Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 3
Capítulo 2 - Pombinhos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Fiquei muito tempo planejando esse =D



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Lizzie

                -Feliz aniversário!

                Eu disse animadamente quando Bruce abriu a porta. Ele sorriu e puxou-me para perto para um beijo, tomando cuidado para não amassar meu bolinho.

                -Feliz aniversário de 10 anos.

                Ele disse, sorrindo. Sorri de volta, a alegria mal cabendo no meu peito.

                -Dez anos de namoro. Sabe o que quer dizer? - Ele beijou minha bochecha e levou-me para dentro. É claro que sabia. Ele havia proposto o acordo. Puxei a porta atrás de mim com o pé, fechando-a com um estalo. Suspirei, alegre - Vamos nos casar no fim do ano! Mal posso esperar!

                Eu disse, desabando no sofá com um suspiro animado. Ele riu, pegando o bolinho e indo para a cozinha.

                10 anos. Era bastante tempo. Pelo menos para mim. Eu chegara a atingir minha forma definitiva, o que assustava e animava Bruce ao mesmo tempo. A mesma coisa acontecia comigo. Era difícil imaginar que eu não mudaria mais pelo tempo que eu vivesse a partir dali, que, se tudo desse certo, seria muito.

                Depois que a Casa caíra, 3 anos se passaram antes que eu ouvisse falar de Bruce novamente. Ele ligou de repente, no meio do dia. Tinha passado aquele tempo todo servindo no exterior. Queria saber como a nossa história havia terminado. Queria entendê-la. Mais tarde, ele me confessor que havia sonhado comigo enquanto estava fora. E que havia feito tantas coisas horríveis na guerra que quando voltara queria saber se havia feito algo certo.

                Eu sabia desde o início que encontrá-lo era um risco. Eu havia crescido, no mínimo, o dobro do que deveria ter crescido no período de tempo que havíamos ficado separados. Eu parecia ter aproximadamente 19 anos. Já não era mais a a garotinha que ele resgatara e ajudara a rastrear o pai perdido. E era essa garotinha que ele esperava encontrar - era essa garotinha que qualquer um esperaria encontrar. E embora Frank insistisse que eu não fosse ao seu encontro, em algum lugar dentro de mim eu sabia. Ele merecia saber o que fizera por nós. Sua coragem havia me reunido com o que restava da minha verdadeira família. O mínimo que lhe devia era a verdade, por mais que ela fosse perigosa.

                É claro que ele não acreditou de início, quando apareci para encontrá-lo no parque. Achou que estava em um programa de pegadinhas na televisão. Ele jamais acreditaria que era eu mesma se eu não lhe contasse. Então contei. Contei o que éramos. Contei sobre a Casa e sobre Klaus. Acho que contei mais a ele do que jamais tinha contado a ninguém. Ele inicialmente recebeu minhas palavras com ceticismo. Mas depois de conhecer meus pais sem suas lentes, ele não duvidou por muito tempo depois disso. Ele demorou a assimilar a informação.

                Por quase um ano, ele sumiu, até que, em uma viagem à NY com Rose e Alice, para que eu fizesse um teste – me tornei dançarina, como minha mãe sonhava que eu fosse - eu o encontrei. Ele estava treinando recrutas para o exército e parecia em ótima forma. E eu me peguei querendo ver seus músculos e testá-los por mim mesma. Surpreendi-me presa na minha primeira paixão.

                Por mais dois anos, trocamos mensagens. Inventamos apelidos um para o outro. Éramos melhores amigos. Não conseguíamos ficar longe dos celulares por muito tempo. E é por isso que eu soube que algo tinha acontecido quando naquele dia nenhuma chegou. Aquele dia foi um divisor de águas para nós.

                Sua base foi atacada por um grupo terrorista, um homem-bomba que explodiu o prédio todo. Bruce ficou seriamente ferido. Recebi a ligação do hospital no final da manhã, quando a preocupação já encontrara um lugar dentro de mim, enquanto eu levava Nova para passear. Ele havia me indicado como contato de emergência. Foi quando percebi que ele não tinha mais ninguém.

