Hotel Nunca Mais Será o Mesmo.




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– Tá bom! Se você quer que eu diga que eu não tenho medo, eu digo: NÃO TENHO MEDO! NÃO TENHO MEDO DE NADA! NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ! Agora vai me deixar sair?

– Claro que sim. Pode ir. Tome uma vela... – Daniel abaixou e pegou uma vela das que estavam no chão e entregou pra ela. – Sabe como voltar daqui?

Julie achou estranho ele ter ficado tão calmo, tão de repente.

– Não... mas, eu só preciso chegar até a escada. De lá eu sei seguir.

– Claro. Eu te levo até a escada. – ele assoprou as velas e todas apagaram, menos a de Juliana.

Ela estava morrendo de medo, mas o que mais queria agora era sair dali.

Daniel levou-a até a escada e ficou parado ao pé da mesma. “Eu posso sentir, quase tocar o seu medo no ar. Mas ela continua sendo arrogante.” – Daniel pensava.

– Julie. Se precisar de mim, basta me chamar uma vez, eu te encontrarei. – Daniel fala calmamente.

– Eu sei me virar bem. – Julie disse isso, mesmo com uma tristeza presa no peito.

Subiu as escadas já chorando. Não podia se lembrar do que Débora contou.

~flashback

– Não é nada do que você está pensando. – Julie disse pra Débora. – Ele só quis ser agradável.

– Sim! Eu sei! Geralmente o Daniel sabe ser bem agradável. – sorriu, mas depois desfez o sorriso. – Esse é o velho truque do violão.

Julie arregalou os olhos, e ficou esperando Débora terminar.

– Aposto que ele te mandou um bilhete também, dizendo palavras românticas. – Débora sorri ao ver que Juliana concordava com esse fato.

– O Daniel faz isso com todas. Ele é muito sedutor. Você não vê o jeito que as garotas olham pra ele? Mas ele gosta de escolher suas próprias vítimas. No caso, você. Você é a mais nova da lista.

“Como ela sabe do bilhete? Como o Daniel ousa fazer isso comigo? Ele vai acabar com meu noivado e depois...”

Como se adivinhasse os pensamentos de Julie, Débora continuou... – Depois que você se entregar pra ele, vai ser tarde demais! Quando ele perceber que você está nas mãos dele, vai te desprezar pra sempre!”

– Essas palavras foram um golpe! Era tudo o que Juliana temia.

E Débora tinha inventado essa história logo depois que Daniel colocou o violão no quarto de Julie. Ela entrou lá e leu o bilhete, inventando então essa pequena vingança contra ele.

~flashback off

Julie andava mais ou menos rápido pelo corredor, desviando seus pensamentos pra esse assunto.

"Então tudo o que ele faz é só pra conseguir seduzir as mulheres. E eu fui me apaixonar logo por ele. Ele não pode saber disso, não posso falar a verdade, que o que eu sinto é tão forte assim!"

– Daniel, você nunca vai saber que estou apaixonada por você! – Julie pensou alto.

A vela se apagou no mesmo instante que ela disse isso. Não tinha vento, não tinha como isso ter acontecido. Ela congelou de medo. Aquele lugar era muito sinistro e ela estava sozinha ali (ou pelo menos achava que sim). Foi andando na mesma direção, com passos curtos, totalmente tensa.

A escuridão a rodeava. Olhava pro lado de fora das janelas, apenas o breu. Se arrependera amargamente de ter ido para aquele lado. Mentalmente rezava baixinho, pedindo proteção ao seu anjo. Começou a ouvir passos e vozes... pareciam ser os hóspedes circulando por perto. Logo depois viu que realmente eram os hóspedes, carregando velas para a ala dos quartos. Isso lhe deu um pouco de coragem.

Um golpe de vento surgiu do nada e apagou as velas de todo mundo. Logo virou uma confusão de vozes falando e pedindo ajuda. Na escuridão total Julie foi na direção em que estavam, pé ante pé. Cada passo um frio na barriga. Foi chegando perto de onde vinham as vozes, até reconhecer algumas. Mas também tinha a voz de vários japoneses falando sabe-se lá o quê.

– As trevas chegaram! – alguém gritou.

