Kokoro = Locked escrita por Fur Elise


Capítulo 3
Nós ainda somos amigos?


Notas iniciais do capítulo

haha, título deprimente. Nada mais deprimente como um título indicando a Friend Zone, mas okay... Aguentem.Minha criatividade virou pasta depois desse capítulo, [indireta] quem sabe a pessoa que é culpada se desculpe por isso [/indireta]Gostem, se não eu mato vocês sem piedade.Até as notas finais ^^'



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"O quê eu faço, o quê eu faço...?", aquela frase era repetida na cabeça de Luca várias e várias vezes enquanto ouvia as vozes distantes de Kiyoko e Bea conversando. Estava complicado, ainda mais porque seu cérebro resolvera dar pane bem naquela hora. Ele e Kimiko ainda estavam encolhidos em seus cantos. Luca sentia seu rosto tão vermelho ao ponto de nem lhe passar pela cabeça a possibilidade de o levantar um pouco. Estava fora de cogitação elas verem seu estado.

– EI, LUCA. - Gritou Bea, assustando-o. - Anote logo o meu pedido.

A vermelhidão de seu rosto foi trocada por uma expressão branco folha. Se aproveitou disso e levantou-se, evitando olhar para a ruiva. Ele não sabia o que faria se a olhasse nos olhos...

– Pode dizer.

Ela concordou e seus olhos baixaram para o cardápio, um pouco curvada sobre a mesa. A sua blusa decotada naquela posição mostravam parte de seu sutiã vermelho com renda.

– Quero uma batata frita grande... Uma garrafa de refrigerante da maior que encontrar... E uma pizza grande de calabresa, outra de queijo e uma última de chocolate. Ah, e me arrume duas barrinhas de chocolate!

Luca arregalou os olhos e encarou a loira, que parecia despreocupada. Ela o olhou de volta e sorriu, deixando os dentes brancos e perfeitos a mostra.

– Vai levar comida escondida na bolsa pra sua família? - Ele perguntou, sem poder se conter. Sem chance que aquela menina ia comer tanto. - Ou vai desperdiçar?

– Eu vou comer tudo, obrigada pela preocupação meu caro. - Disse virando o rosto para Kimiko que ele não ousou olhar.

– Eu vou querer um chá gelado. - A voz da ruiva se fez ouvir, baixinha. - E um sanduíche de frango.

O garoto anotou o pedido também, não a olhando. Ouvir sua voz já o deixava tenso e o peito formigava. Ergueu o rosto e observou Kiyoko e Bea. A loira balançou a mão em sua direção dizendo "xô".

– Primeiro você me força a sentar e então me expulsa? - Ele disse abismado.

– É assim que funciona. - Respondeu. - Eu estou com fome, então me traga logo o que eu pedi. 'Xô xô'.

Ele estava um pouco perplexo pela falta de educação dela mas não estava nem um pouco enfurecido. Poderia lhe dar um beijo por tirá-lo daquela situação tensa. Ele poderia fazê-lo, se não estivesse apaixonado por uma fujoshi que estava sentada naquela mesma mesa. Não se demorou muito ali, escorregando para longe das três.

– O quê houve com você, Luca? - O cozinheiro questionou quando o viu entrar na cozinha, tão aliviado que poderia derreter naquele chão sujo a qualquer momento.

– Nunca amei tanto falta de educação. - Respondeu com voz arrastada e um sorriso esquisito, entregando o pedido à equipe.

O loiro olhou para fora da cozinha pela janela do caixa, que era ocupado por uma garota que mascava chiclete calmamente. Viu as várias mesas ocupadas mas seu olhar se focou na que deixara agora mesmo, que estava novamente animada. Yoko e Bea estavam tagarelando animadamente. A loira tinha se levantado e ido se sentar ao lado de Kimiko ao qual continuava encolhida no sofá com a outra agarrada a seu pescoço. "Será que minha presença é ruim ao ponto de deixá-la encolhida por tanto tempo?", Luca pensou.