                Voei para NY dois dias depois. Tentei visitá-lo, mas ao chegar na esquina do hospital, a mesma coisa que tinha acontecido quando eu tentara cursar medicina aconteceu. A dor dos outros me causou tanta dor que me nocauteou por um dia e uma noite. Felizmente, consegui me esconder em um beco escuro. Então fui à casa de Bruce, e, usando a chave extra enterrada em um vaso de planta, entrei e cuidei da sua casa até que ele pudesse voltar. Ligaram-me duas semanas depois, quando a saudade estava se mudando para junto da preocupação. Disseram que ele estava desenganado. As queimaduras haviam sido severas demais. Com medo de que ele partisse sem que eu pudesse vê-lo, pedi que o trouxessem para casa para passar seus últimos dias. Mas esse não era o plano.

                Quase não consegui esperar que os enfermeiros o deixassem sobre sua cama para precipitar-me sobre ele, a necessidade de ajudar maior do que qualquer coisa. Metade do seu corpo estava queimada quase até o osso, maculando-lhe a pele escura. Minhas mãos tremeram e eu me ajoelhei ao seu lado, beijando-lhe de leve os lábios. Então fechara os olhos e fiz o que nascera para fazer. Desabei no chão mesmo.

                Segundo Bruce, ele acordara logo depois daquilo e eu dormira por dois dias. Quando acordei, apesar de fraca, lhe contei o que eu havia feito por ele e que ele precisava partir antes que percebessem. Pacientes terminais não se curavam assim em questão de dias. Nós levamos aproximadamente meio mês para organizar tudo. Aqueles foram os dias bons, em que eu podia fingir que éramos um casal fugitivo, Bonnie e Clyde, prontos para mais uma fuga de amor. Mas não durou.

                Ele decidiu voltar para o Colorado, onde nos conhecêramos. Ele crescera lá e herdara dos pais uma casinha sossegada numa cidadezinha do interior, perto de Platoro. Certa de que minha paixão fora completamente platônica - ele nunca havia mencionado nada que me fizesse pensar o contrário - voltei para Washington, para o meu pai e para os Cullen, com um coração partido que não estava lá quando eu embarcara. Tentei encontrar outra pessoa a quem eu pudesse amar tão intensamente quanto tinha amado Bruce. Para preencher o vazio. Mas era impossível. Cedo ou tarde, eu percebia que tinha medo de me entregar completamente. Aquelas pessoas não sabiam nada sobre mim e eu jamais poderia realmente contar a eles. Não era justo com ninguém. 4 anos se foram assim.

                E finalmente, depois de 12 anos que nos conhecêramos em Platoro Reservoir, ele me ligou no meio da noite e me disse que doía. Que doía não estar perto de mim como tínhamos estado naquelas curtas semanas. Que doía quando ele se pegava pensando em mim no meio da noite e percebia que não podia me ter. E que doía não ter me dito isso antes.

                -Eu tenho 2 vezes a sua idade, e logo terei 3. Eu não vou viver para sempre. Ainda tenho 10 anos de serviço militar e que muito provavelmente pode me mandar para guerra de novo. - Ele disse, com a voz entrecortada, enquanto eu segurava o celular com muita força contra os meus ouvidos, como se isso pudesse trazê-lo mais para perto de mim - Tudo o que eu tenho é uma casinha no Colorado, um jipe, e um cavalo velho de arado. Minha faculdade se resume ao exército. Eu não sei fazer nada que não inclua violência, e minhas mãos estão manchadas de sangue até o osso. Mas eu te amo Elisabeth Forbes Cullen e eu sei, que eu conheço você melhor do que eu conheço a mim mesmo. E eu quero você na minha vida.

                Em um mês, ele deixou o Colorado. Eu fui esperá-lo na entrada da cidade, apoiada à placa. Ele parou o carro no meio da estrada e correu na minha direção, puxando-me para um beijo - o nosso primeiro, que ele soubesse.

                -Eu sabia.

                Dissera, ainda próximo de mim, as mãos envolvendo minha cintura. Soltei o ar em um risinho alegre.

                -O quê?

                -Que seria assim.

                -Assim?

                Seus dedos roçaram minha clavícula e ele aproximara seu rosto do meu, sussurrando baixinho no meu ouvido:

                -Paraíso.

                Sussurrara envolvendo-me em um abraço apertado.

                Ele se mudara para o pequeno e cada vez mais apertado centro de Forks. Ele agora ensinava boxe para crianças e treinava um ou dois lutadores, deixando-os usarem sua pequena academia no andar de baixo da minha escolinha de ballet. Ele facilmente se acostumou ao clima.

