Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 21
Capítulo 20 - Cega:


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu ainda existo, bitches.
E só porque ninguém comentou na minha ausência...
Os personagens vão sofrer muuuuuito mais!



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Grace

Os dias se passaram numa sucessão cega. Literalmente. Minha visão se foi. Olhos abertos, olhos fechados, não fazia diferença. Eu via luzes muito fortes e vultos, mas nunca sabia dizer que aquilo era o sol ou a lâmpada do quarto.

El e os Mikaelson nunca deixavam o quarto, revezando-se. Até o pequeno Kol viera comigo, em um dia especialmente bom. Ele fazia algo de massinha e eu precisava adivinhar o que era.

–E o melhor, é que você não pode roubar nem se quiser!

Eu lhe mostrara a língua e rira.

Na maior parte do tempo eu me sentia fraca demais para levantar, então ficara horas deitada na cama de balanço com alguém do lado, geralmente El ou Angie. Se Finn chegava à vir até o quarto, nunca anunciava sua presença.

Abri os olhos. Senti o mesmo pânico de todas as manhãs, de que estava morta e que a eternidade era vazia assim. Então ouvia os passarinhos e a respiração da pessoa ao meu lado, e suspirada, aliviada e me deixava pousar sobre o travesseiro.

–Quem está aí?

Perguntei, voltando a fechar os olhos, tentando ignorar a pressão do crânio contra o meu cérebro e as agulhas contra as minhas cotas doloridas. Recebi apenas o silêncio. Soltei o ar.

–Estou cega, mas escuto bem. Posso ouvir você respirar.

A pessoa suspirou, se ajeitando na poltrona.

–Sou eu. Finn.

Sorri de leve.

–Decidiu aparecer? – Ele permaneceu calado. Passei a mão sobre a cama, mas os lençóis ao meu redor estavam vazios. – Angie já levantou?

–Faz um tempo. Ela e El foram brincar com Kol na areia.

Sorri de leve.

–Soa divertido. Porque não foi junto? – Ele novamente se absteve da sua resposta. Virei-me de lado e abri os olhos. Só podia ver seu vulto contra a luz do sol que entrava pela janela – Finn, eu estou cega. Não tenho muito para fazer senão falar. Mas isso é uma atividade para dois.

Ele riu baixinho.

–Tanto faz.

–Ótimo. É assim que se começa uma conversa.

Fechei os olhos cegos e apertei-os, sentindo o cérebro torcer. Trinquei os dentes e rosnei.

–Eu nunca me imaginei morrendo assim. Sempre achei que seria comida por animais selvagens, tipo guaxinins.

–Guaxinins? Morte por lobos tem mais estilo.

–Não tenho medo de lobos.

Ele bufou.

–E do que é que você tem medo, Grace Black?

Ele perguntou baixinho, claramente brincando, mas eu sentia que lhe devia uma resposta. Não queria deixar nada não resolvido, caso eu não fosse até o final.

–Sinceramente? De me apaixonar.

Depois de muito tempo, ele respondeu.

–Isso não é nenhum segredo.

–Espero que me desculpe se eu manter o porque como segredo para sempre.

Ele se moveu, acho que deu de ombros.

–Quer parar? Você não vai morrer!

Dei de ombros, virando-me de barriga para cima, encarando sem ver o teto.

–Talvez sim, talvez não. De qualquer forma acho que você merece uma explicação.

Ele ficou em silêncio e voltou à se ajeitar na poltrona, como se o seu rangido irritante de vime trançado lhe tranquilizasse.

–Vá em frente, então.

Respirei fundo e sentei-me com cuidado, fazendo a cama oscilar um pouco. Dei dois tapinhas no lençol ao meu lado, abrindo espaço para ele. Após um momento de agitação, seu peso impeliu a cama levemente de um lado para o outro.

–Bem... Vamos ver... Em primeiro lugar, ao contrário do que você possa pensar, eu gosto de você. De verdade, eu quero dizer.

Ouvi seu movimento e senti o calor do seu rosto quando ela olhou para mim.

–Você gosta?

–É claro que sim. Você é um cara incrível. Eu seria sortuda se eu pudesse... Se eu pudesse... Estar com você.

–Se você... Pudesse?

Assenti, baixando o olhar para minhas mãos.

–Eu estou quebrada, Finn. De dentro para fora. Não sei se eu presto para ficar com qualquer um do jeito que eu estou.

Ele respirou fundo e olhou para o outro lado, se afastando de mim.

–Você acha que isso vai durar para sempre?

–Para sempre de novo, Finn? Eu não sei. Eu tenho medo. Muito medo.

–Então você nunca vai tentar?

