Kokoro = Locked escrita por Fur Elise


Capítulo 4
P-P-PERVERTIDO!


Notas iniciais do capítulo

Olha que nome de capítulo lindo, haha.
Como sempre, Neurotic-san muito original.
Desculpe a demora, Uryuu, mas tá ai seu capítulo.
Espero que todos gostem ^^



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Finalmente o seu horário terminara. Luca não conseguia se conter em ansiedade. Tão animado estava que pareceram horas o pouco tempo que fora obrigado a passar ali.

Ele saiu de trás do balcão, desabotoando o colete e tirando os sapatos rápido com um movimento largo dos pés. O cozinheiro o observou se divertindo com sua afobação ao deixar o par de calçados na estante. Ele saiu quase correndo pelo portal largo, trocando a cozinha pelo salão enquanto se despedia de Carlo, da equipe de cozinheiros e dos garçons que continuariam a servir mesas.

Ao entrar na área de alimentação vislumbrou as mesas cheias de clientes, como sempre. O burburinho das vozes era quase insuportável e a correria dos garçons era cansativa até mesmo de se observar

Luca estava tão eufórico com a possibilidade de encontrar Kimiko que nem prestava muita atenção por onde corria e isso acabou por fazê-lo escorregar quando o tênis, não preparado para o piso liso de madeira, sopeou um guardanapo que caíra de umas das mesas. O estrondo que se seguiu ao tombo foi alto o suficiente para que chamasse a atenção de todos que estavam naquela área. Seu corpo tinha sido arremessado sobre a mesa onde duas garotas tomavam milk-shake de chocolate calmamente. O burburinho cessara e todos olhavam para os três, o silêncio tenso só sendo quebrado quando uma das meninas processou o que acontecera.

– AAAAAAAH! MINHA BLUSA! - A garota de cabelos cinzentos e blusa roxa gritou, o tom de voz completamente horrorizado e soando cômico, o queixo apoiado no peito para olhar a roupa manchada pelo marrom do que fora seu milk-shake.

A loira, que estava sentada ao lado da primeira, choramingava enquanto tocava os fios do cabelo liso ensopados com o chocolate líquido, ao qual escorria lentamente de suas pontas para o rosto e busto, encobrindo seus olhos ao qual foram prontamente limpos por uma terceira garota que chegara para ajudar. Luca, que tinha se afastado por reflexo as olhava aterrado e sem reação.

– Me... Me desculpe. - Pediu com a voz baixa e incerta.

Um grupo de garotos que estavam sentados próximos passaram a rir alto e a tirar troça das meninas, que começaram a choramingar e gritar ainda mais alto. Algumas outras pessoas também começaram a rir enquanto algumas outras meninas resolveram ir consola-las e o resto das pessoas continuaram olhando o loiro, esperando uma reação, enquanto este permanecia paralisado e observando-as assustado.

De repente o garoto se moveu, todo desajeitado, aproximando-se da mesa e puxando alguns guardanapos enquanto tentava falar em meio ao gaguejar.

– E-Eu... Me dei-deixem a-ajudar...

Contudo, dada a afobação, ao tentar passar pelo pequeno amontoado de meninas escorregou novamente, desta vez em uma das poça de chocolate que havia no chão. Como reflexo se segurou em uma menina para não se espatifar de cara no chão. Conseguiu por pouco se manter de pé meio torto, o deixando aliviado. Mas os gritos que se seguiram e então uma bofetada forte no rosto que o jogou para o lado sobre uma mesa, o fizeram notar que algo estava errado. Virou-se, vendo em meio as garotas aquela que havia usado para se segurar: Ao fazê-lo segurara a barra superior da blusa que ela usava e baixara esta até a altura do umbigo, mostrando todo seu busto nu (já que estava sem sutiã).

P-P-PERVERTIDO! - Ela gritou enquanto se encolhia para tentar esconder-se, a blusa agora sem elásticos não fornecia qualquer abrigo ao seu peito nu.

Um rebuliço se seguiu: Garotos e homens que estavam em volta vendo aquilo, mantinham-se de olhos arregalados e com a boca escancarada, o espírito pronto para sair por ela, enquanto as mulheres gritavam indignadas.

Luca que continuava jogado encostado na mesa, viu que era a hora certa de correr dali para bem longe. Endireitou-se e com uma mão segurando o rosto machucado, saiu correndo - e vez ou outra derrapando - para fora do estabelecimento.

– ELE ESTÁ FUGINDO!! - Gritou uma garota de cabelos rosa e vários piercings, a mesma que o acertara. - PERSIGAM O PERVERTIDO!!

Luca só pode correr ainda mais rápido e gritar, tanto por perdão como por desespero enquanto um grupo de vinte garotas saíram atrás dele.

