Again And Again - Fic Interativa escrita por C R Flanne
Notas iniciais do capítulo
Nuss, tou postando um por dia :o Mas não prometo que se mantenha assim u.ú
Espero que gostem *O*
- Olhem por onde andam, loucos! – Roxanne bufou furiosa, para um pequeno grupo de crianças que passavam a correr, nos frios corredores do posto de saúde.
Era ali onde se tratavam todo o tipo de doentes do distrito. Sempre com enfermeiras andando de cara fechada de um lado para o outro, o lugar tinha um cheiro nauseante e moribundo. Era pouco, mas era tudo o que havia por ali. Aquele armazém abandonado, minúsculo e abafado, a cair aos bocados, era uma dádiva para muitos. Quem não tinha dinheiro para os tratamentos não tinha outro remédio. Era esperar pela chegada da morte.
Rox, como a jovem preferia ser chamada, estava a andar numa pequena área reservada para problemas psicológicos. Investira as poupanças de uma vida para colocar lá a sua mãe, que se encontrava numa profunda depressão. Não saía daquele estado apático, raramente falava, e quando o fazia era para berrar desalmadamente depois dos comuns pesadelos que lhe assombravam as noites. Mas o dinheiro acabou e mandaram chamar a garota. Ou ela ia naquele mesmo dia buscar a sua mãe e trazê-la de volta para casa, ou a Sra. Evans seria simplesmente atirada para fora dali.
A garota andava a caminho do quarto onde no meio dos pacientes estaria a sua mãe, quando um médico a barrou.
- Medicamentos custam dinheiro, Evans. E a senhorita deve-o, e não é pouco.
- Eu pago no próximo mês.
- Desculpe, deixe-me falar de um modo mais claro para si. Se a senhorita não pagar até amanhã o dinheiro que nos deve, entregamo-la a si e à sua mãe aos Soldados do Paz. Será que me entendeu desta vez?
Roxanne olhou-o com rebeldia.
- Você não vai entregar uma pessoa doente. Não tinha sangue frio para tal. – disse com desdém.
- Evans, você não sabe do que eu sou capaz. – disse ele, saindo. Mas Roxanne sabia do que ele era capaz. Todo o distrito conhecia a história dos Owen.
Toda a família às portas da morte, internados no posto de saúde. Ele avisara-os que precisavam de pagar. Mas eles já tinham gastado tudo o que tinham, e obviamente nenhum deles estava a trabalhar. Ele contactou Soldados da Paz, e no dia seguinte toda a família foi chicoteada em praça pública, e de seguida todos foram fuzilados.
Ela não deixaria isso se repetir. Após decorar o percurso que o médico fez, ela seguiu-o silenciosamente, e sem medos. Entrou muito discretamente na pequena sala de reuniões para onde ele foi. O médico estava ocupado, fazendo um bilhete. Mesmo de costas era visível o seu sorriso de canto. O bilhete era para os Soldados da Paz.
- Foi um prazer conhecê-lo, Sr. Doutor. – disse ela friamente, antes de espetar-lhe uma longa faca que estava pousada na mesa, nas costas. Viu-o contorcer-se de dor, e arregalar os olhos, enquanto a sua bata suja e o bilhete eram envolvidos em sangue.
Cuidadosamente, ela limpou a pega da faca com um lenço e pegou no que restou do bilhete, desfazendo-o. Não havia provas, apenas um cadáver. Mas era já estaria longe de suspeitas quando o encontrassem. E nada mais a poderia incriminar.
Saiu calmamente e com naturalidade de dentro da pequena sala, fechando a porta, e continuou com essa falsa serenidade pelos corredores.
- Vamos, mãe?
Em menos de uma hora elas já estavam em casa. Apenas aí a adrenalina começou a abandonar o corpo de Roxanne, sendo ela tomada por uma espécie de prazer. Matara alguém e isso soava-lhe natural e bom. “Ele ia morrer um dia qualquer.”
- Arthur… - murmurou a Sra. Evans, voltando a olhar o vazio.
- Ele não está aqui. – a garota sentou-se na beira da cama da sua mãe – Um dia eu vou conseguir dinheiro. Muito mesmo! E voltarás para lá, desta vez com todos os medicamentos que precisares. E quando estiveres melhor voltarás para uma casa grande e bonita, com paredes verdes.
- Verdes? – sussurrou, voltando a ganha rum pouco mais de brilho no olhar. Roxanne sorriu interiormente, notando que a menção à cor favorita da progenitora despertara a sua atenção.
- É, verdes. E vamos ser felizes juntas, está bem?
Ela não respondeu. Nunca respondia. Rox apenas suspirou e saiu do quarto., pois tinha que se preparar para a Colheita.