Tateei pela cama até encontrar sua mão e envolvê-la na minha. Deitei a cabeça sobre o seu ombro, fechando os olhos e inspirando o cheiro da sua roupa. Nenhuma dor por enquanto.

–Por favor, não me machuque.

Pedi, me aproximando do seu olho.

–Eu não vou. – Ele me envolveu meu rosto com a mão de dedos finos e firmes de músico. Senti um arrepio percorrer minha espinha – Eu prometo.

–Por favor, não...

–Eu não vou.

E como naquela noite, sob a lua, ele me beijou.

E dessa vez não doeu.

Elijah

Coloquei o dedo sobre os lábios e indiquei que Angela e Kol me seguissem para dentro da casa. Angie uniu as sobrancelhas, perguntando o que estava acontecendo com um olhar confuso. Só apontei para casa e fui à frente.

O suco que eu havia ido pegar ainda estava sobre o balcão. Fui até a geladeira e espirei pelo canto dela, onde dava para ver o corredor que levava para os quartos novos. Sobre a cama pendurada por cordas ao teto, Finn e Grace se beijavam, tão suavemente como se tivessem medo um do outro. Senti o peito aquecer ao ver o sorriso no rosto de Grace. Bingo!

Acenei para Angie. Ela e Kol juntaram-se à mim espiando descaradamente os dois. Angela olhou para mim e sorriu. Estendi o punho e ela tocou-o com o dela.

–Operação Katy Perry, bem sucedida.

Kol olhou para cima, para nós, e sorriu.

–Elijah gosta da Katy Perry...

Angie riu também e fez cócegas no irmão, pegando-o no colo e levando-o lá para fora novamente. Dei uma última olhada em Grace antes de segui-los.

Embora Finn e Grace tivessem finalmente se acertado, não houve nenhuma magia do beijo do amor verdadeiro. O estado de Grace se deteriorou. Era raro quando ela estava consciente, sob o feitiço de uma febre assustadoramente alto. A sra. Mikaelson precisava trocar todos os dias os lençóis sujos de suor, enquanto resmungava preocupada e conversava nervosamente com Grace nos momentos em que ela estava consciente.

Eu, Finn e Angie passávamos os dias ao lado dela, tentando refrescar seu corpo febril com compressas geladas. E eu sabia que isso era tudo o que podíamos fazer. O que viria à seguir era tudo o que podíamos fazer. O que viria à seguir dependeria de Gray, como dependera de mim. Só esperava que ela tivesse forças...

Um efeito interessante começou a ocorrer mais ou menos à partir do quarto dia. O corpo de Grace parecia repelir o de Finn. Na primeira fazer foi um simples choque, e depois, piorou. Primeiro, quando ele a tocava, ela gritava, embora inconsciente, até que ele se afastasse. Nos próximos dias, ele mal podia entrar no quarto para que a dor começasse. Ela se contorcia e agarrava os cabelos com força, como se estivesse sendo torturada. Às vezes era suficiente que ele passasse no corredor. Eu estava com medo. Talvez não fosse o que eu pensava afinal. Isso não acontecera comigo.

Mas se não fosse o que eu estava pensando...

Acordei com o som do gemido dolorido de Grace. Ela estava sentada na cama, segurando a cabeça com força por entre as pernas abertas.

–Grace?

–El. – Ela soltou meu nome como um fôlego desesperado. – Está doendo.

–Onde?

Ela engoliu em seco.

–Em toda a parte.

Assenti.

–Você acha que está na hora?

Ela assentiu, fechando os olhos e trincando os dentes, franzindo o rosto em uma careta dolorida.

–Acho.

–Vamos lá para fora.

Estendi os braços e levantei-a deles. Ela abraçou meu pescoço como se tivesse medo de cair. Começou a tremer nos meus braços. Era tão pequenininha quanto sempre fora, quando eu a levava do sofá para a cama.

Saí pelo corredor e passei pela cozinha em direção à porta.

–El? – Virei-me inconscientemente para Angela - O que está fazendo? Para onde está levando Gray? Ela precisa descansar.

Grace agarrou meu cabelo, pedindo que eu me apressasse. Aquilo não era algo que nenhum de nós ia querer que Angela visse.

–Eu vou levá-la para tomar um ar. Já voltamos.

–Eu vou junto.

Ela disse, pousando o copo e o suco que estava servindo sobre a mesa. Dei um passo atrás.

–Fique dentro de casa, Angie. Nós voltamos logo.

Ela estreitou os olhos. O resto da casa estava silenciosa. Não devia ser mais que 5 horas da manhã lá fora. O que ela estava fazendo de pé?