~Nyah! Nyah!~

O garoto cruzou as ruas da cidade correndo, as vezes com platéia (bons exemplos os homens que bebiam em bares e pessoas que calmamente andavam pelas calçadas) e outras com absolutamente ninguém por perto sem ser ele próprio e as garotas psicopatas. Suas pernas se moviam como se a sua vida dependesse disso e de sua boca saíam gritos que se repetiam e perdiam-se em meio aos xingamentos vindos das vozes muito mais finas que a dele próprio. Por muito tempo essa perseguição incansável perdurou e em dado momento, quando já não aguentava mais correr e ser alvejado por maquiagens e derivados, deu um jeito de despistá-las ao se esconder em um beco. Quando passaram correndo e gritando pela rua para longe deste, ele esgueirou-se para fora e correu para casa pelo caminho oposto.

Enquanto corria pelas ruas e ofegava, olhou para o horário pelo celular e se deu conta de que já eram quase nove horas, uma hora e meia depois do combinado. Tinha suas dúvidas de que Kimiko ainda estaria esperando-o, podia muito bem ter ido dormir na casa de alguém como sempre fazia.

Chegou na sua rua as nove e quinze. A casa da menina, uma construção de dois andares em um estilo moderno com uma enorme varanda do lado esquerdo, todas as portas de vidro e cheia de janelas largas, estava em completa escuridão, o branco das paredes contrastando com a falta de luz e deixando-a com uma aparência misteriosa, coberta de sombras. Não se ouvia qualquer ruído de seu interior. As pedrinhas que ele jogou repetidamente na janela do quarto dela não surtiram efeito algum no clima da casa.

Luca pensou consigo mesmo no que iria fazer a seguir. Não tinha a menor vontade de ver anime sem ela e ainda era demasiado cedo para dormir. Não era sua intenção deixar aquela chance de estar perto dela escapar sem ter certeza que não havia nem mesmo zero porcento de chance de o programa que combinaram pudesse dar certo.

Convicto disso, saiu de casa e pulou o muro. Uma vez dentro do terreno dos Murakami, seguiu diretamente para uma janela na lateral da casa (que levava à pequena sala de jogos) ao qual era emperrada e por isso nunca era fechada e usou-a para entrar na casa, pulando para dentro num baque surdo.

No escuro, não podia ver mais que as sombras sinistras que os móveis produziam. Não confiava nenhum pouco nos seus pés para andar sem enxergar e temia cair a qualquer momento.

Andou pela casa sem grandes problemas (por incrível que pareça) pois tinha fresca lembrança da disposição dos cômodos e móveis naquela casa, talvez melhor que da sua própria.

Isso até chegar na sala. Enquanto andava tropeçou em um retângulo baixo e macio que se encontrava jogado no meio do cômodo e caiu sobre o sofá. O corpo deu um mortal não-intencional sobre ele e foi parar sobre uma mesinha que sustentava o telefone, esta cedeu imediatamente com o peso, quebrando e produzindo um estrondo alto que ecoou pela casa silenciosa.

Ele gemeu abafado de dor e rolou no chão. Ficou ali parado até conseguir se mexer sendo que as costas doíam como nunca.

Ao se levantar - com dificuldade - notou que a sala estava iluminada pela luz da lua que entrava pelas janelas compridas sobre à escada e se sentiu melhor percebendo que ali podia ver algo. Observou atrás de si a mesa quebrada e um colchão jogado no chão enquanto se espreguiçava. Amaldiçoou o colchão, pois tinha tropeçado nele.

Quando se virou, com intenção de subir as escadas foi surpreendido ao ver uma figura meio baixinha com um objeto grande, comprido e cilíndrico em mãos, recortada contra a luz da janela. Não teve tempo para qualquer reação e aquele mesmo objeto o atingiu na cabeça com força.

– Que... Porra.

A garota vendo que o acertara e este caíra no chão, correu aos pulinhos até o interruptor enquanto gritava:

SEU LADRÃO PEDÓFILO DE MERDA, NA MINHA CASA N-

Ao ligar a luz e se virar, a ruivinha viu Luca jogado sobre o colchão enquanto se contorcia de dor e paralisou por um segundo.

A garota, que vestia um pijama de moranguinhos de alcinha e shorts curto, largou o taco de baseball que segurava e se aproximou correndo afim de socorrê-lo.

- L-L-LUCA, O Q-QUE VOCÊ-CÊ ESTÁ-Á FAZEN-ZENDO INVA-VADINDO MINHA CA-CASA A ESSA HORA? - Ela pediu explicações aos gritos assim que o apoiou no sofá, sentado.

– Eu... PORRA, DESDE QUANDO VOCÊ É TÃO FORTE?? - Reclamou gritando enquanto segurando o nariz que havia sido atingido e que sangrava, tal ferimento lhe dava uma voz esquisita e um aspecto estranho. - Eu só vim ver se você estava em casa!!

– Eu não ouvi nada na MINHA JANELA!

– Eu joguei um monte de pedras!!

– EU TENHO UMA CAMPAINHA. SABIA?

– ...

