Filhos escrita por Bellah102, CaahOShea


Capítulo 17
Capítulo 16 - O amor


Notas iniciais do capítulo

Obrigada à Lola e a Brubs!
Vocês me ressuscitaram e esse capítulo é para vocês!



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Calley

                O tempo foi passando. Ao meu redor, os vampiros estavam todos agitados, fazendo arranjos por toda a parte, tanto para mim quanto para seus híbridos, que estavam partindo. Todo aquele caos era confortável e com gosto de trabalho bem feito. R nasceria saudável e seria protegido por quem ajudaria à sequestrar caso caísse nas mãos do pai. Eu conseguia. Fora bem sucedida. Poderia descansar em paz.

                Os exames ficaram mais frequentes, assim como as vezes em que o pobre R me acertava sem querer, apertado em um útero desajeitado e que não fora projetado para a sua espécie. Ao fim das duas semanas, ele completou um mês. Os Cullen me asseguraram que ele estava pronto para nascer. Pedi um último dia antes de tirá-lo à força de dentro de mim. E mesmo que não fosse meu ultimo dia, seria meu último dia de vida humana.

                Como lidar com aquilo eu não tinha ideia.

                -Calley. Terra para Calley!

                Pisquei, balançando a cabeça desconcentrada.

                -Ah, Leah, oi.

                Fiz o possível para sorrir para ela, mas não conseguia fazer minhas mãos somente pele e osso pararem de tremer. Ela sentou-se na beira do sofá. Estava séria e distante como no primeiro dia em que nos víramos. Durante os dias em que os Cullen estavam ocupados, eles lhe pediram para tomar conta de mim. E fazia tempo que não encontrava alguém tão parecida comigo.

                -Está nervosa?

                -Um pouco.

                Ela bufou, assentindo. Vi os punhos se fechando com força.

                -Leah, pare com isso. Já conversamos sobre isso. Não tem nada que você possa fazer. Eu decidi mantê-lo e agora vou até o final.

                Ela suspirou e relaxou, abrindo e fechando as mãos.

                -Não tem muito mais à ser feito agora, de qualquer modo. – Ela deu de ombros. R sempre fora um abismo entre nós. Agora parecia mais intransponível que nunca. Ela parecia mais triste do que nunca, com os ombros caídos e o olhar perdido nas mãos. – Espero que valha à pena, K.

                -O que quer dizer?

                Ela deu de ombros.

                -Que você e o... O R sejam muito felizes. Como sanguessugas, eu quero dizer.

                Ri sem humor, balançando a cabeça.

                -Não é tão simples. Não é como se eu fosse me transformar e correr para o Canadá. Eu preciso aprender antes. A não machucá-lo.

                -Não vai ser a mesma coisa. Eu vou feder, sabia?

                -Você já fede, tonta.

                Provoquei, empurrando-a de leve com o pé. Ela nem se mexeu, ainda imóvel no mesmo lugar. Seu olhar parecia perdido. Soltei o ar com um risinho e balancei a cabeça.

                -Sabe, quando eu vim para cá, ninguém deve ter dado à mínima no Canadá. – Apontei para ela – Essa é a reação que eu esperava. Pelo menos. E agora que eu tenho...

                -Não entendo porque fica dizendo isso. Quer dizer, alguém deve ter sentido sua falta.

                Pensei por um longo tempo. Talvez contar à alguém ária bem. Se eu morresse naquele dia, alguém poderia contar à R o que eu fizera por ele. Alguém diria porque eu fizera o que eu fizera até o fim.

                -Eu vou te contar. Mas com uma condição.

                Ela ergueu uma sobrancelha.

                -Uma condição?

                Assenti.

                -Você vai me contar a sua história.

                -Eu não tenho uma...

                -Você. Vai. Me. Contar. A. Sua. História.

                Ela sorriu de leve e levantou os braços em sinal de rendição.

                -Está bem, está bem. Nossa. Se estava tão curiosa, era só perguntar.

                Tentei sorrir, mas não pude. Estava imaginando por onde começar.

                -Acho que tudo começou quando eu tinha uns 18 anos. Eu engravidei do meu namorado. – Ela uniu as sobrancelhas, atenta de repente. – Quando descobri, eu contei para a minha mãe, óbvio. E... Ela me colocou para fora de casa.

                - O quê?! Que tipo de mãe você tem?

