Again And Again - Fic Interativa escrita por C R Flanne


Capítulo 2
I - Luxo


Notas iniciais do capítulo

Aí o/ Obrigada pelas fichas *u* Espero que gostem u.ú



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Mais um longo dia nascia em Panem, com a comum mensagem sublimar – Mais um dia perto da morte. -, mas hoje era um dia especial. O dia mais temido do ano. O dia da colheita.

Todos os jovens de oito a vinte anos eram forçados a reunir-se na praça central do seu distrito, à frente da Casa da Justiça, durante horas. Sobre o Sol abrasador, com a sensação de claustrofobia pelo número de pessoas que ali se encontravam, observando os rostos de pena. Quem, daquelas pessoas todas, estaria vivo no próximo ano? Se não fossem os Jogos, seria a fome, ou os trabalhos que cada vez eram mis perigosos, depressões profundas, sede, doenças ou suicídio. Ninguém estava a salvo.

Ver crianças pequenas, oito anos apenas, sendo arrancados dos braços das suas famílias para se juntarem nas filas de possíveis tributos. Nas filas para o matadouro. Isso sim era algo que partia o coração de qualquer um. Exceto, claro, o Capitólio. Afinal, eles nunca passariam por essa necessidade. Jamais seus filhos seriam arrastados, quer estivessem doentes às portas da morte, quer fossem cegos, surdos, mudos, fosse o que fosse, para a frente de uma Casa da Justiça, com o seu nome em bolas de vidro. Jamais eles seriam os porcos para o abate. Eles estavam a salvo.

Enquanto o dia nascia, rapidamente se viam famílias inteiras caminhando para a praça central. A colheita era feita cedo, mal nascia o Sol. Filas enormes de jovens iam naquele momento marcar a sua presença. Ninguém podia fugir aos Jogos. Naquele momento Soldados da Paz estariam revirando casas, verificando se não faltava ninguém. Pessoas à porta da morte não podiam fugir desta vez. Todos contavam. Ninguém passava de números.

O clima era cada vez mais insuportável. Cada vez mais abafador. Soldados da Paz, com armas na mão, encontravam-se em todo o lado, ainda mais que em dias comuns. Se alguém tivesse um comportamento fora do comum, um assobio sequer, levava uma bala na cabeça. E não haveria mais confusões. E todos iam aceitar calados, enquanto Soldados punham o corpo no ombro e desapareciam com ele. Já ninguém era devolvido às famílias. Se morreram, nunca mais ninguém lhes porá o olho em cima. Eles sempre desapareciam.

No meio da multidão, no Distrito 1, um rapazinho de cabelos negros olhava para todos os lados. Ao ver famílias separando-se, com pais abraçando os filhos, e vice-versa, começou a sentir-se enjoado, lembrando-se daquela manhã.

Ele era o filho menos querido da família, o menos desejado, se tivessem tido oportunidade, tê-lo-iam matado mal ele nasceu. Não estava previsto. Era mais uma boca para alimentar. E com os anos, quando o Capitólio voltou a apoderar-se dos distritos, a sua situação ficava ainda mais crítica. Pesar de extremamente novo, assim que tiveram oportunidade os seus pais o colocaram na fábrica de diamantes para trabalhar. Era comum naqueles tempos se verem crianças pequenas já trabalhando para sustentar as suas famílias.

O garoto fechou o punho com força. Achava injusto aquele mundo assim. Não conseguia entender o porquê de não se darem todos em paz. Não conseguia perceber porque haviam os Jogos, porque eles tinham de lutar, porque tinham de morrer. Não conseguia entender o seu mundo, a realidade onde vivia nem a si mesmo. Ele sabia as probabilidades de o seu nome ser sorteado. Era o seu primeiro ano e já pedira quatro tésseras. O seu nome estava lá cinco vezes. Não parece muito, pois não? Mas ainda havia a possibilidade do seu nome ser aquele que estaria no papel lido. O escolhido. O tributo.

O menino lançou um último olhar para a pequena área onde as famílias ficavam, assistindo à colheita e quase todas desejando que os seus filhos não fossem escolhidos. Os carreiristas pertenciam ao passado. Poucos eram os jovens que realmente desejavam ir para os jogos, e nessa minoria quase todos apenas queriam isso para poderem provar-se.