Observou em volta distraidamente enquanto perdido em pensamentos, quase caindo sobre a garota do caixa que, por sua vez, o ignorava. De repente, se sobressaltou ao ver algo estranho, que fez sua atenção voltar para a pizzaria na mesma hora: Havia um garoto baixo e gordo sentado em uma mesa próxima à mesa das três, metade do rosto escondido debaixo da aba de um chapéu de praia colorido, uma máscara hospitalar sobre a boca e ponta do nariz e a cara enfiada no notebook aberto; Tudo bem, uma figura estranha, mas o que mais o surpreendera era seus olhares lançados de vez em quando para a mesa onde as três meninas riam. "Que disfarce patético...", ele pensou suspirando.

Saiu da cozinha e andou o mais discretamente possível até se sentar na mesa onde Trevor estava observando Bea. O moreno se assustou com a chegada do amigo.

– Saia daqui, vai estragar meu disfarce. - Ele sussurrou com a voz engasgada, mas parecia querer gritar.

– Esse disfarce chama mais atenção que sem ele. Não seja estúpido. - Luca disse, se levantando e debruçando sobre a mesa, tirando-lhe o chapéu e bagunçando o cabelo. - Tire essa máscara, ela me dá agonia.

– Por que você está aqui? - Perguntou mal-humorado, enquanto tirava a máscara.

– Talvez porque eu trabalhe aqui?

– Aqui na minha mesa, seu estúpido. - Reformulou a questão, virando a cara. Parecia bravo, só faltava o biquinho para comprovar.

– Não vou te deixar passar um mico desses. A garota é meio avoada quando está perto de outras garotas, mas com esse chapéu ela iria te notar.

Trevor era um garoto legal, na concepção de Luca. Inteligente, calmo, normalmente impassivo. Um geek que amava tecnologia. Sua paixão era estudar computadores e desmontá-los para então montar de volta, sendo esse seu maior hobbie. Nunca ninguém veria cara tão responsável e certinho que ele. Isso até ver Bea. Ele sempre fora apaixonado por aquela garota e ela provavelmente nem sabia que ele existia. Mas Trevor nutria esse amor impossível desde o primário, então o loiro acabou se acostumando com o lado apaixonado deste: Imbecil e inconsequente.

– Obrigado, eu acho. - Ele disse, voltando o rosto para Bea. - Poderia me trazer um chá gelado e uma pizza média de legumes?

– Anotado. - Ele sorriu, se levantando. Por enquanto sua ajuda era desnecessária.

Ao passar pela mesa das garotas, Bea o olhou e perguntou da comida com um tom meio azedo. Aquela garota deveria ser uma máquina para comer tanto. Se ele tivesse pedido aquilo tudo de comida, agora estaria é tremendo e morrendo de medo.

Luca foi até a cozinha e Carlo lhe sorriu, mostrando toda a comida pedida na mesa 21 disposta em três bandejas, uma sobre a outra.

– Elas vão conseguir comer tudo isso? - Perguntou o homem preocupado enquanto ele tentava pegar todas as bandejas.

– Isso é comida só pra loira, se eu entendi direito.

O homem arregalou os olhos e foi olhar pela janela do caixa para ver quem era a menina. Ele pareceu ainda mais surpreso ao ver que ela era magra e esbelta, exatamente o contrário do que qualquer um pensaria.

– Tem certeza que não anotou errado?

– Surpreendentemente, tenho.

Luca deixou a cozinha e levou as coisas até elas. Bea comemorou ao ver a comida sendo depositada a sua frente. Para caber tudo em cima da tampa da mesa tiveram de tirar os enfeites e os molhos. A mesa ficou atulhada de coisas: Uma visão tão bonita, como aterrorizante.

– Vou pegar os refrigerantes e as barras de chocolate. Um minuto.

O menino fez menção a voltar para a cozinha mas não pode seguir em frente: A voz que ele mais amava lhe chamou baixinho e ao ouvir seu nome sendo pronunciado por esta, suas costas arrepiaram instantaneamente.

– S-Sim, Ki-Kimiko?

– Nós... Ainda somos a-amigos?

Ele não pode se conter: Olhou para a menina e sentiu seu coração dar um duplo mortal carpado. Ela estava tão linda e corada, o mirando com seus olhos escuros cheios de incerteza por sobre o encosto do sofá. Seus olhos lhe imploravam que desse uma resposta afirmativa, mostrando seu desespero por não ter seu melhor amigo.

