Cartas que Nunca foram Entregues

Por Rebeca/Pikenna

Teddy Lupin para os pais

Dizem que a saudade tem a cor azul, tonalidade que ficam os fios do meu cabelo quando eu olho no espelho e tento imitar a imagem de vocês apenas para que eu possa vê-los, senti-los perto de mim e tê-los ao meu lado por um curto espaço de tempo, mesmo que eu saiba que apenas estou vendo meu próprio reflexo transformado em vocês. Obrigado mãe, por esse dom incrível que você tinha e que eu consegui herdar, carrego um pouco de você dentro de mim. Não sei se o que eu sinto de verdade é saudade, afinal, temos saudades daquilo que um dia conhecemos e tivemos por perto, no entanto, esse privilégio não me foi concedido. Então, como ter saudades de vocês se eu nunca os conheci além das fotografias que minha avó me deu no meu aniversário de onze anos quando ingressei em Hogwarts? Eu sinto uma dor aqui dentro e uma tristeza muito grande por saber que eu nunca vou realizar meu desejo de abraça-los. Desde o dia que resolvi me transformar em vocês de frente para o espelho após conhecer bem o formato de seus rostos nas fotos que incrivelmente se mexem, eu passei a chorar de uma forma muito estranha. É um choro sufocante, que me deixa para baixo quando passa e que me proporciona até mesmo soluços. Decidi chamar o que eu sinto de saudade azul.

Eu os amo tanto sem nem os conhecer, amo-os e sinto orgulho pelo que fizeram pelo mundo bruxo, no entanto, não os perdoo de terem me deixado e tenho raiva de vocês por causa disso. Uma vez quebrei o espelho socando-o de ira, e claro, arrebentei meus dedos. Minha avó quase me colocou de castigo por isso até eu conta-la o porquê de ter feito o que fiz. Ela me abraçou apenas e no outro dia me disse que eu estava sendo ingrato. Fiquei arrependido de ter quebrado o espelho ao perder a cabeça. Mas entendam, não é fácil ver vários amigos felizes com seus pais. Eu sei que tenho o meu padrinho Harry e minha avó, além de todos os Weasley e Potter, porém, eles não são meus pais. Não é a mesma coisa. Eu queria vocês aqui. Eu queria meus pais. Contudo, querer nem sempre é poder. Vocês estão mortos. Mortos por defenderem uma causa muito bonita e digna. Quando falo o nome de vocês meus olhos se enchem do mais puro e verdadeiro brio, mas por dentro eu estou em pedaços de saudades azul.

É por isso que escrevo para vocês, para tentar minimizar um pouco da minha saudade. Vovó disse que se eu escrevesse para alguém, ainda que para os mortos, numa frequência constante, eu os sentiria mais perto de mim, mesmo longe, e isso os faria estar vivos dentro de mim, mesmo que na minha mente. Acatei o que ela me falou, apesar de ter considerado em primeira instância um ato de pura loucura. Mas ao pensar que eu já era louco o suficiente por sempre me transformar em vocês e então me olhar no espelho, percebi que mais uma dose de loucura no formato de tinta não me faria mal. Espero que compreendam meus sentimentos e que me perdoem pelos momentos de raiva e ódio que sinto de vocês. Sinto-os em consequência dessa saudade azul que tenho de vocês. Talvez um dia eu consiga perdoá-los por me deixarem.

Bom, além de ser um metamorfomago, eu também herdei de você, mãe, algumas características que me conduziram para a casa dos bons e justos, Hufflepuff. Sei que teria orgulho de mim! Quando o chapéu anunciou minha casa, mentalmente eu prometi honrar Helga Hufflepuff e a sua imagem, mãe. Acho que estou cumprindo bem meu papel. Sou monitor-chefe da minha casa, tiro notas excelentes e estou namorando a Victoire Weasley. Não sei até hoje como consegui enfrentar o cão de três cabeças, desculpe, quero dizer, o Senhor Bill Weasley. Achei que ele fosse me matar por estar pedindo para namorar sua querida boneca de porcelana, a princesa do papai, dentre outros codinomes que Victoire tem. Fique tranquilo pai, eu a honro e a trato como uma mulher deve ser tratada. Sou um verdadeiro cavalheiro com ela. Amo-a muito e ela me faz feliz. Me ajuda nos meus momentos mais difíceis. Ah sim, pai! Não me esqueci de você. Eu também herdei muitas características suas, inclusive a vontade de ser professor. Além disso, sou um animago, regular, mas um animago. Sei que na época você era um lobisomem e teve que enfrentar diversas dificuldades por causa disso, inclusive o preconceito. No entanto, saiba que tenho muito orgulho de você por conseguir dar a volta por cima, apesar de seus dramas, que vovó fez questão de me contar. Eu sei que vocês nunca se deram muito bem. Mas ela tem um carinho especial por você, fique tranquilo.

Também herdei sua coragem e sua determinação, sua inteligência e sua dedicação. Sou um aluno exemplar. E amo ler! Ah, sou bem fiel aos meus amigos. O chapéu ficou um pouco em dúvidas se me colocava em Gryffindor ou Hufflepuff, porém, ele julgou que eu tivesse mais bondade e justiça dentro do meu coração que coragem. E o meu patrono é o mesmo que o seu. Como podem ver, minha vida está bem definida, me tornei um homem e estou quase formando em Hogwarts. Já sei o que quero ser, namoro com a garota mais linda e gentil do universo, pretendo ter filhos algum dia com ela. Sei me virar sozinho e trato bem a todos. Então, vocês não têm com o que se preocupar comigo com relação a isso tudo, foi educado corretamente por minha avó e meu padrinho. Tentarei mantê-los a par do que acontece na minha vida, por mais que isso pareça extremamente insano. Acho que a tal da saudade azul eu sempre sentirei, mesmo que se reduza, afinal, sempre vai ficar aquele vazio existencial dentro de mim pela ausência de vocês. Mas tudo bem, eu aprenderei a lidar com ela como venho tentando. Não se preocupem, um dia eu supero. No mais, eu os amo de verdade e prometo evitar tomar a forma de vocês para vê-los no reflexo do espelho, sei que isso me faz mal.

Então, até a próxima carta! Com amor e repleto de saudades azul, de seu filho,

Teddy Lupin.