Desejos escrita por Vivian Sweet


Capítulo 16
Capítulo 16 - Entre o Céu e o...


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos reviews... : ) essa fic é pra embolar a cabeça de todo mundo mesmo, inclusive a minha...
Pensem com carinho na seguinte pergunta:Vocês gostam desse suspense entre os dois, essa confusão?



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Tinha certeza de que o formulário era da mesma pessoa que ainda hoje havia dito:

“Eu NUNCA iria nessa programação. Eu morro de medo dessas coisas.”

“ Estou ficando com medo.”

“E agora para porque você já está me assustando!”

“Quer me matar de susto?”

Essa era a questão... “Por que ela está agindo como se fosse uma medrosa? Ela não é! Eu mesmo li suas respostas!” – pensei.

Enquanto isso, Julie se arrastou até o banheiro e fechou a porta. Foi tomar um banho.

Daniel ainda sentiu um impulso de espiá-la no banho. Mas ignorou esses pensamentos e saiu de lá. Deu alguns passos e viu os outros hóspedes subindo, sinal de que Felix e Martin já tinham chegado. Ele era o responsável pelo hotel na ausência de Demétrius. Passou pelas trigêmeas que lhe deram uma bela encarada.

Logo em seguida vieram Fabiana e seus três amigos. Cumprimentaram-no e continuaram falando.

“Nossa. Você viu que, quando a gente passava, algumas pessoas faziam o sinal da cruz e se escondiam?”

“É... pode até ser coincidência, mas que foi estranho foi." – um dos rapazes respondeu.

Daniel estava ouvindo. Já era um bom sinal de que estavam percebendo essas coisas.

Quando estava quase chegando ao final do corredor, passaram por ele: Nicolas, Talita, Bia e mais atrás Mano. Cumprimentaram-no também. Bia falou baixinho com Nicolas:

— Não vai falar com ele sobre a troca de quartos?

— Não to com cabeça pra isso agora. – disse Nicolas, desanimado.

— O dia foi longo né, Nic. – Talita fala com ele, com um sorriso de satisfação.

Bia fica irritada. Desse jeito ele perderia fácil sua noiva para o rapaz irresistível que estava interessado nela.

“Não vou me meter. Deixa o destino encontrar o seu caminho.” – pensou. Pediu licença pros dois e se adiantou para seu quarto.

Nicolas e Talita ainda não tinham feito as pazes totalmente.

— Nicolas eu quero falar com você sobre o transtorno que eu causei. – disse Talita, falsamente arrependida.

— Olha Talita. Nada do que você me disser vai mudar o que você fez! Você tem que falar é com a Julie, pedir desculpas pra ela e ir até a gerência esclarecer o que fez, pra não causar mais problemas pra ela!

— Eu farei isso – admitiu vencida – assim que puder. – sorriu.

Mano foi pro seu quarto cantarolando:

"Is this love, is this love, is this love, is this love that I'm feeling..." – na vibe do Bob Marley.

Jamel foi correndo falar com ele.

— Ei, – ele olhou pra trás – me deixa tirar uma foto daquela moeda que você ganhou? Posso?

— Ah! Ela não está mais comigo.

— Poxa, você deu pra quem?

— Não dei pra ninguém. Eu joguei na fonte.

Ela olhou admirada.

— Ora! Pensei que não queria jogar.

— Eu não queria mesmo, devolvi e tal, mas ela voltou pra mim. Então acho que foi coisa do destino mesmo. – sorriu estranho.

— E o que foi que pediu?

— Nada demais. – sorriu e se calou. Ficou olhando pra ela com uma cara estranhíssima então ela disse tchau e apertou o passo pra sair dali.

Daniel foi procurar Félix e Martin, no caminho encontrou Débora indo na direção da ala dos hóspedes.

— Aonde você vai?

— Indo fazer o que você mandou: procurar um serviço. – sorriu forçado.

— Hahaha... Como estou rindo! Preciso de você mais tarde. Depois da sessão de filme.

— Ahhh. Bem mais tarde...? Gostei! Estou livre essa noite.

— Eu não vou precisar de você a noite toda! Só mesmo pra ajudar num serviço.

— Olha Daniel, um dia você vai ver o que está perdendo! – ela passou a mão no ombro dele e se despediu, piscando lentamente.

Daniel deu graças a Deus que ela foi embora. Não suportava Débora. Ela sempre se metia em tudo o que não era chamada. Desceu as escadas e viu que Félix estava no hall de entrada.