Nesse momento, Luca se deu conta... Não podia ficar longe dela por mais tempo. Ela era mais importante que um plano qualquer para tentar tê-la para si. Sua felicidade era mais importante que a sua.

– Claro, Kimi. - Disse sorrindo e bagunçando um pouco seu cabelo em um cafuné carinhoso. - Nunca deixamos de o ser.

Ela fechou os olhos por um segundo com um sorrisinho satisfeito. Enquanto entreabria os olhos, os cantos dos lábios alongaram até formarem um sorriso radiante e dos olhos semicerrados surgiram lágrimas. Ela limpou-as rápido com a manga da blusa antes que tivessem tempo de escorrer pelo rosto.

– Ainda bem. Da úl-última vez que me respon-pondeu a isso, você sa-saiu correndo lo-logo depois.

O garoto se sentiu mal instantaneamente. Fizera sua amiga sofrer por culpa de seu afastamento, causado por motivos egoístas. Ela não sabia de seus sentimentos, a culpa não era dela. E dada a sua reação, talvez sentisse algo por ele e não seria tão impossível assim consegui-la de volta, mesmo que ela nunca tivesse pertencido a ele. Pela primeira vez, se sentiu verdadeiramente animado.

– O quê está acontecendo entre vocês? - Perguntou Kiyoko, já abocanhando sua pizza. - Crise de namorados?

Luca e Kimiko coraram na hora. Ela se encolheu no banco, afundando no sofá até só conseguirem vislumbrar o topo de sua cabeça e ele virou o rosto, coçando a nuca. A morena sempre falava coisas do tipo mas nunca fora tão constrangedor como naquele momento. Pelo menos, nunca fora para Kimi. Mas um pouco de esperança floresceu no peito do loiro.

– Não é nada disso!! - Respondeu ela envergonhada, a voz aguda.

– Olha, resolvam isso depois. - Bea se fez ouvir, a voz em tom rancoroso enquanto mantinha o olhar, que transmitia puro veneno, no garoto. Algo não a agradava. - Vá pegar logo o resto das coisas, antes que eu te arraste pelos cabelos até lá.

Ele a olhou por um segundo, avaliando-a, então decidiu que era melhor ir. A loira sempre tinha aquele olhar antes de socar alguém até quebrar algum dos membros apenas com a força dos punhos e era conhecida por acabar facilmente irritada. Tendo a infância toda e boa parte da adolescência praticado judô, ela era realmente assustadora.

Luca logo voltou com o chocolate e o refrigerante e foi enxotado de novo. Antes de se retirar pode vislumbrar Kimiko, mesmo com receio, e esta sorriu em resposta, agora a vontade.

Realmente, ele nunca mais se afastaria dela! E admitia que fora idiota desde o princípio.

~ Nyah! Nyah! ~

Surpreendentemente, Bea comeu mesmo tudo que pedira. E aparentemente ainda estava com fome. Luca ficou realmente surpreso com o feito, assim como todo mundo em volta. Trevor, que observou aquele apetite todo, chorava internamente por seu futuro salário quando, em seus sonhos, teria de pagar tudo para ela. Kiyoko também não parecia exatamente contente ao observá-la comer vorazmente, crispando o lábio diversas vezes e reclamando que ela demorava demais.

Quando terminaram de comer, as meninas estavam animadas e foram jogar boliche por aproximadamente meia-hora em uma das pistas semi-profissionais.

Das três, a habilidade de Yoko era a mais invejável. Parecia até entediada ao jogar. Lançava a bola e automaticamente se virava, com a certeza que iria derrubar todos os pinos. E, de fato, aquela anormal conseguia. Esse tipo de coisa que correspondia o "boa em esportes" da família Nakamura. Até convidaram-na para jogar com um grupo que iria arriscar uma grana no profissional, o que ela recusou veementemente. Apesar de Kiyoko ser um prodígio no jogo, sem dúvida os lances mais divertidos eram os de Bea, que a cada vez que jogava fazia um passo de dança diferente, desde balé a break. Normalmente acertava quase todos os pinos de primeira. Kimiko que era razoável e tinha a habilidade de qualquer ser humano normal, se via diminuída ao lado das duas anormais, tanto na conhecida altura como em habilidade.

