Kokoro = Locked escrita por Fur Elise


Capítulo 2
Falta de Sorte.


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo ^^
Espero que gostem.



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Luca queria, de alguma forma, ter alguma ideia para como se aproximar de Kimiko e fazê-la enxergar que não gostava de meninas coisa nenhuma e também, que ela percebesse que ele a amava e só seria feliz com ela. Ambos pareciam extremamente difíceis, ou mesmo impossíveis, tanto mais pensava sobre.

Fazia três dias que não falava com ela. As férias de verão estavam indo bem a calhar para mantê-lo afastado enquanto pensava em um plano.

Tinha visto pela janela do seu quarto, no sábado de tarde, Kimi saindo com uma menina chamada Bea. Ela não parecia ser uma boa companhia e rolava boatos de quê ela era lésbica - não que isso fosse um problema. Ele lembrava muito bem que essa mesma menina costumava persegui-la sordidamente na época do colegial enquanto esta voltava para casa. Era mais velha mas não parecia ter ninguém que a interessasse mais que a sua ruiva. Ele inegavelmente ficara preocupado com isso, mas ao ver o estado de Trevor só pode sentir pena.

Seu amigo tinha uma queda pela mais velha desde o primário. Bea não tinha nada a ver com ele, era uma menina difícil de lidar e entender. Trevor era um menino tímido e nerd, que não se destacava em nenhuma coisa que interessasse seres humanos "normais". Enquanto Bea era alta, encorpada e magra, com belíssimos cabelos platinados e grandes olhos verdes ocultos pelos óculos de grau discretos, dançando como ninguém, exalando um charme natural que atraia as pessoas, seu admirador, Trevor, era considerado gordo para a idade e muito baixo, com cabelos negros cortados em forma de meio coco, os olhos azuis - seu maior atrativo - eram escondidos pelos óculos de grau muito grossos e com armação bem aparente. Os dois nunca dariam certo mas ele insistia em nutrir aquela paixonite por ela.

Ele estava em sua casa na hora e, sem querer, Luca comentara sobre aquilo enquanto viu-as saindo. O moreno imediatamente tirou os olhos do seu notebook e olhou pela janela. A proximidade das duas e a forma como riam juntas o deixaram bastante conturbado. Logo depois ele se trancou no banheiro, tentando não chorar alto demais, não conseguindo com sucesso. Isso lembrou a Luca o seu banho sofrido e então se sentiu subitamente mal-humorado, mas caridoso.

Na manhã anterior (uma segunda), tinha ido para o treino de beisebol - ao qual jogava desde que começara o ensino médio e, como agora era seu último ano, queria de qualquer forma levar o time a vitória e levar a taça de ouro pra casa - e foi um completo desastre. Ele, conhecido por seu ótimo desempenho como rebatedor, não conseguia acertar nem mesmo as bolas de baixa rotação. Quando tentou algo diferente, acabou frustrando-se também: Roubo de bases? Impossível. Estava tão avoado que caiu de cara no chão duas vezes. Arremessar nunca fora o seu forte e agora nem era uma opção viável. Luca sentia a pressão que os outros garotos lhe passavam inconscientemente e somado com Kimiko que rondava seus pensamentos, o fez ficar nervoso e não conseguia se concentrar de forma alguma. Foi mandado embora antes da hora pelo treinador, tamanha a decepção que estava causando. Se sentiu mal por deixar os garotos do time desapontados mas não tinha culpa, além de que não era como se acontecesse sempre.

Desde o ocorrido na sexta-feira de noite, não tinha ido para seu trabalho de meio-período - em uma pizzaria que também era uma pista de boliche. No dia anterior tinha fingido estar doente mas agora não podia mais adiar, senão seria despedido - e odiava não ter o próprio dinheiro e ser obrigado a pedi-lo aos pais para comprar jogos, mangás ou materiais que precisava para o beisebol -, então pôs a blusa vermelha de botões e calça social preta, colocando por cima o colete com o logo do estabelecimento, pronto para ir.

Antes de deixar a casa por definitivo, observou a casa dos Murakami por um tempo, da porta de sua própria residência. Estava receoso que a amiga fosse fraga-lo saindo e tentasse acompanhá-lo enquanto ia para o trabalho. Não queria falar com ela por enquanto. Estava receoso de falar besteira e se revelar antes de ao menos formar um plano.

Quando se convenceu que ela não o flagraria, saiu a passos rápidos, andando para o lado contrário à casa dela e deixando aquela rua em instantes. Mantendo o mesmo passo, chegou mais rápido que imaginava ao trabalho. Os garçons já em expediente o cumprimentaram e respondeu não tão animado. Antes de começar a servir as mesas e anotar pedidos, pôs os sapatos pretos sociais anti-derrapantes que esperavam atrás do balcão da cozinha.

O ambiente era dividido em geral por dois ambientes: A área para alimentação, com mesas largas de cor branca que tinham sofás confortáveis de dois lugares em tom vermelho sangue, dispostos em suas duas extremidades mais longas. Tinha cerca de quarenta mesas, em fileiras de dez, com corredores largos para facilitar a circulação e estava sempre com clientes. Para dar uma certa beleza grã fina, haviam espalhado vasos entalhados com plantas exóticas sem flores em pontos estratégicos; A outra área era formada pelas pistas de boliche grupais: Largas, muito bem equipadas e bonitas, cada uma dividida da outra por uma grade dourada. Haviam pistas desde iniciante a profissional e de lá, sempre vinha uma discussão ou outra mas, em geral, muitas risadas e gritos animados. Ambas tinham o piso de madeira envernizada e reluzente derrapante, separadas por uma parede baixa oca por dentro, onde plantaram pequenas flores brancas e vermelhas.