A sua família estava lá. Mas não era por ele. Era pelo seu irmão, Kurt, que já estava na posição mais próxima do pequeno palco. Tinha vinte anos e esta era a última vez que estaria na colheita. A praça ficou por fim totalmente cheia, e um soldado do Capitólio subiu ao palco, juntamente com o presidente do distrito, um homem barrigudo e careca. Disseram o mesmo discurso do ano anterior. E do anterior. Sempre as mesmas frases sobre guerra, indisciplina, de como o Capitólio voltou para impor a ordem naquilo que era um país em ruinas graças aos próprios distritos. O mesmo discurso insultuoso que apenas serviam para rebaixar os distritos e distribuir-lhes a culpa. “Bem vindos à nova era, que não vai ser derrubada. Aceitem os Hunger Games como o pagamento justo pelo mal impingido ao Capitólio, que sempre cuidou com preocupação dos distritos, e foi traído pelas costas. Bem vindos aos Terceiros Hunger Games.”

O soldado, que trazia vestido um fato negro que transmitia importância, aproximou-se das bolas de vidro. Já não haviam mentores, talvez por não haverem, ainda, Jogos suficientes para dar pelo menos um mentor a cada distrito. Após alguns segundos ele retirou um pedaço de papel. Toda a multidão prendeu a respiração. Era como se todos os barulhos do mundo tivessem parado, até o som dos batimentos cardíacos. Todos tinham os olhos no papel.

O menino engoliu em seco. Era o seu nome. Era ele.

- Leo Masey. Vá, mexe-te! – gritou o soldado, impaciente, enquanto todos abriam espaço para o menino passar, dando-lhe olhares de pena, tristeza e encorajamento. Mas ele não se conseguiu mover. Na sua cabeça ainda tentava assimilar o que lhe estava a acontecer. Apenas “regressou ao mundo real”, quando um Soldado da Paz empurrou-o, com uma arma apontada à cabeça.

O garoto subiu ao palco, e deram-lhe o microfone. Ele já sabia o que tinha que dizer. Todos sabiam.

- O meu nome é Leo Masey, tenho oito anos, e orgulho-me de representar o meu distrito perante Panem. – a sua voz saíra sem expressividade, embora ele estivesse à espera que ela saísse-lhe assustada e chorosa.

- Algum voluntário? – perguntou o soldado. Leo olhou para Kurt, que olhou fixamente para o palco. Um minuto. Dois minutos. Três minutos e ninguém se oferecera. Nem o próprio irmão. – Agora as garotas.

O soldado voltou a remexer os papéis, desta vez com nomes femininos. Novamente, todos voltaram a conter a respiração. O menino olhou para todas as raparigas ali. Havia uma grande possibilidade de uma delas o matar. Ou vice-versa, mas ele preferia não pensar nisso.

- Katarina Sulivan.

A jovem com cabelos castanhos caminhou até ao palco, com um ar ligeiramente surpreso, mas mesmo assim de queixo erguido. Os seus olhos azuis se encontraram com os de Leo, não para dizer “estamos no mesmo barco”, mas sim um aviso. Para ficar longe. Para não interferir. Ou ela não teria pena em matá-lo.

- O meu nome é Katarina Marie Sulivan, tenho quinze anos, e orgulho-me de representar o meu distrito perante Panem.- tinha uma voz desafiadora, e de verdadeiro orgulho.

- Algum voluntário? – novamente, ninguém se manifestou – Então uma salva de palmas para Masey e Sulivan, os tributos do Distrito 1. – todos fizeram o que lhes fora ordenado, apesar de ninguém achar que uma ocasião daqueles merecesse palmas.

Enquanto os que estavam a salvo, pelo menos da colheita daquele ano, batiam palmas, os dois jovens que já tinham parte do destino traçado pelo Capitólio davam um aperto de mão educado, e aos poucos foram escoltados para o trem. Não haviam despedidas.

Iam acompanhados de criados do Capitólio, Soldados da Paz, e o soldado que representou o poder no seu distrito. Katarina soltou-se perto de uma janela, observando as gotas de água caindo sobre o vidro. Era assim que ela se sentia. Como se tivesse ido contra algo muito forte e apenas lhe restasse cair lentamente até desaparecer.

Pensou um pouco na sua vida, com uma certa nostalgia. A menina dos papás. Sempre rodeada de luxo, sempre tinha o que queria. Era uma verdadeira princesinha que sempre passou por cima de todos para ter o que queria. Rodeada de rapazes que caiam a seus pés, só fez o seu ego aumentar ainda mais. E ela usaria isso nos jogos. O charme. A petulância. Espezinhar tudo e todos para conseguir o que quer. O seu dom para mentir sem ficar com remorsos. Tudo isso seria tão potente quanto muitas armas.

Esta era a real diferença entre os tributos do Distrito 1. Leo estava pronto para fugir, Katarina estava pronta para perseguir.


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Notas finais do capítulo

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