– ...

– ...

– Venha logo, va-vamos limpar isso.

– Demorou para propôr.

Os dois subiram as escadas rapidamente, Luca seguindo a amiga. Esta entrou na primeira porta do corredor e ele a seguiu. Era um banheiro pequeno e todo branco, limpíssimo. Kimiko havia se agachado bem no meio deste e procurava a caixa de primeiros socorros dentro do armário, tal posição fazia seu shorts curto subir ainda mais, propositalmente ou não. Luca ficou sem graça, mas olhou discretamente e então se viu pensando no quanto ela era bonita.

– Achei. - Ela exclamou, virando-se para ele com um sorrisinho amigável, uma caixa de primeiros socorros nas mãos. - Vem, sente aqui. - Indicou o vaso sanitário, que se encontrava com a tampa fechada.

Luca foi até ele e se sentou e a menina se ajoelhou de frente para ele, entre suas pernas, passando a limpar seus ferimentos e então a tentar fazer um curativo. Kimiko tinha dificuldades com isso, pois nunca se machucava e esse tipo de coisa não a interessava, mas seu empenho mudo encantou o garoto.

– Prontinho. - Ela disse, sorrindo bobamente, reduzindo seus olhos escuros a duas fendas brilhantes.

Ele a olhou por um segundo e então desviou o olhar, corado. Ela ficava muito bem com os cabelos bagunçados, sorriso bobo e vestindo aquele pijama fofo e mesmo assim um pouco indecente. Estava receoso que ela notasse como estava encabulado.

– Pos-Posso... Dormir a-aqui?

Ela pareceu surpresa com a pergunta por um segundo mas logo depois voltou a sorrir amigavelmente como antes, concordando com um movimento de cabeça. Kimiko se levantou, aproximando o rosto dos dois a centímetros por um pequeno tempo e então deixou o banheiro. Luca, atordoado, a seguiu os olhos presos nos pés.

Pensava naquele momento - onde trocava o banheiro pelo quarto da garota - em onde diabos se encontrava o menino louco e selvagem que não ligava para nada além de sanguinolência e baseball, que ele fora a cerca de um ano. Será que aquela garota podia ainda roubar mais algo dele?

– Quer assistir algum anime antes de dormir? - Kimiko perguntou, como sempre, alheia a toda sua supremacia quanto ao garoto.  Esta havia acabado de se deitar na cama sobre os travesseiros, ficando com o corpo meio torto. - Ainda está cedo para dormir.

– Pode ser.

– Qual anime?

– Qual você sugere?

– ... Pode ser um shoujo?

"Shoujo", ele pensou. Ele nunca, absolutamente nunca assistia shoujos. Odiava o quanto os personagens eram bobinhos e apaixonados, mesmo que fosse inegavelmente engraçado. Nunca gostava de personagens que sempre se moviam de acordo com seus sentimentos, que amavam mais que tudo seus parceiros e que a história só se concentrava em dois personagens apaixonados (ou quase isso). Mas surpreendentemente, ele se viu dizendo:

– Tudo bem.

Luca se virou e abriu a janela do quarto da menina, que comemorava enquanto ligava seu computador, e pulou para a um dos galhos da árvore e então para seu próprio quarto. Uma vez lá dentro, pôs o "pijama" (apenas uma calça de moletom confortável) e escovou os dentes, voltando para o quarto da menina.

O anime já tinha sido posto para carregar e no momento só esperava ser despausado. Kimiko sorriu para ele e o chamou, assim que este fechou a janela da varanda, batendo na parte vaga da cama de casal para que ele deitasse. E ele obedeceu, o coração batendo forte no peito.

– Qual o anime? - Perguntou enquanto viam a primeira cena, que se passava no momento em que uma menina baixinha e moe, de cabelos negros, chegava a um conjunto residencial para celebridades.

Inu x Boku SS. - Ela respondeu, os olhos escuros vidrados na tela com um sorrisinho. - Você irá gostar. - Disse lhe cutucando o braço com o próprio ombro, então o olhando com a cabeça meio torta. - Eu juro. - Ela sorriu, deixando seus olhos em fendas brilhantes de novo.

"Ela sabe seu ponto fraco", sussurrava uma voz lá no fundo de sua cabeça. "Talvez ela saiba de mais algo".

"Não se iluda, ela é sua AMIGA LÉSBICA. Conquiste-a primeiro, e depois pense em coisas do tipo. Ela é assim com todo mundo", gritou sua consciência.

E por algum motivo, ele decidiu ponderar aquilo depois, se dando ao trabalho de apenas prestar atenção no anime que Kimiko tinha decidido que assistiriam. Pois, quando ela prometia algo com aquele sorriso, ele sabia que sempre iria se esforçar para fazer exatamente o que ela prometera, apenas para ver outros destes mesmos prêmios em seu belíssimo rosto.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Favoritos? Recomendações? :3

[06/11: Corrigida~]



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