– Cala essa boca! – outro respondeu

Viram duas pessoas subirem com tochas para o andar em que estavam.

– Desculpem o imprevisto. Aqui acontece essas coisas às vezes. Seria bom que andassem com um isqueiro.

Os dois funcionários, Martin e Débora chegaram ao grupo e justificaram a situação.

– Pensei que o show já ia começar! – Mano comenta com uma voz sinistra.

Julie correu e se juntou ao grupo, mas sem que seu noivo e Cia a vissem ali. Já sabia a direção até o quarto e não queria conversar com ninguém sobre os últimos acontecimentos.

Bia estava mais preocupada com a amiga do que o próprio Nicolas, que parecia distante o tempo todo.

– Quem tiver horário na sessão do nosso cinema, terão 20 minutos pra se apresentarem no saguão. Aos demais apenas lembramos que faremos um tour para conhecer as dependências do castelo às 23:30h.

Bia não assistiria o filme e estava escuro para ler. Decidiu ir até o quarto da amiga, pra ver como ela estava. Ao sair do quarto e se virar pro lado do quarto de Julie, dá de cara com Nicolas saindo de lá. Bia chega perto dele:

– E aí, Nic. Como ela está?

– Ela está dormindo. Não tive coragem de acorda-la. Está num sono pesado.

– Ah, então vou deixar pra ir lá amanhã. Você não está achando que estão muito distantes não? Afinal essa viagem era pra comemorar o noivado de vocês. Ou não era?

– Acho que depois que eu conversar com ela amanhã, tudo vai voltar ao normal.

– Ainda bem que você é otimista. – Bia diz, já saindo. – Tchau. Boa noite.

5 minutos antes de Nicolas ir no quarto da noiva, alguém havia batido na porta e ela atendeu, ficando espantada:

– O-oi, a sra aqui? O que houve?

– Vim trazer água pra você. Meu chefe pediu que fizesse esse favor todas as noites. – disse a senhorinha que era da confiança de Daniel.

– Ah, sei! Muito obrigada, não precisava se incomo...

– Tome, senhorita. – estendeu a bandeja pra ela – não gosto de ver meu chefe triste.

“Ele bem que merece!” – Julie pensou.

– Vou aceitar, mas é por você. Entendeu, não por ele. Obrigada pela gentileza.

Julie entrou. Estava com sede, apesar de não ter admitido pra senhorinha. Pegou um copo, encheu e tomou. Depois olhou melhor e viu que havia um bilhete na bandeja. Pegou o bilhete e aproximou-se da vela para conseguir ler.

“Quebre regras, perdoe rápido beije lentamente.
Ame de verdade, ria descontroladamente e nunca lamente nada que tenha feito você sorrir..."

– Vinícius de Moraes. – ela sorri. Estava com os olhos meio embaçados.

Chegou até a cama pra tirar os sapatos. As pálpebras estavam pesadas, ela pensou:

“Vou deitar só um pouquinho pra descansar...”

Assim que se deitou, caiu num sono profundo.

Tão profundo que não viu o que se passou naquela noite...

Na sessão de cinema havia umas 20 pessoas. Talita não marcou pra Julie ir com Nicolas de propósito, como era de se esperar. E como se não bastasse marcou para ela ir no tour da madrugada, conhecer o castelo.

Chegaram na sala de cinema, era moderna, bem diferente de todo o resto do hotel. Além de ser filme em 3D , a sala tinha outros recursos, como jogar fumaça, aumentar o ar-condicionado ou aquecedor, para terem a sensação de estarem mesmo no filme. Borrifavam também aromas como perfumes especiais: cheiro de grama, chuva, sangue...

Mas eles não sabiam disso. Pra todos os efeitos assistiriam um filmezinho épico, comendo pipoca, balas, essas coisas.

Logo na entrada perguntaram pela pipoca. Não tinha. Entraram e sentaram-se um pouco decepcionados. E se o filme fosse chato. Logo se surpreenderam com uma voz do alto-falante dizendo pra colocarem o cinto de segurança. Isso era diferente e um pouco assustador. Pra que teriam que fazer isso?

A cadeira se movimentava em alguns momentos do filme, para dar mais realidade à cena.