A cozinha ficava na área para alimentação e boa parte dela era projetada para fora do grande quadrado que formava as duas áreas. A entrada ficava do lado oposto a ela e havia ali uma pequena salinha onde disponibilizavam sapatos anti-derrapantes para os clientes, separada do resto por uma porta de correr automática.

Luca, naquele ambiente agradável que nunca o cansava, por curto tempo realizara seu trabalho com um sorriso e esqueceu aquela história toda. Isso até ver nada mais, nada menos, que Kimiko entrando na pizzaria acompanhada por sua amiga Kiyoko. As duas conversavam, Yoko rindo alto e escandalosamente. Ambas se sentaram em uma mesa localizada ao centro da pizzaria.

– Não vai atendê-las? - Perguntou Carlo - o cozinheiro - à Luca quando o mesmo entrou correndo na cozinha.

– Não. Mande outra pessoa.

– O quê houve? - Ele questionou assustado. Luca quase chegava a matar os colegas de trabalho para servir Kimiko quando esta vinha comer por ali em seu horário. Dessa vez ele estava receoso e tenso para fazer isso, algo no mínimo surpreendente.

– Nada! Apenas mande outra pessoa. Vou ficar aqui até elas irem jogar.

– Lamento Luca, mas você está cobrindo as mesas de 12 à 27. Elas estão em uma das mesas que estão à seu cuidado hoje.

O garoto lançou ao cozinheiro um olhar pesaroso e então se levantou, com cara de quem gostaria era de sair correndo e se trancar na dispensa até elas irem embora.

– Ok...

Ele pegou o bloquinho de pedidos e seguiu até a mesa das duas. Naquele momento a pizzaria estava cheia mas ninguém o chamou para atender sua mesa antes que chegasse até onde elas estavam, por isso amaldiçoou a todos que estavam ali em pensamento.

– Luca? - Yoko pareceu surpresa, se inclinando sobre a mesa enquanto apoiava o rosto na mão. - Você não estava doente?

Mesmo sentada, Kiyoko era alta demais para o considerado normal. Sua pele branca estava bronzeada, indicando que recentemente tinha tido alguma partida importante no vôlei de praia, esporte que adorava. Seu rosto era levemente alongado com traços bastante femininos, os olhos claros de cor entre o verde e o azul destacavam em sua fisionomia, assim como seus lábios que formavam um sorriso deslumbrante que mostrava todos os seus dentes enfileirados e branquíssimos. Os cabelos compridos e ondulados em tom chocolate estavam - como sempre - presos em um rabo de cavalo prático, algumas mechas soltas ao lado do rosto. Sua aparência unida às suas roupas (uma camiseta larga branca com alguma menção a um jogo de videogame, short de lycra preta até os joelhos e tênis) davam a impressão que ela adorava jogos; E essa era a mais pura verdade.

– Estava, mas melhorei. - Enquanto a olhava, se sentiu observado e virou o rosto por instinto na direção de Kimiko que, ao notar que foi descoberta enquanto o olhava, virou o rosto envergonhada.

Os cabelos ruivos da menina estavam minimamente presos, os maços de cabelo livres a balançar nas costas mostrando lindos cachos de diversas formas e tamanhos. Seu rosto oval parecia ainda mais frágil quando rubro de vergonha e, somados a seus olhos verdes escuros brilhantes, faziam-na parecer ainda mais uma boneca. Os lábios medianos delineados com gloss brilhante deram ainda mais verdade à suposição. O vestido rosa claro que usava era cheio de detalhes, tanto em renda como em laços com um caimento bonito no corpo ainda meio infantil. Fazia ela parecer uma Lolita, mas estava tão linda como sempre.

– Então... - A morena observou os dois por um segundo, dividindo a atenção, tentando entender o porquê da vergonha entre os velhos amigos. Ela então deu de ombros e recomeçou a falar. - Eu vou querer meia pizza sabor queijo cheddar e parmesão e um refrigeran--

– Kimiko!! - Gritou a inconfundível voz aguda (mas não ao ponto de ser irritante) de Bea.

Ela estava próxima a mesa tão de repente como surgira, e empurrou o garoto para se sentar ao lado de Kiyoko, de frente para a ruiva. Seus olhos verdes cravaram-se em Luca, avaliando-o.

O garoto tinha cabelos loiros próximos do dourado, um pouco compridos demais e desarrumados, os fios caindo por seu rosto e nuca de uma forma que o deixava atraente. O rosto com traços masculinos ainda juvenis, a barba bem feita e olhos de um cinzento azulado adorável, somados a altura razoável, pele clara levemente bronzeada e bom porte físico lhe deixavam bonito. O suficiente para chamar a atenção de várias garotas e - por que não? - alguns garotos. Com um colete ou um casaco aberto e gravata ele ficava irresistível. Pena mesmo que ele só se interessasse por sanguinolência e beisebol, ou talvez já estivesse apaixonado e não quisesse uma substituta.

– Olha se não é o Luca. Sente um pouco! - Ela sorriu ainda mais largo o observando longamente. - Kimiko, dê um espaço para ele!

– Eu... Não... - Ele começou a falar, sem saber ao certo como negar.

A ruiva deslizou no banco, tensa e encolhida, dando espaço para o garoto. Ele não teve tempo de reclamar pois Bea o puxou pelo pulso e ele caiu sentado no banco, meio em cima do colo da amiga. Ambos se olharam bem de perto e tão rápido como fora a queda, se afastaram, cada um até a sua ponta do banco.

"Isso não pode estar acontecendo", ele pensou. "É muito azar pra um garoto só".


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Notas finais do capítulo

Reviews? :3
(29/10/2013: Corrigido. Good Job! *melhor que antes pelo menos -q *)
(22/02/2014: Segunda olhada, terminada).