                -Enquanto mantiver você segura, podia estar 273 abaixo de zero.

                -Você só diz isso porque é impossível.

                -Ah é? Me teste?

                -Vou arranjar nitrogênio, fofinho.

                Nós fizemos um acordo, mais ou menos próximo do sexto ano de namoro. Não nos casaríamos enquanto ele ainda estivesse de serviço. Ele se recusava a me deixar viúva antes dos 50, e, para o meu pai, todo o tempo do mundo não era o suficiente para que eu me casasse e deixasse sua casa. Eu sabia que, dentro dele, deixar que eu fosse viver com outro homem significaria que ele perdera a última parte que lhe restava da minha mãe - embora aquela fosse uma ideia doentia. Eu o amava, mas jamais poderia preencher aquele espaço. E, de uma forma ou de outra, eu era sua assassina. Talvez fosse melhor que seguíssemos caminhos separados. Funcionou antes.

                Bruce voltou da cozinha com uma vela acesa sobre o bolinho. Se ajoelhou à minha frente pegou minha mão, olhando-me por cima da vela, os olhos cintilando, cor de oliva. Para um observador não cuidadosos, negros. Mas para quem soubesse procurar, acharia facilmente o tom de esmeralda implícito ao redor das íris, envolto em mistério.

                -Faça um pedido.

                -Não preciso.

                -Ah, vamos lá. Nós dois, juntos. No três. - Respirei fundo, assentindo - Um. Dois... Três!

                Sopramos a vela. Fechei meus olhos, imaginando a nós dois casados e vivendo juntos. Era tudo o que eu queria, e no fim do ano, era o que eu teria. Abri os olhos e ele abriu os dele. Nós sorrimos um para o outro.

                -E agora? Mordemos ao mesmo tempo?

                -Esse é o espírito!

                Aproximamos-nos e mordemos o bolinho simultaneamente, um de cada lado. Senti algo duro à medida que comecei a mastigar. Sorri, balançando a cabeça.

                -Como foi que fez isso?

                Ele deu de ombros.

                -Coloquei por baixo. Pelo buraco onde colocam o recheio.        

                Revirei os olhos, indo até o banheiro para lavá-lo. Era um simples aro de ouro, mas significava para mim mais do que milhares de diamantes. Ele veio por trás e colocou o anel em meu dedo, beijando minha bochecha. O seu anel já estava posicionado em seu dedo.

                -É de compromisso. Só até o fim do ano. Então vou te comprar um de verdade. Com pedras e tudo o mais. E pedir de novo. Seriamente dessa vez.

                Balancei a cabeça, virando-me para ele e enlaçando os braços ao redor do seu pescoço. Nós dois sorríamos.

                -Você não precisa fazer isso. Vou usar esse para sempre.

                -Eu quero. Eu te fiz esperar 10 anos. Não ia pedir desse jeito clichê. É o mínimo que eu posso fazer.

                Suspirei, aproximando-me devagar.

                -Na verdade, esse é o mínimo que você pode fazer.

                Eu disse, puxando-o para perto. Ele levou as mãos à parte interior das minhas coxas, levantando-me sem esforço sobre a pia e me carregando de volta para o sofá. Ele se sentou e eu fiquei por cima dele. Envolvi sua nuca com meus dedos ainda gelados do frio lá de fora.

                -Eu te amo, Bruce.  – Sussurrei baixinho – E você vai ser o melhor marido do mundo.

                -Com a melhor esposa, com certeza – Ele colocou o cabelo atrás da minha orelha – Eu te amo, Lizzie.

               

                Estava voltando para casa. Já era noite. Bruce insistira em me levar de carro, mas eu recusei. Precisava de uma boa caminhada para baixar a comida do jantar. Além do mais, minha casa era 3 quadras para baixo. Não havia sentido em gastar sua gasolina comigo.

                -Guarde para o fim do mundo, capitão.

                Caminhei tranquilamente pelas ruas. Conhecia tão bem o caminho que poderia fazê-lo de olhos fechados. Talvez tenha sido por isso que não olhei para o lado. Talvez tenha sido por isso que não vi o carro.

                Talvez tenha sido por isso que o capô do carro me projetou dois metros a frente.

                


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Notas finais do capítulo

Quem shippa?