— Daniel! O que deu na sua cabeça? Por que saiu correndo daquele jeito?

— Lembra o que você me falou sobre aquela fonte há dois dias?

“ Acho que você não devia brincar com aquilo, pode ser perigoso... E você também sabe que tem que ter cuidado com o que você deseja... Sabe por que com você não dá certo? Porque você só vive debochando de tudo. É por isso!”

— Lembro! Eu te disse pra não brincar com aquela fonte! Mas você nunca acreditou em mim! Mas espera! Isso não tem nada a ver com a sua fuga transloucada naquela carruagem... certo?

— Errado! Tem tudo a ver!

— Você tá meio estranho, viu... Tá diferente...

— Estou amando... – disse suspirando, olhando pra longe.

— Pois você devia é se desculpar com a garota! Isso não se faz!

Mas Daniel pensava era no que aconteceu no dia em que foi botar as coisas em ordem no labirinto pra chegada dos novos hóspedes.

— Naquele dia eu entrei na gruta. Nem peguei as moedas de lá, como eu sempre fazia. – sim, ele sempre saqueava a fonte. — Joguei uma moeda e nem ao menos xinguei. – ele falava os nomes mais escabrosos possíveis, achando que era ridículo acreditar naquilo. — Mas dessa vez, eu só joguei as moedas e fiz um pedido. Pra mim era a última e única vez que faria aquilo.

— Hum... – Félix olhou pra ele preocupado. — E me conta o que foi que você pediu.

— Ah, se eu falar... O que acontece? – Daniel perguntou.

— Basicamente: corta o efeito.

— Então não posso contar.

“Não vou contar que pedi pra encontrar um amor verdadeiro e que estou cansado de ficar com a pessoa errada”.

— Então é porque você quer que aconteça!

— Com certeza. Na verdade já começou a acontecer.

“Mas, se eu soubesse que era a tal da Juliana Spinelli, isso não estaria assim”.

— Sei... Você como sempre falando coisas que a gente não entende. Só posso te dizer uma coisa: de ontem pra hoje você virou outra pessoa. – Félix disse a ele.

— E eu estava tão feliz de manhã que dava até pra desconfiar... Comecei a me sentir estranho quando estava chegando ao labirinto.

Ele se lembrou de que, do nada, começou a ficar irritado: o velho e rabugento Daniel de sempre.

Félix insistia no assunto: — E ficou pior depois de saber que a garo...

Nesse momento ouviram ao longe um som de violão. Os olhos de Daniel se acenderam e seu coração disparou. Um sorriso involuntário apareceu nos seus lábios.

— É ela... – murmurou.

— É “a princesa destemida”! – este infeliz comentário fez Daniel fechar a cara, mas continuou prestando atenção na música.

“Eu nunca pensei que iria me apaixonar, mas eu olhei pra você e vi tudo mudar...”.

— A voz é linda... e doce. – Félix comentou.

— É linda, doce... E estou louco por ela...

— Dá pra perceber! – Félix disse. — Mas... Me diz uma coisa: quando sai o casamento?

— Que casamento? – Daniel fala.

— Ué, o dela com o boyzinho irmão da insuportável.

— Estava demorando pra falar alguma coisa estúpida. Eu não vou desistir tão fácil, viu. Eu encontrei a garota da minha vida e não vou a deixar passar assim e ir embora.

Invisível pra você... por mais que eu me esforce...

A música parou de repente. Os dois se entreolharam.

— Ué! Por que será que ela parou?

— Não sei! – Daniel achou estranho. — Vou lá em cima dar uma olhada.

Quando estava chegando ao andar de cima, ouviu a música recomeçar.

Eu nunca pensei que iria me apaixonar...

Daniel ficou todo empolgado. “Preciso vê-la, preciso falar com ela, preciso ouvir de perto essa voz... não consigo parar de pensar nessa garota”. Quando chegou em frente ao quarto dela, a porta estava um pouco aberta. Ele olhou pela fresta e viu-a tocando e cantando o refrão:

— Invisível pra você... Por mais que eu me esforce, é isso que eu pareço ser...

Quando olhou para o lado, seu sorriso se desfez por completo. “Esse panaca está lá dentro! Isso não é certo!” – pensou, morrendo de ciúmes e raiva.

Quando Julie havia começado a tocar, Nicolas, que estava no quarto ao lado, foi correndo para o dela. Pediu pra ela recomeçar a música que ele adorava.