Elas se cansaram de jogar por volta das seis horas e então foram pagar suas contas. Nesse momento, Luca estava cobrindo o caixa. Bea e Yoko falavam animadamente sobre os melhores lances e enquanto isso, Kimiko se aproximou mais do balcão. Como já haviam pagado e estavam indo embora, era óbvio que sua aproximação era com o objetivo de falar algo com o garoto. Bea segurou-a pelo braço quando notou tentando puxá-la para fora mas ao ouvir o pedido da ruiva para que a soltasse, obedeceu a contragosto.

– Luca, quando acaba seu expediente?

O garoto, tomado por uma alegria interior maravilhosa, olhou para o seu relógio de pulso.

– Daqui a meia-hora.

– Pos-posso passar na sua ca-casa mais tarde? - Perguntou, brincando com a barra do vestido. - Eu estou com sau-saudades de ver animes com vo-você.

Ele piscou, atordoado. Esse tipo de pedido era normal mas, mesmo assim, se sentiu deveras contente como se fosse algo especial agora que tinham voltado a se falar normalmente.

– Claro. Te chamo pela janela.

As janelas dos quartos dos dois eram quase encostadas: A dele larga e de correr e a dela com uma varanda pequena. Os dois ou três metros que as separavam eram ocupados por uma árvore facilmente escalável. Luca já perdera as contas de quantas vezes havia pulado pro quarto dela usando aquela rota.

Ela acenou que sim com a cabeça com um sorriso fácil, então se virou andando até as amigas e as três seguiram para fora conversando. Antes de sair, Bea lhe lançou um olhar fulminante bem rápido. Então sumiram porta afora. E naquele momento, o lugar ficara absurdamente sem-graça para o loiro.

Não teve tempo para pensar muito no vazio figurativo da pizzaria naquele momento pois Trevor surgiu a sua frente sem expressão, enquanto os olhos brilhavam em zombaria, avaliando-o.

– Está feliz com a tarde stalker? - Questionou, apoiando a cabeça na mão. Era uma pergunta desnecessária mas queria puxar assunto. - Creio que sim.

– Foi proveitoso. Descobri coisas interessantes sobre Bea. E ainda mais do que antes... Eu quero desposa-la. - Tirou a cara de cu já conhecida trocando por uma de bobo apaixonado enquanto se debruçava sobre o balcão. Luca ficou com receio de que algum dia se parecesse com ele naquele momento. – E agora? Irá fazer o quê?

– Creio que absolutamente nada. - Disse, pegando um copo de martini para lustrar com um paninho. - Ela fica triste comigo longe e eu também, não há então um sentido na distância. Não sei o que fazer...

– Que marica.

– Olhe para você. - Revidou, inquisitivo.

– Ah, comigo nem é mais estranho. - Ele disse ajeitando o óculos. - Agora com você, senhor-fissurado-em-Hellsing, é bastante.

– O quê o fato de eu ser fã desse anime tem haver?

– Nada, nada... - Respondeu, mantendo o tom inocente fingido. - Vou ir na sua casa agora mesmo. Vou falar com a Lia-chan e descobrir o que ela acha dessa sua mariquisse sem limites. - Pegou o dinheiro na carteira e lhe passou, pagando suas coisas.

– Não, não vai. - O loiro disse, botando o dinheiro nos lugares na máquina e então saindo de trás do balcão, passando a empurrá-lo para fora.

– Poooooor quêêê?

– A Kimiko-chan vai lá em casa.

– Mari-

Não ouviu o resto pois já tinha o empurrado para a salinha frontal e fechado a porta.

Luca se apoiou na superfície de madeira e suspirou. Algo era bastante cansativo naquele segredo. Observou a pizzaria cheia de clientes, alheio, pensando em como seria encontrar Kimiko mais tarde e vários pensamentos positivos lhe invadiram. Estava ansioso como nunca.

"Finalmente um pouco de boa sorte", ele comemorou em pensamento, voltando ao caixa e ao copo de martini que precisava de uma boa lustração.


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Notas finais do capítulo

(Esse capítulo foi pra louca da Giulia, espero que tenha gostado ^^')
[30/10/2013: Good Job! Trabalho ter-mi-na-do!]
(22/02/2014: Segunda lida, terminada~)