Talita pediu pra que Nicolas segurasse suas mãos. Ele pegou sua mãos e segurou bem forte. Ela olhou pro outro lado. Na mesma fileira, na outra ponta, estava sentado o esquisitaço que ela não suportava. Ela se virou rápido antes que ele pudesse fazer alguma gracinha.

Passaram alguns traillers assustadores, macabros mesmo. De fazer arrepiar até a corajosa Juliana Spinelli do formulário.

Mas o filme era uma história de aventura na era medieval. O sonho de 10 entre 10 jogadores de RPG. (o que não incluía obviamente Talita) E uma máquina do tempo levaria o personagem principal aos campos de batalha. E o filme se detinha a esses detalhes. Pessoas sendo decapitadas, toda truculência de uma batalha. Cheiro de sangue na sala de cinema. Efeitos de 3D em que os guerreiros partiam pra cima dos espectadores com uma adaga ou espada afiadíssimas. Cabeças que rolavam pra fora da tela, um frio insuportável, gritos desesperados. Gente sendo esmagada até a morte. No fim, um mar de sangue e corpos jogados pelo chão.

No chão do cinema escorria um líquido gosmento e cor de carne... cheirando a sangue. Talita não viu graça nem vantagem nenhuma em ter assistido aquele filme. Estavam todos tão passados que o filme acabou e acenderam algumas tochas que davam uma aparência sinistra ao lugar. Talita levou um escorregão naquele líquido com seu salto fino. Caiu sentada e se manchou toda, ficando com cheiro de sangue e toda manchada. Ela entrou em pânico. “Quem merecia estar passando por isso aqui era a Julie. Que ódio” ela falava pra si mesma.

Nicolas logo a ajudou a se levantar, segurando-a pra que não caísse de novo. Saíram de lá em péssimo estado. A sala estava aquecida e do lado de fora gelado.

Bia dormiu um pouquinho antes de ir pro tour noturno pelo castelo. Aliás, ela achava aquilo totalmente desnecessário, àquela altura do campeonato. Tinha achado o lugar muito bonito de dia, mas de noite dava pavor. Mesmo assim se levantou e acendeu mais alguns candelabros pro quarto ficar mais iluminado, sempre tomando cuidado para não deixar a vela perto da janela. “Melhor não duvidar”. Nisso se lembrou do livro que tinha sumido. Resolveu descer e procurar o rapaz do hotel que ficou de dar uma olhada se tinham encontrado. Colocou uma roupa mais quente e desceu para o saguão absolutamente escuro, esperando encontrá-lo.

Félix estava no saguão, por sorte. E enquanto isso o pessoal que saiu da sala de cinema passou em direção aos quartos. Bia foi até ele e não reparou nos comentários que faziam.

Félix se levantou imediatamente quando a viu. Fechou rapidamente um livro que estava sobre o balcão. Ela chegou perto dele num pulo.

– Eu vim saber se... –ela viu o livro que tinha perdido sobre a mesa por trás do balcão. – Ahhh que bom que achou! Onde estava?

–Este livro? –

– É! – sorriu. – O que há? Fica tão estranho quando chego perto.

– É que... bom, eu... não sei porque isso acontece. – deu um sorriso envergonhado.

– Bom, posso pegar o livro então?

– Claro, claro. Gostei muito da parte que...

– Ah, você estava lendo? – sorriu.

– É... curiosidade. Imagina, mas eu já ia te entregar.

– Não, então pode terminar de ler. Eu te empresto. Mas não demore.- eles deram uma breve encarada, muito discreta.

– Eu agradeço. A Srta. Bia, é muito gentil. Se quiser pode levar esse outro aqui pra você ler enquanto isso. – ele tirou um outro livro que estava debaixo do balcão.

– Hum... “Outono de Sonhos” . Você já leu? – perguntou interessada.

– Já li. Pena que é o volume 1. Os outros ainda não foram lançados.

Bia dá uma rápida lida na sinopse. Ah, gostei, adoro romances. Obrigada pela gentileza. Tentarei não demorar.

– Demore o tempo que quiser. – Félix nem acredita que disse isso. Poderia soar como uma cantada, pensou.

– Você é uma graça! – ela apertou a bochecha dele, sem cerimônia. – Vou subir, tentarei dormir...