Depois de cantar toda a música, sendo observada por Daniel às escondidas, Julie puxou assunto com Nicolas.

— E quando é que a gente vai ter aquela conversa?

— Ah, amor. Eu acho que só amanhã. Tô morrendo de fome e com um pouco de dor de cabeça. A gente podia tomar o café da manhã juntos e depois conversar.

— Ah, isso é, se não tiverem marcado nada pra mim. - ela foi sarcástica.

— Eu falei com a Talita. Ela vai te pedir desculpa e esclarecer a situação.

— Essa eu pago pra ver. Não acredito nisso! Não acredito em você também! Disse que ia resolver o problema dos quartos e pelo visto vou passar mais uma noite aqui.

— Se quiser venho passar essa noite aqui com você... – roubou um beijo. Pra ela foi como se estivesse beijando um poste. Não sentiu nada, nenhuma emoção.

Daniel fulminava Nicolas com o olhar.

— Não é falta de companhia, Nicolas. É falta de atitude sua! Dá um basta nessa sua irmã. Ela se mete demais na nossa vida.

— Ela não vai mais incomodar a gente.

Ele agarrou a noiva e lhe deu um beijo, que ela mal retribuiu.

Mas Daniel depois de ver isso foi ficando com mais raiva ainda. Precisava fazer alguma coisa. E teve só um impulso: começou a socar a porta do quarto com raiva.

Nicolas deu um pulo assustado e correu pra abrir.

— O que foi? O que tá acontecendo? – ele perguntou.

— O jantar será servido daqui a meia-hora. – foi sua desculpa.

— Nossa que susto! Precisa socar a porta assim? – Julie veio falando, mas deu de cara com Daniel, que olhava pra ela enfurecido. Ela ficou de todas as cores possíveis. Por fim, só conseguiu dar um sorriso amarelo.

Nicolas ficou olhando pra ele com cara de poucos amigos. – Nós dois vamos descer juntos: eu e minha noiva.

Daniel olhou Nicolas de cima até embaixo. “eu poderia jogar você daqui de cima, seu merda” e desviou o olhar pra Julie, um olhar de ciúmes. Ela gelou com aquele olhar. “O Nicolas vai perceber, e eu estou ferrada!”

Uma voz interrompeu os dois:

Era Félix. — Com licença, hmmm. É que eu gostaria de confirmar a reserva da sala de cinema do Sr. Nicolas Albuquerque e da Srta. Talita...

— O quê? – Julie cruza os braços esperando alguma explicação de Nicolas. A saia-justa estava formada. Na frente de dois estranhos Nicolas tinha que dar satisfação pra noiva.

— Julie, nós conversamos depois.

— DEPOIS QUANDO? Quando você tiver um tempo pra pensar em mim? – gritou indignada e entrou no quarto batendo a porta com força.

Félix percebeu o quanto foi inconveniente e pediu desculpas pra Nicolas.

— Não, imagina. Você não tem culpa de nada. A Julie está certa, a culpa é toda minha. – ele baixou a cabeça. — O filme é sobre o quê?

Daniel ainda estava olhando - “Nossa! Que cretino! E ainda consegue pensar em filme!” - balançou a cabeça em desaprovação. Mas ficou preocupado com Julie. Pela sua reação estava bastante aborrecida. Ele saiu de lá sem ninguém perceber.

Félix continuou falando com Nicolas.

— É um filme independente muito bom: “O Cavaleiro dos Tempos”... A história de um jovem muito corajoso que se torna um cavaleiro e ao descobrir uma máquina do tempo vai parar nos campos de batalhas medievais.

_ Hum... Parece bom! – os olhos dele brilharam. —Não posso trocar a Talita pela minha noiva?

— Não podemos fazer trocas na programação sem autorização, Senhor.

— Eu preciso conversar com algum responsável pelo hotel sobre esses contratempos da programação.

— Perfeitamente. Amanhã o senhor pode procurar o subgerente para explicar isso melhor.

— Que horas será o filme?

— Logo após o jantar.

— Está confirmado então. Com licença, vou me arrumar. – saiu e deixou Félix parado na porta.

Depois de se dar conta de ter levado a porta na cara, Félix virou-se e deu de cara com Beatriz saindo de seu quarto. Ele ficou totalmente desconcertado. Se pudesse abriria um buraco e pularia dentro. E o que mais temia aconteceu: Bia veio falar com ele.

— Oi! – ela sorriu. — Eu estava mesmo querendo falar com um de vocês.

