Again And Again - Fic Interativa escrita por C R Flanne


Capítulo 3
II - Perdas


Notas iniciais do capítulo

Hey people ♥
Hello Drama, bem vindo o/
Pois é, este capitulo está triste e dramático, porque me apeteceu u-u
Comentem ;) E obrigado a todos os comentários no capitulo anterior, e pelas fichas :3



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Anabelle estava sentada a um canto da casa escura e vazia. Uma sensação de abandono apertava-lhe o coração, enquanto lágrimas de sofrimento escorriam-lhe pela cara. O mesmo pesadelo de sempre. A mesma dor de sempre.

A culpa matutava-lhe na cabeça, e ela apenas desejava uma vingança que sabia que nunca poderia ter. O que uma jovem de dezanove anos poderia fazer contra o Capitólio inteiro?

Lembrava-se de cada detalhe daquele dia. Saíra de casa despreocupada. Afinal, teria mesmo que deixar de viver a sua vida por causa da guerra que rebentava à sua porta? Era jovem, destemida, queria viver sem restrições. Jamais pensava em consequências disso.

Estranhou o silêncio mórbido mal entrou em casa, e quanto mais avançava, mais assustada ficava. O pânico atingiu-a quando viu a janela da sala estilhaçada, coisas partidas, tudo virado do avesso. Anabelle começou a correr pelos poucos compartimentos da casa, e se soubesse o que encontraria na cozinha, jamais lá teria entrado.

“Sim, todos mortos. Menos a filha. Na casa dos Scott!”

O cheiro nauseante a sangue parecia-lhe agora tão real como se ela estivesse revivendo o momento. As paredes cobertas daquele líquido escuro e horrível. Anabelle levou as mãos à cabeça, voltando a entrar num choro compulsivo e desesperado, lutando para afastar as memórias dolorosas. A sua mãe que sempre tinha um sorriso resplandecente. O seu pai sempre com um ar culto e bondoso. Os seus pequenos irmãos. Apenas outras vítimas de uma guerra da qual não tinham culpa. E a todos foi-lhes tirado o direito a viver sem dó nem piedade.

A jovem sabia que não poderia ter feito nada para evitar os assassinatos, mas era-lhe impossível não se sentir culpada. Ela desejava ter estado lá e ter morrido com todos eles para não ter que passar por aquela dor.

Belle, como os pais a costumavam chamar, levantou o queixo, secando as lágrimas com raiva. Há três anos que naquele maldito dia era tudo igual. Sua rotina era acordar, chorar, sentir uma ira enorme dentro de si e ir para a Colheita. Desde que a sua família foi dizimada que o seu maior desejo era vinga-los perante o Capitólio. Desafiá-los, fazê-los sentir a sua ira e não deixar a morte dos seus entes queridos passar em vão. O mundo saberia quem era Anabelle Scott. Portanto ela tinha um plano: ia voluntariar-se como tributo.

Levantou-se daquele canto vazio, e um novo sentimento se apoderava dela. Era mais importante que orgulho. Mais bondoso que raiva. Mais bonito que tristeza.

Era determinação. Era esperança.

***

Liam arrancava a corda de uma pequena armadilha que preparara para caçar algum esquilo, embora não tivesse conseguido apanhar nada. Estar ocupado afastava-lhe um pouco o pensamento da Colheita. Não que ele tivesse medo de ser escolhido como tributo. Na verdade, até achava os Jogos uma boa oportunidade para se provar, de mostrar que é melhor que todos. Mas não queria deixar o seu pai.

O Sr. Maggiore já sofrera demais com a perda da sua esposa. Já perdera o suficiente, e certamente não aguentaria se também perdesse o seu único filho. Para além de que o seu pai já estava a ficar velho, e apesar de ter sido ele que ensinara ao jovem tudo aquilo que ele sabe sobre armadilhas, plantas, medicina e outras coisas, Liam era quem os sustentava. Apanhava alguns ratos e esquilos, algumas plantas onde desse para as achar, e vendia tudo isso.

O distrito 2 era onde se fazia mais venda ilegal. Tudo se podia vender e comprar por aqui, apenas precisavam dinheiro. Quantos corpos não se encontravam todos os dias, jogados nos cantos de cada beco sem saída. Clientes que nunca pagaram, vendedores que enganaram. Tudo numa sigilosa rede do mais variado tráfico. Ninguém denunciava. Pois ninguém queria ter que fugir de um distrito inteiro.

O rapaz voltou para dentro de casa, onde ouviu a bengala mal esculpida e podre do seu pai a bater no chão, caminhando na sua direção.

– Vamos chegar atrasados. – falou pacientemente – Vamos garoto, essa será última vez na tua vida que passarás por isso. Já sobreviveste a onze anos disto. Só hoje. – e colocou a mão no ombro dele, dirigindo-se para fora de casa.

Liam abriu a porta, deixando o seu pai passar, e olhou para a casa por breves momentos, como fazia todos os anos. Estava ciente que poderia nunca mais a ver.