***
James deu um beijo na testa do pequeno Martin, o seu filho. Custava-lhe imenso todos os anos deixar o garotinho na casa dos seus pais, sem saber se algum dia ele ou Marianne, a sua namorada, voltariam para ele. Tinham ambos vinte anos, mas apenas dezasseis quando foram pais. Eram jovens, livres, apaixonados e as coisas simplesmente não correram como planeado. Mas era tarde demais para culpas ou arrependimentos. O que James mais se culpava nem era por ele e a namorada se terem privado de uma vida normal, mas sim pelo futuro de Martin. Que será dele daqui a quatro anos? Com o seu nome registado como possível tributo, teria doze anos de inferno. Estava condenado a um futuro terrível que ninguém poderia mudar.
E se ele ou Marianne fossem para os Jogos? Ou pior, ambos. O que seria do pequeno, a que apenas restavam de família os progenitores, e os pais de James? Que já estavam muito velhos e quase sem condições de ficar com o pequeno? Só de imaginar Martin no lar do distrito matava-o por dentro.
- Onde vais? – perguntou o menino, agarrando-se às pernas do pai.
Sem lhe dar nenhuma resposta em concreto, ele soltou-se do filho, o devolvendo aos braços dos avós.
- Voltaremos.
Limitou-se a dizer isso, e o casal saiu em direção à praça central. Apesar de toda a polémica pela gravidez bastante jovem da sua namorada, e tudo mais, não havia quem não respeitasse James Lewis. Honesto, trabalhador, generoso, corajoso… Quantos pais já não apontaram para ele e disseram aos filhos que aquele era um exemplo a seguir? Ele era capaz de se privar a si mesmo de algo importante, para dar aos outros. Isso era louvável.
- James… - começou Marianne.
Mas ele já sabia o que a jovem ia dizer. Ela estava com medo de que ele, ou ela, fossem os tributos deste ano. Como não ter medo?
- Tem calma.
- Como é suposto eu ter calma se sei que o teu nome está lá dez?! Malditas tésseras…
- Por isso mesmo nunca te deixei pedir nenhuma.
- E se o teu nome for escolhido? E não houver voluntários? E se…
- Chega de “se”. – disse James, interrompendo-a – Se eu for escolhido, eu vou ganhar. E vou voltar. Por ti. Pelo Martin. Pelos meus pais. Eu vou voltar.
- Isso é uma promessa?
- É. – o casal abraçou-se. James sabia que podia não conseguir cumprir uma promessa daquelas. Mas tentaria. Com todas as suas forças, por tudo o que fazia a sua vida ter sentido. Ele, se fosse um tributo, voltaria.
Roxanne olhou em volta. Ela queria muito ser a tributo deste ano. Ganhar aquele prémio era uma ambição que tinha desde que os Jogos começaram. A parte de matar não a incomodava. A parte de morrer também não, pois tinha grande confiança em si mesma e nas suas capacidades. Nos outros anos apenas não se voluntariara porque a sua mãe, no posto de saúde, precisava que Rox pagasse o seu tratamento todos os meses. Agora tinha a vizinha a tomar conta dela, portanto, para quê se preocupar?
James e Marianne se separaram, indo cada um para cada lado, sem pararem de trocar olhares. Em breve começou a cerimónia, já conhecida por todos. Os discursos e vídeos entediantes que deixavam Roxanne quase a dormir em pé, os apertos de mão em todo o lado.
“Nem quero imaginar quantos micróbios aquelas bestas apanham daquele jeito.”, pensou ela.
- Orgulhem o vosso distrito, futuros tributos. – disse um soldado, que retirou um papel na bola de vidro dos garotos.
- James Lewis, sobe ao palco!
O rapaz olhou incrédulo, de longe, para Marianne, que chorava silenciosamente. Ela teria de ser forte. Por ela, por ele, por Martin, por tudo e todos.
Ele simplesmente não queria acreditar. Ele ia para os Hunger Games, ele teria de matar! Se não matasse, como voltaria para casa, cumprindo a sua promessa? Não havia alternativas. Era apenas esperar que alguém se quisesse voluntariar.
Mas ele subiu ao palco. Disse tudo o que tinha para dizer. E ninguém se voluntariou.
De seguida retirou um papel das garotas, e leu-o.
- Marianne Gew.
A jovem olhou chocada para o palco, onde James arregalou os olhos. Quando Marianne subiu, após as apresentações obrigatórias, o rapaz estava ainda em choque. O que seria do seu filho? Dos seus pais? E se ele tivesse que matar Marianne?
Só de pensar nessas coisas parecia que estavam a apertá-lo e sufocá-lo. Mas não foi mais necessário pensar. Pois segundos depois, quando perguntaram se haveria algum tributo, uma jovem com cabelos rebeldes e escuros, de olhos grandes e castanhos, com uma expressão de arrogância e frieza subiu ao palco. Roxanne Evans. Ela se voluntariara. Ela salvara a sua Marianne, o seu filho, os seus pais, tudo. Ela salvara-o.
- Ficarei para sempre em dívida para contigo. – sussurrou-lhe ele no carro, embora Roxanne não tenha entendi o porquê disso.
Apesar de ela ter cara de que obviamente não queria ser sua amiga, no interior de James borbulhava gratidão. E naquela arena ele sempre que pudesse tentaria salvar aquela garota de gelo que salvara tudo o que lhe era importante, mesmo sem saber.
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