Cartas que Nunca foram Entregues

Por Rebeca/Pikenna

Rose Weasley para Scorpius Malfoy

Sempre achei difícil escrever cartas e nunca gostei de fazê-las, mas foi o único meio que encontrei de expressar tudo o que estou sentindo e que também nunca fizeram muita lógica para mim. Você sabe, eu sou racional demais, não consigo acreditar em algo que não tenha uma explicação ao menos palpável aos meus olhos. Provavelmente você está se perguntando se eu de fato estou bem mentalmente, visto que jamais me imaginaria escrevendo uma carta, menos ainda se essa carta for direcionada a você. Não sei como me conhece tão bem! Chega a ser assustador. Eu não sou de falar muito de mim, geralmente prefiro ouvi-lo discorrer sobre sua vida que parece mais interessante, apesar de recheada de futilidades, que a minha. Entretanto, você sabe muito sobre mim, bem mais do que sei sobre você e eu costumo saber bastante acerca das pessoas que me ladeiam. Eu realmente não sei o que estou fazendo, porque também não me imaginaria escrevendo uma carta. Em geral, é o Hugo quem as escreve para nossos pais. É, eu devo estar mesmo ficando louca. James costumava me dizer que fazemos coisas absurdas e improváveis quando estamos desesperadas. Não acreditei em suas palavras, até porque, não havia nada de racional nelas. Mas aprendi que certos aspectos na vida não podem ser encontrados nos livros e tão pouco solucionados, apenas acontecem e você continua vivendo. Demorei para compreender a complexidade disso e aceitar.

Eu acho que estou desesperada, Scorpius. Desesperada para tê-lo de volta, para ouvir suas gargalhadas nasaladas e apreciar seu leve sorriso irônico que sempre aparece no seu rosto quando pretende me provocar. Eu sei que isso soa desesperadamente estúpido. Estou me achando idiota no momento, não precisa me falar isso, ok? Ok. Obrigada. Eu sei, você provavelmente sabe também, que tenho o orgulho do tamanho do universo e que para eu estar escrevendo isso é certo de que estou morrendo por dentro. Sim, estou lutando comigo mesma para continuar a rabiscar nesse pergaminho com a pena que vez ou outra vai aos meus lábios para eu morder sua pontinha daquele jeito sexy que você detesta porque ganha totalmente sua atenção, retirando sua concentração de qualquer outro ponto ao seu redor. Me desculpe, é automático, uma mania que eu tenho, não há o que se fazer, juro que não é proposital. Mas voltando ao assunto dos motivos que me levaram a realizar essa babaquice que é escrever essa maldita carta para você, bem, eu sinto muito Scorpius. Pronto, falei. Sim, estou cedendo e pedindo a você desculpas por ser agir como uma idiota contigo. Sei que isso já aconteceu várias vezes e que em uma delas você me disse que me entendia, que fazia o mesmo, mas que não significava que era uma idiota de fato. Na verdade, eu sou sim uma idiota, caso contrário não teria deixado chegar a discussão chegar naquele nível e lhe dizer que não o queria mais e despejado sobre você todos aqueles adjetivos pejorativos, inclusive, me desculpe pela parte que eu falei que você era igual ao seu pai e que só faltava a marca negra no braço para ser o completo reflexo dele, sei que essa foi a frase que mais doeu em você e que o fez me dar as costas e ir embora sem nem se quer olhar para trás. Você sempre olha para trás após uma briga. Dessa vez você não olhou e isso me doeu lá no fundo. Me senti sufocada e pela primeira vez em muito tempo eu me permiti chorar como uma criança que se perdeu dos pais e ainda ralou os joelhos.

Não sei o que fazer para tê-lo de volta. Não sei como pedir desculpas por agir como uma megera. Não consigo encará-lo de frente e pedir desculpas. Não sou capaz de engolir meu orgulho e admitir que estava errada. Eu sou muito imperfeita. Nem sei o que você viu em mim, o que em mim chamou sua atenção e o fez se apaixonar. Estou longe de ser legal, sei que irrito várias pessoas com meu gênio ruim e com minhas certezas absolutas que em grande parte – 99% delas – estão corretas. Não sei ser gentil, tão pouco delicada. Eu xingo o tempo todo, brigo sempre e meu humor quase nunca fica no nível de “bom”. Então, eu concluo que você é tão louco quanto eu. Fim. Porque bem, eu sinto falta dos seus beijos que me calavam, eu sinto falta do seu perfume que de vez em quando me fazia espirrar, eu sinto falta da sua voz em tom provocativo no meu ouvido, eu sinto falta de seus braços quentes e protetores que me abraçavam nos meus momentos de fraquezas, eu sinto falta de você insistindo em mim e acariciando meu cabelo ruivo quando encosto a cabeça em seu colo, eu sinto falta do seu carinho, eu sinto sua falta. Esse tempo longo que estamos separados, seus olhos duros evitando me olharem e quando me olham estão carregados de um desprezo doloroso, tem me matado aos poucos. Acho que foi isso que levou a minha sanidade embora e me fez escrever essa maldita carta. Eu odeio cartas, Malfoy! Olha o que você está fazendo comigo! Espero que seja o suficiente para você me perdoar e vir me encontrar.

Não sei falar com a mesma facilidade que você aquelas três palavras que eu acho estarem banalizadas, “eu te amo”. Então me desculpe se eu não as disser para você, mas saiba que é mais ou menos isso mesmo que sinto por você, pois se não eu não estaria correndo com a pena sobre o pergaminho, acorrentando meu orgulho em algum lugar obscuro do meu ser. Scorpius, não seja um idiota como eu, por favor, me perdoe mais uma vez e me cale com um beijo como sempre faz quando falo demais. E eu estou falando demais nesse momento. Não falando, escrevendo, mas você entendeu o que eu quis me expressar. Depois pode me internar no St. Mungus porque eu estou louca mesmo. Eu te odeio por me levar aos meus extremos, por me mostrar que James estava certo quanto a colocação dele de que as pessoas fazem coisas idiotas e inimagináveis quando desesperadas, eu te odeio por me obrigar a passar por cima do meu orgulho, eu te odeio por me fazer não conseguir te odiar, nem mesmo por um minuto se quer. Me desculpe, doninha Jr maldita. Eu te quero ok? Então faça o favor de me perdoar e me dar mais uma nova chance. Não me deixe arrepender de tê-lo escrito essa carta. Venha logo, Malfoy.

Rose E. Weasley.