                Dei de ombros.

                -O tipo decepcionado, eu acho. Ela sempre disse o que aconteceria caso eu descuidasse. Acho que não dá para culpá-la.

                -Você não pode culpá-la, mas pode culpar à si mesma.

                -Não é culpa de ninguém. Só... Aconteceu. – Fiz um gesto com a mão, pedindo que ela deixasse quieto por um instante.  – Mas nem tudo estava perdido ainda. Callum estava lá.

                -Callum... O pai, eu suponho.

                Assenti.

                -Ele estava na faculdade. Os pais tinham dinheiro e, contando que eu arranjasse um bom emprego, éramos perfeitamente capaz de criar aquela criança. Ele até disse que, assim que eu o tivesse, nós poderíamos nos casar. – Sorri, lembrando dos tempos bons como  uma boba sentimental, como se não soubesse o que acontecia depois. – Bom, logo depois disso, eu o perdi.

                -Callum?

                -Não. O bebê.

                O silêncio caiu entre nós. Ela me encarou, sem saber o que dizer.

                -O que?

                Dei de ombros novamente.

                -Foi logo depois do primeiro trimestre. Achei que o risco tinha passado. Mas um dia eu me senti mal e eu e Callum corremos para a clínica. E no fim, era tarde. – Fiquei em silêncio por um tempo, sentindo o peito arder, assim como a parte de trás dos olhos. Era como cutucar uma ferida meio cicatrizada. A casca é uma mentira. Por baixo, ainda está tudo em carne viva. – Bom... Depois disso, eu tentei voltar para casa, mas minha mãe não atendia o elefone e nem me ouvia pessoalmente por tempo o bastante para que eu me explicasse. Callum sabia que eu não tinha mais para onde ir, então, continuamos morando juntos.

                Ela entendeu meu olhar, antes mesmo que eu tivesse que falar.

                -Nunca mais foi a mesma coisa, não é?

                -Não. O que houve machucou demais. E cada vez que um olhava para o outro, pensávamos no que poderia ter sido. E isso é a pior coisa do mundo.

                Ela bufou.

                -É. Conheço essa parte de perto. Vá em frente.

                -Nós brigamos muito. Nos magoamos. E eu o amava demais para isso. Então eu fui embora. Decidi que morar na rua era melhor do que continuar magoando-o depois de tudo o que ele fizera por mim. – Ela assentiu, encorajando-me à continuar – Eu vivi em albergues por um tempo. Arranjei um emprego numa lanchonete, depois um apartamento... – Levei a mão à barriga, silvando, quando R se mexeu dentro de mim de forma brusca. – Agora não, querido, mamãe está conversando.

                Pedi, acariciando-o. Leah riu, balançando a cabeça como se não acreditasse que tivesse interrompido a história para falar com R.

                -Continue, K.

                -Está bem, está bem. – Ri de leve – Não há muito depois disso, na verdade. Comecei à frequentar a faculdade comunitária, tudo estava indo bem... Achei que eu estava dando a volta por cima, sabe? Pondo minha vida nos eixos de novo. E aí, naturalmente, Scott apareceu. E o resto... – Dei de ombros- É história.

                Ela assentiu, com um sorriso divertido.

                -Você não vai me contar o que houve lá, não é?

                -Nunca. Ninguém parecia saber o que há lá. É ruim, cruel e nojento e eu fiz tudo o que eu podia para tirar R de lá.

                Ela assentiu, satisfeita.

                -É justo. – Ela engoliu em seco. – Acho que é a minha vez então.

                -É sim. Vá em frente.

                E ela foi.

                -O amor não presta, não é?

                Perguntei quando ela terminou.

                -Não. Não presta.

                Concordou, sentando-se no chão ao lado dos meus pés e ligando a televisão.  Permanecemos caladas, e agora conhecíamos uma à outra, provavelmente melhor do que duas pessoas poderiam se conhecer. Percebi que péssima ideia aquilo tinha sido.

                De repente, partir de uma vez já não parecia má ideia.

Lizzie

                Quando acordei, a cama ao meu lado já estava vazia, como eu sabia que estaria. Senti os olhos arderem. Não vou dizer adeus de novo, Bruce dissera na noite anterior. Então não diga, eu tinha respondido. E ele partira antes que eu acordasse.