Enquanto caminhavam para a praça central, um grupo de garotas passou por eles, e olharam para o jovem, soltando pequenos risinhos tímidos e saindo a correr. O Sr. Maggiore sorriu de canto. Liam era muito parecido com ele, quando era jovem. Alto, musculado, com cabelos rebeldes e loiros, olhos azuis. Muito cobiçado por todas as garotas, mas tal como o próprio pai, não queria saber de nenhuma. Apenas aproveitava a sensação de dar nas vistas e de chamar a atenção.

Mas para Liam, nenhuma garota do seu distrito era boa o suficiente. Não para ele. Por isso limitou-se apenas a cumprimenta-las com um aceno de cabeça sutil e seguir o seu caminho.

Ao chegar ao local onde teriam de se separar, como em todos os anos, Sr. Maggiore abraçou o filho. Mas desta vez foi diferente. O senhor sussurrou ao ouvido de Liam:

– A tua mãe está orgulhosa de ti. E eu também.

Ao separarem-se, o garoto olhou o senhor, se sorriu com um certa nostalgia. Queria dizer-lhe tanta coisa. Que agradecia pelo seu orgulho. Que não sabia o que seria a sua vida se ele não o tivesse criado. Que sentia falta da sua mão. Que ele sim estava orgulhoso do seu pai, por tê-lo feito o homem que era hoje sozinho, sem ajudas de ninguém. Que o amava.

Mas não achou necessidade. Sabia no seu mais profundo íntimo que o seu pai sabia de tudo isso. Só queria ser ele próprio a dizê-lo. “Mas porquê?”, pensou ele. Afinal, quando chegasse a casa teria a oportunidade de lhe dizer tudo o que queria.

Avançou para o seu lugar, observando os rostos à sua volta. Quantas daquelas caras ele já não vira todos os anos ali? E quantas não faziam falta, por terem falecido? O mundo era um lugar cruel e atroz, sanguinário e sem esperança. Uma prisão onde eram forçados a viver.

Logo a cerimónia da Colheita começou, e o pouco ruido que ali havia, morreu. O silêncio era incomodativo, e o nervosismo era visível em quase todas as caras. Depois dos familiares discursos e alguns curtos vídeos nojentos e perturbadores que eram pequenas compilações dos Jogos da outra era, e os dois dos últimos anos, seguiu-se o sorteio. A soldada que veio para aquele distrito possuía uma cicatriz bastante profunda e visível que deu arrepios a Anabelle.

Já não existia uma ordem para se fazer a colheita. Cada distrito, em cada ano, decidia se seriam primeiro os garotos ou as garotas, afinal, ambos iam para a arena na mesma.

– E a tributo feminino do Distrito 2 é… - desdobrou o papel lentamente, e leu o nome – Anabelle Scott!

A ruiva avançou de imediato, com o queixo erguido. O seu plano se concretizara em parte, não da maneira como ela imaginara, mas acontecera! Após as apresentações comuns, seguiu-se o sorteio do tributo masculino.

– E que suba ao palco… Liam Maggiore!

O jovem ficou no exato local, e olhou para trás, onde se encontravam as famílias. Viu o seu pai, boquiaberto. Olhou para o grande ecrã, que agora se focava ora nele, ora em Anabelle, ou no seu pai, de onde se viam lágrimas a escorrer pelo rosto enrugado, que demostrava uma profunda dor.

Liam engoliu em seco e avançou para o palco.

–Não! Liam! Liam! – com os olhos arregalados de horror, o garoto olhou para trás.

O seu pai vinha numa tentativa de corrida, tanto que a meio do seu percurso atirou a bengala para o chão, e continuou. Ele gritava o nome do filho desesperadamente e caiu no chão, enquanto todos o olhavam, e dois Soldados da Paz o seguraram pelos braços. O seu rosto ferido da queda olhava-o, ainda berrando dolorosamente, num choro compulsivo que não conseguia conter. Eles mandavam-no calar, mas ele continuava, e continuava. Liam sabia bem o que poderia acontecer-lhe se não obedecesse.

– Não, pai. Não. – disse firme, tentando conter uma lágrima que queria sair. O seu pai era a pessoa mais importante da sua vida, e vê-lo naquele sofrimento era pior que mil balas.

Mas ele não parou. E tudo o que Liam pode ver era o seu pai parando de berrar e de debater-se, e sangue caindo no chão. O som de um disparo. Ele sendo empurrado para cima do palco. O seu mundo parecia ter parado e tudo acontecia num lugar muito distante. Ele não sentia nada. Estava vazio, tentando assimilar o que aconteceu. Não houve tempo para discursos, não houve tempo para mais nada. Pois Panem parou para ver o sofrimento do jovem, que começou a berrar e a debater-se num choro inconsolável. Era como se lhe tivessem arrancado o coração, e o desfeito em mil pedaços.

Os dois tributos foram arrastados para dentro de um carro, para irem até ao trem. Isto claro, depois de terem dopado o rapaz. Mas apesar de estar agora calmo e calado, ele continuava num choro silencioso. Anabelle olhou-o fixamente por muito tempo, e após muito pensar colocou a mão no ombro dele. Não queria ser sua amiga. Não queria reconforta-lo. Apenas queria dizer-lhe uma pequena frase:

– Eu sei como te sentes.


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Notas finais do capítulo

Comentem amorecos u.ú