Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 4
Capítulo 3 - Garota nova na cidade


Notas iniciais do capítulo

Tenho um recado importante no próximo capítulo. LEIAM AS NOTAS!



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Grace

                -VÔ CHARLIE! CHEGAMOS!

                Gritei, tirando o capacete e pendurando-o no guidão da vespa. Elijah saiu da sua caminhonete, fazendo uma careta para mim.          

                -O que é isso, Gray? Quer matar o velho?

                -Ele tem 60 anos. Está começando a perder a audição.

                -Depois do seu grito, até eu perdi a audição.

                Abri o compartimento abaixo do banco, tirando a cerveja e o salgadinho e guardando o capacete. Tranquei-o. Elijah balançou a cabeça, subindo a escada até a porta.

                -Você realmente quer matar o bisavô?

                -Talvez você não seja familiarizado com o conceito de assistir um jogo de domingo já que está sempre jogando, mas eu entendo. Envolve 3 elementos principais: Cerveja, baralho e Cheetos da pior qualidade, o mais fedorento que se puder encontrar. São as regras.

                A porta se abriu e o bigode castanho do vô Charlie espreitou pela porta, pairando sobre um sorriso.

                -A garota sabe das coisas, El. Você devia escutá-la mais.

                Sorri, abraçando-o e entrando na casa. Com ele, não havia convites. Praticamente vivíamos naquela casa quando éramos menores. Ele sorriu e pegou a cerveja da minha mão, examinando-a como quem olha para um diamante.

                -Por isso você é minha favorita, Grace. Economiza no Cheetos e não economiza na cerveja. – Ele disse, antes de dar um abraço em Elijah e mandar ele entrar com um gesto – Vocês trouxeram o DVD?

                Elijah balança a capa do DVD em sua mão com a etiqueta escrita “Charlie”.

                -Todos os jogos da temporada. Mas foi a Gray que gravou, então eu não esperaria muito.

                Fiz uma careta, mostrando a língua para ele e me jogando sobre o sofá.

                -Tenho certeza que o vô Charlie vai curtir meus comentários sobre a sua velocidade, as táticas da equipe e o bumbum delicioso do Will Tanner.

                Os dois riram e vieram na direção do sofá.

                Para o Vô Charlie nunca importava se o jogo era VT ou ao vivo. Ele torcia, se alterava, xingava o juiz e ria, batendo no ombro de Elijah, subitamente se lembrando que ele jogava e elogiando-o. E mais uma vez, El estava contido de uma forma não natura. Deve estar pensando em Angela novamente. Suspiro. Garoto insistente.

                Mais ou menos na metade do segundo jogo, começamos a jogar pôquer pela posse dos salgadinhos fedidos. Ele não demorou a falir – comeu metade do seu dinheiro e perdeu o resto – e ficou encarando a televisão em que ele acenava para mim, carismático. Nem parece a mesma pessoa. Olhei preocupada para ele. Precisamos conversar sobre isso. Ele não pode ficar assim o inverno inteiro. Ele suspirou e se pôs de pé, o olhar perdido em pensamentos.

                -Acho que vou dar uma volta por aí. Tomar um ar.

                Charlie olhou para ele, desviando-se de suas cartas.

                -Você está bem, garoto? Está abatido.

                Ele deu de ombros e foi para a porta. Charlie olhou para mim, em busca de uma explicação. Todos estavam estranhando meu irmão, e como sua assessora de imprensa não oficial, precisava dar uma desculpa.

                -Deixa ele para lá, Vô Charlie. Ele só está apaixonado. Além do mais, com ele fora ninguém vai ficar me enchendo por embebedar o meu bisavô.

                -Então vamos logo com isso que logo o seu pai vai chegar com Billy.

                Isso foi o bastante para afastar o assunto. Mas não me tranqüilizou.

Elijah

                Saí da casa, andando a esmo. A tranquilidade de caminhar em Forks entrava em contraste com a loucura de Seattle impressa no meu cérebro. Caminhar pela cidade lá distraía. Ali, o silêncio só me concentrava mais e mais no que eu queria esquecer. Querer não é a palavra certa. A palavra certa é precisar. Uma pessoa não pode viver assim.             

                Normalmente, ninguém notaria um adolescente às beiras de uma depressão. Mas eu era Elijah Black. As pessoas prestavam atenção à mim, esperavam coisas de mim. E mesmo se não me conheciam, eu era grande e ocupava espaço. Estava sempre chamando atenção. Se até  Vô Charlie tinha percebido que eu não estava em meu estado normal, era porque eu devia estar mais estranho do que pensava. Só não tinha mais vontade de ficar contando piadas e rindo o tempo todo. Como fazer os outros felizes se não me sinto feliz?

                Desejei, por um dia, não ser eu. Para que eu pudesse ficar em paz no meu canto, e respirar um ar fresco. Sem expectativas. Só eu.

                Algo a minha frente roubou minha atenção. Um caminhão de mudança estava parado em frente à antiga casa dos Nelson. Eu ouvira alguma coisa sobre a senhora Nelson ter se mudado para uma casa de repouso depois da morte do Sr. Nelson, então aquilo não me surpreendeu. Embora fosse estranho que o caminhão viesse de uma companhia de Seattle. As pessoas não vinham para Forks. Saiam dela, como de toda a cidade pequena. Em grande parte do tempo, ninguém sequer notava a nossa existência – razão pela qual minha família vivia aqui.