                Abri os olhos e levantei da cama, escovando os dentes enquanto ligava a cafeteira. Olhei ao redor. Meu pai devia ter ido à casa dos Cullen de novo para discutir sobre Scott. O calendário ao lado da geladeira me chamou a atenção. Uma grande carinha triste estava marcada no quadrado daquele dia. No quadrado de cima, referente à última sexta, havia uma gotinha vermelha que eu usava para marcar os dias de...

                Sorri, antes de perceber o que havia acontecido.

                Com toda aquela correria de acertar as coisas para a partida de Bruce, e viajar para todo o canto para avisar os híbridos da Casa sobre o plano de Scott, nem percebera. Minha menstruação deveria ter vindo mais de uma semana atrás. Mas não viera.

                Meu coração se acelerou. Havia muito que poderia ter acontecido. Mas só há uma coisa que qualquer mulher pensa quando isso acontece.

                -Bruce. – Sussurrei, levantando de um salto.

                -Vamos, atende, atende, atende! – Lancei um olhar receoso na direção do pequeno objeto de plástico que tinha, indubitavelmente mudado de cor e então para o relógio. O telefone fazia seu vagaroso tutu enquanto o celular de Bruce chamava. – Bruce! É a Liz!

                -Liz?

                -Onde você está?

                -O quê?

                -Onde você está?

                -Liz, o sinal está péssimo.

                -ONDE. VOCÊ. ESTÁ?

                -Na rodoviária! A neve em Seattle está atrasando a linha toda!

                Finalmente pude tomar um longo fôlego que estava prendendo desde que saíra do banheiro da farmácia como uma louca em fuga.

                -Me ouça agora Bruce: NÃO. ENTRE. NO. ÔNIBUS!

                -O que?!

                -NÃO. ENTRE. NO. ÔNIBUS!

                -Eu ouvi! Só não entendi por quê.

                -Só faça o que eu disse. É muito importante.

                -Mas Liz, nós...

                -Por favor, Bruce. – Eu pedi, sentindo o desespero me subir pelo peito. – Não entre no ônibus. Eu preciso de você. É importante. Eu chego aí em meia hora. Não entre no ônibus.

                Ouvi o celular sinalizar o final da ligação. Afastei-o do meu rosto, temendo que eu tivesse desligado sem querer – celulares touch sempre me davam a impressão de que eu ia desligar com a bochecha o tempo todo – mas na verdade era o sinal que tinha sumido. Tentei ao máximo me acalmar e não sair por aí procurando sinal.

Ele tinha escutado. Ele ia me esperar. Eu sabia.

Leah

                No dia seguinte, eu correra o mais longe que eu podia da casa, na direção da praia. Deitei-me numa caverna escondida e esperei. Os meninos se transformaram e depois sumiram diversas vezes. Todos acharam melhor deixá-la em paz.

                Menos Seth, é claro.

                Na sua mente, ele revivia o tempo todo as cenas do seu encontro perfeito com a loira Mikealson. No fundo da minha cabeça podia senti-lo balançar a cauda, animado. E não era só para fazer da minha vida miserável que ele viera dessa vez.

                Ei, irmãzinha.

                Dá o fora. Estou nervosa.

                Ele pôs a língua para fora, parando à frente da caverna apertada, bloqueando o sol.

                Tanto faz. Os Cullen só pediram para avisar que o filho de Calley nasceu. É um menino.

                Me pus de pé, balançando o corpo para livrar meus pelos da areia. Precisava ir até lá, ver aquilo pelo quê Calley tanto lutara por.

                E Calley?

                Ele balançou uma das orelhas distraidamente.

                Não sei, não disseram.

                Toquei seu ombro com o focinho e trotei até a entrada da caverna.

                Valeu, irmãozinho. A gente se esbarra por aí.

                A casa cheirava exatamente como no dia em que Bella morrido para virar um deles. Frio, metal e sangue. Tudo naquela história era um dejavu, e eu era o pobre Jake, preso à alguém marcado para morrer, incapaz de qualquer defesa contra o sentimento de que devia estar fazendo alguma coisa, mesmo sabendo que isso significava ir contra a maré do universo.

                -Leah, oi.

                Alice abriu a porta para mim. Tinha certeza que ela era quem tinha deixado a roupa que eu encontrara dobrada nos degraus que levavam ao interior da casa. Mesmo sendo o short e a camiseta que eu sempre usava, a aparência e textura cara. E a baixinha parecia tão leve como se tivesse feito compras durante uma semana inteira.