— C-comigo? – Félix diz apontando pra si mesmo.

Bia ri. — É pode ser você. Sabe, é que eu não to encontrando um livro que eu estava lendo. Talvez eu tenha deixado por aí. Então se você encontrar e puder guardar pra mim, eu agradeço.

— Qual é o nome do livro?

— O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë.

— Ahh... Eu sei qual. Vou olhar pra você. Quer dizer... Vou olhar o livro pra você.

—Eu entendi. – riu achando graça do jeito dele.

— Então está certo, senhorita.

— Obrigada.

— De nada. – mas ele tinha que inventar um assunto pra prolongar aquele momento. — Mas, pra onde a senhorita vai agora?

— Eu estava descendo para o jantar.

— Ah, eu te acompanho. Deixa-me levar esta vela pra senhorita.

— Não precisa ficar me chamando de senhorita. – sorriu. — Meu nome é Beatriz. E o seu?

— Félix. É um prazer, Beatriz.

— Me chame de Bia... Se preferir. – sorriu pro rapaz lindo, fofo e educado que estava ao seu lado.

Os dois desceram conversando.

Julie tinha voltado pro quarto e sentado na cama onde estava tocando. Sentia-se perturbada e sem graça. Nunca pensou que Daniel apareceria assim ali na sua porta. Era estranho, mas tocar aquela música pro Nicolas já não era tão verdadeiro assim. Nem foi ela que o chamou, ele veio e já chegou se sentando na cama. Grande viagem de noivado essa!

Resolveu sair do quarto sozinha e descer pro jantar.

Abriu a porta, não viu ninguém. Já estava escurecendo, então teve que pegar uma vela. Andou alguns metros e, de repente, uma mão gelada segurou no seu ombro. Ela se virou imediatamente.

— Oi! Você é a Juliana? – sorriu misteriosamente a moça linda de cabelos ondulados e olhos grandes que estava à sua frente.

— Sou eu sim. – disse surpresa.

— Por acaso eu ouvi você tocando... Prazer, Débora. Você Eu trabalho aqui. – estendeu sua mão.

— Prazer, Julie. – sorriu e ficou olhando pra ela esperando o que queria.

— Parabéns. A música é linda.

—Obrigada, mas, olha, vai direto ao assunto. Acho que você está querendo me falar alguma coisa.

— É, Julie. Eu preciso te falar algumas coisas sobre a pessoa que te deu esse violão...

Todos estavam na antessala de jantar, menos Julie. Havia uma mesa de entradas que os hóspedes atacavam. Finalmente foram chamados a se sentarem na enorme mesa da sala de jantar. O local estava iluminado apenas por luz de velas. E ninguém conseguia enxergar muito bem o que iria comer. Os nomes foram colocados nos lugares já determinados. Nicolas estava numa ponta e Julie estaria na outra... se tivesse chegado. Talita ficou de frente pra Nicolas e do lado dele estava Mano, que não parava de olhar pra ela com um olhar perturbador. Usava uma maquiagem pesada e cabelos arrepiados. Ela nem tinha reparado que seus olhos eram castanho-claros. Bia ficou no lugar ao lado de Julie. Entraram alguns garçons com suas bandejas e a única coisa que sabiam falar em português é “Está servido?” Nem dava pra enxergar a comida. Tinham que arriscar.

Quinze minutos depois, todos estavam servidos e saboreando a comida local. Bem diferente, mas deliciosa. De repente Julie adentra o salão escuro. Bia chama sua atenção e aponta a cadeira ao seu lado. Ela vem caminhando com um violão na mão, senta-se ao lado da amiga, totalmente indiferente a tudo. Parecia triste.

Os garçons entraram correndo na sala. Foram todos pra cima da garota com suas bandejas misteriosas.

Ela se serviu só de dois pratos, que sequer quis saber o nome.

Ao vê-la, Nicolas se levantou e foi correndo até sua cadeira.

— Estava preocupado, amor. Bati na porta do seu quarto e você não respondeu.

— Não foi nada, eu... Acabei dormindo. Perdi a hora. – fechou a cara. — Por que você está tão longe?

— Não tive culpa, amor. Os nomes já estavam escolhidos. Você acha que eu te deixaria longe de mim?

— Acho. – não adiantava Nicolas falar com ela. Ele sabia que teria muito trabalho para convencê-la a fazer as pazes.

— Eu vou voltar pra lá, amor. Depois te vejo.