–Elijah. Eu vou perguntar uma vez. Para onde a está levando? Aliás, o que é que ela tem? Eu não sou estúpida, eu sei que você está escondendo isso de todos.

Ela parecia uma pessoa completamente diferente da Angela que eu conhecera. Parecia capaz de me atacar à qualquer momento.

–Fique. Dentro. De Casa.

Ela riu com o nariz.

–Desculpe, você mente para todo mundo sobre o que pode estar matando a sua irmã, a minha melhor amiga, e agora você acha que pode me dar ordens?

Não estou mentindo, Angie. Por favor, só não quero assustá-la. Soltei o ar, torturado. Gray gemeu baixinho.

–Fique aqui, Angie. Acredite em mim, vai ser melhor para todos nós.

Ela ficou me encarando, queimando minhas costas com o ácido do seu olhar enquanto eu saia da casa na direção das árvores.

Angela

Lá fora estava nublado pela primeira vez desde que estávamos no Brasil E isso tornava tudo muito mais assustador enquanto eu seguia El e Gray através das árvores. Ele subiu o máximo que podia. Andamos tanto que eu tinha certeza que havíamos dado a volta na ilha.

Finalmente Elijah pousou Grace sobre o húmus. Ela abraçou à si mesma, choramingando. El se ajoelhou ao lado dela e segurou ambos os seus ombros com as mãos, apertando-os Escondi-me atrás de uma árvore e fiquei observando-o.

–Está bem, Gray, me escuta. Eu não vou mentir. Vai ser uma merda sem tamanho.

–Já está sendo, seu sem noção! Estou cega há duas semanas!

Ela gritou, enfiando as unhas nos joelhos.

–Você sabe o que fazer, não sabe?

Elijah gritou, acima dela.

–É claro que eu sei! Tenho que sobreviver se quiser me transformar. Deus! Isso não é óbvio?!

Transformar? Contornei-os dois, procurando um ângulo melhor. O que estava acontecendo? O que era todo aquele segredo? Do que estavam falando? Gray gemeu e segurou os braços de El.

–Grita, se quiser, estamos longe.

Ela gritou e gritou e gritou. Se contorceu e caiu no chão, retorcendo os membros como se tentasse quebrá-los. El segurou suas mãos.

–Vamos lá, Grace! Você consegue!

–AAAARGH!!!

Ela gritou em resposta, rosnando. Um estalo ecoou pela floreta, calando-a. Elijah se afastou, levantando-se. Pelo meio de suas pernas vi o braço de Grace, torcido em um ângulo reto contrário ao natural. Reprimi um grito mordendo os nós dos meus dedos. Gray gemeu, olhando para El – finalmente parecia poder ver de novo – e parecia aterrorizada.

–Começou.

El disse, baixinho, como se estivesse assombrado. Quando olhei para o seu rosto, uma lágrima escorria.

Gray gritou de novo e outro braço se torceu. Eles voltaram para o lugar. Ela entrou em convulsão, retorcendo-se sobre o chão. Gritou, uma, duas, três vezes, conforme o corpo era sacudido com mais violência.

–El...

Ela chamou, com as lágrimas escorrendo. Ele se ajoelhou ao lado dela.

–Eu amo você, irmaozão, de verdade.

Ele fez uma careta e secou o rosto com a manga.

–Quando eu contar até três, Grace.

Ele ditou, jogando a camiseta de lado.

–NÃO! - Ela implorou, os dedos fechando em punhos assustadores e tortos. – Eu não estou pronta, El, não!

Ele tirou o calção e a cueca, jogando-os longe. Prendi o ar, aliviada por ele estar de costas. O que significa isso?!

Os olhos cansados delas lacrimejaram. O corpo relaxou como que sem energia.

–El...

E então Elijah explodiu. Explodiu em pelos, patas e um grande focinho. Diante dos meus olhos não havia mais o doce garoto por quem me apaixonara, Ele era agora um anima de quase três metros nas duas patas, de pelos castanhos escuros e de aparência feroz.

O lobo-Elijah encarou o corpo enfraquecido de Grace com expectativa, tocando-o no ombro com o focinho. Ele acariciou-o com a mão e pareceu tomar uma decisão.

–É agora ou nunca, El.

Ela fechou os olhos e algo pareceu mudar. Ele tremeu e toda a sua pele estremeceu junto, como se ela se sentisse desconfortável dentro dela, como se houvesse mais espaço do que Grace.

E então ela explodiu. Eu cambaleei, tonta e tudo se apagou.


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Notas finais do capítulo

É o fim da parte 1 da fic!
A partir de agora, o bicho pega de verdade!
E aí, o que acharam?



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