                -E então?

                Perguntei, sem humor para formalidades. Ela respirou fundo, claramente me repreendendo, já que não precisava respirar. Colocou as mãos nos quadris de forma delicada.

                -Tudo deu certo. Ela está dormindo. Deve acordar em alguns dias. E então vamos treiná-la.

                Assenti, sentindo um pouco de peso sendo tirado dos meus ombros e outro sendo adicionado. Não era a primeira vez que eu me perguntava se viver como um vampiro era realmente melhor do que morrer.

                -E o garoto? Roan?

                Perguntei, lembrando-me do nome que ela escolhera com tanto afinco.

                Ela sorriu, radiante, como se eu tivesse lhe pedido uma opinião sobre o que eu devia vestir para uma festa.

                -Ele é lindo! Você tem que ver! É tão incrível ter um bebê em casa novamente!

                Ela saltou casa adentro. Fechei a porta atrás de mim e a segui. Imaginei se ele se pareceria com Calley, de cabelos loiros e cerdas, ou com o pai cuja face eu só vira uma fez, com feições duras e cruéis.

                Em dos quartos vagos da mansão, havia agora um quarto de bebê. Grande parte das coisas eram unisse, mas eu não dava dois dias para que Alice e a loira-louca enchessem o quarto de azul. Por enquanto, tudo era branco, básico e refinado.

                Rosalie e Esme estavam no centro do quarto, com um embrulho de cobertor de microfibra branca. Eu podia ouvir uma respiração apressada. Meu coração se acelerou. Aproximei-me com dois passos. As vampiras não me deram atenção.

                Roan tinha cabelos cor-de-areia como os pelos de Seth. Os olhinhos pequenos estavam fechados sobre o nariz que pertencia à Calley. A pequena boca rosada estava entreaberta durante o sono, no meio de uma respiração. Todo o mundo pareceu girar ao meu redor e respirar ficou difícil quando ele abriu os olhos, como se pressentisse que eu estava lá

                Merda, foi meu primeiro pensamento.

Lizzie

                Precisei convencer o guarda de que eu não era uma traficante de nenhum tipo de droga, o que levou preciosos minutos antes que eu finalmente desistir e compeli-lo à sair do meu caminho. Corri pelos portões da rodoviária e quase não me aguentei de alívio quando vi a postura perfeita nas costas cheias de tensão do meu homem.

                -Bruce! Bruce!

                Ele virou-se na minha direção, com as sobrancelhas unidas. Então sorriu e abriu os braços enquanto eu corria na direção dele. Pulei em seus braços, abraçando seu pescoço e enlaçando as pernas ao redor da sua cintura.

                -Não vá.

                Pedi, sem fôlego. Ele apertou-se contra si, respirando fundo o meu cheiro.

                -O que está fazendo aqui?

                -Você não pode ir.

                Ele me pôs no chão, com as sobrancelhas unidas.

                -Do que está falando? Eu achei que...

                Respirei fundo e, com as mãos tremendo, tirei o teste e a bula do bolso, estendendo-os para ele. Bruce recebeu os dois com uma expressão concentrada, como se estivesse tentando desarmar uma bomba.

                -Não vá – Pedi novamente, tentando normalizar a respiração, pousando a mão na barriga – Eu estou com medo.

                Ele olhou para o teste uma última vez e guardou-o no próprio bolso. Segurou meu rosto entre as suas mãos de forma que eu olhasse diretamente em seus olhos que brilhavam na luz modorrenta da rodoviária em um tom de esmeralda escuro. Como pude pedir que ele partisse?

                -Nós vamos dar um jeito. Vamos sumir do mapa e deixá-lo seguro. Vamos ser uma família de verdade, eu prometo.

                -Mas e se... E se Scott...

                Ele pousou um único dedo sobre os meus lábios, sorrindo.

                -Não agora. Agora, nós vamos para casa para você fazer as malas.

                Sorri, abraçando-o. Ele me abraçou de volta, levantando-me do chão e acariciando meu rosto com o nariz.

                -Estou muito feliz, Liz.

                -Eu também, Bruce. Eu também. 


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Notas finais do capítulo

E aí... Quem quer o bebêzinho?
Vão ter que continuar ligadas e comentando MUAHHAHAHA



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