Julie deu um sorriso forçado e triste.

Enquanto Nicolas sai, Mano aproveita pra deixar Talita sem graça.

Ele pega uma garfada de couve com molho de queijo, leva até a boca, mas não come. Apenas mostra sua língua pra Talita.

Ela arregala o olho. Sua língua tinha dois piercings e era bifurcada. Talita vira o rosto e ele fica achando graça, e então põe a comida na boca.

Nicolas sentou-se ao lado dele. Percebeu que estava acontecendo alguma coisa entre os dois. Só deu uma encarada nele, que não estava nem aí.

— Nicolas – ele falou — Você acha que vai rolar um Poltergeist aqui hoje?

— É provável. – foi seco.

— Já era pra ter rolado, né. Essa viagem tá parecendo excursão pra Disney. – ele falou, debochado.

— Vai reclamar com a sua agência.

— Vou... Claro que vou! Amanhã te garanto que tudo vai melhorar!

O que queria dizer que tudo iria piorar bastante.

Bia notou que a amiga estava com o olhar triste e mal olhava pro lado do rapaz de cabelos cacheados.

— Julie, o que foi?

— Uma longa história, amiga. – disse, quase chorando.

Daniel, que estava do outro lado, não tirava os olhos dela. Ela levantou a cabeça e viu seus lábios finos cerrados e os olhos desconcertantes em cima dela. Abaixou a cabeça de novo. Levou umas três garfadas à boca e parou. Não conseguia comer mais nada.

Julie se levantou e chamou a atenção de todos.

— Boa noite! Eu trouxe esse violão para fazer uma breve apresentação para vocês. Espero que gostem. – chegou mais para o centro da sala, perto de um candelabro que iluminava melhor o seu rosto. Colocou sua perna na cadeira da cabeceira e apoiou o violão em sua perna.

— Essa canção não é minha. É apenas uma canção bonita sobre uma pessoa que está péssima por dentro.

Começou os acordes melódicos, e foi cantando cada verso com toda sua emoção, versos que ela nem imaginava como tinha conseguido memorizar.

"Como dói perceber que o fim chegou tão depressa e eu nem tive tempo de provar pra você... que eu poderia ser o seu maior segredo...".

Os olhos de Daniel imediatamente brilharam. Tinha vontade de sair correndo e chegar perto dela. Em algumas partes Julie olhava em sua direção. E Nicolas pensando que era pra ele. Como Daniel não tinha cantado a música toda, ela também teve que parar.

As pessoas aplaudiram e ela agradeceu. E pediu licença para sair. Disse que estava muito cansada. Mas ao passar para a antessala, saiu correndo chorando. Daniel viu e deu um jeito de sair à francesa. Estava muito preocupado.

— Julie! – Daniel gritou ao escutar um choro vindo do andar de cima, então subiu correndo. Encontrou o violão jogado na escada. Ele se abaixou e pegou. De dentro dele caíram vários pedaços de papel. “O cartão que eu dei.” – ele pensou, chateado.

Quando deu por si, não ouvia mais barulho de choro. Sua intuição dizia que ela tinha corrido até a escada onde se conheceram. Estava tudo escuro. Julie tinha subido sem levar nenhuma vela.

— Julie! Julieee! – ele pegou uma vela e acendeu, colocando num candelabro pequeno. Era melhor seguir para aquela direção, que seria muito pior. Nem estava lembrando que a garota não tinha medo.

Por algum motivo, Julie não estava tão preocupada com o lugar naquele momento. E sim com sua tristeza depois de descobrir tudo o que o rapaz queria. Ela tinha tirado as botas pra não fazer barulho. Estava ouvindo a voz dele chamando longe. Não queria que ele a descobrisse. Mas pro seu azar era justamente pra lá que ele seguia e, com a vela, logo a encontraria. Ela olhou a sua volta, pensando numa saída. Só então reparou onde estava. A escada lhe dava calafrios. O coração estava na boca, podia senti-lo batendo forte. Começou a descer os degraus. Foi descendo, descendo e estava tudo em completo breu. Só ouvia sua respiração e ao longe o rapaz chamando seu nome. Foi tateando pela escadaria abaixo. Podia sentir o ar ficar mais pesado. Um golpe de ar gelado passou por ela e desapareceu. Isso a fez arrepiar. Ficou parada escondida ali. Quieta.

Daniel foi até o final do corredor. Sentia que ela estava por ali. Podia até sentir seu perfume no ar. Mas se ela descesse mais do que devia, podia ser muito pior.