– Ah! – Félix tenta inventar uma desculpa. – Sabe, é que... vai começar o tour pelo castelo, daqui a pouco.

– Ah... eu sei! Mas, não estou a fim de ir. Sabe, aqui é um lindo lugar. De manhã.

– Então, que tal você ir conhecer um lugar incrível fora do hotel. – ela não percebeu que ele estava aflito para que ela não voltasse pro quarto.

– Um lugar do lado de fora a essa hora? O que é?

– Só te falo se você disser que vai. – falou fazendo suspense.

– Ai, tem certeza que é legal? Porque estou muito desconfiada desses eventos do hotel.

– Claro que é. Sou eu que estou convidando. Não te colocaria numa furada.

– Tá, tudo bem. Vamos que hora?

– Espera só um minutinho que eu já volto. – ele foi atrás de Martin e falou que ia tirar a garota dali. Pra ele segurar as pontas sozinho. Em seguida voltou pra falar com ela. – Vamos!

– Parece que estamos fugindo! – Bia ri da situação.

– É mais ou menos isso. – Félix falou deixando-a ainda mais curiosa.

– É longe? – Bia pergunta.

– Uns 10 minutos caminhando rápido.

– Aqui fora tá superfrio! Vamos congelar.

– Pode usar meu sobretudo.

– Mas e você?

– Eu não sinto frio. Quer dizer, não tanto. Já me acostumei.

Ele pegou algo no bolso do sobretudo.

– É bom usar isso aqui! - Tirou duas toucas ninja e falou pra ela colocar. Depois lhe entregou o sobretudo.

– Ah... ótimo! Minha pele sempre fica queimada com a friagem. Tem certeza de que não vai sentir frio? Se quiser eu vou lá dentro pegar um casaco...

–Não! Imagina! Não precisa... eu to bem.

Ele apenas sorriu.

Andaram por quase 20 minutos, até chegarem a um jardim com banquinhos e algumas árvores.

– Então é aqui? – Bia pergunta meio surpresa, esperava algo BEM MAIS impressionante.

– É... esse jardim é especialmente para ser visto à noite. Pena que hoje não tem luar, nem céu estrelado. E ainda por cima está com essa cerração baixa.

– Bom. E aí? – ela arqueou as sombrancelhas.

– Agora vamos entrar no jardim. – deu a mão pra ela que foi andando junto.

O jardim estava florido. Flores raras.

– Essas flores somente nós dois veremos. São orquídeas noturnas. Foram plantadas a alguns meses. E estão desabrochando hoje, pela primeira e última vez.

– Sério, coitadas. São tão bonitas. Mas se estão desabrochando hoje, porque não estarão aqui amanhã?

– Não estarão. Elas estarão mortas pela manhã.

Bia ficou assustada. Era estranho pensar que as flores durariam tão pouco.

– Nossa. Que ruim isso. Pra que plantaram?

Aqui nós só plantamos flores noturnas. Nesse jardim.

– É-eer... Félix. Nós já podemos ir. – ela falou. Sentiu –se um pouco triste com aquilo.

Mas Félix não queria que ela voltasse pro hotel aquela noite, enquanto pudesse distraí-la.

– Ah, é que... sabe, na verdade eu também tenho algo pra te dizer...

Bia se volta pra ele. Olha à espera de uma resposta. Foi ficando um silêncio constrangedor. Félix não tinha a menor idéia do que ia dizer, mas disse isso pra que ela esquecesse o papo de ir embora. Mas tinha que dizer alguma coisa. Só que a única coisa que ele poderia falar era sobre o quanto ele tinha gostado dela.

– É que eu ... acho que.... estou gostando de você. - disse no desespero, deixando Bia também sem palavras.

Enquanto isso, Daniel estava em seu quarto, quando ouve alguém bater.

– Espera! Já vou. – ele se preparava para mais um tour noturno, colocando seu traje todo preto.

Abriu a porta e um funcionário perguntou a ele.

– Sr. trouxe o que você pediu. Onde quer que eu coloque?

– Pode deixar ali em cima da cama.

– Sim, senhor.

O cara saiu e Daniel deu uma olhada pra cama pra conferir se estava tudo ok.

– Hum. Dessa de hoje você vai escapar, Juliana. – e deu um sorriso torto.


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