                Uma caixa começou a flutuar acima de um par de pernas esguias vestidas em um jeans claro e botas para a neve. Elas oscilaram, tropeçando nos próprios pés, ameaçando cair e derrubar a caixa onde, de marcador permanente estava escrito “Coisas que quebram”. Apressei-me para subir a rampa até o caminhão, ao resgate.

                -Precisa de ajuda?

                Perguntei, firmando a caixa sobre suas mãos e ela me dirigiu um olhar tímido, jogando os cabelos para trás de uma forma familiar. Os olhos piscaram e brilharam, arregalados de surpresa. Imaginei que eu devia estar com uma expressão semelhante.

                -Angela?!

                -Elijah! Oi! Nossa! O que está fazendo aqui?!

                -Eu moro aqui – Eu ri de forma boba. De repente, o céu nublado parecia mais claro. – Eu cresci aqui. Bem, não aqui. Aqui é um caminhão. Meus pais... Eles moram naquela direção. Lá.

                Apontei na direção da inclinação onde ficava nossa casa, como um completo idiota. Angela sorriu e assentiu.

                -Wow! Somos vizinhos então!

                -É o que parece.

                Eu disse, dando de ombros. Balancei-me nos calcanhares quando ficamos em silêncio. Percebi que estava sendo rude e peguei a caixa de suas mãos.

                -Deixa que eu levo isso para você, vizinha.

                Ela riu baixinho e alcançou outra caixa,mais leve.

                -Não quero explorar você, mas meus pais foram até a cidade religar a energia da casa, e toda a ajuda é bem vinda. Quer dizer, Finn não ajuda muito.          

                Ela desceu do caminhão e eu a segui como um filhote perdido, tomando cuidado para não ficar desajeitado como fazia quando estava perto dela. De nada adiantava salvar as “coisas que quebram” para depois deixá-las cair. Só seria mais uma vergonha épica para a minha lista. Ela abriu a porta, empurrando-a com o quadril e indicando que eu a seguisse com a cabeça.

                -Vem, pode entrar. Não repare na bagunça. Mudanças são tão estressantes...

                Dei de ombros, seguindo-a através da porta. Como se eu fosse perceber alguma coisa além dela. Estava escuro dentro da casa antiga. A única iluminação vinha das pesadas janelas escancaradas. Tudo o que eu via era a luz que parecia irradiar dos cabelos dourados de Angela. Se Grace me ouvisse dizendo isso em voz alta, iria bater na minha cabeça com uma frigideira. Encontramos Finn enquanto descíamos a escada.

                -Ei F. olha quem vive na cidade!              

                Angela disse a ele, animada, apontando para mim com a cabeça. Soturno, ele me analisou com o olhar.

                -E aí?

                Perguntou, sem a menor emoção na voz.

                -De boa?

                Perguntei de volta, espirituoso. Esse sou eu. Agora sim... Ele deu de ombros e desceu a escada, cantarolando uma música qualquer.

                -Eu juro que algum dia, vou entender seu irmão.           

                Angela riu, jogando o cabelo por cima do ombro com um gesto ao mesmo tempo inocente e sedutor. Argh, como é que ela fazia isso?!

                -Finn é... Reservado. Ele não gosta muito...

                -De mim?

                -De pessoas, no geral.

                Ela sorriu e continuou subindo as escadas. Subi até o corredor do segundo andar. O cheiro de tinta exalava dos quartos, cutucando meu nariz de lobisomem.

                -Vocês vão dormir aqui hoje? O cheiro da tinta não...

                -Ah, nem se preocupe com isso. Vamos dormir em um hotel em Port Angeles só por hoje. Só estamos deixando as coisas para adiantar a mudança.

                Assenti e ela sorriu, olhando-me diretamente nos olhos. Não era como as outras em Seattle. Era especial. Quase como se pudesse ver através de mim. Angela me levou até o sótão e pediu que eu deixasse a caixa lá. Reparei que havia algumas caixas muito mais antigas que as dos Mikaelson lá em cima.

                -O que são essas coisas?

                -São da Sra. Nelson, a antiga moradora.

                -É, eu a conheço. Ela nos dava picolés no Halloween. Então ficávamos gripados e não precisávamos ir a aula a semana inteira.

                Ela riu, balançando as pernas no vazio e olhando lá para baixo. Estávamos sentados no buraco acima da escada dobrável que subia para o sótão. Estávamos tão próximos que eu podia simplesmente pegar sua mão pequena na minha. Suspirei.

                -Ela é uma graça, não é? Fui até o asilo perguntar o que ela queria que fizéssemos com essas coisas. Ela disse que são minhas agora. Disse há coisas para uma mocinha como eu aproveitar.

                Nós dois rimos e eu olhei ao redor.

                -Bem, eu conheci a sua casa. Acho que nada mais justo do que você dar uma passada lá em casa qualquer dia.

                Eu a convidei, dando de ombros. Dentro de mim, eu podia sentir meu estômago pulsando e se revirando. Tinha conseguido convidá-la para fazer algo sem vomitar, gaguejar ou tropeçar!

                -É claro. Eu vou adorar. Pergunto para Gray os detalhes.            

                Assenti e sorri para ela. Peguei a bola, mas ainda estou longe da endzone. 


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Notas finais do capítulo

Capítulos geminados! Corra para o próximo!
Mas lembre-se de LER AS NOTAS!