— Julie! Julie! – Daniel a chamava.

Ela ficou calada. Não queria que ninguém a visse ali. Olhou mais adiante e seu coração gelou. Estava vendo uma luz vinda do andar de baixo, parecia uma vela. E um barulho de passos andando lentamente. Toc, toc, toc. Julie tentava enxergar alguma coisa e não via nada. Só aquela luz. Uma porta se abriu e bateu com força. Seu coração disparou. O som dos passos vinha em sua direção. Ela engoliu em seco. Parecia que a vela estava flutuando sozinha. Foi se arrastando os degraus acima, mas a escada, de madeira rangeu. E de repente o som de passos parou. Julie ficou apavorada e foi subindo de costas até bater em alguma coisa.

— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!

Julie deu um grito de pavor! Gritou várias vezes... O coração disparou e ela sentiu perder as forças. Caiu deitada na escada. Não dava pra escutarem do outro lado da grossa parede onde ficava a sala de jantar. Ela foi recuperando os sentidos e quando despertou, estava numa sala com algumas velas acesas e uma escuridão pesada além da luz das velas. Um vulto se moveu e ela já ia gritar, quando o vulto se aproximou da vela e ela o reconheceu. Ela não conseguia falar. O medo a paralisou.

As lágrimas escorriam pelo seu rosto quando uma mão fria acariciou seu rosto.

— Calma! Sou eu. – Daniel chegou mais perto e se abaixou perto dela.

Ela tremia muito. E chorava compulsivamente.

— Me tira daqui! Eu não quero ficar aqui mais nem 1 segundo, ainda mais com você! – ela chorava.

— Espera! – ele tentava acalmá-la. — Você não devia ter vindo aqui! Muito menos sozinha! Esse seu noivo nunca devia ter te trazido pra cá.

— Nunca mesmo! – ela elevou a voz. — Já não basta tudo dar errado, ainda tenho que parar num lugar horrível desses!

— Eu vou te tirar daqui. – ele tentou levantá-la, mas ela o empurrou longe. — Está ficando louca?

— Eu já sei o que você quer! – Julie foi dura.

— Agora quem não está entendendo nada sou eu.

— Eu não sou uma dessas que você tá acostumado!

— Não mesmo! Você é diferente! Você é especial! Você é tudo que alguém pode sonhar.

— Mentiroso! Me tira daqui! Quero ir embora!

— Por quê? Está com medo, Juliana Spinelli?

Ela ficou de pé, mas ainda estava muito trêmula. — Que é que há! Por que toda hora fica me perguntando se eu estou com medo? Hein? Tire suas próprias conclusões!

— Não consigo! Tudo fica confuso e sem sentido quando estou perto de você.

Daniel a puxa rápido e a aperta seus braços com força. Sentia um desejo incontrolável de beijá-la, desde cedo. Ela não cedeu totalmente. Tentava fugir do beijo e se soltar. Mas havia uma química muito forte entre eles. Por isso não conseguiam se desgrudar. Beijaram-se. Os beijos esquentavam. Ela usava um perfume inebriante e seus cabelos caiam pelo colo em suaves ondas. Ele tirava as mechas e beijava seu pescoço, orelha, boca... Tudo ao mesmo tempo em que as mãos viajavam por suas curvas. Desceu os beijos para o seu decote em forma de gota, deixando a língua levemente percorrer a sua pele. E sem perceber já estavam desabotoando suas roupas. E ela então se dá conta disso e para de retribuir o carinho. Segura as mãos dele e fala, ainda meio sem fôlego.

— Assim... não dá... pra gente... conversar. – respirou fundo. — Me deixa ir embora.

— Eu vou te levar embora, é que eu não consigo... ficar longe de você.

Eles se olham.

— Então. Era esse o seu grande segredo?

— Do que você está falando?

— Estou falando que você tinha que me contar um grande segredo. Mas eu já sei o que é.

— Não, não sabe. Porque se soubesse, não estaria aqui. Provavelmente não.

Ela olhou pra Daniel e sentiu um calafrio com aquelas palavras.

— Você me dá medo. – Julie diz, realmente com muito medo.

— Não, não dou. Por que você não sente medo, Juliana Spinelli.


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Notas finais do capítulo

Pois é. Que será que a Julie ficou sabendo? Será que descobriu a coisa muito importante que Daniel queria lhe contar?O que acharam desse clima no final? O Daniel ama ou não ama a Julie?



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